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DE SARAJEVO A CABUL, AS NOVAS CAMPANHAS DOS MILITARES PORTUGUESES

 

Em pleno inverno balcânico quase 1.000 portugueses materializam no terreno uma nova época na nossa história militar [1]

Em pleno inverno balcânico quase 1.000 portugueses materializaram no terreno uma nova época na nossa história militar

 

Com a chegada a Sarajevo em 6 de Janeiro de 1996 de um pequeno destacamento de militares portugueses – cumprem-se agora 13 anos – inicia-se, com as “botas no chão”, a participação nacional na primeira operação lançada pela Aliança Atlântica na sua história.

Seguiram-se em vagas sucessivas, até ao final desse mês de Janeiro, quase mil militares portugueses, a maioria pára-quedistas.

Estava virada uma página na história militar de Portugal.

Mesmo sem ninguém o admitir quer a nível político quer militar, o fim do velho paradigma da prioridade à defesa do território nacional, estava finalmente assumido.

Conscientemente – como certamente ficará na história – ou por força das circunstâncias – como julgam alguns de nós – os melhores recursos humanos e materiais passaram desde então a ser atribuídos às forças expedicionárias.

Todas as missões são marcantes e foram importantes, antes e depois de 1996 – e delas iremos falar no Operacional – mas a Bósnia marcou o inicio de um novo período. Os reflexos foram de toda a ordem não só no Exército como no conjunto das Forças Armadas, nos órgãos que constitucionalmente dirigem a Defesa Nacional, em muitos outros que estão hoje envolvidos em diversos aspectos destas missões, e até mesmo em nichos do tecido empresarial português e na forma como a comunicação social olha para os militares. Em suma, todo o colectivo nacional foi tocado por esta nova realidade.

Não vale a pena iludir as palavras, Portugal no Afeganistão está a travar uma guerra [2]

Não vale a pena iludir as palavras, Portugal no Afeganistão está a travar uma guerra

A nível militar após as necessárias adaptações iniciais em ritmo acelerado, seguiram-se ajustes menos significativos de acordo com o curso dos acontecimentos e das experiências trazidas a cada missão.

Em 2003 com o inicio da missão de uma companhia da Guarda Nacional Republicana no Iraque, e em 2005 com uma companhia de comandos do Exército e de elementos da Força Aérea a serem empregues no Afeganistão, outro patamar de exigência é colocado aos militares portugueses, às suas chefias e à liderança política. De Sarajevo a Cabul, passando pelos quatro cantos do mundo, em terra, no ar e no mar, há muitos episódios que ainda não foram contados. Sem jornalistas no terreno o que se sabe das missões é pouco, muito pouco. Pouco mais que visitas de altas entidades e declarações de circunstância.

Unidades navais portuguesas têm operado da Guiné-Bissau ao mar de Timor, do Adriátio ao Mediterrâneo Oriental [3]

Unidades navais portuguesas têm operado da Guiné-Bissau ao mar de Timor, do Adriátio ao Mediterrâneo Oriental

Outra página, ainda menos assumida que a primeira, foi virada. Agora os riscos são mais elevados – mesmo que, felizmente, não se tenham materializado em conformidade – e os militares portugueses estão de facto em guerra.

Em 1996 iam psicologicamente preparados para a guerra mas ela, pese embora todas as dificuldades inerentes ao teatro de operações e ao ineditismo da missão, não aconteceu. No Iraque e no Afeganistão, não vale a pena iludir as palavras, aquilo é guerra!

Pareceu no entanto que anos de “missões de apoio à paz”, de rotinas mais ou menos instaladas, haviam feito esquecer os piores momentos desse ano de 1996. Nem todas as lições foram aprendidas e muitas exigências das novas realidades não foram antecipadas. Das viaturas aos equipamentos de comunicações e às condições para o treino de preparação, um novo caminho foi necessário voltar a iniciar. Por vezes lentamente, como bem sabe quem cumpriu e cumpre missões nestes últimos teatros de operações.

Muitas missões expedicionárias podem evoluir rapidamente da paz para o confronto armado [4]

Muitas missões expedicionárias podem evoluir rapidamente da paz para o confronto armado

De Sarajevo a Cabul, passando pelos quatro cantos do mundo, em terra, no ar e no mar, há muitos episódios que ainda não foram contados. Sem jornalistas no terreno o que se sabe das missões é pouco, muito pouco. Pouco mais que visitas de altas entidades e declarações de circunstância.

Por incrível que possa parecer há mais registos audiovisuais do que se passou em África entre 1961 e 1975, no período da ditadura e da censura, do que sobre grande parte das missões de hoje. No tempo da liberdade de informação, das acções de combate dos portugueses não há registo! A imprensa portuguesa, voluntariamente ou não, há muito que está afastada dos novos teatros de operações.

O Operacional está disponível para transcrever os relatos de quem viveu e vive esta realidade. Também queremos ajudar a contar hoje aquilo que amanhã será a história militar de Portugal.