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TRIBUTO A UM PIONEIRO

Por • 20 Jul , 2011 • Categoria: 02. OPINIÃO, EM DESTAQUE Print Print

João Lemos Costa foi o primeiro português a fazer fotografia ar-ar no decurso de um salto em pára-quedas (*). Corria o ano de 1968, introduzindo assim em Portugal esta “modalidade” – ou devemos classificá-la de “arte”? – que hoje é relativamente vulgar, embora exija do pára-quedista, ontem como hoje, qualidades que outros não têm.

João Lemos Costa (1934-2011) quando capitão com o capacete que adaptou as oficinas do Regimento de Caçadores P

João Lemos Costa (1934-2011) quando capitão em Tancos, com o capacete que adaptou nas oficinas do Regimento de Caçadores Pára-quedistas para efectuar fotografia ar-ar em queda-livre.

João Manuel de Lemos Rosa Costa, Coronel na situação de Reforma, faleceu este 19 de Julho de 2011 aos 77 anos de idade.

A vida deste pára-quedista militar n.º 492 que frequentou em 1959 o 8.º Curso de Pára-quedismo Militar no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas em Tancos, como a de tantos outros portugueses da sua geração, foi recheada de episódios que merecem ser contados, ser lembrados aos mais novos. Na guerra do antigo Ultramar fez três comissões de arma na mão. Uma como subalterno comandante de um pelotão de pára-quedistas em Angola logo em 1961 tendo participado nos duros combates de reocupação do Norte da Província e duas com Capitão, em Angola em 1966 e em Moçambique em 1971. Viveu as vicissitudes do malfadado período revolucionário do pós-25 de Abril de 1974, sofreu pessoalmente e por ver sofrer a organização pára-quedista.

Angola 1961. Lemos Costa, comandante de pelotão, esteve entre os primeiros que rumaram ao Norte da Provincia para expulsar os terroristas.

Angola 1961. Lemos Costa, comandante de pelotão, esteve entre os primeiros que rumaram ao Norte da Província para conter os ataques terroristas.

Atirador exímio, vencendo campeonatos militares em Portugal e competindo internacionalmente foi Mestre Atirador. Muito ligado desde cedo ao pára-quedismo em queda-livre, integrou a equipa nacional da modalidade e foi um dos apoios daquele que considerava – disse-mo e escreveu – ter sido o principal impulsionador do pára-quedismo em Portugal no final da década de 1960 e inícios de 1970, o também já falecido Coronel Bragança Moutinho.
Tendo iniciado a sua carreira militar como oficial miliciano de Administração Militar no Exército, viria depois a terminá-la na Força Aérea como Coronel de Intendência e Contabilidade / Administração Aeronáutica.
Após a vida militar tornou-se empresário e manteve sempre uma ligação muito especial às Tropas Pára-quedistas, primeiro nesse âmbito e depois como mais um “boina verde” que estava sempre presente nos bons e nos maus momentos!

Muito se poderia aqui escrever sobre João Lemos Costa e certamente aqueles que com ele privaram ao longo da vida, em Tancos e em África, o saberão fazer muito melhor do que o autor destas linhas. Conheci João Lemos Costa já como civil e foi em conversa com o Alfredo Serrano Rosa que soube da sua faceta de pioneiro na fotografia ar-ar. Lemos Costa que foi realmente o primeiro português a fazê-lo numa época em que o simples salto em pára-quedas era considerado uma coisa muito perto da loucura, não outros, foi ele o primeiro a fazer uma fotografia no ar no decurso de um salto em queda-livre. Nunca o alardeava! Disse-me mesmo que todo o mérito desta actividade se devia ao “meu amigo Moutinho, ele sem qualquer sombra de dúvida foi o pai da fotografia ar-ar“. E isto porque em 1968 foi de facto Bragança Moutinho que comprou uma máquina fotográfica semi-autómática em França que se adaptava a esta actividade. “Ele é que convenceu o Coronel Mário Robalo, comandante do Regimento de Caçadores Pára-quedistas, a avançar com isto e depois, chamou-me e disse-me que queria que eu fosse o operador da máquina!” O mais que concedia era partilhar os “louros” e dizer que “ele (Moutinho) e eu inventamos maneira como se havia de adaptar a máquina ao capacete, isto feito nas oficinas do Regimento de Caçadores Pára-quedistas sob a nossa orientação“.
Do mesmo modo não se cansava de enaltecer o seu sucessor nestas “lides”, o Alfredo Serrano Rosa tendo-me escrito há menos de um ano, o seguinte depoimento: “um exímio operador fotográfico que é reconhecido por todo o trabalho que desenvolveu a nível nacional e internacional. Tem sido extraordinário. Parabéns Serrano Rosa! Podes crer que senti e sinto orgulho em ter participado com qualquer coisa com qualquer coisa para te ajudar a chegar onde chegaste!

É um lugar-comum bem sei, mas uma foto vale mais de mil palavras. Aqui ficam para a posteridade algumas fotos de João Lemos Costa, entre as quais as primeiras fotos ar-ar captadas em queda-livre por um português.

Foi pioneiro, desbravou um caminho, ensinou o que sabia, teve e tem seguidores nos pára-quedistas, não será esquecido!

A primeira foto ar-ar captada  queda-livre em Portugal. Sa

A primeira foto ar-ar captada queda-livre em Portugal. Saída de um JU-52 sobre Tancos. Cavaco (à frente) e Gaspar são os pára-quedistas (1968).

Sobre a Base Aérea 3 e o Rio Tejo com o Casteo de Almourol. À esquerda Gaspar e à direita Arlindo.

Sobre a Base Aérea 3 e o Rio Tejo com o Castelo de Almourol. À esquerda Gaspar e à direita Arlindo.

ESta foi captada de bordo do JU-52 e mostra o então Capitão Fausto Marques num salto em queda-livre com o Tejo em fundo.

Esta conhecida foto foi captada por Lemos Costa de bordo de um JU-52 e mostra o então Capitão Fausto Marques num salto em queda-livre com o Tejo em fundo.

Duas gerações de fotógrafos ar-ar em queda-livre: João lemos Costa (à esquerda) e Alfredo SerranoRosa, na Escola de Tropas Pára-quedistas em 2008.

Duas gerações de fotógrafos ar-ar em queda-livre: João lemos Costa (à esquerda) e Alfredo Serrano Rosa, na Escola de Tropas Pára-quedistas em 2008.

(*) Nota do autor (Miguel Silva Machado): dias depois da publicação deste artigo fui contactado pelo Coronel Pára-quedista José Mansilha, grande amigo do Coronel Lemos Costa – tanto assim era que lhe coube o elogio fúnebre na Missa de Corpo Presente – o qual,  além de elogiar o texto e recordar bons momento com o falecido, lembrou no entanto um detalhe desconhecido por mim e que deve ser referido em nome da verdade histórica. Houve uma fotografia ar-ar captada em queda-livre, em Portugal, antes da referida no meu artigo! Corria o ano de 1965 e em Angola, no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 21, o então Major Pára-quedista Bragança Moutinho efectuou um salto em queda-livre no decurso do qual fotografou uma única vez o então Capitão Pára-quedista José Mansilha também em queda-livre. Esta assim a primeira fotografia este género em Portugal e não a de Tancos em 1968. Oportunamente darei mais elementos sobre esta foto, mas parece-me que tal não retira o pioneirismo ao Coronel Lemos Costa no lançamento desta actividade de modo continuado e devidamente preparado do ponto de vista técnico. O mesmo pensa o Coronel José Mansilha, ao qual muito agradeço o contacto e a rectificação.

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