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DE SARAJEVO A CABUL, AS NOVAS CAMPANHAS DOS MILITARES PORTUGUESES

Por • 21 Dez , 2008 • Categoria: 02. OPINIÃO Print Print

 

Em pleno inverno balcânico quase 1.000 portugueses materializam no terreno uma nova época na nossa história militar

Em pleno inverno balcânico quase 1.000 portugueses materializaram no terreno uma nova época na nossa história militar

 

Com a chegada a Sarajevo em 6 de Janeiro de 1996 de um pequeno destacamento de militares portugueses – cumprem-se agora 13 anos – inicia-se, com as “botas no chão”, a participação nacional na primeira operação lançada pela Aliança Atlântica na sua história.

Seguiram-se em vagas sucessivas, até ao final desse mês de Janeiro, quase mil militares portugueses, a maioria pára-quedistas.

Estava virada uma página na história militar de Portugal.

Mesmo sem ninguém o admitir quer a nível político quer militar, o fim do velho paradigma da prioridade à defesa do território nacional, estava finalmente assumido.

Conscientemente – como certamente ficará na história – ou por força das circunstâncias – como julgam alguns de nós – os melhores recursos humanos e materiais passaram desde então a ser atribuídos às forças expedicionárias.

Todas as missões são marcantes e foram importantes, antes e depois de 1996 – e delas iremos falar no Operacional – mas a Bósnia marcou o inicio de um novo período. Os reflexos foram de toda a ordem não só no Exército como no conjunto das Forças Armadas, nos órgãos que constitucionalmente dirigem a Defesa Nacional, em muitos outros que estão hoje envolvidos em diversos aspectos destas missões, e até mesmo em nichos do tecido empresarial português e na forma como a comunicação social olha para os militares. Em suma, todo o colectivo nacional foi tocado por esta nova realidade.

Não vale a pena iludir as palavras, Portugal no Afeganistão está a travar uma guerra

Não vale a pena iludir as palavras, Portugal no Afeganistão está a travar uma guerra

A nível militar após as necessárias adaptações iniciais em ritmo acelerado, seguiram-se ajustes menos significativos de acordo com o curso dos acontecimentos e das experiências trazidas a cada missão.

Em 2003 com o inicio da missão de uma companhia da Guarda Nacional Republicana no Iraque, e em 2005 com uma companhia de comandos do Exército e de elementos da Força Aérea a serem empregues no Afeganistão, outro patamar de exigência é colocado aos militares portugueses, às suas chefias e à liderança política. De Sarajevo a Cabul, passando pelos quatro cantos do mundo, em terra, no ar e no mar, há muitos episódios que ainda não foram contados. Sem jornalistas no terreno o que se sabe das missões é pouco, muito pouco. Pouco mais que visitas de altas entidades e declarações de circunstância.

Unidades navais portuguesas têm operado da Guiné-Bissau ao mar de Timor, do Adriátio ao Mediterrâneo Oriental

Unidades navais portuguesas têm operado da Guiné-Bissau ao mar de Timor, do Adriátio ao Mediterrâneo Oriental

Outra página, ainda menos assumida que a primeira, foi virada. Agora os riscos são mais elevados – mesmo que, felizmente, não se tenham materializado em conformidade – e os militares portugueses estão de facto em guerra.

Em 1996 iam psicologicamente preparados para a guerra mas ela, pese embora todas as dificuldades inerentes ao teatro de operações e ao ineditismo da missão, não aconteceu. No Iraque e no Afeganistão, não vale a pena iludir as palavras, aquilo é guerra!

Pareceu no entanto que anos de “missões de apoio à paz”, de rotinas mais ou menos instaladas, haviam feito esquecer os piores momentos desse ano de 1996. Nem todas as lições foram aprendidas e muitas exigências das novas realidades não foram antecipadas. Das viaturas aos equipamentos de comunicações e às condições para o treino de preparação, um novo caminho foi necessário voltar a iniciar. Por vezes lentamente, como bem sabe quem cumpriu e cumpre missões nestes últimos teatros de operações.

Muitas missões expedicionárias podem evoluir rapidamente da paz para o confronto armado

Muitas missões expedicionárias podem evoluir rapidamente da paz para o confronto armado

De Sarajevo a Cabul, passando pelos quatro cantos do mundo, em terra, no ar e no mar, há muitos episódios que ainda não foram contados. Sem jornalistas no terreno o que se sabe das missões é pouco, muito pouco. Pouco mais que visitas de altas entidades e declarações de circunstância.

Por incrível que possa parecer há mais registos audiovisuais do que se passou em África entre 1961 e 1975, no período da ditadura e da censura, do que sobre grande parte das missões de hoje. No tempo da liberdade de informação, das acções de combate dos portugueses não há registo! A imprensa portuguesa, voluntariamente ou não, há muito que está afastada dos novos teatros de operações.

O Operacional está disponível para transcrever os relatos de quem viveu e vive esta realidade. Também queremos ajudar a contar hoje aquilo que amanhã será a história militar de Portugal.

 

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