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FRAGATAS NAS MARINHAS ALIADAS

Por • 13 Abr , 2019 • Categoria: 07. TECNOLOGIA, EM DESTAQUE Print Print

Este artigo de Mário Roberto Vaz Carneiro, director da Segurança & Defesa do Brasil, revista com a qual mantemos colaboração regular, é muito interessante para nós portugueses. Escrito de modo muito acessível, mesmo didáctico, numa matéria que envolve alguma complexidade, não deixa de nos elucidar sobre aspectos técnicos importantes. Numa altura em que a Lei de Programação Militar em Portugal parece estar prestes a ser aprovada, aqui fica este “estudo de caso” para reflexão.

O HMS Defender – classificada pela Royal Navy como “TYPE 45 DESTROYER” da Classe “Daring” – em exercícios com a fragata francesa Provence, classificada pela Marine Nationale como FREMM – frégates multi-missions (Foto: MoD/Crown Copyright, L(Phot) Des Wade).

A diferença de capacidade entre os navios descritos no artigo e os actuais disponíveis em Portugal é muito grande. Não estando prevista a compra de novas fragatas, alguma coisa terá que ser feita para, pelo menos, reduzir essa diferença. A Marinha portuguesa não pode passar a ser vista pelos seus parceiros da NATO como uma Marinha da “segunda divisão”!  

Fique claro, este artigo foi publicado na revista Segurança & Defesa n.º 133 – chegou a Portugal esta semana – e o autor não teve como objecto qualquer alusão à realidade portuguesa, aliás Portugal nem é referido no texto uma vez que estivemos fora do Programa NATO referido e dos subsequentes programas nacionais dos países referidos. Agora, é um “estudo de caso” que serve e de que maneira para percebermos bem onde estamos e o que se vai passando à nossa volta em marinhas com as quais regularmente actuamos em missões no âmbito da NATO e da União Europeia.

Os filhos do NFR-90

Como o nome indica, o programa NFR-90 (NATO Frigate Replacement for the 90s) foi estabelecido almejando o projeto e a construção de uma classe de fragatas para substituir nas Marinhas da OTAN os navios de escolta que já estivessem em ponto de serem retirados de serviço. Era uma meta ambiciosa, principalmente levando em conta que, na maioria das vezes, os requisitos de cada Marinha diferem substancialmente dos de outra. Os oito países participantes eram os seguintes (entre parênteses, a quantidade de navios pretendidas por cada um): Alemanha Ocidental (4), Canadá (6), Espanha (5), Estados Unidos (18), França (4), Itália (8), Holanda (2) e Reino Unido (12) — um total de 59 escoltas, portanto. Por vários motivos, o programa foi eventualmente cancelado, e cada um dos partícipantes desenvolveu seus próprios escoltas, como veremos a seguir.

Aumentar o número de exemplares produzidos de qualquer item é a forma mais utilizada para reduzir o custo unitário, e em poucos segmentos isso é tão importante quanto no de defesa. Após o final da Guerra Fria — com a consequente redução da ameaça percebida —, os programas de obtenção de material militar sofreram uma significativa redução, o que tornou mais relevante ainda o estabelecimento de projetos conjuntos que, gerando itens que pudessem atender aos requisitos de diferentes países, resultassem em programas de obtenção que “coubessem” nos orçamentos cada vez mais limitados.

Os novos navios deveriam ter capacidade de se contrapor às ameaças surgidas após a concepção de seus antecessores, principalmente o crescimento da capacidade dos mísseis antinavio e o novo patamar alcançado pelas aeronaves mais modernas — o que ficou bem claro na Guerra das Malvinas, quando os navios de escolta britânicos por várias vezes tiveram suas defesas saturadas e penetradas pelos argentinos. A ênfase, portanto, seria na defesa antiaérea.

Os Estados Unidos, em particular, desejavam que seus aliados europeus se mobiliassem com navios cuja capacidade antiaérea fosse pelo menos comparável àquela proporcionada pelo sistema Aegis, que a U. S. Navy já vinha colocando em serviço a bordo dos cruzadores da classe “Ticonderoga”. Mesmo levando em conta diferenças na especificação de sensores/armamento por parte de cada país, esperava-se que fosse possível desenvolver uma plataforma-base comum, com a mesma arquitetura de sistemas, o que por si só já geraria significativa economia de escala.

Em 1985, foram iniciados os estudos de exequibilidade, e o programa foi formalmente estabelecido em 25 de janeiro de 1988, com a assinatura de um memorando de entendimento para a fase de definição do projeto, a ser iniciada em janeiro de 1989 e para a qual se previa a duração de 24 meses. Tencionava-se que os navios tivessem características “furtivas” (baixas assinaturas radar, acústica e térmica), o que seria obtido com o emprego de superfícies externas em ângulo e materiais absorvedores de radiação, apoios especiais para as máquinas e outras providências. O princípio da modularidade seria adotado ao máximo, para permitir a reconfiguração dos navios para cada tipo de missão e melhor adaptação no enfrentamento de futuras ameaças.

Os conflitos de interesses e de visões foram se avolumando. Algumas diferenças eram contornáveis, como por exemplo a escolha do míssil antinavio: a França queria o Exocet, enquanto a maioria dos outros países preferia o RGM-84 Harpoon, de procedência americana. Outras, porém, se mostraram irreconciliáveis. Os Estados Unidos foram os primeiros a se retirarem do projeto, no que foram seguidos pelo Reino Unido (RU), em setembro de 1989, e por França e Itália. Isso acelerou o esfacelamento da iniciativa, e em 18 de janeiro do ano seguinte o programa foi formalmente encerrado.

