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SALA HISTÓRICA DO «TERCIO “GRAN CAPITAN” 1º DE LA LEGION»

Por • 16 Dez , 2019 • Categoria: 14.TURISMO MILITAR, EM DESTAQUE Print Print

Esta visita proporciona o contacto com uma realidade que foi também a de muitos portugueses mas permanece em grande medida desconhecida entre nós: o Tercio de Extranjeros, mais tarde La Legión, das guerras que Espanha manteve em Marrocos no início do século XX até aos conflitos da actualidade, e a história do Tercio “Gran Capitan”1.º de la Legión.

O Subteniente Villalobos explica em detalhe o significado desta obra e as diferentes vertentes do espírito legionário, no qual o combate e a morte heróica continuam uma referência. Antonio Colmeiro Tomás, o autor, é coronel de artilharia reformado e conceituado pintor e escultor espanhol com vasta obra quer sobre temática militar quer civil, nomeadamente ligada ao Norte de África e a Melilla, onde também serviu como militar.

Melilla, cidade espanhola no Norte de África, tem uma rica história militar e cuida dela! O Exército Espanhol(1) nesta “cidade enclave” dispõe do Centro de Historia y Cultura Militar de Melilla responsável pela protecção, investigação e divulgação do património histórico, cultural, documental e bibliográfico, das unidades estacionadas na cidade e nas ilhas e rochedos “de soberania”. Além do próprio Centro de Historia, é responsável pelo Museo Histórico Militar de Melilla,  Biblioteca Histórico Militar de Melilla,  Archivo Intermedio Militar de Melilla e naturalmente colabora com as Salas Históricas das unidades. De passagem por esta Cidade Autónoma tivemos oportunidade de visitar duas destas, uma já aqui apresentamos, a do Grupo de Regulares de Melilla N.º 52, agora vamos ver a do Tercio “Gran Capitan”1.º de la Legión(2)

O Forte de Cabrerizas Altas é uma fortaleza poligonal com 35 metros de frente e uma área total 1.200m4. Tem um fosso de 6m de profundidade, excepto na frente. Aqui se travaram duríssimos combates nos finais do século XIX, muito sangue espanhol aqui correu.

A Legião hoje responsável pelo Forte onde se encontra a sua Sala Histórica, assume também a sua história bem antes da Legião ter sido criada, num extraordinário exemplo de respeito e admiração pelos que aqui combateram e morreram por Espanha.

Forte de Cabrerizas Altas

Hoje no interior do Acuartelamiento Millán Astray, sede do Tercio “Gran Capitan”1.º de la Legión, a uns 400m da fronteira com Marrocos, o Forte de Cabrezinas Altas tem uma história recheada de combates dramáticos, mortos e glória. Várias das mais altas condecorações espanholas foram atribuídas por feitos aqui praticados, muitos aqui combateram e entraram na história militar do seu país, vários a título póstumo como o General Margallo então governador da cidade que aqui morreu em combate em 1893.

Nesta visita tivemos por guia o Subteniente Villalobos(3), o qual começou a sua exposição exactamente pela história do forte construído em 1890 /1892 na sequência de um tratado de paz e amizade com Marrocos (26ABR1860), no qual os limites da cidade foram estabelecidos(4). Espanha iniciou então a construção de uma série de torres fortificadas e fortes poligonais para garantir a segurança do chamado Campo Exterior da cidade. Cabrerizas Altas foi o segundo destes fortes a ser construído e logo no ano seguinte (1893) foi atacado em força por tribos berberes. Cerca de 9.000 guerreiros lançaram-se sobre a guarnição espanhola, na qual se encontrava o General Garcia Margallo, governador da cidade que ali tinha instalado o seu posto de comando. Uma coluna de socorro vinda de Melilla não conseguiu chegar ao forte, totalmente cercado e constantemente alvo dos atacantes. Num contra-ataque que liderava um dos que morreu foi Margallo, que hoje dá nome a uns dos Panteões do cemitério de Melilla. Para se ter uma noção da violência dos combates, só em 28OUT1893, dia da morte do general, os espanhóis sofreram 70 mortos e 122 feridos. O Forte resistiu com vários actos de heroísmo, os berberes chegaram mesmo às suas muralhas, mas foram sempre repelidos, até a guarnição ser socorrida. Em 1902 e 1921 novos violentos combates aqui tiveram lugar mas nunca foi ocupado.

