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EXERCÍCIO “BELEROFONTE 191” TESTA PRONTIDÃO NO EXÉRCITO

Por • 28 Mar , 2019 • Categoria: 04 . PORTUGAL EM GUERRA - SÉCULO XXI, EM DESTAQUE Print Print

O exercício “Belerofonte 191” colocou à prova a capacidade de reacção de várias componentes do Exército para certificar a Componente Terrestre da Força de Reação Imediata (CT/FRI) do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), este ano assente no 1.º Batalhão de Infantaria Paraquedista da Brigada de Reação Rápida (BrigRR), integrando outras forças do ramo. O exercício decorreu de 18 a 22 de Março de 2019, e teve como objectivos primários o treino, a avaliação e a certificação desta CT/FRI. Os 5 militares do Exército que partiram para Moçambique no primeiro C-130 em 20MAR2019, saíram directamente do exercício.

A capacidade “salto em paraquedas” permite colocar rapidamente uma força a longas distâncias em caso de urgência. Nos últimos anos, que se saiba, franceses, americanos e russos, fizeram uso desta capacidade, em operações no Médio Oriente e em África…pelo menos.

Certificação para emprego real

O “Belerofonte 191″(*) começou com a activação do Plano de Contingência Interno, seguiu-se, com o apoio da Esquadra 502 Elefantes da Força Aérea Portuguesa, o desenvolvimento de uma operação aerotransportada a partir do Aeródromo Militar de Tancos para a zona do Arripiado, através do lançamento em paraquedas de 52 militares armados e equipados, a execução acções de reconhecimento e patrulhamentos móveis, a simulação de inactivação de engenhos explosivos, passando pelo treino e avaliação de socorro a situações de emergência e evacuação médico-sanitário, o desempenho de algumas tarefas de reabastecimento e serviços, entre outros.

A urgência da situação simulada neste exercício determinou o emprego das tropas paraquedistas fazendo uso da sua capacidade de saltar de aeronaves em voo, chegando assim ao local da acção antes de qualquer outro tipo de unidades. Tratava-se de reforçar uma Força Nacional Destacada em dificuldades num país distante e apoiar a sua retracção para Portugal, e ao mesmo tempo evacuar também outras pessoas aí localizadas para território nacional. Sendo certo que a nossa capacidade de transporte aéreo táctico, e sobretudo estratégico é limitada – como agora se voltou a ver no caso da operação de apoio militar de emergência a Moçambique – também é verdade que haverá a possibilidade de uma operação deste tipo, mesmo sendo de exclusiva responsabilidade nacional, ser apoiada por países aliados. Por coincidência foi o que agora se verificou, com o inédito apoio de transporte aéreo estratégico que recebemos por parte de Espanha para a missão em Moçambique.

O exercício decorreu na região de Tancos, Vila Nova da Barquinha, Moita e Atalaia e envolveu cerca de 400 militares.

Só para se ter um termo de comparação, mesmo não parecendo a muitos certamente um grande volume de forças, notamos que actualmente Portugal não tem qualquer Força Nacional Destacada com este efectivo, sendo os dois maiores contingentes os que estão na RCA e no Afeganistão, onde mantemos cerca de 200 militares em cada um deles.  

Olhando para a tipologia de forças que estiveram empenhadas, até poderemos dizer – embora sem rigor técnico, mas dá uma imagem – que esteve no terreno uma “mini-brigada”…sem artilharia! Na realidade esta Componente Terrestre da FRI recebeu recentemente um incremento na sua estrutura orgânica  e assim foi empregue.

O Estado-Maior da BrigRR  foi responsável  pelo planeamento, coordenação e  controlo  do exercício e uma equipa da Inspecção Geral do Exército efectuou a certificação da força de acordo com o preconizado na doutrina NATO aplicável.  Em caso de emprego real – o que foi naturalmente simulado no exercício – a Unidade Mobilizadora é o Regimento de Infantaria n.º 15 de Tomar e a Unidade Aprontadora o 1º Batalhão de Infantaria Paraquedista (1BIPara) também aquartelado em Tomar e as unidades que fornecem forças são:

RParas – Regimento de Paraquedistas (Tancos);  

RL 2 – Regimento de Lanceiros Nº2 (Amadora);

RE 1 – Regimento de Engenharia Nº1 (Tancos);

RC 3 – Regimento de Cavalaria Nº3 (Estremoz)

ES – Escola dos Serviços (Póvoa do Varzim).

