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A HISTÓRIA DO U-534

Por • 17 Out , 2015 • Categoria: 14.TURISMO MILITAR, EM DESTAQUE Print Print

Os submarinos alemães, uma das armas mais temíveis e odiadas nos dois últimos conflitos mundiais pela destruição e morte de causavam, acabaram terminada a 2.ª Guerra Mundial por ir ganhando alguma indulgência, não só pela reconhecida coragem das suas guarnições – com um rácio de baixas terríveis – como pelos seus feitos. Hoje, submarinos do III Reich expostos recebem visitantes de todo o mundo. O Operacional foi ver o U-534 em Bikenhead, Merseyside, Liverpool, no Reino Unido.

O símbolo identificativo do U-534, os anéis olímpicos. Na realidade 23 U-Boat alemães usavam esta simbologia! Em 1936 os Jogos Olímpicos realizaram-se em Berlim e os oficiais que nesse ano se juntaram à Kriegsmarine, (Marinha de Guerra da Alemanha) adoptavam-no.

O símbolo identificativo do U-534, os anéis olímpicos. Na realidade, muitos submarinos alemães usavam esta simbologia! Em 1936 os Jogos Olímpicos realizaram-se em Berlim e os 87 oficiais que nesse ano se juntaram à Kriegsmarine, (Marinha de Guerra da Alemanha durante o período 1935-1945), como Herbert Nollau do U-534, podiam usá-lo se chegassem a comandantes de submarino.

O museu “U-Boat Story” onde se encontra o U-534, fica na margem esquerda do rio Mersey, em Merseyside, frente à cidade de Liverpool, naquele que foi o principal porto do Reino Unido após Noruega e França terem caído em mãos alemãs no ano de 1940. Ali chegam e dali partiam comboios navais durante toda a “Batalha do Atlântico” e era do quartel-general de “Western Approaches”, em Liverpool que toda essa actividade era coordenada. Aqui fica a resposta à primeira interrogação que a muitos se coloca quando nos deparamos com um submarino alemão naquelas paragens!

O U-534 ainda antes de ser adaptado à função museológica.

O U-534 ainda antes de ser adaptado à função museológica.

Maqueta da situação actual do submarino e museu.

Maqueta da situação actual do submarino e museu.

O "Woodside Ferry Terminal" (ao centro), notando-se (à direita) a torres do U-534 e em primeiro plano o modelo à escala do "Resurgam" original (1879). Ver abaixo explicação detalhada.

O “Woodside Ferry Terminal” (ao centro) de Birkenhead, Merseyside, notando-se (à direita) a torre do U-534, e em primeiro plano o modelo à escala do “Resurgam” (1879). Ver abaixo explicação detalhada.

O "Resurgam" que do latim em tradução livre será "Eu voltarei", foi construído em 1879 por J.T. Cochrane, na Cleveland Street, em Birkenhead. Desenhado pelo Reverendo George Garrett (1852-1902), é considerado um dos primeiros submarinos do mundo. Em madeira e ferro, tinha 14m de comprimento, 3 de diâmetro e pesava 300 toneladas.A propulsão era a vapor e tinha uma tripulação de 3 homens. Foi testado por curtos períodos ali próximo e funcionou. Em 1880 a caminho de Portsmouth foi apanhado por uma tempestade e afundou-se quando ia efectuar uma demonstração para a Royal Navy. Foi recuperado do fundo do mar em 1995. Este modelo foi feito em 1997 e renovado em 2009.

O “Resurgam”, do latim em tradução livre, “Eu voltarei”, foi construído em 1879 por J.T. Cochrane, na Cleveland Street, em Birkenhead. Desenhado pelo Reverendo George Garrett (1852-1902), é considerado um dos primeiros submarinos do mundo. Em madeira e ferro, tinha 14m de comprimento, 3 de diâmetro e pesava 300 toneladas. A propulsão era por motor a vapor de “ciclo fechado” e tinha uma tripulação de 3 homens. Foi testado por curtos períodos ali próximo e funcionou. Em 1880 a caminho de Portsmouth foi apanhado por uma tempestade e afundou-se quando ia efectuar uma demonstração para a Royal Navy. Foi recuperado do fundo do mar em 1995. Este modelo data de 1997 e foi renovado em 2009.

O bitubo "Flak M42U" era uma temível arma antiaérea e esta abateu mais do que um avião Aliado.

O bitubo “Flak M42U” era uma temível arma antiaérea e esta fez os seus estragos na Royal Air Force.

A vida do U-534 está bem documentada quer em fotografias ao longo desta "linha do tempo" quer em filmes e ainda em registos audio.

