O “BÉRRIO”, UM NAVIO SINGULAR (I)
Por Miguel Machado • 16 Mar , 2012 • Categoria: 03. REPORTAGEM![Print Print](https://www.operacional.pt/wp-content/plugins/wp-print/images/print.gif)
O NRP “Bérrio” é na realidade um navio singular, desde logo por ser o único reabastecedor de esquadra ao serviço, mas também pelas suas dimensões e tonelagem, as maiores de um navio da Marinha Portuguesa na actualidade.
![1-a-reabastecer-copy O "Bérrio" é o único reabastecedor disponível em Portugal.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/1-a-reabastecer-copy.jpg)
O "Bérrio" é o único reabastecedor disponível em Portugal, o único navio com capacidade para este tipo de missões.
Não menos significativo ainda o facto de não haver em Portugal equivalente civil para as suas funções, que sendo em primeiro lugar de apoio aos outros navios combatentes da Marinha, é a única “ferramenta” com as suas características a que o Estado Português – sem pedir apoio a estrangeiros – pode recorrer para emprego em situações de catástrofe. Nos dias que correm, mesmo a GALP utilizadora de navios para transporte de combustível, adoptou a modalidade de alugar quando precisa. Resta-nos assim, disponível em caso de necessidade para fazer face a situações de emergência civil (por exemplo nos Arquipélagos), em mãos puramente nacionais, o “Bérrio”, com capacidade de transporte e fornecimento de combustíveis em grandes quantidades, água potável, alguma capacidade de carga geral e pessoas.
![2-dsc_5078-copy Na Base Naval de Lisboa, atracado no "molhe de honra", o "Bérrio" preparava-se para mais um exercicio quando o visitamos.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/2-dsc_5078-copy.jpg)
Na Base Naval de Lisboa, atracado no "molhe de honra", o "Bérrio" preparava-se para mais um exercício quando o visitamos...
![berrio-molhe-h Navio singular na Marinha e em Portugal, as suas capacidades são por isso mesmo de grande importância militar e civil.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/berrio-molhe-h.jpg)
...tendo ao lado a "Vasco da Gama". Trata-se de um navio singular na Marinha e em Portugal, as suas capacidades são por isso mesmo de grande importância militar e civil.
![4-dsc_4970-copy O "Bérrio" foi antes "Blue Rover" e serviu na britânica "Royal Fleet Auxiliary" entre 1970 e 1993. Este mês de Março de 2012, cumpre 19 anos de serviço na nossa Marinha, mas 42 de idade!.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/4-dsc_4970-copy.jpg)
O "Bérrio" foi antes "Blue Rover" e serviu na britânica "Royal Fleet Auxiliary" entre 1970 e 1993. Este mês de Março de 2012, cumpre 19 anos de serviço na nossa Marinha e 42 de idade!
![5-dsc_4922-copy O capitão-de-fragata Dias Correia na "asa da ponte" do navio. Comanda o NRP "Bérrio" desde Novembro de 2010 e é o seu 9.º comandante na Marinha Portuguesa.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/5-dsc_4922-copy.jpg)
O capitão-de-fragata Dias Correia na "asa da ponte" do navio. Comanda o NRP "Bérrio" desde Novembro de 2010 e é o seu 9.º comandante na Marinha Portuguesa.
![6-dsc_4869-copy O Imediato do "Bérrio", capitão-tenente Nolasco Crespo, a actualizar a sua situação neste simples mas eficaz método para saber "quem está dentro do navio".](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/6-dsc_4869-copy.jpg)
O Imediato do "Bérrio", capitão-tenente Nolasco Crespo, a actualizar a sua identificação neste simples mas eficaz método para saber "quem está dentro do navio".
Visitamos o “Bérrio” poucos dias antes de mais um exercício da Marinha Portuguesa, sinal dos tempos, o único anual de grande dimensão e que envolve parte muito importante da sua força naval disponível – uma fragata, a Corte-Real, está em trânsito para o Índico onde vai participar em mais uma missão de combate à pirataria integrada numa força multinacional. O ambiente é descontraído mas de trabalho e estão a bordo militares de outros navios que participarão no exercício e aqui vêm acertar detalhes (e mesmo testar procedimentos) sobre as acções de reabastecimento em alto mar, e ainda técnicos da EID que instalam na ponte a versão táctica do MMHS2 (Military Message Handling System), para permitir a troca entre navios, via rádio, de mensagens com anexos acoplados e não apenas com texto como até aqui.
