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MUSEU DA AVIAÇÃO MILITAR EM SZOLNOK (HUNGRIA) 1.ª Parte

Por • 28 Nov , 2018 • Categoria: 03. REPORTAGEM, 07. TECNOLOGIA, 14.TURISMO MILITAR, EM DESTAQUE Print Print

A pouco mais de uma hora de viagem de comboio de Budapeste, em Szolnok, está aberto ao público desde 1 de Setembro de 2016 o novo Museu da Aviação Militar da cidade e da Hungria. Tem uma grande colecção de aviões de caça de origem soviética – apresentada como a maior da Europa Central e Oriental – bastantes helicópteros, uma área considerável dedicada a sistemas antiaéreos e muito mais como aqui mostramos. 

O ponto forte do museu é sem dúvida a grande colecção de caças MiG sendo o mais recente ali exposto este MiG 23 e o mais antigo o MiG 15.

Caracterização geral

O RepTár – Szolnoki repülőmúzeum, que podemos traduzir como Museu da Aviação Militar, chama desde logo a atenção por ser novíssimo! Toda a infraestrutura visitável foi feita de raiz ou adaptada dos edifícios de uma antiga estação de caminho-de-ferro – a mais antiga da Hungria, datada de meados do século XIX – impecavelmente recuperada e adaptada. A área geral do museu é de 60.000m2, com 4.500m2 de área coberta. 

A antiga estação de caminho de ferro da cidade, a mais antiga do país, foi adaptada para a finalidade actual. No rés-do-chão funciona o acesso do público, cafetaria, restaurante, loja e outros apoios e no primeiro andar salas de exposição, tudo ligado ao novo Hangar e à área de exposição ao ar-livre.

Vista geral do Hangar com o MiG 21 UM “69-ER”, versão de treino com dois lugares do MiG 21MF (código NATO Mongol-B) ao cockpit do qual se pode ter acesso. A Hungria recebeu 27 destes jactos que serviram entre 1964 e o ano 2000.

Vista parcial da área descoberta. Em primeiro-plano um MiG 21 MF e muitas outras aeronaves que iremos mostrar com mais detalhe!

A localização do museu na actualidade e do anterior museu junto à Base Aérea. Desde 2004 que a Força Aérea da Hungria concentrou aqui os seus helicópteros, quer de ataque quer de transporte. Agora em 15 minutos a pé chega-se da Estação de Caminho de Ferro ao Museu.

Além das visitas de carácter turístico – em 2016 foi considerada a “Atração Turística do Ano”, tem milhares de visitantes individuais e escolas – também tem sido escolhido para cerimónias oficiais. Nas imagens o encerramento do 42º Campeonato Mundial Militar de Pára-quedismo do Conselho Internacional do Desporto Militar com delegações de 37 países.

Praticamente tudo o que está exposto tem legendas em húngaro e inglês, as principais salas do museu e as aeronaves expostas na área coberta estão ainda dotadas de suportes informativos interactivos. O museu tem wi-fi gratuita e pode-se descarregar uma aplicação com o guia. Em papel, em língua inglesa, há apenas um desdobrável disponível com uma planta do museu. Dispõe também de cafetaria, restaurante e loja de recordações/livros. Todos os funcionários do museu que abordamos falavam inglês…excepto a funcionária da loja.

Chega-se facilmente a pé ao museu desde a estação de caminho-de-ferro da cidade – 15 minutos – mas há transportes públicos para fazer o trajecto. O preço de entrada ronda os 7,00€ durante a semana e 8,00€ aos fins-de-semana. Desde Budapeste (Keleti), ida-e-volta em comboio directo, o bilhete custa cerca de 12,00€.

