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A REFUNDAÇÃO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

Por • 1 Nov , 2017 • Categoria: 02. OPINIÃO, EM DESTAQUE Print Print

Portugal precisa do Exército, paga-o e o ramo terrestre das Forças Armadas deve retribuir aos portugueses capacidades militares e outras, muitas únicas e imprescindíveis à sociedade, mas também conduta exemplar dos seus membros, desde o topo da hierarquia ao soldado.

Ontem como hoje os militares do Exército Português tem tido um comportamento exemplar mas missões de interesse público em Portugal e nas missões expedicionárias, merecem ser reconhecidos pela sociedade a quem pertencem e defendem.

Após o PREC, as Forças Armadas em geral e o Exército em particular iniciaram um caminho bem-sucedido para voltar a ser olhados pela maioria da população como uma força armada, e apenas dedicada à sua missão. A disciplina voltou, na NATO não fazíamos má figura, e nas missões “de paz” cumprimos tudo o que nos é pedido. Mais pelo espírito de sacrifício e competência técnica do que pelo equipamento, colocamos o nome de Portugal em bom nível.

Reformas sucessivas da Defesa Nacional reduziram efetivos e material a mínimos que não têm paralelo em muitas décadas, mesmo séculos em alguns aspetos! Reorganização, reestruturação, transformação, tudo palavrões que significaram menos capacidades.

No último ano e meio, saído de cortes severos nos orçamentos e efetivos, o Exército deparou-se com problemas inéditos e agravados pelos tempos comunicacionais em que vivemos: interferência (em público) do poder político na gestão interna; acidentes mortais na instrução com brutal impacto na opinião pública e intervenção judicial algo desastrada; e uma tremenda falha de segurança cuja condução mediática a nível militar e político tem sido lamentável.

No “caso” Colégio Militar a rapidez e lisura de procedimento do CEME talvez tenha mesmo melhorado a imagem do ramo e dos militares; no “caso” Comandos, apesar de ser difícil fazer melhor em termos de comunicação, o assunto é de gravidade tal que os danos causados não permitem leitura favorável; o “caso” Paióis de Tancos acabou com a credibilidade que ainda poderia haver, tal foi a conduta mediática pelo Exército, EMGFA e MDN. Nem vale a pena relembrar detalhes, são públicos e dolorosos.

Numa altura em que o comportamento dos nossos soldados foi inexcedível, quer em Portugal no apoio às populações afetadas pelos fogos florestais quer nas múltiplas missões no exterior do território nacional, ambas com alguma cobertura mediática, o tempo devia ser de aproveitar para melhorar significativamente a imagem da instituição militar. O Exército, no entanto, está atolado em sucessivos problemas que as lideranças políticas e militares não têm conseguido ultrapassar.

As Forças Armadas já passaram por pior e recuperaram. No PREC, as malfeitorias dos militares, parte importante nunca julgadas, outras amnistiadas, foram ultrapassadas por lideranças firmes e competentes. Os tempos são outros, é verdade, a comunicação está omnipresente, as exigências da sociedade civil são maiores, a interferência política complica e muito a ação das chefias.

Mas o desafio é mesmo este, encontrar na liderança política e militar quem volte a colocar o Exército no caminho de que Portugal precisa e voltar a ganhar a confiança dos seus concidadãos.

Miguel Silva Machado, 15OUT2017

Artigo originalmente publicado do “Diário de Notícias” em 15 de Outubro de 2017

“A refundação do Exército português”

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