![9-dsc_4940-copy A Roda do Leme do "Bérrio" na Ponte. Como em todos os navios, bem mais abaixo, na Casa da Máquina do Leme, há uma outra (diferente) para situações de emergência.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/9-dsc_4940-copy.jpg)
A Roda do Leme do "Bérrio" na Ponte. Como é normal, bem mais abaixo, na Casa da Máquina do Leme, há uma outra (diferente) para situações de emergência.
![10-dsc_4929-copy Da asa da ponte de bombordo, olhando para a Base Naval de Lisboa, é bem notório que estamos, em altura, acima de qualquer outro navio de guerra da Marinha Portuguesa.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/10-dsc_4929-copy.jpg)
Da asa da ponte de bombordo, olhando para a Base Naval de Lisboa, é bem notório que estamos, em altura, acima de qualquer outro navio de guerra da Marinha Portuguesa.
![11-dsc_4946-copy A "contabilidade" das missões de Reabastecimento no Mar, está sempre actualizada.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/11-dsc_4946-copy.jpg)
A "contabilidade" das missões de Reabastecimento no Mar, está sempre actualizada e pronta ser mostrada aos "clientes"!
Numa primeira observação o “Bérrio” distingue-se pelas suas dimensões, dali olha-se para a “Vasco da Gama”, acostada logo ali na Base Naval de Lisboa, de cima para baixo…o que não é habitual. Mas também, diga-se em abono da verdade, pela sua idade. O “Bérrio” embora tenha entrado ao serviço da Marinha Portuguesa há “apenas” 19 anos, está a navegar há 42. Serviu na britânica Royal Fleet Auxiliary e com ela participou na Guerra das Falklands (em 1982) apoiando os navios da Royal Navy e em muitos outros pontos do globo, nomeadamente em várias das chamadas “guerras do bacalhau” nas águas da Islândia, que evolveu navios de guerra britânicos em apoio da sua frota de pesca e a guarda costeira islandesa. Até participou numa acção que a nossa velha aliada desencadeou contra nós, em África, o bloqueio naval ao Porto da Beira (Moçambique) em 1971, o qual, acabou por não ter consequências de maior, mantendo Portugal o apoio à então também nossa aliada Rodésia (hoje Zimbabué). Um veterano dos “7 mares” que chegou a Portugal em 1993 para substituir o “São Gabriel” (A5206).
![12-dsc_4934-copy Uma das "lições aprendidas" pelos ingleses nas Falklands levo-os a instalar estes "Oerlikon" 20mm Mk2, um junto a cada asa da ponte, destinados a defesa contra aeronaves. Parece que não são de fácil aquisição de objectivos e também não há grande fartura de munições para treino.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/12-dsc_4934-copy.jpg)
Embora este tipo de navio navegue habitualmente junto a outros que o protegem, uma das "lições aprendidas" pelos ingleses nas Falklands levo-os a instalar estes "Oerlikon" 20mm Mk2. Um junto a cada asa da ponte, destinados à defesa contra aeronaves. Parece que não é fácil a "aquisição de objectivos" e também não há grande fartura de munições para treino.
![13-dsc_4926-copy Bela vista da principal razão de ser do navio, o sistema de reabastecimento. A bombordo o sistema PROB, que permite um reabastecimento mais rápido e a estibordo o sistema NATO BRAVO. Ao centro, por baixo do pórtico, a "casa RAS" de onde controlam estes sistemas e a bombagem. Sob o convés, o parque de tanques (tudo isto mais em detalhe no próximo artigo).](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/13-dsc_4926-copy.jpg)
Bela vista da principal razão de ser do navio, o sistema de reabastecimento. A bombordo o sistema PROBE, que permite um reabastecimento mais rápido e a estibordo o sistema NATO BRAVO. Ao centro, por baixo do pórtico, a "casa RAS" de onde se controlam estes sistemas e a bombagem (no próximo artigo será visto mais em detalhe).
![15-dsc_4957-copy Ao centro a porta de acesso aos paióis interiores. Um elevador permite o transporte de cargas (munições ou carga geral) para e dos vários níveis do navio até este "heliporto", de onde os meios aéreos os movimentam.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/15-dsc_4957-copy.jpg)
Ao centro a porta de acesso aos paióis interiores. Um elevador permite o transporte de cargas (munições ou carga geral) para, e dos vários níveis do navio, até este "heliporto", de onde os meios aéreos os movimentam.