O fim do NFR-90 não eliminou, porém, a necessidade de substituição dos navios antigos por unidades que pudessem enfrentar ataques aéreos de saturação, por mísseis e/ou aeronaves. Também não eliminou, obviamente, a conveniência representada pela economia de escala. Assim, em 1992, Reino Unido e França se associaram no programa Common New Generation Frigate (CNGF), no que foram seguidos pela Itália — esse programa, como veremos, desembocaria no “Project Horizon”. No entanto, em abril de 1999, o Reino Unido encerrou sua participação, decidindo desenvolver um navio de escolta que melhor atendesse seus requisitos, o contratorpedeiro da classe “Type 45”. Itália e França permaneceram com as fragatas do tipo “Horizon”, mas em variantes diferentes, que melhor preenchessem suas exigências — as classes “Forbin” e “Andrea Doria”, respectivamente. Por sua vez, Alemanha, Holanda e Espanha também se agruparam, mas o acordo assinado entre esses países (Trilateral Frigate Cooperation) não era tão rígido, visando a obtenção de um projeto básico a partir do qual cada um dos participantes pudesse desenvolver navios específicos para si. Surgiram assim três classes diferentes: “F-124” (ou “Sachsen”), “F-100” (ou “Álvaro de Bazán”), e “LCF” (ou “De Zeven Provinciën”), respectivamente para a Alemanha, Espanha e Holanda. Em resumo, o programa original (NFR-90) gerou cinco classes diferentes de escoltas. Isso sem contar que os Estados Unidos optaram por um caminho totalmente diferente, e sua próxima classe de navios de escolta foi a dos contratorpedeiros “Arleigh Burke”. Alguns dos navios foram classificados como contratorpedeiros e outros como fragatas, mas isso reflete as diferenças locais de nomenclatura, e não necessariamente a capacidade das unidades.

Examinaremos a seguir os navios de cada uma das nações europeias envolvidas, e a ordem que adotaremos é a crescente, a partir da data de incorporação do primeiro navio de cada uma das Marinhas: Holanda, Espanha, Alemanha, Itália/França e Reino Unido. Na verdade, o primeiro escolta francês só foi incorporado em 2010, mas como neste artigo estamos tratando conjuntamente das classes “Forbin” e “Andrea Doria”, falaremos dos navios franceses juntamente com os italianos.

Essa imagem da Zr. Ms. Tromp da Koninklijke Marine (Real Marinha Holandesa) permite observar claramente a antena facetada do radar APAR, encabeçada pela antena do sistema de MAGE/CME Sabre e ladeada pelos dois domos esféricos que abrigam as antenas do sistema SCOT, de comunicação por satélite (Foto: Damen Shelde).

Holanda

O contrato para a definição de projeto foi assinado em 15 de dezembro de 1993, com a então Royal Schelde; a construção das duas primeiras unidades foi assinada em 30 de junho de 1995, sendo contratada com o mesmo estaleiro (hoje denominado Damen Schelde Naval Shibuilding), em 5 de fevereiro de 1997, a construção de mais duas unidades. As fragatas holandesas compõe a classe “LCF” (Luchtverdedigings en Commando Fregat), ou “De Zeven Provinciën”, composta de quatro navios: De Zeven Provinciën (F802, incorporado em 26 de abril de 2002), Tromp (F803, 14 de março de 2003), De Ruyter (F804, 22 de abril de 2004) e Evertsen (F805, 10 de junho de 2005).

Os sensores principais são o radar multifunção de varredura eletrônica ativa Thales Nederland APAR (Active Phased Array Radar, de busca combinada e direção de tiro, bandas I/J,) e o radar tridimensional de busca aérea SMART-L (Signaal Multibeam Acquisition Radar for Tracking, L-Band), operando na banda D (ex-banda L). O APAR surgiu a partir de um programa originalmente encetado por Alemanha, Canadá e Holanda; cobre um arco horizontal de 360 graus e vertical de 85 graus, podendo acompanhar simultaneamente até 250 alvos aéreos e/ou de superfície. Para navegação, os holandeses escolheram o radar Thales Scout (banda I).

A Koninklijke Marine especificou os mísseis SM-2MR Standard Block IIIA (167km de alcance máximo) e RIM-162B ESSM-Evolved Sea Sparrow Missile (alcance máximo de 50km); ambos são lançados a partir do de 40 células de um sistema Mk.41 de lançamento vertical, o que permite que 32 exemplares de cada um desses mísseis sejam transportados. Há espaço para a possível aplicação de mais oito células, o que aumentaria o total de mísseis embarcados. Na verdade, essa provisão foi feita pensando na possível aquisição futura de mísseis Tomahawk, ideia que foi abandonada em 2007, possivelmente por razões orçamentárias. Em maio de 2018, a Secretária de Defesa, Barbara Visser, informou ao Parlamento que, até 2024, os ESSM seriam modernizados do padrão Block I para o Block II, permitindo o engajamento de mísseis antinavio mais sofisticados. Os atuais mísseis antinavio Harpoon Block II embarcados (oito) têm sua substituição programada para 2024.