A área coberta do museu dedicada à exposição de aeronaves (cerca de 16) é um hangar novo, no qual há ainda, no rés-do-chão, um pequeno espaço para projecção de filmes e no primeiro andar uma área para exposições temporárias, uma sala de cinema e uma área onde se podem utilizar simuladores de Mig-29. Este primeiro andar do Hangar tem ligação com o edifício principal – a antiga Estação – no qual se encontram várias salas com uma exposição sobre a História da Aviação Militar na Hungria, da responsabilidade de uma entidade do Ministério da Defesa dedicada à História Militar. Neste hangar há ainda muitos motores de aeronaves e “despojos” de aeronaves de várias origens que caíram ou foram abatidas durante a 2.ª Guerra Mundial na Hungria e ali permanecem para contar um pouco da sua história.

A maioria das aeronaves estão no exterior – umas 30 – bem assim como os sistemas de defesa aérea, e, talvez por ser um museu recente ou então constantemente mantido, a realidade é que as aeronaves estão muito bem conservadas ou pelo menos pintadas! Em outros museus do género que temos visto as aeronaves ao ar-livre estão sempre num estado de conservação muito deficiente. Aqui não. Nesta área exterior, bem assim como num outro edifício recuperado, há espaços para entretenimento de crianças.

A MH 86. Szolnok Helikopter Bázison (86.ª Base de Helicópteros da Força Aérea da Hungria), nos arredores da cidade manteve durante uns anos – não consegui averiguar quantos – um “museu da aviação” junto aos seus muros. Muitas das aeronaves que aqui estão daí vieram e pelas imagens desse museu que vimos, outras deverão ainda vir a integrar a colecção deste museu. Estarão em reparação? Não sabemos, mas há espaço para elas. Na realidade sendo este novo museu muito rico em termos de aviação de caça e helicópteros por exemplo, não tem um único avião de transporte e no velho museu havia.

Sendo uma cidade muito ligada ao pára-quedismo militar e civil – até na estação de caminho-de-ferro há vitrinas com referências a esta actividade – aliás este Agosto de 2018 realizou-se aqui o 42º Campeonato Mundial Militar de Pára-quedismo do Conselho Internacional do Desporto Militar (e já não é a primeira vez), com 372 atletas de 37 países (este ano Portugal não participou), o museu tem poucas referências a estas tropas que na Hungria, este ano, assinalam o seu 100.º aniversário. Fui informado que esteve patente uma exposição temporária no museu…até 30 de Setembro.

Esta “montra” fica na actual Estação de Caminho-de-Ferro de Szolnok e relembra a quem todos os dias ali passa, antigas actividades do pára-quedismo militar e civil na cidade.

Para terminar esta caracterização geral e iniciar a visita só uma referência interessante. A União Europeia apoiou a construção do museu com cerca de 6,5 milhões de euros. 

Em primeiro plano um Yakovlev Yak-11, avião de treino muito bem-sucedido foi fabricado na União Soviética entre 1946 e 1956. Na Hungria começou a servir em 1950 e era muito útil porque tinha o mesmo sistema de navegação radio que o MIG 15. A Hungria chegou a alinhar 64 unidades. Segue-se um Yakovlev Yak-12 dos 10 que a Hungria recebeu da União Soviética em 1952, tendo sido retirados do serviço em 1972.

Partes de um Iljusin IL-2M-3 Sturmovik soviético abatido durante a 2.ª Guerra Mundial e descoberto em 1999 por pescadores no lago Balaton (o maior da Europa Central com 592 km²). Conhecido como o “tanque voador”, era fortemente blindado, foi também o avião soviético construído em maior número na 2.ª Guerra Mundial (36.163 aparelhos).

Aero-45 Osprey apresentado como o orgulho da indústria aeronáutica da Checoslováquia, foi um bimotor que voou a partir de 1947. Até 1963 a Aero Vodochody construiu 590 unidades. Na Hungria vários foram usados pela Força Aérea, Exército, Policia e Serviço Nacional de Ambulâncias. Um deles pelo menos voou até 1972.

Um dos 8 Messerschmitt BF 108 Taifun comprados à Alemanha que serviram na Real Força Aérea da Hungria entre 1937 e 1945. Na Alemanha voou pela primeira vez em 1934, tinha algumas inovações e foi produzido até 1942. Hoje há aviões destes a voar.