A vida do U-534 está bem documentada quer em fotografias ao longo desta “fita de tempo” quer em filmes e ainda em registos áudio.

Aqui estão inúmeros objectos usados pelos tripulantes a bordo do submarino, quem artigos pessoais quer de serviço.

Aqui estão inúmeros objectos usados pela guarnição do submarino, quer artigos pessoais quer de serviço.

Por exemplo os manuais de identificação de navios que se poderiam encontrar no oceano.

Por exemplo os manuais de identificação de navios de diversos tipos que se poderiam encontrar no oceano.

E também os aviões, Aliados e Alemães. na imagem o "Libertador" que haveria de o afundar.

E também os aviões, Aliados e Alemães. Na imagem o “Liberator” que haveria de afundar o U-534.

Modelo do B-24 "Liberator" que afundou o U-534 e uma das balsas salva-vidas do submarino.

Modelo do B-24 “Liberator” que afundou o U-534 e uma das balsas salva-vidas do submarino.

Vida operacional atribulada

Agora a história de como ali chegou o U-534, também merece ser contada! O submarino estava na Dinamarca quando o Almirante Doenitz , comandante da marinha do III Reich e sucessor de Adolfo Hitler após a morte deste, emitiu ordem de rendição aos submarinos espalhados pelo mundo. Eram 08H00 de 05MAI1945. O comandante, Herbert Nollau, 26 anos de idade, o militar mais velho a bordo, ignorou a ordem e navegou em direcção à Noruega. A Royal Air Force (RAF) detectou o movimento e enviou vários “B-24 Liberator” no seu encalce. Um foi abatido pelo U-534 – dispunha de armamento anti-aéreo potente, bitubo 37mm Flak M42U e 4 20mm Flak 38 – mas não conseguiu depois imergir sem ser atingido pelas cargas de profundidade de outro B-24, uma das quais caiu mesmo em cima do submarino e outra danificou o casco, começando a afundar-se, lentamente. 47 de 52 elementos da guarnição conseguiram salvar-se saltando para a água. 5, apanhados no interior, tentaram sair com equipamento de emergência, com o submarino a 67m de profundidade, 4 conseguiram, 1 morreu. Os sobreviventes foram transportados para a Dinamarca, tendo dois falecido no trajecto. Preso até Agosto de 1945, Nollau foi libertado e trabalhou normalmente em Frankfurt na República Federal da Alemanha até à sua morte, por suicídio, em 1967 ou 1968. Nunca explicou porque não se rendeu.

O U-534 pertencia ao tipo IXC/40 da Kriegsmarine, com grandes dimensões – 76m de comprimento (como referência os actuais submarinos da Marinha Portuguesa, classe “Tridente”, têm 67,9m) – e tinha um raio de acção de 11,400 milhas náuticas navegando à superfície (mais de 21.000 quilómetros, o que dava quase para transpor o Atlântico mais de 3 vezes sem reabastecer), e de 63 em imersão.

O submarino foi construído em Hamburgo e lançado à água em 1942, tendo no final deste ano entrado no serviço activo com o único comandante que haveria de conhecer. Curiosamente este submarino teve uma vida atribulada e pouco heróica! Esteve pelos mares da Dinamarca em testes e treino, rumou à Noruega para missões operacionais e andou pela Gronelândia já em 1944, dedicando-se sobretudo à recolha de informações meteorológicas, muito importantes para determinar missões contra os comboios navais aliados e defesa de ataques aéreos. Actividade menos arriscada que atacar navios Aliados, mas com a vida a bordo igualmente dura. Os motores e baterias ocupavam 1/3 do espaço a bordo, e o restante era ocupado pelos 52 militares da guarnição, 22 torpedos, munições para as antiaéreas, 18 toneladas de alimentos e água e uma miríade de peças e acessórios indispensáveis ao funcionamento do submarino por longos períodos sem apoio.

Aspecto de objectos pessoais e de uso comum encontrados no submarino quando voltou à superfície em 1993.

Aspecto de objectos pessoais e de uso comum encontrados no submarino quando voltou à superfície em 1993.

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O museu tem vários "simuladores/jogos" sendo um dos mais concorridos, o periscópio.

O museu tem vários “simuladores/jogos” sendo um dos mais concorridos, o periscópio.

Mas também há a possibilidade de fazer submergir/emergir um modelo e trabalhar com um "sonar".

Mas também há a possibilidade de fazer submergir/emergir um modelo e trabalhar com um “sonar”.

Este submarino também transportava as célebres "Enigma"

Este submarino também transportava as célebres “Enigma”

E os visitantes podem tentar a sua sorte a decifrar mensagens.