A CT/FRI está actualmente constituída por:

– Comando e Estado-Maior (1BIPara/RI 15/BrigRR)

– Companhia de Paraquedistas (1BIPara/RI15/BrigRR);

– Companhia de Comando e Serviços (1BIPara/RI15/BrigRR)

– Destacamento Avançado Aeroterrestre (RParas/BrigRR)

– Equipa de Precursores Aeroterrestres (RParas/BrigRR)

– Equipa de Abastecimento Aéreo (RParas/BrigRR)

– Pelotão de Polícia do Exército (RL 2)

– Módulo Cinotécnico (RL 2)  

– Pelotão de Pontes (RE 1)

– Módulo Nuclear Biológico e Químico e Radiológico (RE 1)

– Módulo de Inactivação de Engenhos Explosivos (RE 1)

– Esquadrão de Reconhecimento (RC3/ BrigRR)

– Companhia de Reabastecimento e Serviços (ES)

Durante o exercício os módulos que compõem a CT/FRI tiveram oportunidade de testar as suas capacidades e competências, interagindo entre si, de modo a executarem as tarefas que lhes foram determinadas.

“Atenção patrulha…verificação e ensaio, equipar!”
Em primeiro plano uma “carga de acompanhamento” (salta com a força sendo lançada pela porta da aeronave), neste caso um conjunto canhão sem recuo Carl Gustaf 84mm.

A inspecção é meticulosa e levada muito a sério. Aqui verifica-se o paraquedas principal e a carga individual, antes da colocação do paraquedas de reserva.

Quem procede à inspecção são instrutores de paraquedismo nomeados especificamente para esta tarefa que muitas vezes são também os largadores da sessão de lançamento em paraquedas que se segue.

Este paraquedista equipado para combate transporta um arma colectiva, o “saco de arma” de maiores dimensões deve-se a isso.

O C-295M da Esquadra 502 “Elefantes” da Base Aérea n.º 6 da Força Aérea Portuguesa que vai cumprir esta missão de lançamento em pára-quedas – “manuais” para os Precursores Aeroterrestres e “automáticos” para o 1.º BIPara –  já aterrou e militares de ambos os ramos procedem às necessárias coordenações.

As patrulhas de salto vão ficando “prontas” e…

…agora há que aguardar a hora do embarque.

“Rodas no ar” na pista do Aeródromo Militar de Tancos. Do outro lado da estrada está o Regimento de Paraquedistas, “Casa – Mãe” dos paraquedistas militares portugueses desde 1JAN1956.

Aqueles que chegam ao terreno primeiro que os primeiros: os Precursores Aeroterrestres que irão operar a Zona de Lançamento para o 1.º BIPara.

O C-295M passa à vertical do Arripiado e inicia-se o lançamento em paraquedas automático da força .

No “Belerofonte 191” o salto foi junto ao Tejo para “socorrer portugueses” mas em caso real pode ser a milhares de quilómetros de distância, voando desde Portugal ou a partir de uma base aérea mais perto do objectivo.

Prontidão para emprego imediato

De assinalar que muitos militares desta força – cerca de 30% – regressaram da missão na República Centro Africana em Setembro de 2018, iniciaram de seguida o processo de aprontamento desta CT/FRI. Tudo indica será também este batalhão – o 1.º BIPara –  que voltará a fornecer a maioria do pessoal que irá constituir a 6.ª Força Nacional Destacada da RCA, previsivelmente projectada para África já em Setembro próximo.  

A Componente Terrestre da FRI/EMGFA – cuja organização é responsabilidade da BrigRR – tem um elevado estado de prontidão e deverá manter essas capacidades por um ano, altura em que será rendida por outros militares, iniciando-se novo ciclo idêntico. Neste período podem ser empregues onde e quando o poder político assim o determine em defesa dos interesses nacionais, de modo autónomo ou não. 

Sem esgotar o tema, recorda-se apenas que este tipo de forças teve origem na intervenção que as Forças Armadas tiveram que fazer em Angola em 1992 com carácter de urgência, empenhando uma forte componente da Força Aérea, e que as operações exteriores de maior envergadura neste âmbito tiveram lugar na Guiné-Bissau em 1998 e 2012, com intervenção de forças dos três ramos mas predominância de pessoal e meios da Marinha.

Além do Exército, quer a Marinha quer a Força Aérea fornecem pessoal e meios para a FRI do EMGFA, força que pode ser empregue “por módulos” ou como um todo em caso de necessidade.

Tendo em consideração o definido dos espaços de interesse estratégico nacional, definidos no Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN), está preconizado a necessidade de ser mantida uma atenção próxima a áreas consideradas prioritárias, particularmente onde existem comunidades de cidadãos portugueses e em que a instabilidade política, económica e social seja uma realidade.