Junto ao portão de entrada estão desde 1969 afixadas duas placas de homenagem, uma ao General Margallo e outra ao então Tenente de Infantaria Miguel Primo de Rivera y Orbaneja (1870-1930), que aqui conquistou a Cruz Laureada de San Fernando a mais alta condecoração de Espanha, em 28OUT1893, dois dias depois da morte de Margallo. Também nesse dia 28 o Capitão de Cavalaria Juan Picasso Gonzalez (1857-1935), sozinho com o seu cavalo, debaixo de fogo intenso, rompeu o cerco muçulmano e conseguir ir buscar os reforços que viriam a salvar o que sobrava da guarnição, o que também lhe valeu a Laureada de San Fernando. Este Picasso que chegou a general, era tio de um outro que ficou famoso como…pintor (1881-1973). Por outro lado este Tenente Primo de Rivera também chegou a general e foi mesmo Presidente do Governo de Espanha, ainda com o Rei Afonso XIII, de 1925 a 1930. 

Note-se que por esta época a Legião ainda não tinha sido criada e nas paredes do forte explica-se porque falar deste passado:

«…La Legion que rinde culto al valor e admira a los hombres heroicos, se honra de perpetuar tan gloriosso hecho de armas que tuvo lugar en el recinto de su aquartelamento…»

O Protectorado Espanhol em Marrocos (em cima) que durou até à independência deste país em 1956. O Tercio 1.º só deixou o seu quartel em Tauima, 10 km a sul de Nador, em 1957. A localização do forte em Melilla e desta cidade no Mediterrâneo.

O entusiasmo e detalhe que Villalobos coloca na sua exposição sobre os combates neste Forte, os actos heróicos aqui praticados e depois, muitos anos mais tarde, a chegada da Legião para salvar Melilla, são idênticos. Um exemplo a seguir neste tipo de actividade de divulgação da história militar. Aqui não se esconde a história, orgulham-se dela!

Tercio de Extrangeros

Em 28 de Janeiro de 1920 o Rei Afonso XIII assina o decreto de criação do Tercio de Extrangeros, desde logo conhecido também por Legião ou Legião Estrangeira Espanhola, mas só em 1937 haveria de adoptar oficialmente a designação La Legión. Nascida em Ceuta, em 20 de Setembro de 1920 – data de alistamento do 1.º voluntário para legionário – teve como primeiro comandante o Tenente-Coronel José Millán-Astray y Terreros (1920 – 1922), depois o Tenente-Coronel Rafael de Valenzuela y Urzaiz (1922-1923 – morto em combate) e depois o Tenente-Coronel Francisco Franco Bahamonde (1923-1926), que como Major foi o adjunto de Millan-Astray e 1.º comandante a I Bandera. Estes são os três fundadores da Legião e como tal hoje são recordados nas suas unidades e também nesta Sala Histórica em lugar de destaque e bem assim como na Parada fronteira ao Forte onde os seus nomes estão impressos num significativo memorial, além de algumas subunidades adoptarem os seus nomes.

A Legião cresceu rapidamente, voluntários não faltavam. No ano seguinte, 1921, já eram 3 Banderas e tiveram o seu baptismo de fogo em Janeiro desse ano com os primeiros mortos em combate. Em Julho os espanhóis sofrem uma pesada derrota em Marrocos – o desastre de Annual – e Melilla está na iminência de cair nas mãos dos mouros com tudo o que isso significaria, sobretudo na população europeia. Como nos conta o Subteniente Villalobos, o pânico instalou-se na cidade, os navios ancorados tiveram que largar para não serem assaltados por refugiados, a derradeira hipótese é chamar a Legião. Esta, aquartelada a sul de Ceuta “no outro lado” do Protectorado, em marchas forçadas, comboio e navio chega a Melilla onde desembarca debaixo de uma tremenda emoção popular. Pelo seu exemplo logo à chegada, marchando directamente para o confronto ao qual outras tropas evitavam, a Legião galvaniza os defensores e consegue finalmente repelir o inimigo, restabelece-se o perímetro de segurança, e este é o primeiro grande feito de armas da Legião, com impacto nacional. A cidade ficou agradecida e não faltam referências aos seus heróis,  nem é por mero acaso que hoje a única estátua de Franco em toda a Espanha, colocada já depois da sua morte, está precisamente em Melilla, frente ao porto. Franco era comandante da I Bandera – e é neste uniforme que a estátua o representa – e teve um papel determinante nesta operação. Na cidade várias ruas mantêm nomes de heróis da Legião, independentemente das suas crenças politicas, e mais recentemente a sua participação nas missões de paz também é lembrada.