O Yakovlev Yak-18, um dos 58 recebidos da URSS em 1951 e usados até 1961 como aviões de instrução. Uma firma húngara – National Sports Goods Manufacturing Company – chegou a fabricar 46 destes aviões que foram vendidos à Polónia.

O espaço de projecção de filmes do R/C e foto da placa na entrada do museu que assinala o apoio da UE. Mais de 6 milhões de euros.

Kamov Ka-26 (código NATO Hoodlum) fabricado na antiga URSS e do qual a Hungria recebeu 23 unidades que usou no seu Exército Popular entre 1970 e 1990. Em primeiro plano os despojos de um B-24 Liberator da USAF caído na Hungria, com a curiosidade de um tripulante ser certamente de origem portuguesa ou mesmo português: Jose Machado. Estes “despojos” foram descobertos este Agosto de 2018 no Danúbio e identificados como pertencentes a um B-24 do 485 Grupo de Bombardeio da USAF que ali tinha caído em 30JUL1944 quando atacavam uma fábrica de aviões. Curiosamente em 25OUT2018 outros destroços foram encontrados no Danúbio que se por encontrar com um caudal muito baixo deixa estes “tesouros” aparecer.

Mil MI – 1 (código NATO Hare), de origem soviética (1948), também fabricado na Polónia como este exemplar, tendo este servido no Exército Popular entre 1960 e 1982. Foi um helicóptero muito apreciado na Hungria que usou 25 unidades e o precursor de vários outros nas suas unidades aéreas, serviu também no Ministério do Interior até 1986

Mil MI – 2 (código NATO Hoplite) era um helicóptero destinado primariamente a uso civil, concebido na URSS mas fabricado sob licença na Polónia a partir de 1961. Na Hungria o Exército Popular recebeu 32 para substituir o MI 1 a partir de 1982 e foi usado na Força Aérea até 2000 (aqui em Szolnok) mas a Policia ainda usa alguns. A foto à direita mostra um dos dispositivos interactivos que as aeronaves no Hangar têm para fornecer informação ao visitante.

A cafetaria e o restaurante estão sempre abertos e os preços são os normais na Hungria, diria que muito semelhantes aos nossos.

Hangar

Com capacidade para 16 aeronaves no solo – algumas outras, tipo planadores estão suspensas –  e sem apertos, o que aqui podemos ver de mais interessante foi, entre outras aeronaves, as seguintes que destacamos: um MIG-21UM – versão de instrução – ao qual se pode ter acesso ao cockpit e o mesmo para um Jakovlev Jak-52; partes de um Iljusin IL-2M-3 Sturmovik soviético abatido durante a 2.ª Guerra Mundial e descoberto em 1999 por pescadores no lago Balaton; um dos 8 Messerschmitt BF 108 Taifun comprados à Alemanha que serviram na Real Força Aérea da Hungria entre 1937 e 1945;  Aero-45 Osprey apresentado como o orgulho da indústria aeronáutica da Checoslováquia, foi um bimotor que voou a partir de 1947. Até 1963 a Aero Vodochody construiu 590 unidades. Na Hungria vários foram usados pela Força Aérea, Exército, Policia e Serviço Nacional de Ambulâncias. Um deles pelo menos voou até 1972; Jakovlev Jak-11 avião de treino muito bem-sucedido foi fabricado na União Soviética entre 1946 e 1956. Na Hungria começou a servir em 1950 e era muito útil porque tinha o meso sistema de navegação radio que o MIG 15. Foram recebidos 64 unidades, 19 das quais fabricadas na Checoslováquia.

Nos helicópteros podemos ver um Kamov Ka-26 (código NATO Hoodlum) fabricado na antiga URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – e do qual a Hungria recebeu 23 unidades que usou no seu Exército Popular entre 1970 e 1990. Embora fosse um helicóptero desenhado sobretudo para missões civis na Hungria só os militares o usaram. O Mil MI – 1 (código NATO Hare), de origem soviética (1948), também fabricado na Polónia como este exemplar, tendo este servido no Exército Popular entre 1960 e 1982. Foi um helicóptero muito apreciado na Hungria que usou 25 unidades e o precursor de vários outros nas suas unidades aéreas, e na Hungria serviu também no Ministério do Interior até 1986. O Mil MI – 2 (código NATO Hoplite) era um helicóptero destinado primariamente a uso civil, concebido na URSS mas fabricado sob licença na Polónia a partir de 1961. Na Hungria o Exército Popular recebeu 32 para substituir o MI 1 a partir de 1982 e foi usado na Força Aérea até 2000 (aqui em Szolnok) mas a Policia ainda usa alguns.

