Nas Forças Armadas Portuguesas o espírito de missão não é expressão de circunstância, nem declaração sem sentido real. É prática corrente pese embora o ambiente geral do país. A suposta inactividade militar que por vezes se ouve pela imprensa não passa de uma “ideia feita” ao sabor de algumas conveniências. O Operacional foi ver um exercício, mais um daqueles de que ninguém fala, mas acontecem, e cumprem a sua finalidade: manter forças em elevado grau de prontidão.
Todos os dias militares portugueses estão envolvidos quer em missões reais dentro e fora do território nacional, quer em actividades de instrução e treino operacional. A falta de recursos, sendo uma realidade que limita sobretudo o reequipamento adequado e o treino operacional, permite ainda assim a manutenção de exercícios, quase e sempre mais limitados no tempo do que em épocas anteriores – gastam-se menos munições, horas de vôo, combustíveis, alimentação, etc. – destinados a garantir que em caso de necessidade, o país tenha militares preparados para intervir. Nas chamadas “forças de reacção imediata”, destinadas principalmente a actuar num curto espaço de tempo e a longas distâncias, o treino e a articulação entre unidades de vários ramos e especializações são uma necessidade absoluta.
Enquanto as Forças Armadas Portuguesas realizavam o exercício “Lusitano 2013” na Região Autónoma da Madeira (de 18 a 27 de Novembro, com grande cobertura mediática e ainda bem!), no qual foi certificada a Força de Reacção Imediata (FRI) do Estado-Maior General das Forças Armadas que fica em standby para 2014 e mostrar naquela região a capacidade de articulação com outras entidades, nomeadamente a Protecção Civil, o 1ºBatalhão de Infantaria Pára-quedista (1BIPara), que até ao final de 2013 integra a componente terrestre desta FRI, planeou e executou em 21NOV13 a operação “Silveira 2013” (*).
Esta operação, executada em apenas 24 horas, decorre de um cenário, já utilizado no exercício ZEUS 13 [2], que engloba três países fictícios, com características semelhantes às verificadas nos Teatros de Operações onde Portugal tem ou pode participar com forças no âmbito do Espaço Estratégico de Interesse Nacional, e cuja situação de segurança tem vindo a degradar-se, não havendo condições de segurança para os cidadãos nacionais permanecerem na região.
Neste país fictício, a situação degrada-se rapidamente e há necessidade de evacuar rapidamente um pequeno grupo de cidadãos nacionais que se encontravam em missão diplomática. Perante a súbita degradação da situação de segurança e com o avolumar do grau de ameaça aos cidadãos nacionais é activada a FRI e é decidido superiormente enviar o 1BIPara para executar esta operação, activando-se também duas aeronaves Hércules C-130 da Esquadra 501 da Força Aérea Portuguesa para a execução da projecção da força.
Efectuado um rigoroso planeamento, o 1BIPara preparou 208 militares para serem projectados por salto em pára-quedas, conquistar um objectivo em profundidade e proceder à evacuação dos cidadãos nacionais.
Efectuado o salto e a reorganização, iniciou-se o deslocamento táctico apeado e a conquista de um objectivo que se constituiu como a cabeça-de-ponte aérea para a realização da operação de evacuação de cidadãos nacionais não-combatentes, e, “pelo caminho” houve que enfrentar um grupo de forças insurgentes que desenvolveu ataques contra as forças internacionais e organizações não-governamentais.
Este exercício foi mais uma oportunidade para incrementar e aperfeiçoar a capacidade de planeamento, coordenação, execução e controlo de uma Operação Aerotransportada e de uma operação de Evacuação de Não-Combatentes em ambiente incerto.
Participaram neste exercício 222 militares do 1BIPara, e 15 viaturas de várias tipologias, tendo ainda sido empregues dois C-130 da Esquadra 501 da Força Aérea Portuguesa. Saltaram em pára-quedas de abertura automática 208 militares, 104 em cada passagem pela zona de lançamento.
Foi assim mais uma vez testado o plano de alerta, carregamento, transporte e projecção do 1BIPara para a execução de uma Operação Aerotransportada.
De Setembro a Dezembro de 2012 o 1BIPara organizou e aprontou o núcleo inicial da Land Component Command da FRI 2013, tendo a força sido certificada pela Inspecção Geral do Exército. Desde 01 de Novembro de 2011 até 31 de Dezembro de 2013, o 1BIPara garante a prontidão da força que se encontra em stand-by – categoria 2 (5 dias Notice To Move). Segue-se com esta responsabilidade – muito importante senão imprescindível se Portugal tiver que lançar uma operação exclusivamente nacional -, o outro batalhão de pára-quedistas da Brigada de Reacção Rápida, o 2BIPara, recém chegado de 6 meses no Kosovo e que agora foi certificado para esta nova tarefa no “Lusitano 2013”.
Com a operação “Silveira” o 1BIPara encerra um ciclo operacional de dois anos como componente terrestre da FRI que foi iniciado em Setembro de 2011 e de que se destaca a participação na operação real “Manatim” ocorrida em Abril de 2012, aquando da instabilidade na República da Guiné-Bissau.
(*) Nome da Zona de Lançamento em pára-quedas que foi utilizada.