Depois de Melilla a Legião continua os combates, vai derrotando os grupos rebeldes e ocupando posições no protectorado. São anos de guerra, de mortos em combate e de glória para a Legião que terminam com a derrota do principal líder rebelde – Abd el Krim – em 1927. Termina o capítulo inicial da história do Tercio de Extrangeros que por esta altura já tinha 9 Banderas (batalhões) e 1 Esquadrão de Cavalaria.

É neste período que aparecem na Sala Histórica as primeiras referências aos portugueses da Legião, os quais foram entre 1920 e 1930 a nacionalidade que de longe mais legionários “forneceu”. Dos 4.302 estrangeiros alistados nesses 10 anos, 1085 foram portugueses. A segunda nacionalidade foram os alemães com 912, depois os cubanos com 548, seguindo-se outras 45! Note-se no entanto que os estrangeiros na Legião eram apenas 17,55% do total (24.521) sendo portanto a grande maioria espanhóis. E esta percentagem de espanhóis foi aumentando e nas vésperas da Guerra Civil apenas 5% eram estrangeiros.

A entrada da Sala Histórica, com o mapa de Melilla e na paredes quadros em azulejo com o Credo Legionário (ver no final deste artigo). Millán Astray traduziu do francês o código de conduta samurai, o Bushido, e neste se inspirou para redigir este Credo e o Espírito Legionário que até hoje acompanha a Legião.

Várias salas apresentam muito armamento quer o usado pela Legião ao longo dos anos quer o capturado. Estão expostos de um modo que podemos considerar “clássico” com legendas mas sem grande enquadramento.

Em cima as várias CETME de fabrico espanhol usadas nos anos do pós-guerra e até aos anos 90, em baixo armas capturadas nas missões de paz. É uma realidade que temos visto em vários museus estrangeiros e que teima em demorar a chegar a Portugal, e as missões de paz para nós já duram há mais de duas décadas.

À esquerda o “Cristo da Boa Morte” da unidade, usado num típico cerimonial Legionário que tem as suas raízes em Málaga, na Confraria de Mena e no ano de 1928, quando a Legião declara, oficiosamente, como seu protector o “Santísimo Cristo de la Buena Muerte y Ánimas” . Em 1943 inicia-se a participação regular da Legião, com a imagem do Cristo nos actos religiosos da Semana Santa.

Málaga: Igreja de Santo Domingo. A imagem do Cristo da Boa Morte da autoria de Francisco da Palma Burgos (1942), inspirada na original do século XVII “…desaparecida por la quema de conventos y iglesias de mayo de 1931 … …es protector oficial de la Legión Española desde al año 2000, por decreto del Cardeal Arzobispo Castrense Monseñor Estepa, aunque desde 1930, le hacem guardia de honor en su capilla y le acompañam dándole honores y escolta en la procesión del Jueves Santo…”.

Apesar dos números – nesta época os estrangeiros eram 17,55% do total dos efectivos – e na sua história nunca ultrapassaram os 20%. Sempre foi uma força mais espanhola do que estrangeira.

Francisco Franco como Comandante da I Bandera da Legião. Esta foi criada em Ceuta, veio socorrer Melilla em 1921 e nunca mais abandonou esta região do Protectorado e depois a Cidade Autónoma. Franco continua recordado em Melilla mas não há qualquer referência a ter sido depois Chefe de Estado.