Ainda uma referência para uma curiosa “aeronave sem piloto” de fabrico húngaro, o K-001 Bat, que chegou a voar em testes 28 horas com piloto em 1995 e 1996, mas nunca foi dotada dos sistemas de controlo remoto, e o projecto foi abandonado.  

O projecto do designer Pál Vég terminado em 1995 ainda voou 28 horas, com piloto, mas o sistema de controlo remoto que era o objectivo final do Instituto de Tecnologia Militar que o havia encomendado nunca foi implementado. O protótipo ficou como memória desses tempos.

O sector dedicado aos simuladores (russos) do MiG29, com a curiosidade do teatro de operações onde se voa e combate ser…a Chechénia. O simpático instrutor que apesar dos esforços não  evitou que fossemos abatidos!

No museu há muitos destroços de aviões abatidos/caídos durante a 2.ª Guerra Mundial, parte significativa deles identificados com grande detalhe num meritório trabalho de investigação com a colaboração do Instituto de História Militar do Ministério da Defesa.

Uma das pequenas referências aos Pára-quedistas Húngaros muito ligados aliás a esta cidade. O museu tem poucas referências a estas tropas que na Hungria, este ano, assinalam o seu 100.º aniversário. Fui informado que esteve patente uma exposição temporária no museu…até 30 de Setembro. Noutras salas onde estão expostos espólios de alguns militares, é verificável que vários pilotos tinham também sido pára-quedistas.

Abertura da exposição dedicada à História da Aviação Militar na Hungria.

Além dos suportes interactivos ao longo destas salas podemos ler uma resenha histórica da aviação militar na Hungria. Estas fotos são uma composição nossa, no museu estão espalhadas pelas salas respeitantes às épocas em causa.

Os antecedentes da aviação na Hungria estão naturalmente ainda nos tempos do Império Austro-Húngaro. Aqui um piloto dessa época (1917) e objectos desses tempos iniciais.

Nos anos do Pacto de Varsóvia a aviação militar húngara teve grande desenvolvimento, tendo chegado a dispor de 300 aviões e uma defesa aérea que incluía 14 batalhões também integrados na componente aérea do Exército Popular, designação geral das actuais Forças de Defesa da Hungria (Magyar Honvédség) aquilo que nós designamos Forças Armadas.

Esta composição fotográfica pretende mostrar o que são as salas desta exposição sobre as diferentes épocas das Forças de Defesa da Hungria. Um misto de armas, manequins fardados, objectos de época – muitos pessoais de aviadores que se distinguiram –  e muitas insígnias, com suportes interactivos onde se pode tomar contacto com informação escrita, filmes e imagens fixas sobre os assuntos expostos.

No próximo artigo vamos ver a parte ao ar-livre, onde aliás se encontram o maior número de aeronaves. Não só, mas acima de tudo aviões MiG, helicópteros e sistemas de defesa aérea. 

A parte substancial do acervo do museu em termos de caças está na área descoberta. Será certamente difícil de manter mas a realidade é que neste momento os aviões estão muito bem conservados e identificados.

Na área destinada aos sistemas de defesa aérea, pode ser visto toda uma panóplia de misseis, sistemas de transporte, sistemas de vigilância e detecção, e ainda painéis com a explicação detalhadas de como funcionada a defesa área da Hungria nos tempos do Pacto de Varsóvia e a localização das suas unidades.

(em breve) Leia aqui MUSEU DA AVIAÇÃO MILITAR EM SZOLNOK (HUNGRIA) 2.ª Parte

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