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TROPAS PARAQUEDISTAS, 25 ANOS NO EXÉRCITO

Continuamos hoje com a publicação de artigos sobre o 25.º aniversário da transferência das Tropas Paraquedistas da Força Aérea para o Exército. A prestação em combate do 1.º e 2.º Batalhões de Infantaria Paraquedista na República Centro Africana (2018-2019) honrou a memória dos Caçadores Paraquedistas do Ultramar (1961-1975). A instrução ministrada em Tancos, dura mas humana, a motivação dos homens e mulheres que “saltam de aeronaves em voo”, já tinham provado em outras missões de paz, da Bósnia ao Afeganistão ou ao Mali, do Kosovo e Iraque a Timor, que a mudança de ramo não significou incapacidade para cumprir. 

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O culto das tradições mantém-se em Tancos. Bloco de Guiões Heráldicos das antigas unidades paraquedistas da Força Aérea desfilam no actual Regimento de Paraquedistas da Brigada de Reação Rápida do Exército.

Será isto suficiente para dizer que foi uma aposta ganha? Pensamos que vale a pena olhar para além destes resultados, ver o que está na sua base e o que se deve melhorar.

O homem e a sua força anímica são o principal recurso de uma organização, frase estafada mas verdadeira. Os paraquedistas têm conseguido manter a mística que criaram na Força Aérea e mesmo hoje, aqueles que nunca nela serviram, respeitam e seguem essa maneira de estar e de servir o país. Quem passe pelo Regimento de Paraquedistas e veja um curso de paraquedismo, e a instrução de combate nas unidades operacionais de Tomar ou São Jacinto, constata esta realidade. Mas falando com as pessoas, sente-se que se pode melhorar. O Exército devia aproveitar esse estado de espírito, acolhendo a iniciativa e permanente disponibilidade típica dos paraquedistas, e nem sempre o faz.

Desde 1994 oficiais, sargentos e praças moldados no Corpo de Tropas Paraquedistas (CTP) da Força Aérea, transmitiram ano após ano, aos que chegavam, não só o que está nos manuais como aquilo que haviam aprendido com os veteranos das campanhas de África. A partir de 1996 com as missões expedicionárias um enorme manancial de conhecimento e experiência foi acrescentado quer aos veteranos quer aos que agora se juntavam a esta elite.

O CTP foi uma das melhores organizações que as Forças Armadas Portuguesas conheceram. Dimensionado para a realidade nacional, instrução dura, completa e humanizada, com permanente disponibilidade para a inovação desde os baixos escalões. Criou uma mentalidade que lutava contra o “nivelar por baixo”. Este manancial humano (*) vindo do CTP e os novos paraquedistas forjados já nas missões de paz, mantiveram no Exército uma identidade própria, muito marcada pelos exemplos da história.

Não se pode generalizar, conheci no Exército, do general ao soldado, quem detestasse os paraquedistas como conheci quem os compreendesse e mesmo acarinhasse!

No novo ramo perdeu-se autonomia – decisões tomadas por um tenente-coronel no CTP são hoje tomadas ao nível tenente-general num comando superior do Exército – e a inovação que caracteriza os Páras é de lenta implementação.
Em 2006 com a chamada “Transformação” do Exército, os paraquedistas deixaram de ter um comando autónomo, e hoje tendem a receber muitas interferências desnecessárias. Actualmente não há um único oficial general oriundo dos paraquedistas no comando superior do Exército, nem na Brigada a que pertencem, nem sequer em órgãos directamente ligados a esta grande unidade. Quem conhece o funcionamento do Exército sabe bem o que isto significa.

Há graves problemas internos, transversais à organização militar em Portugal, como a falta de efectivos e de recursos financeiros, mas também há coisas que melhoraram para os paraquedistas no novo ramo nestes 25 anos: as unidades antes desfalcadas de oficiais do quadro permanente têm hoje um melhor enquadramento; as missões exteriores, inexistentes nos anos do CTP, motivam o pessoal e sobretudo deram-lhes competências que só as operações reais conferem. As competências aeroterrestres, muito assentes na classe de sargentos, mantêm elevados padrões.

Os Páras provaram agora na RCA, mais uma vez para quem tivesse dúvidas, que mesmo com limitações em armamento e outros materiais cumprem as missões atribuídas com inigualável profissionalismo.
Os novos boinas verdes, já nascidos no Exército, continuam a obra dos seus antecessores e em condições não raras vezes mais difíceis, disso não tenho dúvidas!
Que Nunca por Vencidos se Conheçam!

Miguel Silva Machado
Tenente-Coronel Paraquedista (Reforma), serviu na Força Aérea de 1980 a 1993 e no Exército de 1994 a 2005.
24FEV2019

Este artigo foi originalmente publicado no Diário de Noticias em 25FEV2019 [2]

 

(*) O Comando das Tropas Aerotransportadas foi criado em 1994 com 1.815 oficiais, sargentos e praças paraquedistas transferidos da Força Aérea e 134 oficiais, sargentos e praças do Exército – 68 dos quais com o curso de comandos – que fizeram ainda em 1993 o curso de paraquedismo para integrar este nova unidade.

 

Sobre este assunto leia também no Operacional:

NOTAS SOBRE A TRANSFERÊNCIA DOS PARAQUEDISTAS DA FORÇA AÉREA PARA O EXÉRCITO EM 1993 [3]
TROPAS PÁRA-QUEDISTAS, 25 ANOS NO “JORNAL DO EXÉRCITO” [4]