O armamento de tubo da classe “LCF” é o canhão Oto Melara de 127mm/54 (para o qual está projetada a adoção de munição guiada), e para defesa aproximada são empregados dois sistemas Thales Goalkeeper, de 30mm (um por sobre o hangar e outro um nível acima do passadiço — esse, entretanto, nem sempre é instalado); esse sistema tem substituição prevista para 2025. Metralhadoras de 7,62mm e/ou 12,7mm podem ser montadas em vários pontos para aumentar a capacidade defensiva contra ameaças a curtíssimo alcance. O armamento antissubmarino é composto por dois reparos triplos Mk.32 de tubos lança-torpedos Mk.46 Mod5, de 324mm.

A De Zeven Provinciën foi a primeira fragata lançada por um dos países participantes do já então há muito cancelado programa NFR-90 (Foto: USN, Mass Communication Specialist Seaman Apprentice Shonna Cunningham).

A fragata Evertsen foi a quarta e última da classe “LCF” a entrar em serviços na Marinha holandesa. Próximo à popa, a antena do radar de busca SMART-L (Foto: Kon. Marine)

Para direção de tiro do armamento de tubo, pode ser utilizada uma alça optrônica Thales Sirius. Para observação, encontra-se embarcado um sistema eletro-ótico Thales Mirador. O sonar de casco é um Atlas DSQS-24C, instalado na proa. As MAGE/CME (Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica/Contramedidas Eletrônicas) estão a cargo do sistema Thales Sabre, e para autodefesa existem quatro lançadores de despistadores SBROC Mk.36. Para fins antitorpédicos, emprega-se o sistema Nixie. O helicóptero embarcado é um NH90.

A partir de 2018-2019, pretende-se dotar o SMART-L de um modo Extended Long Range, o que lhe conferirá capacidade de detectar e acompanhar mísseis balísticos táticos. Mesmo que a Holanda não adquira mísseis SM-3, que possuem capacidade antimíssil, as fragatas “LCF” poderão, usando a variante Mk.2 do SMART-L, detectar mísseis balísticos em alcances de 2.000km, acompanhá-los e passar os dados a outros navios que sejam dotados de mísseis SM-3 ou similares, ou a instalações terrestres com capacidade de engajamento.

O deslocamento a plena carga (6.145t) supera o das fragatas espanholas e alemãs, como veremos adiante. O comprimento é de 144,2m, a boca é de 18,8m e o calado máximo é de 7,0m. O sistema de propulsão é o CODOG (Combined Diesel Or Gas), sendo usadas duas turbinas Rolls-Royce SM1C Spey e dois motores diesel Stork-Wärtsilä 16V 26 ST, acionando dois eixos com hélices de passo controlável. A velocidade máxima é de 28 nós, e a 18 nós os navios podem percorrer até 5.000 milhas marítimas.

Espanha

A fase de definição de projeto da classe “F100” estendeu-se de setembro de 1992 a julho de 1995, e já a partir de 27 de janeiro de 1994 foi iniciada a colaboração com as indústrias navais da Alemanha e da Holanda, corroborando um memorando de intenções assinado entre Blohm + Voss e Royal Schelde em outubro de 1993. Em junho de 1995, a Espanha retirou-se do programa do radar tridimensional multifunção europeu APAR, e decidiu empregar o sistema americano Aegis, cujo principais item é o radar de varredura eletrônica passiva AN/SPY-1D (que opera na banda E/F), ao qual são integrados os mísseis SM-2MR Block IIIB Standard e RIM-162B ESSM. Muito provavelmente, essa decisão se deveu ao desejo de facilitar as operações conjuntas com a U. S. Navy. Além disso, essa escolha economizou para a Espanha recursos que teriam que ser aplicados em desenvolvimento, caso a opção fosse pelo APAR. O Aegis já era um sistema maduro, e o fato de ser largamente empregado por diversos países (inclusive, é óbvio, os Estados Unidos) garante a disponibilidade, a custos razoáveis, de peças de reposição ao longo da vida útil dos navios. Para acomodar o Aegis, a fase de definição de projeto estendeu-se por mais um ano (até julho de 1996).

A fragata Álvaro de Bazán, primeiro navio da sua Classe da Armada Española. Preparando-se para pousar a bordo, um helicóptero SH-60B Seahawk (Foto: USN).

Em 21 de outubro de 1996, foi decidida a construção de quatro unidades de um primeiro lote, sendo a aprovação definitiva recebida em 24 de janeiro de 1997; a construção de uma quinta unidade foi decidida pelo governo espanhol em 27 de maio de 2005, sendo o contrato assinado em julho do ano seguinte. O último navio possui algumas diferenças em relação a seus quatro irmãos, entre elas o uso do radar AN/SPY-1D(V) e do sonar de casco Indra/Lockheed Martin LW-HP 53, enquanto as outras unidades empregam um Raytheon DE-1160 LF. Nos cinco navios, é possível a instalação de um sonar de hidrofone rebocado ativo (ATAS, ou Active Towed Array Sonar).

O sistema Mk.41 de lançamento vertical de mísseis das “F100” dispõe de 48 células, cada uma das quais pode ser ocupada por um míssil SM-2 ou quatro mísseis ESSM — o carregamento mais usual seriam 32 SM-2MR e 64 ESSM, ambos os tipos com guiagem semiativa. Adicionalmente, podem também utilizar o míssil superfície-superfície de longo alcance Tomahawk, caso a Espanha decida por sua aquisição. Os navios são também armados com um canhão Mk.45 de 127mm, oito mísseis antinavio Harpoon Block II, dois reparos duplos Mk.32 Mod9 (para torpedos Mk.46) e um helicóptero SH-60B Seahawk (podem também operar o helicóptero europeu NH90, mas sem usar o sistema de auxílio ao pouso RAST (Recovery Assist, Secure and Traverse System), que não é compatível com a aeronave. Para defesa contra ameaças muito próximas, podem ser instaladas metralhadoras de 7,62mm e 12,7mm.