E os visitantes podem tentar a sua sorte a decifrar mensagens.

Uma Flak 38, 20mm e em segundo plano o local onde a história do U-534 é passada em filme.

Uma Flak 38, 20mm e em segundo plano o local onde toda a história do U-534 é passada em filme.

Muito em voga nos museus britânicos, neste painel é possível ouvir quer depoimento da época, retirados de filmes, quer posteriores, com sobreviventes.

Muito em voga nos museus britânicos, neste painel – histórias pessoais – é possível ouvir quer depoimentos da época, retirados de filmes, quer posteriores, com sobreviventes a falar das suas experiências.

A base dos submarinos alemães em Bordéus, onde o U-534 sofreu modificações, fotografada na actualidade.

A base dos submarinos alemães em Bordéus, onde o U-534 sofreu modificações, fotografada na actualidade.

Ainda em 1944 o U-534 estava na base de submarinos de Bordéus (França) a receber algumas modificações (instalar um “snorkel” para poder navegar submerso a diesel e ao mesmo tempo carregar as baterias). A instalação foi mal executada e no trajecto para a Noruega teve que emergir por estar “cheio de fumo”, sendo detectado por aviões aliados. Atacado por um “Vickers Wellington” da RAF, as armas anti-aéreas levaram a melhor e abateram o avião, conseguindo chegar a Kristiansand na Noruega. Transferido depois para Stettin (actualmente na Polónia) e a seguir para Kiel na Alemanha devido ao avanço do Exército Vermelho, sofreu grandes reparações, tendo deixado a Alemanha em direcção ao seu destino final, entre a Dinamarca e a Suécia (ilha de Anholt), a 3 de Maio de 1945, 2 dias antes do seu afundamento.

Diagrama do U-534. Todas as secções do submarino expostas estão muito be, explicadas através de legendas e destes painéis.

Diagrama do U-534. Todas as secções do submarino expostas estão muito bem explicadas através de legendas e destes painéis.

Em primeiro plano o torpedo T11 Zaunkoning 2, o mais avançado produzido até ao final da guerra, e este é um dos apenas 38 construídos. Torpedo acústico dotado de um sofisticado sistema de guiamento que procurava o ruído emitidos pelos hélices dos navios. Podia atingir alvos a 5.700m de distância.

Em primeiro plano o torpedo T11 Zaunkoning 2, o mais avançado produzido até ao final da guerra, e este é um dos apenas 38 construídos. Torpedo acústico dotado de um sofisticado sistema de guiamento que procurava o ruído emitidos pelos hélices dos navios. Podia atingir alvos a 5.700m de distância.

Duas das secções em que foi cortado o casco do submarino. À esquerda a "casa dos motores", à direita "a sala de controlo" e em cima a torre com o bitubo Flak M42U de 37mm.

Duas das secções em que foi cortado o casco do submarino. À esquerda a “casa dos motores”, à direita “a sala de controlo” e em cima a torre com o bitubo Flak M42U de 37mm. O símbolo da torre – Ritter Von Kurpfalz – é um dos dois usados pelo U-534, o outro os anéis olímpicos.

A popa do submarino onde se encontrava a sala dos geradores eléctricos, usados em imersão. Este tipo de submarino tinha também dois tubos lançadores de torpedos para a retaguarda.

A popa do submarino onde se encontrava a sala dos geradores eléctricos, usados em imersão. Este tipo de submarino tinha também dois tubos lançadores de torpedos para a retaguarda. Na imagem um dos dois hélices e os lemes.

Foi aqui que o efeito da carga de profundidade se fez sentir e por onde o U-534 começou a afundar.

Bem visível o efeito da carga de profundidade. O U-534 começou a afundar por aqui.

A principal arma do submarino era o torpedo e nesta secção frontal  íam armazenados e eram disparados a maioria destas temíveis armas.

A principal arma do submarino era o torpedo e nesta secção frontal iam armazenados e eram disparados a maioria destas temíveis armas.

A proa do submarino e os seus lemes. depois da sala dos torpedos ficavam os alojamentos da tripulação.

A proa do submarino e os seus lemes. Depois da sala dos torpedos ficavam os alojamentos da guarnição.

Este sistema de exposição permite uma boa movimentação dos visitantes, mas na realidade não dá a sensação do que é andar dentro de um submarino.

Este sistema de exposição permite uma boa movimentação dos visitantes, mas na realidade não dá a sensação do que é andar dentro de um submarino.

Mesmo estando tudo muito bem explicado nos painéis informativos, o interior está exactamente como foi retirado do oceano.

Mesmo estando tudo muito bem explicado nos painéis informativos, o interior está exactamente como foi retirado do oceano.