![16-dsc_4977-copy O "Bérrio" tem uma Equipa de Convés de Voo permanente, a quem compete (além de outros afazeres no navio) operar o respectivo convés.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/16-dsc_4977-copy.jpg)
O "Bérrio" tem duas Equipas de Convés de Voo permanente a quem compete (além de outros afazeres no navio) operar com helicópteros.
Em Portugal o “Bérrio”, aumentado ao efectivo em 31 de Março de 1993, já prestou bons serviços e assim vai ter que continuar por mais uns anos, espera-se que…não muitos. Perante a inevitável pergunta, o Capitão-de-Fragata Armando Dias Correia, 45 anos de idade e 26 de Marinha, comandante do navio desde 4 de Novembro de 2010, afirma que “a única informação que há neste momento disponível diz-nos que não será nada provável antes de 2018“.
A Marinha Portuguesa participou com o “Bérrio”, logo em 1995, na operação multinacional (UEO/NATO) “Sharp Guard” no Mar Adriático, em apoio directo às unidades navais ali efectuavam missões de vigilância marítima nas costas da Ex-Jugoslávia, e em 1998, numa missão exclusivamente nacional – aqui tivemos que nos desenvencilhar sozinhos, o que por vezes acontece é bom não esquecer – a Operação “Falcão”, conhecida também como “Crise na Guiné-Bissau”, onde vários navios nacionais foram apoiados pelo “Bérrio”. Recorda o actual comandante nas páginas da Revista da Armada (Abril 2011) que o navio “…levou a bordo um grupo médico-cirúrgico (1 cirurgião, 1 anestesista, 3 enfermeiros e 2 auxiliares socorristas), um grupo de Mergulhadores Sapadores, um grupo de morteiros e um grupo de apoio de serviços do Corpo de Fuzileiros (…) assegurou a sustentação logística da força envolvida (fragata “Vasco da Gama”, corvetas “Honório Barreto” e “João Coutinho”) na evacuação de civis e militares nacionais e ainda reabasteceu a fragata “Drogu” da Marinha de Guerra Francesa, que se encontrava naquele espaço geomarítimo…“. De realçar também nesta operação, o que certamente foi uma lição aprendida, entre muitas outras, a circunstância do “…convés de voo (do “Bérrio”), aprovado para operações com helicópteros o que veio a revelar-se de enorme importância quando o navio-chefe (uma fragata) tinha de operar com dois helicópteros em simultâneo e precisava de convés livre para imprevistos ou emergências…” (in “Bissau em Chamas” de Alexandre Reis Rodrigues, 2007).
![18-dsc_4965-copy 18-dsc_4965-copy](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/18-dsc_4965-copy.jpg)
O guincho de bombordo que serve para colocar a semirrígida na água e permite ainda alguma capacidade de colocação de carga a bordo.
![17-dsc_4961-copy O semi-rigido que pode ser rapidamente colocado na água, por exemplo para situaçãoes de "homem ao mar", incidente que é regularmente treinado.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/17-dsc_4961-copy.jpg)
A semirrígido pode ser rapidamente colocada na água, por exemplo para situações de "homem ao mar", incidente que é regularmente treinado.
![20-dsc_5001-copy Cinco destas balsas salva-vidas estão colocadas em diversos locais do navio, permitindo recolher um número de náufragos igual a 1,5 vezes o efectivo da guarnição. Dispõem de elementos básicos de sobrevivência no mar.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/20-dsc_5001-copy.jpg)
Várias destas balsas salva-vidas estão colocadas em diversos locais do navio, permitindo recolher um número de náufragos igual a 1,5 vezes o efectivo da guarnição. Dispõem de elementos básicos de sobrevivência no mar.