Assim as forças que integram a FRI do EMGFA devem estar prontas para:

  • Responder a situações de catástrofe ou calamidade (emergências complexas), quer em Território Nacional, quer no Espaço Estratégico de Interesse Nacional Conjuntural numa lógica de ajuda humanitária no quadro bilateral ou multilateral;
  • Responder em situações em que se torne imperioso reforçar ou proteger contingentes militares nacionais;
  • Cooperar com as forças e serviços de segurança, tendo em vista o cumprimento conjugado das respetivas missões no combate a agressões ou ameaças transnacionais;
  • Estar prontas para serem empregues, nos termos da Constituição e da Lei, quando os estados de sítio ou de emergência forem implementados;
  • Garantir proteção, socorro e evacuação de cidadãos nacionais em áreas de tensão ou crise e a salvaguarda de outros interesses nacionais
  • Realizar missões de apoio ao desenvolvimento e bem-estar, nos termos da Lei, colaborando com as entidades civis em caso de acidentes graves, catástrofes naturais ou provocadas e ainda para a defesa contra ameaças Nucleares, Biológicas, Químicas ou Radiológicas (NBQR), a fim de garantir a salvaguarda de pessoas e bens;
  • Cooperar nos termos da Lei, com as forças e serviços de segurança, a fim de contribuir para a proteção de pessoas e bens, para o combate ao terrorismo e à criminalidade organizada transnacional, para a defesa de infraestruturas críticas e de outros pontas sensíveis.

Concluída a aterragem e dobragem sumária do paraquedas, marcha para o ponto de reunião. A missão terrestre está a começar para estes soldados da terceira dimensão!

Alguns dos oficiais do Estado-Maior da BrigRR responsáveis pelo controlo e arbitragem do exercício.

Um dos “incidentes” do exercício no campo de futebol da Atalaia – simulou-se a recolha e extracção de uma alta entidade nacional em território hostil – teve a presença (à esquerda) do Tenente-General Guerra Pereira, Comandante das Forças Terrestres. Segue-se o TCor Bernardino Cmdt. 1.º BIPara, Brigadeiro-General Coelho Rebelo, comandante da BrigRR e TCor. Paraq. Amaro Carapuço do EM / BrigRR. Em segundo plano, visíveis, da esquerda, o Coronel Francisco Narciso Cmdt. do RI 15 e o SMor Jesus Francisco da CFT.

A viatura blindada ligeira PANHARD M11, aqui na versão com torre 12,7mm do ERec/BrigRR , Regimento de Cavalaria n.º 3.

As M11 do RC 3 de Estremoz, já serviram no Kosovo e no Afeganistão e integram agora a Componente Terrestre da FRI.

MG 42 e Galil duas armas que já têm substitutas – agora parece que é mesmo! – e são belgas, da FN.

A Polícia do Exército proveniente do Regimento de Lanceiros 2.

Emergência em Moçambique durante o “Belerofonte”

A prontidão foi testada a sério! No dia 20 de Junho de 2019, por ordem do Comando das Forças Terrestres decorrente das ordens recebidas pelo canal de Comando na sequência de decisão do governo – nunca é demais recordar que os militares actuam sempre em cumprimento de decisões políticas e nunca por sua iniciativa – foi activada a FRI, tendo sido chamados 5 militares que participavam no exercício, para integrarem um grupo de militares portugueses que constituíram a primeira resposta do Exército Português para uma missão de apoio militar de emergência à recente catástrofe que assolou Moçambique. Esta equipa da CT/FRI foi constituída por uma médica, um enfermeiro e militares do Módulo de Reabastecimento, juntando-se à restante força a projectar, no Aeródromo Militar de Figo Maduro (AT1-Lisboa) de onde descolaram em direcção à Beira nessa mesma noite.

Para colocar todos este “sistema” a funcionar…o Centro de Operações Táctico da Componente Terrestre da Força de Reacção Imediata.

As comunicações uma das áreas criticas em qualquer operação militar.

A Logística que tem tanto mais importância quantos mais dias, semanas, meses, uma operação possa durar.

Latrinas de Campanha, podem parecer sem importância, mas em muitas situações – por exemplo se os militares tiverem que actuar numa área urbana com população a viver ou se tiverem que estar muitos dias num mesmo local – são imprescindíveis.

Cozinhas de campanha – e em fundo as latrinas.

A engenharia do Pelotão de Pontes do RE 1.

Módulo Nuclear Biológico e Químico e Radiológico do RE 1. Todos esperamos que nunca sejam necessários, mas temos que ter pessoal treinado e equipado também para esta temível área da actividade militar.