A Espanha escolheu o sistema americano Aegis, que emprega o radar de varredura eletrônica passiva AN/SPY-1, com sua característica antena facetada. Na foto, a Almirante Juan de Borbón (Foto: USN, Mass Communication Specialist 3rd Class Leonard Adams).

Entre os demais sensores da classe “F100” estão um sonar de casco Raytheon DE1160 LF (Indra/Lockheed Martin LW-HP 53 no quinto navio, como dito acima), uma alça optrônica Sirius, radar de busca de superfície AN/ SPS-67 (RAN 12S) (Indra Aries II na quinta fragata), dois radares Raytheon SPG-62 Mk.99 (banda I/J) para direção de tiro dos mísseis, um radar FABA Dorna para direção de tiro do canhão (banda I) e um radar de navegação Raytheon AN/SPS-73(V) (banda I). Para autodefesa, os navios contam com quatro lançadores de despistadores SBROC Mk.36 Mod2, MAGE Regulus Mk.9500 e Ceselsa Aldebaran (Indra Rigel no quinto navio), e sistema antitorpédico SLQ-25A Nixie.

A Navantia (antiga Bazán) construiu para a Armada Española cinco fragatas “F100”, a saber (entre parênteses, os indicativos visuais e as datas de incorporação): Álvaro de Bazán (F101, 19 de setembro de 2002), Almirante Juan de Borbón (F102, 3 de dezembro de 2003), Blas de Lezo (F103, 16 de dezembro de 2004), Mendez Nuñez (F104, 21 de março de 2006) e Cristóbal Colón (F105, 21 de dezembro de 2012). Em 2007, a Mendez Nuñez realizou, em conjunto com navios da U. S. Navy, ensaios de defesa contra mísseis balísticos táticos.

O sistema de propulsão é CODOG, com duas turbinas GE LM2500 e motores diesel de passo controlável Bazán/Caterpillar acionando dois eixos, cada um com um hélice. O deslocamento a plena carga é de 5.947t, a velocidade máxima é de 28 nós, podendo ser navegadas 4.500 milhas marítimas a 18 nós; a tripulação é de 201 militares, e as dimensões (comprimento x boca x calado máximo) são 146,4m x 18,6m x 7,2m.

Um aspecto digno de nota é que a classe “Álvaro de Bazán” serviu de base para as quatro fragatas da classe “Fridtjof” que a Navantia construiu para a Noruega (e que foram incorporadas entre 2006 e 2011) e, mais recentemente, para os três contratorpedeiros antiaéreos classe “Hobart” da Austrália, construídos naquele país. Esse fato possivelmente tem muito a ver com a opção espanhola pelo Aegis, já que ambas as novas classes o empregam, sendo que o radar dos navios dinamarqueses é o AN/SPY-1F, enquanto o dos australianos é o AN/SPY-1D(V).

A escolha do Aegis rendeu benefícios para a Espanha, já que a classe “F100” (na foto vê-se a Blas de Lezo) serviu de base às fragatas classe “Fridtjof”, da Noruega, e aos contratorpedeiros antiaéreos classe “Hobart”, da Austrália (Foto: USN, Mass Communication Specialist 2nd Class William Jamieson).

Em fevereiro de 2018, a U. S. Navy anunciou a seleção de cinco empresas para o projeto de concepção de sua nova fragata, com duração de 16 meses. O programa é conhecido como FFG(X), e objetiva a obtenção de 20 unidades que possam executar de forma mais econômica muitas das missões que hoje ficam nas mãos de contratorpedeiros ultrassofisticados e caros. A Navantia foi uma das selecionadas e, em parceria com a empresa americana General Dynamics Bath Iron Works, deverá apresentar uma variante do contratorpedeiro australiano classe “Hobart”. A decisão sobre o projeto vencedor será tomada em 2020.

Alemanha

Os navios de escolta adotados pela Alemanha em substituição àqueles pretendidos no programa NFR-90 foram as três unidades da classe “F124”, ou classe “Sachsen”: Sachsen (F219, incorporada em 4 de novembro de 2004), Hamburg (F220, 13 de dezembro de 2004) e Hessen (F221, 15 de dezembro de 2005). Uma quarta unidade, cujo nome seria Thüringen, não se concretizou. Deslocando 5.690t a plena carga (com folga de 270t no projeto para adição de novos equipamentos, se desejado), os navios têm 143,0m de comprimento, 17,4m de boca e 6,9m de calado máximo); o casco é baseado no das fragatas classe “F123”. Na Marinha alemã, substituíram três contratorpedeiros da classe “Lütjens” (classe americana “Charles F. Adams”, modificada).

Nessa imagem da Sachsen, evidenciam-se as angulações do casco e da superestrutura, para diminuir a assinatura radar (Foto: USN, Mass Communication Specialist 2nd Class Elizabeth Williams).

Após o período de desenvolvimento conjunto com a Espanha e Holanda, os navios foram encomendados em junho de 1996, ficando a construção (na época) com o consórcio ARGE F214, composto pela Blohm + Voss, HDW e Thyssen Nordseewerke, que atualmente constituem a Thyssen Krupp Marine System (TKMS). Na construção foi empregado o já conhecido conceito MEKO, que maximiza a modularidade. A obtenção desses navios custou aos cofres do governo alemão a soma de 2,1 bilhões de Euros.

