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QUESTÕES SOBRE UMA “CAÇA AO HOMEM”

Faço sinceros votos para que o criminoso conhecido por “Manuel palito”, já tenha sido capturado ou abatido pelas autoridades quando este texto vier à luz do dia. Ainda assim, julgo, nada do que aqui vai escrito ficará ultrapassado.

Para além das questões internas a melhorar a nível dos equipamentos, não será este um caso evidente em que as Forças Armadas podiam dar uma auxilio precioso em termos de meios e volume de força que só elas dispõem? [1]

Para além das questões internas a melhorar a nível dos equipamentos, não será este um caso evidente em que as Forças Armadas podiam dar uma auxilio precioso em termos de meios e volume de força que só elas dispõem?

Um homem de 61 anos de idade, armado, foge para uma área rural que conhece bem depois de cometer vários crimes. Polícia Judiciária e Guarda Nacional Republicana tentam localizar o criminoso durante dias, semanas. A autoridade do Estado está claramente posta em causa e é desafiada.

A resposta a pelo menos três questões poderá numa próxima eventualidade ajudar a um desenlace diferente, mesmo que se reconheça: o esforço e dedicação de quem anda no terreno; as dificuldades de uma operação deste tipo.

Os militares da GNR envolvidos nas buscas apresentaram fardamento claramente desajustado à finalidade, vendo-se militares em farda “número dois” (azul, barrete com dourados, reflectores) em cenário campestre. Coletes balísticos de várias cores, cavalos brancos, compõem este aspecto.

Sendo a Guarda Nacional Republicana uma força de segurança de vocação rural, não devia ter fardamentos e equipamentos adequados a estas ocorrências?

Mesmo as suas unidades de élite, bem equipadas para cenários urbanos e/ou nocturnos (e ainda bem, porque também actuam nesse meio), mas com ausência muito evidente de, por exemplo, uniformes e equipamento camuflados.

Porque não se usaram desde o primeiro momento meios aéreos, nomeadamente helicópteros da Força Aérea e/ou da Marinha, cujas tripulações têm muita experiência, para tentar detectar o criminoso e colocar equipas helitransportadas (das Forças Armadas e/ou da GNR e PJ)?

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Alguns helicópteros militares têm muita autonomia e equipamentos que permitem este tipo de missões e do mesmo modo, podiam ser usados alguns dos “drones” que o Exército testa actualmente, ou dos que a Força Aérea vêm desenvolvendo para melhorar a capacidade de vigilância da área.

Mesmo admitindo que é uma caso raro, esta “caça ao homem”, e que a expectativa seria a “rendição” às autoridades, esta nunca envolveu grande número de pessoas apesar das aparições do criminoso provando que por ali andava.

Porque não se recorreu, nos termos da lei, “supletivamente”, às unidades de élite das forças armadas e não se procedeu a uma operação de grande envergadura, cercando uma vasta área e batendo-a sistematicamente, infiltrando no seu interior elementos de operações especiais para, como é sua missão, monitorizar, noite e dia, eventuais pontos de passagem?

As forças armadas dispõem de vários batalhões de élite, em estado de prontidão elevado (em horas estariam no terreno), habituados a realizar exercícios em zonas remotas de Portugal e com capacidades únicas em termos de logística. Podiam estar no campo, dia e noite, o tempo que fosse necessário.

Terminando, talvez o mais importante depois da neutralização do criminoso, seja que se tirem lições deste caso. A vocação de força rural da GNR andará esquecida? Deve haver consequências práticas, quer a nível dos procedimentos quer dos equipamentos e da cooperação com outras entidades: esta tem que ser treinada regularmente e deve haver, algures na cadeia de comando, a capacidade de decidir o seu accionamento. Haja vontade!

Miguel Silva Machado

Este artigo foi originalmente publicado no Diário de Noticias em 08MAI14, veja aqui: QUESTÕES SOBRE UMA «CAÇA AO HOMEM» [5]