 

República Espanhola

Durante este período de 1931 a 1936 com Marrocos pacificado, a Legião vê reduzidos os seus efectivos e vai acabar por ser empregue em acções de repressão de levantamentos militares na Península. Várias Banderas são enviadas desde Ceuta e Melilla para a Catalunha, depois Astúrias e Galiza para reprimir revoltas, greves, etc.

Guerra Civil

A Legião, bem como todo o “Exército de África”, como aliás já tínhamos visto com os Regulares, vai ter um papel muito importante no “Campo Nacional”. A Legião participou nas primeiras acções ainda em Marrocos no dia 17 de Julho de 1936 – o levantamento militar – até aos últimos combates no dia 31 de Março de 1939. Começou a guerra com 6 Banderas e durante o conflito chegou a 18 e ainda outras unidades, como uma de carros de combate e outra de lança-chamas.

Sendo motivo de difícil aferição em termos numéricos é conhecido que neste período muitos portugueses combateram nas fileiras Nacionalistas. Nem todos serviram na Legião mas muitos foi mesmo nesta força que se alistaram e combateram. «…Na Legión, o maior grupo de estrangeiros é constituído pelos portugueses, tendo-se alistado mais de um milhar na década anterior. Pelo que, quando a guerra começa, é principalmente neste corpo de elite que os portugueses iniciam a sua participação no conflito, tendo nele servido perto de 3 mil durante a guerra… …os homes da Legión destacados em Melilla avançam rapidamente e tomam de assalto os pontos-chave da cidade, destacando-se logo o sargento Joaquim Oliveira, veterano com mais de uma década de carreira na Legión…» refere Ricardo Silva na revista “Visão História” n.º 18 / Dezembro 2012. Na Sala Histórica no entanto encontramos uma curiosa reprodução de parte do livro “Nas Trincheiras de Espanha”, de Artur Portela (1901-1958), jornalista e escritor português – que tem uma praça com o seu nome e busto em Lisboa! – que cobriu a Guerra Civil ao serviço do “Diário de Lisboa”: Na realidade numa das estantes com livros das mais variadas línguas sobre a Legião, lá encontramos o capítulo O Tercio «português» da referida obra publicada em Lisboa em 1937. 

Terminada a guerra a Legião reorganiza-se e fica constituída por 3 Tercios (Regimentos) os quais dispõem de 11 Banderas (batalhões).

É curioso que a Legião considera sempre que teve não um mas três fundadores, os quais, cada um à sua maneira moldou este corpo de tropas. Não os esquece e muito menos renega.

Reprodução de parte do livro português “Nas Trincheiras de Espanha”, de Artur Portela (1901-1958), jornalista e escritor português que tem uma praça com o seu nome em Lisboa e um busto!

O sector das publicações – livros, revistas, folhetos, cartazes, etc – e mesmo outros artigos comerciais que falam da Legião, é enorme.

Reconstituição do gabinete do comandante do Tercio em Tauima, o último quartel que ocuparam em Marrocos – até 1957 – antes do actual. Chamou-nos a atenção a cadeira do comandante, possivelmente vinda de Ceuta, que tem um escudo em muito semelhante ao português nas suas armas (ainda hoje, como mostra a ilustração a cores).

Neste filme de divulgação da Legião, aqui durante as últimas operações do Sara, aparece este Cabo que ao contrário dos restantes legionários não usa a “siroquera” (barrete com grandes abas protectoras para os ventos do deserto), mas um típico “quico” camuflado português da Guerra do Ultramar. Era de facto um português conhecido de Villalobos.

Sahara Espanhol

Depois da guerra civil a Legião regressa a África e as suas unidades vão instalar-se em localidades no Protectorado, o 1.º Tercio (este que agora visitamos) ficou em Tauima (junto a Nador, menos de 20km a Sul de Melilla),  o 2.º em  Riffien (Entre Ceuta e Tetuan a Sul )  e  o 3.º em   Larache (na Costa Atlântica). Em 1943 os Tercios passaram a usar além do número um nome, o 1.º “Gran Capitan”, o 2.º “Duque de Alba” e o 3.º “Don Juan de Austria”, em 1950 novo Tercio é criado, o 4.º “Alejandro Farnesio” e fica aquartelado em Villa Sanjurjo / Alhucemas (hoje Al Hoceima).