O envolvimento do navio em acções de treino foi sempre intenso e são muitos e muitos os importantes exercícios nacionais e multinacionais em que participou. Acresce que dadas as suas características é um meio naval muito utilizado, não só para o seu trabalho principal – reabastecer permitindo maior autonomia aos meios navais apoiados – como para simular nestas actividades navios civis (“hostis”, “transportando materiais ilícitos”, “ocupados por terroristas e reféns”,etc), podendo parecer pouco significativo, mas a realidade é que não há alternativa disponível, mesmo para isto, a não ser que se alugassem navios mercantes para o efeito. Por exemplo, para este próximo exercício da série “Instrex”, o “Bérrio” vai embarcar uma equipa “Autonomous Vessel Protection Detachment” (AVPD) do Corpo de Fuzileiros que ali vai treinar missões de protecção a navios mercantes, as quais hoje em dia tanto são levadas a cabo por forças militares como por empresas especializadas.
Como nos refere o Imediato do “Bérrio”, Capitão-Tenente Nolasco Crespo, 40 anos de idade, 22 anos de Marinha, 13 dos quais embarcado, “Nada substitui o treino de mar, mesmo que em terra, como fazemos, se repitam semanalmente inúmeras rotinas em diversas áreas do navio, não é a mesma coisa, não nos conseguimos treinar nem avaliar de modo idêntico ao que fazemos quando navegamos“.
E, mais uma vez a malfadada crise que a todos afecta e nas Forças Armadas já é um “processo em curso” há mais tempo do que muitos possam julgar, ficamos a saber pelo comandante Dias Correia que se navegam cada vez menos horas por ano e questionado para nos dar um número: “Nos últimos 10 anos este navio passou de uma média anual superior a 2.000 horas de navegação/ano para menos de 500, actualmente“.
![24-dsc_5068-copy 1.º Grumete Lopes, 23 anos de idade, 3 de Marinha dos quais metade no "Bérrio". Usa a boina regulamentar para pessoal não fuzileiro (criada em 2006), o fato de embarque intruduzido experimentalmente em 2004 e depois alagardo a todo o pessoal embarcado. Note-se ainda o "patch" (símbolo da unidade) do NRP "Bérrio".](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/24-dsc_5068-copy.jpg)
1.º Grumete Lopes, 23 anos de idade, 3 de Marinha, metade dos quais no "Bérrio". Enverga a boina regulamentar para pessoal não fuzileiro (criada em 2006) que se usa com o fato de embarque introduzido experimentalmente em 2004 e depois alargado a todo o pessoal embarcado. Note-se ainda o distintivo estilizado do NRP "Bérrio" em tecido, designado habitualmente por "patch", de uso autorizado e incentivado pelas unidades. Habitualmente usa-se ainda outro "patch" (de ombro, ver foto acima neste artigo) da equipa/departamento dentro da unidade naval.
![21-dsc_4975-copy Testes ao sistema NATO BRAVO antes do exercicio que se avizinhava.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/21-dsc_4975-copy.jpg)
Testes ao sistema NATO BRAVO antes do exercício que se avizinhava. Os fatos de embarque, com características anti-fogo, usam-se com botas de biqueira de aço. Em fundo, por mera casualidade, aparece-nos o tristemente célebre "Atlântida", navio construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo que tem estado no centro de uma inenarrável disputa entre entidades públicas, nacionais.
![22-dsc_5048-copy Curiosidade de outros tempos, mas útil! Estas pequenas portinholas estão espalhadas por muitos locais do navio. Abrindo-se, fica-se em contacto com a "estrutura interior do navio", ao qual se encosta um termómetro e assim se avalia se haverá risco de incêndio ou algo corre mal, por aquecimento excessivo.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/22-dsc_5048-copy.jpg)
Curiosidade de outros tempos, mas sempre útil! Estas pequenas portinholas estão espalhadas por muitos locais do navio. Abrindo-se, fica-se em contacto com a "estrutura interior do navio", ao qual se encosta um termómetro e assim se avalia se haverá risco de incêndio ou algo a correr mal, por aquecimento excessivo.
![23-dsc_4905-copy O Estandarte Nacional do NRP "Bérrio" exposto a bordo, junto à listagem com os nomes dos comandantes do navio.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/03/23-dsc_4905-copy.jpg)
O Estandarte Nacional do NRP "Bérrio" exposto a bordo, junto à listagem com os nomes dos comandantes do navio desde 1993.
Leia também a segunda e última parte desta reportagem, aqui: O “BÉRRIO”, UM NAVIO SINGULAR (II). Neste segundo artigo explicamos com mais algum detalhe o funcionamento do navio e suas características e falamos ainda sobre a importância deste meio naval nos tempos que correm e no futuro.
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