Para se perceber e ver alguns dos pontos mais recônditos há um sistema de vídeo que  percorre segmentos do casco.

Para se perceber e ver alguns dos pontos mais recônditos há um sistema de vídeo que percorre o interior, sendo possível comparar a actualidade com fotos do que teria sido esse segmento quando o submarino navegava.

E assim é possível, sem andar de facto dentro do submarino, ver o seu interior.

E assim é possível, sem andar de facto dentro do submarino, ver o seu interior.

Nova vida frente a Liverpool

A misteriosa atitude do capitão do U-534 originou durante anos muitas especulações – tesouros, transporte de líderes nazis, etc – e talvez isso tenha feito despertar a atenção de Aaje Jensen, um mergulhador dinamarquês que o localizou junto a Anholt, em 1986. Estava “em bom estado” e logo se pensou em o retirar do local, mesmo que considerações de ordem política – a Alemanha opunha-se – legal, organizacional e financeira tornassem difícil a operação. Juntou-se o mergulhador a um editor e empresário, também dinamarquês, Karsten Ree, e o assunto teve seguimento. Em 1993 o U-534 voltava à superfície, inteiro, com 8 antigos elementos da tripulação e 4 do “Libertador” que o afundou a assistir, numa delicada operação realizada por uma empresa holandesa, Smit Tak, e o apoio da Marinha Dinamarquesa que retirou do submarino e destruiu 13 torpedos e centenas de munições das antiaéreas. Curiosamente esta marinha recolheu e guardou “3 torpedos de guiamento acústico”. Nenhum tesouro foi encontrado mas sim uma incrível panóplia de artigos de uso diário, muitos hoje expostos no museu que visitamos e que nos dá uma imagem de como era a vida a bordo.

A opção tomada para expor este submarino, foi a de o cortar em 4 secções – de modo tão rigoroso que se necessário for é possível voltar a montá-lo, garante o museu – mantendo o seu interior exactamente como foi retirado do fundo do mar em 1993, sendo a visualização feita do exterior através de vidros e câmaras vídeo. Esta modalidade pouco vulgar de exposição, não está explicada no local e pode bem ter sido tomada por questões de ordem financeira e até do espaço disponível onde se encontra o submarino. Sendo certo que permite uma excelente visualização do exterior, o mesmo não se pode dizer do interior. O edifício de apoio, esse sim, tem uma completíssima colecção de objectos usados no submarino, está muito bem organizado e inclui uma série de elementos, tudo ou quase, sobre a história do U-534, num grande número de suportes, áudio, vídeo e fotografias. Inclui ainda para os mais novos vários jogos que permitem simular actividades típicas a bordo.

Dos 1.168 submarinos alemães que entraram ao serviço na 2.ª Guerra Mundial, 790 foram afundados. Dos 40.000 submarinistas formados entre 1934 e 1945, 30.246 morreram em combate ou devido a ferimento assim adquiridos. 5.338 salvaram-se de morrer no mar e foram presos. É na realidade um balanço impressionante.

Dos 1.168 submarinos alemães que entraram ao serviço na 2.ª Guerra Mundial, 790 foram afundados. Dos 40.000 submarinistas formados entre 1934 e 1945, 30.246 morreram em combate ou devido a ferimentos assim adquiridos. 5.338 salvaram-se de morrer no mar e foram presos. É na realidade um balanço impressionante, para uma arma que chegou a ameaçar virar o rumo da guerra.

O "bilhete de identidade" do U-534.

O “bilhete de identidade” do U-534.

Além de muita vontade, determinação e um conjunto muito alargado de entusiastas, também a UE contribuiu para preservar a história do U-534. Um bom exemplo de Turismo Militar.

Além de muita vontade, determinação e um conjunto muito alargado de entusiastas e entidades, também a UE contribuiu para preservar a história do U-534. Um bom exemplo de Turismo Militar.

Como chegar?

O museu está a poucos minutos de metropolitano de Liverpool, ou a mais um pouco se fizer a viagem de ferry, e a entrada custa (adultos) 7,50£. Há pacotes que incluem a um pequeno cruzeiro no rio Mersey. Está aberto todo o ano das 10H30 às 17H00, exepto no Natal e Ano Novo. Na entrada/saída do Museu tem uma loja com produtos alusivos ao U-534 e a vários temas navais e no acesso aos ferrys de passageiros, há um agradável café/restaurante, o “Home Cafe”.

Veja aqui mais informações sobre o museu: U-Boat Story

Bibliografia consultada:

The Story of U-534”  (brochura sem data/editor adquirida no museu);

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