Em 1958 os 3.ºe 4.º Tercios são transferidos para o Sara Espanhol, El Aaiun (a capital) e Villacisneros (actual Dakhla no Sara Ocidental), respectivamente. Não vamos aprofundar este interessante período mas os agora apelidados de Tercios Saharianos, os quais tiveram orgânicas diferentes do habitual, incluíram viaturas blindadas, carros de combate e artilharia, foram várias vezes empenhados em combate, sofreram mortos e feridos, até Espanha ter decidido abandonar o Sara em 1976 e encerra-se assim mais um capítulo na história da Legião.

O recrutamento de estrangeiros foi abandonado em 1986, passando a ser necessária a nacionalidade espanhola para se alistar na Legião. No entanto logo em 2002 todo o Exército Espanhol passou a aceitar estrangeiros de certas nacionalidades latino-americanas e a Legião voltou a receber voluntários a receber estrangeiros

Neste “capítulo” na Sala Histórica o Subteniente Villalobos chama-me a atenção para um vídeo dos últimos dias da Legião no Sara, e no qual aparece um Cabo que ao contrário dos outros legionários enverga o típico “quico” camuflado português da Guerra do Ultramar. Era na realidade um português que ele conheceu e ali prestou muitos anos serviço.

A enorme sala onde está o sector dedicado às missões de paz e humanitárias.

O Tenente Francisco Jesús Aguilar Fernández, morto a tiro na Bósnia e Herzegovina em 11 de Junho de 1993, é aqui recordado em fotos e com artigos de fardamento e objectos pessoais.

O Tenente Francisco Jesús Aguilar Fernández, foi homenageado pela cidade de Melilla em 2001 com este busto da autoria do escultor Mustafa Arruf colocado no Parque Hernández.

Missões de Paz

Em Novembro de 1992 a Agrupación Táctica “Málaga” com a maior parte dos seus 753 militares proveniente do 4.º Tercio da Legião, iniciava a primeira missão do Exército Espanhol na Bósnia e Herzegovina, inserida na missão das Nações Unidas. Num exército ainda grandemente composto por pessoal do serviço militar obrigatório, a opção foi enviar os profissionais.

«…Así la operación iba a servir para institucionalizar en España una nueva figura, hasta ahora casi desconocida, la del soldado profesional, y para rehabilitar la figura del legionário…», refere o Exército Espanhol, não esquecendo que a Legião pela sua história foi depois da morte de Franco olhada com alguma desconfiança pelo novo regime, chegando-se a colocar a possibilidade da sua extinção. Deixou de aceitar estrangeiros, mas manteve-se e esta missão também marcou esse novo tempo da Legião.

Seguiu-se também composta por uma maioria de legionários do 3.º Tercio a Agrupación Táctica “Canarias” em 1993, e estavam lançadas estas missões no Exército Espanhol.

Várias unidades da Legião participaram desde então em diversas missões e isso está bem visível na Sala Histórica. De assinalar aqui também a homenagem aos caídos nestas operações, aqui tendo destaque o Tenente Francisco Jesús Aguilar Fernández, morto a tiro na Bósnia e Herzegovina em 11 de Junho de 1993, quando integrava uma coluna humanitária em Mostar. Um busto de homenagem da Cidade de Melilla a Jesús Aguilar foi inaugurado no principal parque de Melilla em 2001.

Nas missões de paz, portugueses e espanhóis têm-se encontrado várias vezes nos quatro cantos do mundo, por vezes têm cooperado, mas em 2015 quando iniciamos a nossa participação na Operação Inherent Resolve no Iraque, ficamos mesmo – pela primeira vez – debaixo de comando espanhol. Nada mais nada menos que do Tercio Alejandro Farnesio, 4.º de La Legión, em Besmayah, num aquartelamento que designaram por Base Gran Capitan.