Em relação à solução holandesa, as fragatas alemãs (classe “F124”) têm muitas semelhanças, mas também há algumas diferenças relevantes. Os radares principais são os mesmos dos navios holandeses (APAR e SMART-L); para navegação, são empregados dois radares SAM 9600M (banda E/I). O sonar de casco é um Atlas Elektronik DSQS-21B Mod, montado na proa. Para direção de tiro, é também empregada uma alça optrônica MSP. Para guerra eletrônica os navios dispõem de quatro lançadores de despistadores Rheinmetall MASS-4L (que substituíram os lançadores SBROC inicialmente instalados), e as MAGE ficam a cargo de um sistema EADS FI 1800-S-II.

O armamento principal são mísseis SM-2MR Block IIIA Standard e RIM-162B ESSM, alojados em um sistema Mk.41 de lançamento vertical com 32 células — o carregamento, em geral, é de 24 SM-2 (24 células) e 32 RIM-162B (oito células). Para defesa aproximada, os navios dispõem de dois lançadores Mk.49 (com 21 células cada) de mísseis RIM-116 RAM (alcance máximo de 9km), um a vante e outro a ré. O armamento de tubo é um canhão Oto Melara 76mm/62 Compact (o que limita a utilidade desses navios em missões de apoio de fogo), além de dois canhões automáticos Mauser MLG27, de 27mm, um em cada bordo. Essas armas têm cadência de 1.700tpm e podem usar diversos tipos de munição, incluindo Frangible Armour Piercing Discarding Sabot (FAPDS), Frangible Armour Piercing (FAP) e Penetrator with Enhanced Lateral Effects (PELE). Os reparos MLG27 são operados remotamente e incluem um conjunto optrônico com câmera de TV, imageador térmico, telêmetro laser e sistema de acompanhamento por vídeo, permitindo o rastreamento automático ou manual de alvos. Em vários pontos do navio podem ser instaladas metralhadoras de 7,62mm ou de 12,7mm, para combater ameaças a curtíssima distância.

A Hessen foi o último exemplar da classe “F124”; uma quarta unidade, cujo nome seria Thüringen, nunca foi construída (Foto: TKMS).

Comenta-se, porém, que futuramente o canhão de 76mm poderia ser substituído pelo Oto Melara 127mm/64 LW Vulcano, usado nas fragatas da classe “F125”. Na realidade, em 2003 a torre de um obuseiro autopropulsado KMW PzH2000, completa com o canhão de 155mm, foi instalada na Hamburg, no lugar do canhão de 76mm, para testes que foram conduzidos em setembro daquele ano. A nova arma tinha alcance de 41km (que poderia ser estendido para até 80km como uso de munição especial), com cadência de até dez tiros por minuto. O programa foi denominado MONARC (Modular Naval Artillery Concept), e objetivava a possível instalação nas fragatas da classe “F125”, ideia que foi posteriormente abandonada.

Uma torre completa do obuseiro autopropulsado PzH2000, de 155mm, foi testada a bordo da fragata Hamburg, para pesquisar a viabilidade de sua adoção nas fragatas da classe “F125” (Foto: HDW).

Para guerra antissubmarino, existem dois reparos triplos Mk.32 Mod7 de tubos lança-torpedos, sendo empregado o Eurotorp MU90, de 324mm.Os mísseis antinavio embarcados são oito Harpoon RGM-84 Block ID. Os navios dispõem ainda de dois helicópteros NH90, ou Super Lynx Mk.88A (que podem ser hangarados). Está prevista a modernização dos navios de forma a dar-lhes capacidade de defesa contra mísseis balísticos táticos.

A propulsão é do tipo CODAG (Combined Diesel And Gas), com uma turbina GE LM2500 e dois motores diesel MTU 20V 1163 TB 93, que acionam dois eixos com hélices de passo controlável; a velocidade máxima é de 29 nós, e o navio pode navegar até 4.000 milhas marítimas a 18 nós. Um total de 255 militares compõem a guarnição.

Muito tem sido dito ou especulado quanto à opção holandesa/alemã pelo duo APAR/SMART-L em preferência ao sistema AN/SPY-1, o que demanda algumas considerações. O AN/SPY-1 do Aegis utiliza varredura passiva, enquanto a do APAR é ativa. Cada um dos 3.424 módulos individuais de cada uma das quatro faces do APAR é energizado separadamente, o que entre outras vantagens permite a criação de feixes dedicados a funções diversas, e resulta em maior redundância — às expensas do custo (estima-se que um APAR custa US$10-12 milhões) e da complexidade, que são maiores nos radares de varredura eletrônica ativa do que nos de varredura passiva. Por trabalhar numa banda de frequência mais alta (8-20GHz), o APAR oferece mais precisão no acompanhamento de alvos e na direção de tiro, mas seu alcance no modo de busca é bem menor (menos de 100 milhas marítimas). Isso é compensado pela atuação do SMART-L, que no modo busca aérea tem alcance superior a 300 milhas marítimas, enquanto o do AN/SPY-1D(V) dos navios espanhóis é estimado em 175 milhas marítimas. Esses números, entretanto, são nominais, e podem estar longe dos alcances de acompanhamento operacionais; sabe-se, por exemplo, que o alcance instrumentado do APAR é de 19,9 milhas (32km) para alvos de superfície, 46,6 milhas (75km) até o horizonte, e 93,2 milhas (150km) para alvos aéreos.

