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AVIADORES PORTUGUESES 1920-1934

Por • 20 Jun , 2016 • Categoria: 08. JÁ LEMOS E... Print Print

Acabamos de ler esta obra que vivamente recomendamos, não só aos entusiastas da aviação mas também a quem goste de ler sobre episódios pouco conhecidos da História de Portugal e mesmo quem se interesse por saber o que tem sido isso de ser português!

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«AVIADORES PORTUGUESES 1920-1934, a Aventura dos Pioneiros», é mesmo uma obra repleta de aventuras, muito bem escrita e organizada, percebendo-se que teve por base aturado trabalho de investigação. O autor, Mário Correia, dedicou “meia-vida” (ou mais!) à causa do ar, foi aviador é historiador, e o seu dedicado trabalho de anos e anos no Museu do Ar certamente facilitou o acesso a fontes, a conhecimento, que permitiram a concretização deste livro.

São dez as viagens aéreas que Mário Correia nos relata (ver índice), de 1922 – Sacadura Cabral e Gago Coutinho, A Conquista do Atlântico Sul – a 1934 – Humberto da Cruz e António Lobato, A Grande Viagem de ida e volta a Timor. Todas diferentes, com as suas particularidades e inúmeras peripécias nada fáceis de ultrapassar, mas com algumas notas comuns:

Desde logo a enorme determinação pessoal dos envolvidos, acho que a palavra exacta será mesmo a coragem demonstrada pela esmagadora maioria militares do Exército e da Marinha, mas também por um par de civis. Voar naqueles anos com aqueles meios aéreos e a tecnologia disponível era qualquer coisa muito difícil de imaginar hoje, mas que o autor bem exemplifica em inúmeras ocasiões transportando-nos para a fragilidade dos aviões de então e para os tremendos riscos e dificuldades a que aqueles portugueses se sujeitavam;

Depois o facto – referido quer pelo autor quer no Prefácio de António Costa Pinto – de se tratarem de missões realizadas sobretudo por iniciativa dos indivíduos, mais do que da organização militar e/ou do governo, mas aos quais era sempre conferida uma elevada carga patriótica, e mesmo oficiosa, ou oficial, sem o serem! Os aviadores propunham o voo, arranjavam eles próprios o financiamento, as instituições oficiais em causa autorizavam, cediam os aviões (nem sempre, há uns voos em aviões particulares), umas vezes davam uma ajuda monetária e outras nem isso, e…lá iam eles em nome de Portugal;

O papel dos jornais – outro aspecto absolutamente impensável hoje – os grandes  impulsionadores das viagens e os principais vectores de recolha de fundos que permitiram a maioria delas. Foi a comunicação social da época que estimulou e acarinhou estes aviadores, obteve financiamentos e divulgava a par e passo a sua realização, criando um ambiente na opinião pública que acabava por “forçar” as entidades oficiais a permitir estas missões. Havendo detractores das viagens que também se exprimiam na imprensa, sem ela, parte importante destas nunca se teriam realizado;

Apesar do carácter quase informal de algumas destas missões, também não deixa de ser verdade que a generalidade dos aviadores envolvidos (pilotos, navegadores, mecânicos), acabavam por ver o seu empenhamento reconhecido pelo Estado – quase todos os referidos no livro foram agraciados com a Ordem Militar da Torre e Espada do Valor Lealdade e Mérito, o que não é coisa pouca! – e tinham algum retorno monetário, uma vez que em certas viagens havia prémios oferecidos por várias entidades, embora, em boa verdade, esse dinheiro acabasse muitas vezes por servir apenas para cobrir despesas da viagem ou com os aviões, porque nem sempre o Estado cobria isso. Tinham sem dúvida um enorme reconhecimento público, sendo aclamados como verdadeiros heróis – e não eram? – fosse pelas multidões que os recebiam numa chegada ao destino, os incentivavam numa escala, ou nas muitas recepções oficiais que, cumpridos os objectivos, lhes eram oferecidas. E ainda no tom apologético que a imprensa da época lhes destinava;

Em comum ainda a todas as missões, mesmo todas, uma enorme panóplia de avarias e riscos, que não vamos aqui elencar, mas que iam dos problemas mecânicos que obrigavam a aterragens/amaragens frequentes, às condições meteorológicas impossíveis de prever, as dificuldades de navegação astronómica – mas também os seus sucessos uma das grandes virtudes da participação portuguesa a nível mundial nesta aventura da aviação por estes tempos – o desconhecimento das populações sobrevoadas que nem sempre eram amigáveis algumas vezes mesmo hostis, a ausência de meios rádio, enfim, uma lista muito grande que a cada novo capítulo do livro nos são descritas com rigor, ilustrando mais uma vez a investigação feita pelo autor.

Salta também à vista uma constante, ano após ano, viagem após viagem, o enorme prestígio que Gago Coutinho granjeou, dentro e fora de Portugal. Todos o procuravam para receber conselho e, do seu lado, sempre acarinhou e incentivou pessoalmente, muitas vezes contra tudo e contra todos, os aviadores que se propunham fazer nova viagem.

Cada viagem e os seus executantes – homens e máquinas – são “escalpelizados” por Mário Correia de modo sintético mas completo, não faltando aqui e ali, notas explicativas de uma ou outra situação relativa à época que ajudam o leitor menos familiarizado com certos acontecimento a ter uma noção do enquadramento em que se inserem os factos.

A cronologia final mostra-nos em Portugal e no Mundo, o que de mais significativo se passou em termos de viagens aéreas. Aqui percebe-se melhor aquilo que ao longo do livro, até por encontros algures em “escalas” por esse mundo fora, em África e no Oriente, se vai vendo sobre as actividades de outros países nesta área, e de algum modo inventaria-se as actividades dos aviadores portugueses.

Em todas as épocas houve portugueses que se distinguiram, com motivações várias, prestando elevados serviços ao seu país, deixando um legado que umas vezes foi aproveitado, outras não. Algumas destas viagens podiam ter tido como consequência, por exemplo, uma abertura da aviação comercial portuguesa às colónias mais cedo do que acabou por acontecer. Assim não aconteceu. Foram mais feitos individuais do que uma “estratégia nacional”, o que para nós não é nada de novo em muitas áreas, ontem como hoje.

Seja como for uma coisa é certa, o factor humano, traduzido na determinação e numa competência técnica alicerçada na prática mas também no estudo, e a coragem destes portugueses, ficam evidências provadas.

O livro é uma edição A Esfera dos Livros, tem formato 16X23,5cm, 272 páginas, 58 fotografias, algumas inéditas oriundas de arquivos familiares, e está no mercado por um preço que ronda os 16,00€. ISBN: 978-989-626-757-5

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