No largo fronteiro ao Acuartelamiento Millán Astray, sede do Tercio “Gran Capitan”1.º de la Legión, foi colocado este monumento com a seguinte dedicatória “El Pueblo de Melilla a los Tercios de la Legión por su brillante labor humanitária – Mayo 1993”. Obra do escultor Enrique Novo Álvarez destinou-se a homenagear os legionários regressados da missão na Bósnia e Herzegovina “…una niña que sostiene entre sus manos un ánfora, símbolo de la ciudad de Melilla, y que en un gesto de entrega se la ofrece al legionario que se inclina hacia ella para recogerlo…”

No Parque Hernández, o principal da cidade, foi inaugurado em 2013, o “…Monumento al Tercio Gran Capitán 1º de la Legión . En ella se rememora y recuerda a todos aquellos valientes que dejaron sus vidas en la defensa del Protectorado español…”. Trata-se de uma obra do escultor Luis Martín de Vidales, que ofereceu ao Tercio uma réplica – a cores! – deste monumento e que hoje está na Sala Histórica.

A réplica do Monumento ao Tercio, miniatura do Forte Cabrerizas Altas e o quadro que perpetua o Espírito do Legionário.

Actualidade

O Tercio “Gran Capitan”1.º de la Legión , é actualmente composto por Comando e Estado-Maior, I Bandera “Comandante Franco” e Companhia Anti-Carro. Trata-se de uma unidade que se mantém em elevado grau de prontidão com áreas de instrução e carreiras de tiro dentro do perímetro do aquartelamento, e pode cumprir uma grande variedade de missões com destaque para as ligadas à defesa de Melilla, combate em áreas urbanas e apoio às autoridades civis e à Unidad Militar de Emergencias.

As unidades da Legião em Ceuta e Melilla dependem dos respectivos Comandos do Exército nestas Cidades Autónomas, e na Península está estacionada a Brigada de La Legión “Rey Alfonso XIII” com a seguinte organização:

– Cuartel General;

– Tercio “D. Juan de Austria” 3º de La Legión, composto por Comando e Estado-Maior, VII Bandera “Valenzuela” e VIII Bandera “Colón”;

– Tercio “Alejandro Farnesio” 4º de La Legión, composto por Comando e Estado-Maior e X Bandera “Millán Astray”;

– Bandera de Cuartel General, inclui as armas anti-carro, defesa NBQ, Vigilância do Campo de Batalha.

– Grupo de Reconocimiento de Caballería “Reyes Catolicos”

– Grupo de Artillería de Campaña, que inclui a defesa anti-aérea

– Grupo Logístico.

– Bandera de Zapadores.

– Sección de Asuntos Económicos.

Em 2020 a Legião assinala com um extenso programa o Centenário da fundação, em vários locais de Espanha, nomeadamente Ceuta, Almeria, Madrid, Ronda, Alicante e o encerramento em Melilla já em 2021.

Uma coisa é certa, a homenagem maior será para os mais de 10.000 mortos e 40.000 feridos que «…ha sido la generosa contribución a España de La Legión en todas las campañas y misiones en las que ha tomado parte, lo que le ha valido el respeto y la admiración del pueblo español».

A “Parcela del Tercio” no cemitério da “Purísima Concepción”, um pouco à semelhança dos talhões da Liga dos Combatentes nos nossos cemitérios, não tem apenas mortos em combate – embora tenha muitos – mas antigos militares da Legião que ali foram sepultados.

Num outro local do cemitério interessante esta lápide de 1925 porque foi a única ocasião em que vi ser usada a expressão “Legión Extranjera”, mesmo que também insira a então designação “Tercio de Extranjeros” o nome oficial da unidade entre 1920 e 1937, quando passou a ser “La Legión”.

 

CREDO LEGIONARIO

EL ESPIRITU DEL LEGIONARIO

Es único y sin igual, es de ciega y feroz acometividad, de buscar siempre acortar la distancia con el enemigo y llegar a la bayoneta.

EL ESPIRITU DE COMPAÑERISMO

Con el sagrado juramento de no abandonar jamás a un hombre en el campo hasta perecer todos.

EL ESPIRITU DE AMISTAD

De juramento entre cada dos hombres.

EL ESPIRITU DE UNION Y SOCORRO

A la voz de “A mí la Legión”, sea donde sea, acudirán todos, y con razón o sin ella defenderán al legionario que pide auxilio.

EL ESPIRITU DE MARCHA

Jamás un Legionario dirá que está cansado, hasta caer reventado, será el Cuerpo más veloz y resistente.