Esses aspectos, entretanto, são apenas uma apreciação genérica de um assunto muito complexo e que envolver grande número de variáveis. Não se deve, portanto, tomar decisões a respeito de um sistema ser ou não melhor do que o outro sem um estudo muito mais aprofundado, o que demandaria muito mais espaço do que o disponível aqui.

França e Itália

Como já foi dito, o Reino Unido se retirou do “Project Horizon” em 1999, mas a Itália e a França mantiveram a parceria, e para isso assinaram um acordo em 7 de setembro daquele ano. Em 22 de setembro de 2000, foi firmado um memorando de entendimento pelo qual cada um dos países fechou a construção de dois navios da classe “Horizon” (“Orizzonte”, na Itália), o que foi concretizado num contrato assinado em 27 de outubro de 2000. Nove dias antes, em 16 de outubro, havia sido criada uma “joint venture” pela DCN/Thomson-CSF (atualmente Naval Group/Thales) e Fincantieri/Finmeccanica (a segunda atualmente é a Leonardo). Os navios italianos, cuja construção ficou a cargo da Fincantieri, são o Andrea Doria (D553) e o Caio Duilio (D554), incorporados em 22 de dezembro de 2008 e 3 de abril de 2009, respectivamente. Os navios franceses, construídos pela então DCN, são o Forbin (D620) e o Chevalier Paul (D621), respectivamente incorporados em 14 de outubro de 2010 e 10 de junho de 2011. A Marina Militare Italiana e a Marine Nationale abandonaram os planos para a construção de mais um par, decidindo que a missão poderia ser cumprida pelas fragatas classe “FREMM”, operadas pelas duas forças.

A Forbin, fragata de Defesa Aérea tipo Horizon .O desenho extremamente “limpo” e elegante da classe “Horizon/Orizzonte” está bem evidenciado nessa imagem (Foto: USN, Mass Communication Specialist 2nd Class Rafael Figueroa Medina).

Os navios são classificados pelas duas Marinhas como contratorpedeiros. Tanto na classe “Andrea Doria” quanto na “Forbin” o sensor principal é o radar multifunção AN/SPY-790 EMPAR (European Multifunction Phased Array Radar, banda G), de varredura eletrônica passiva e que, diferentemente do AN/SPY-1 e do APAR, utiliza uma antena giratória (60rpm), abrigada no interior de um domo de 5m de diâmetro. A economia de peso assim obtida permite sua colocação numa posição mais alta, o que amplia consideravelmente seu horizonte. O alcance normal de acompanhamento de alvos aéreos é de 43,2 milhas marítimas (80km). O arco vertical coberto é de ±60 graus, e o horizontal é de ±45 graus, podendo ser mostrados até 300 alvos, e acompanhados 168 simultaneamente; até 30 mísseis podem ser guiados ao mesmo tempo.

Nas duas classes, o EMPAR é empregado em conjunto com o radar de busca combinada S1850M (banda D), uma variante do SMART-L, do qual já falamos. Produzido pela BAE Systems e pela Thales, pode — segundo os fabricantes — rastrear até mil alvos, num alcance de 250 milhas náuticas (450km). Originalmente conhecido como SMARTELLO, esse radar de varredura eletrônica passiva tem maior velocidade de rotação e maior resistência a interferência que o SMART-L.

Juntos, os quatro navios da classe “Horizon/Orizzonte”: o primeiro e o último da formatura são italianos, enquanto os que estão nas laterais são franceses (Foto: Marina Militare).

As duas Marinhas especificaram dois radares de direção de tiro NA 25XP, de banda J, e para navegação e operação de helicópteros os navios usam dois Leonardo AN/SPN-753(V)4, de banda I; os navios italianos empregam ainda um Leonardo SPS-791 (RAN-30X), de banda I. O sonar de casco é um UMS 4110 CL. Há também duas alças optrônicas Sagem Vampir nos “Andrea Doria”, enquanto os “Forbin” dispõem de uma Sagem EOMS-NG. Para guerra eletrônica, os italianos optaram pelo sistema CMA/MAGE MM/SLQ-750 e por dois lançadores de despistadores SCLAR-H, ficando os franceses com os sistemas Sigen EW e Thales Altesse X, e dois lançadores EADS NGDS. Ambas as Marinhas selecionaram o SLAT como defesa antitorpédica.

Como armamento antiaéreo, foi escolhido o sistema PAAMS (Principal Anti-Air Missile System), que emprega mísseis Aster 15 (normalmente 16, com alcance de 30km) e Aster 30 (em geral 32, com alcance de até 120km), instalados em 48 células de lançamento vertical Sylver A50, de oito módulos óctuplos. Diferentemente do Standard, o Aster utiliza “active homing” (guiagem ativa), o que leva a crer que a sequência de engajamento de um alvo envolveria sua descoberta e identificação pelo S1850M, seguida de acompanhamento e guiagem do míssil em alcances médios, ficando a fase final do engajamento a cargo do radar de bordo do próprio míssil. Os navios franceses têm ainda previsão para a possível instalação de um reparo quádruplo MBDA Tetral, para mísseis antiaéreos Mistral. A classe “Andrea Doria” embarca oito mísseis antinavio Teseo Mk.2A, enquanto a “Forbin” utiliza oito MM40 Block 3 Exocet.