O Módulo de Inactivação de Engenhos Explosivos do RE 1 com o seu robot e o fato de protecção.

Formatura geral da CT/FRI apresentada uma última vez pelo TCor/Paraq. João Bernardino ao 2.º Cmdt. BrigRR, Coronel Tirocinado Dias Henriques no final do exercício.

A Componente Terrestre da FRI aqui formada na “placa” do Aeródromo Militar de Tancos, para o encerramento do exercício e “regresso a quartéis” não apresenta todo o seu material exposto. A força está certificada, agora é aguardar pelo seu eventual emprego operacional. Aqui aguardar significa treinar, e a preparação para o exercício Orion 2019 do Exército já começou…

Reiteradamente, militares de excelência

Pode-se dizer que o “Belerofonte” dá inicio a um novo ciclo na vida do 1.º BIPara, aliás foi a última missão do comandante de batalhão nestas funções, tenente-coronel paraquedista João Bernardino. Este batalhão não nasceu agora, tem uma história de várias outras missões de paz e humanitárias, e os militares que nele têm servido nas duas últimas décadas, já estiveram na Bósnia, Kosovo, Guiné-Bissau, Timor-Leste, Afeganistão e Iraque, tendo em 2008 o 1.º BIPara sido mesmo condecorado pela sua actuação no Afeganistão. Mas vale a pena em duas linhas referir que na missão que antecedeu esta certificação como Componente Terrestre da FRI, o empenhamento na RCA ao serviço da MINUSCA – a primeira ocasião depois da Guerra do Ultramar (1961-1975) em que os paraquedistas portugueses se viram envolvidos em sucessivas operações de combate e com sucesso reconhecido – a qualidade do militar português e muito em particular do paraquedista foi reiteradamente comprovada. É sabido que actuaram com limitações materiais, algumas mitigadas com o tempo outras que se mantiveram, mantêm e devem ser acauteladas a montante, mas a sua competência, espírito de sacrifício para cumprir todas as missões atribuídas, apesar dos elevados riscos e dos grandes condicionalismos que aquela missão apresenta numa África à qual a história não nos ligava, devem ser motivo de orgulho para os portugueses.  

 

As próximas missões reais podem acontecer daqui a horas, amanhã, daqui a semanas ou meses, ou até só daqui a anos, mas uma coisa é certa, vão acontecer! E, nessa altura, os militares têm que estar prontos – armados, equipados, treinados – afinal de contas é para isso que “servem”. Se cumprirem bem isso pode significar a diferença ente a vida e a morte de muita gente inocente, entre a paz e toda a espécie de abusos e violência, mesmo que a sua própria vida seja posta em risco.

Leia no Operacional artigos relacionados com este tipo de operações :

ANGOLA, NOVEMBRO DE 1992: ONDE NECESSÁRIO QUANDO NECESSÁRIO
A CRISE NA GUINÉ E A CAPACIDADE MILITAR NACIONAL
APOIO MILITAR DE EMERGÊNCIA A MOÇAMBIQUE

 

(*) «…Belerofonte, herói mitológico da lenda de Corinto, era filho de Glauco e de Eurimeda… …dispunha de um valioso aliado: o seu cavalo alado Pégaso… …foi pois o primeiro guerreiro aerotransportado… …em Maio de 1942, o tenente-coronel Edward Seage desenhou uma insígnia onde figuravam Belerofonte e o seu cavalo alado, que foi usada pelos pára-quedistas da 1.ª e 6.ª Divisões Aerotransportadas Britânicas…» in Suplemento da revista Boina Verde n.º 165 Abril/Junho 1993: “Os filhos de Belerofonte”.

 

Cartaz alusivo ao exercício com o Belerofonte cavalgando o seu cavalo alado, Pégaso.

É um símbolo que se espalhou um pouco por todo o Mundo como sinónimo de tropas aerotransportadas e paraquedistas e em Portugal faz parte da heráldica do Regimento de Infantaria n.º 10 do Exército Português com a seguinte descrição:

BELEROFONTE, herói mitológico que cavalgando um Pégaso, defrontou e venceu a Quimera, monstro famoso que vomitava fogo e era ao mesmo tempo leão, cabra e serpente, simboliza o guerreiro aerotransportado, de tenacidade indomável, capaz de derrotar os mais temíveis adversários;

PÉGASO, cavalo alado que, segundo a mitologia, transportou Belerofonte através do espaço, simboliza a rapidez e a prontidão dos meios de ação mais adequados ao empenhamento operacional do soldado aerotransportado;

 

 

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