EL ESPIRITU DE SUFRIMIENTO Y DUREZA

No se quejará: de fatiga, ni de dolor, ni de hambre, ni de sed ni de sueño; hará todos los trabajos: cavará, arrastrará cañones, carros, estará destacado, hará convoyes trabajará en lo que le manden.

EL ESPIRITU DE ACUDIR AL FUEGO

La Legión, desde el hombre solo hasta la Legión entera acudirá siempre a donde oiga fuego, de día, de noche, siempre, siempre, aunque no tenga orden para ello.

EL ESPIRITU DE DISCIPLINA

Cumplirá su deber, obedecerá hasta morir.

EL ESPIRITU DE COMBATE

La Legión pedirá siempre, siempre combatir, sin turno, sin contar los días, ni los meses ni los años.

EL ESPIRITU DE LA MUERTE

El morir en el combate es el mayor honor. No se muere más que una vez. La muerte llega sin dolor y el morir no es tan horrible como parece. Lo más horrible es vivir siendo un cobarde.

LA BANDERA DE LA LEGIÓN

La Bandera de La Legión será la más gloriosa porque la teñirá la sangre de sus legionarios.

TODOS LOS HOMBRES LEGIONARIOS SON BRAVOS

Todos los hombres legionarios son bravos; cada nación tiene fama de bravura; aquí es preciso demostrar que pueblo es el más valiente.

 

Junto à entrada do forte que tantos e tão sangrentos combates contemplou, com o Subteniente Villalobos . O modo como me recebeu e apresentou a história do Forte e da Legião é um exemplo para quem está nestas funções: conhecimento, entusiasmo, sentimento, patriotismo e orgulho na sua unidade sem rebaixar nenhuns outros! Gracias Villalobos

Notas: 

(1) Comandancia General de Melilla comando (e estado-maior) do Exército Espanhol na Cidade Autónoma de Melilla, dispõe dos seguintes comandos, unidades e órgãos:

Tercio ‘Gran Capitán’ 1º de la Legión; Regimiento de Caballería ‘Alcántara’ 10; Regimiento Mixto de Artillería nº 32; Regimiento de Ingenieros nº 8; Unidad Logística nº 24; Batallón del Cuartel General de la Comandancia de Melilla; Grupo de Regulares de Melilla nº 52; Centro de Historia y Cultura MilitarBiblioteca Historico Militar de Melilla.

São cerca de 12.000 militares, ou seja, numa cidade com 12,5 km2 e população semelhante a Viana do Castelo, Espanha mantém hoje um efectivo superior à totalidade do Exército Português!

(2) Gran Capitán foi um chefe militar de nome Gonzalo Fernández de Córdoba (1453-1515), com longa carreira militar ao serviço dos Reis católicos. Muito estudado e enaltecido no país vizinho, combateu contra Portugal em Albuera (24/2/1479), reconquistou Granada numa campanha iniciada em 1482 e que levou à destruição do último reino muçulmano na Península Ibérica, seguindo-se nova campanha na Sicília, a partir de 1495, contra os franceses. Conquistou Nápoles no ano seguinte. Foi contra os franceses que no dizer dos historiadores espanhóis, Gonzalo de Córdoba, revolucionou a guerra, na batalha de Cerinõla em 1503, introduzindo alterações no uso da cavalaria pesada, ligeira e infantaria, tendo alcançado a vitória. Em Espanha é considerado um dos seus grandes chefes militares, credor de inúmeras inovações na arte da guerra.

(3) Subteniente, não sendo exactamente a mesma coisa que o Sargento-Mor, em Portugal este posto nunca foi criado, corresponde em termos NATO ao mesmo OR 9, em Espanha o posto mais elevado da Classe de Sargentos é Suboficial Mayor.

(4) Muito curioso o processo escolhido para marcar os limites da cidade! Junto ao porto da cidade, em 14JUN1862 foi disparado um tiro de canhão “El Caminante” – o mais potente ali instalado na época – e o local onde caiu o projéctil é que definiu o ponto mais afastado da fronteira e assim começou a expansão de uma nova cidade, mais afastada do complexo fortificado de Melilla.

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