O Chevalier Paul, da Marinha francesa, passa pelo porta-aviões americano USS John C. Stennis. Diferentemente de seus pares italianos, os navios franceses não possuem um terceiro reparo de 76mm/62, sobre o hangar. Futuramente, poderão receber um lançador quádruplo de mísseis Mistral nessa posição. (Foto: DoD).

Como armamento de tubo, os italianos optaram por três reparos do canhão Oto Melara 76mm/62 Strales, enquanto os franceses utilizam dois (os de vante somente), do modelo Super Rapid. Para defesa aproximada foram escolhidos, respectivamente, dois canhões automáticos Oerlikon de 25mm/80 e GIAT 20F2, de 20mm. Em caso de necessidade, metralhadoras de 7,62mm ou 12,7mm podem ser instaladas. Em cada um dos bordos, os navios têm um tubo fixo para lançamento de torpedos A/S de 324mm Eurotorop MU90 Impact. Um helicóptero pode ser hangarado e operado em cada navio, com o AW101 sendo usado pela Marina Militare e o NH90 pelas duas Marinhas.

O sistema de propulsão é CODOG, com duas turbinas GE LM2500 e dois motores diesel (Pielstick 12 PA6 STC) acionando dois eixos com hélices de passo controlável. O deslocamento a plena carga é de aproximadamente 7.150t, e a velocidade máxima é de 30 nós; somente com os motores diesel, os navios atingem 18 nós, e o alcance a essa velocidade é de 7.000 milhas náuticas. O comprimento é de 152,9m, a boca é de 20,3m e o calado máximo é de 8,0m; a tripulação é de aproximadamente 200 militares.

Dependendo da disponibilização de recursos, os italianos pensam em dar aos navios capacidade de se contrapor a mísseis balísticos. Para isso, o S1850M seria substituído por um radar AESA RAN 40L, e uma variante de varredura ativa do EMPAR seria instalada.

Reino Unido

Como já dito, em dezembro de 1992, França, Itália e o Reino Unido assinaram um acordo visando a obtenção de uma fragata comum às três Marinhas, conhecida como Common New Generation Frigate (CNGF), que usaria o sistema de defesa aérea europeu PAAMS. A escolha de qual radar multifunção adotar foi o principal pomo da discórdia. Franceses e italianos se decidiram pelo PAAMS (E), que empregava o radar EMPAR, enquanto o Reino Unido queria o PAAMS (S) Sea Viper, que utiliza o radar de varredura eletrônica ativa Sampson — solução vista como a que oferecia maior capacidade de defesa de área. Mas essa não era a única discordância: o Reino Unido considerou que seus dois parceiros estavam demandando uma “fatia” grande demais do programa em relação às suas respectivas participações.

Essa visão superior do HMS Daring mostra claramente o layout dos equipamentos, sensores e armamento embarcados. Observe-se a ausência de mísseis antinavio (Foto: MoD/Crown Copyright, LA(PHOT) Keith Morgan).

Assim, em 25 de abril de 1999, o RU desligou-se do projeto, decidindo desenvolver um navio de escolta especificamente para atender aos seus requisitos — que eram muito exigentes, especialmente com referência ao enfrentamento de ataques de saturação por mísseis antinavio em perfil de voo “sea skimming” ou por aeronaves. O resultado foi o contratorpedeiro “Type 45”; no qual se decidiu prever uma margem de no mínimo 11,5% no deslocamento, para a incorporação futura de novos sistemas e capacidades.

Em novembro de 1999, a BAE Systems foi apontada como contratada principal, ficando responsável também pelo projeto do navio, e em 11 de julho de 2000 foi confirmada a intenção de construir as três primeiras unidades. A RAND Corporation foi contratada para estudar o sistema construtivo que mais conviesse, e eventualmente foi decidido que os navios seriam construídos em módulos (alguns a cargo da BAE System e outros do VT Group), ficando a montagem final com a BAE. Em fevereiro de 2002, foi contratada a construção de mais três navios (o Batch 2). Eventualmente, a BAE Surface Fleet Solutions e a VT Shipbuilding se fundiram, criando a BVT Surface Fleet, que incorporou os estaleiros da primeira em Scotstoun e Govan, e as instalações da segunda em Portsmouth. Em 30 de outubro de 2009, a BAE Systems adquiriu a participação do VT Group na empresa e a renomeou BAE Systems Surface Ships Ltd. Posteriormente, juntamente com a BAE Systems Submarine Solutions, veio a compor a BAE Systems Maritime.

Nessa imagem do HMS Daring cruzando o Canal de Suez, pode-se ver as 48 células de lançamento vertical Sylver A50, bem como o canhão de 114mm na proa (Foto: MoD/Crown Copyright).

De todos os “filhos do NFR-90”, a classe “Type 45” é a mais numerosa, com seis navios: Daring (D32, incorporado em 23 de julho de 2009), Dauntless (D33, 3 de junho de 2010), Diamond (D34, 6 de maio de 2011), Dragon (D35, 20 de abril de 2012), Defender (D36, 21 de março de 2013) e Duncan (D37, 26 de setembro de 2013). Originalmente, pretendia-se que a classe fosse composta por 12 unidades, mas a realidade orçamentária impediu que assim fosse.

O radar multifunção (busca, acompanhamento e guiagem dos mísseis) BAE Systems Insyte Sampson (Type 1045) é derivado do programa MESAR (Multi-function Electronically Scanned Adaptive Radar), e utiliza duas antenas (back-to-back) rotativas (30rpm) — cada uma com mais de 2.000 elementos — protegidas por um domo; o peso total é de cinco toneladas, aproximadamente. Opera na banda E/F, e sua posição no “Type 45”, bastante elevada em relação ao nível do mar, garante uma excelente distância até o horizonte. A Royal Navy decidiu também instalar nos “Type 45” o radar S1850M, do qual já falamos. Para busca de superfície, é empregado um radar Raytheon Type 1048 (banda E/F), enquanto dois radares Raytheon Type 1047 (banda I) são usados para navegação. Sobre o passadiço, são posicionadas duas alças óticas GSA 9.

O sonar de casco, instalado na proa, é um EDO/Ultra MFS-7000, havendo previsão para a possível instalação de um sonar de hidrofone rebocado. Para guerra eletrônica são empregados os sistemas Thales Type UAT Mod2 a NA/SSQ-137(V) SSEE (Ship Signal Exploitation Equipment), além de quatro lançadores de despistadores DLH, de seis tubos. A defesa encontra torpedos é um sistema Ultra Type 2170 SSTD (Surface Ship Torpedo Defence).

O HMS Duncan, último navio da classe, é conduzido através de um canal em Cardiff (Foto: Mod/Crown Copyright, L(Phot) AlexKnott).

Os “Type 45” são dotados de seis módulos de oito células cada um do sistema de lançamento vertical Sylver 50, com um carregamento típico sendo 32 mísseis Aster 30 e 15 Aster 15 (há previsão para a instalação de mais dois módulos, se desejado). Como o Sylver A50 não é compatível com o Tomahawk, caso o RU opte por eventualmente armar os navios com este míssil possivelmente seriam instaladas algumas células do modelo Mk.41. Os “Type 45” têm previsão para poder embarcar oito mísseis antinavio Harpoon1C. O principal armamento de tubo é o canhão Vickers 114mm/55 Mk.8 Mod1, e existem também dois canhões automáticos DS30 de30mm/74 — como de hábito, em caso de necessidade, podem ser instaladas a bordo metralhadoras de 7,62mm ou 12,7mm. A folga de deslocamento prevista no projeto possibilita a futura instalação de um canhão de 152mm como principal armamento de tubo, bem como reparos Phalanx CIWS de 20mm para defesa aproximada.

Atualmente, os navios não dispõem de armamento antissubmarino, mas poderiam receber reparos duplos Cray Marine para lançamento de torpedos Stingray, de 324mm. A razão da existência de tantos itens que o navio está “fitted for but not with” é provavelmente um esforço para reduzir o impacto dos custos, já que para implantar nos “Type 45” o PAAMS (S) foram dispendidos recursos que logicamente teriam sido economizados caso se optasse pelo PAAMS (E). Os navios podem operar e hangarar um helicóptero AW101 Merlin ou, alternativamente, dois Lynx.

Curiosamente esta semana passada um dos navios desta classe, o HMS Dragon, foi noticia de destaque no Reino Unido porque, depois de 7 meses no mar – Golfo Pérsico e Oceano Índico – capturou, em 8 operações contra traficantes de droga (na imagem o rescaldo do última), largas toneladas de droga, mais do que cinco vezes o peso do helicóptero Wildcat embarcado, num valor estimado de 145 milhões de libras (Foto Royal Navy).

O HMS Dragon atracando em Portsmouth em 12ABR2019, depois de 7 meses em operações (Foto Royal Navy)

O sistema de propulsão é do tipo IEP (Integrated Electric Propulsion), empregando duas turbinas Rolls-Royce WR21 (que reciclam os gases quentes da combustão para economizar combustível) e dois geradores diesel Wärtsillä 12V200, com o conjunto acionando dois eixos com um hélice de passo fixo cada. A velocidade máxima é de 31 nós, e 18 nós podem ser mantidos por 6.500 milhas marítimas. Os navios deslocam 7.350t a plena carga, e o deslocamento máximo de projeto é de 8.000t; o comprimento é de 152,4m, a boca é de 21,2m e o calado máximo é de 7,4m. A guarnição é composta por 190 militares, havendo ainda acomodação a bordo para 40 soldados.

Conclusão

Como se vê, a realidade foi bem diferente do que se planejou inicialmente. De um casco comum, um só modelo de radar multifunção e dois tipos de mísseis antiaéreos, passou-se a cinco cascos (“LCF”, “F100”, “F124”, “Horizon” e “Type 45”), quatro modelos de radar multifunção (SPY-1D, APAR, EMPAR e Sampson) e quatro tipos de mísseis (SM-2, RIM-162B, Aster 30 e Aster 15). Outro aspecto interessante é que enquanto espanhóis optaram por mísseis e radares americanos, holandeses e alemães escolheram radares europeus e mísseis americanos, enquanto franceses, italianos e britânicos preferiram uma solução com radares e mísseis europeus.

Além disso, muitos países obtiveram menos navios do que desejavam: Itália (dois, ao invés de oito), França (dois, ao invés de quatro), e Reino Unido (seis, ao invés de doze); apenas a Espanha obteve a quantidade originalmente planejada. Dependendo dos conceitos de cada Marinha, esses navios são designados como fragatas ou como contratorpedeiros. Todos, porém, são bastante modernos e capazes, principalmente para defesa antiaérea.

Mário Roberto Vaz Carneiro / Segurança & Defesa

 

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