O “Operacional” publicou uma reportagem sobre o exercício “Deep Divex 2010” mostrando aos leitores, daquilo a que assistimos e do que nos foi dito por alguns intervenientes, o que nos pareceu mais interessante. Isto foi possível, ao nosso site e à generalidade dos Órgãos de Comunicação Social que quiseram, porque a Marinha montou uma “operação mediática” para o efeito.
[1]A televisão SIC esteve presente e fez uma boa cobertura do exercício e deu destaque ao acidente ouvindo a Marinha.
Isto nada tem de errado, bem antes pelo contrário no nosso entender, e hoje vamos dar aos nossos leitores algumas impressões sobre aquilo a que assistimos, nesta vertente mediática. E porquê? É quase um lugar-comum no meio militar, independentemente do ramo ou da patente do “queixoso”, do soldado ao general, ouvir qualquer coisa do género: estamos nós aqui a fazer este trabalho importantíssimo e ninguém nos liga nenhuma. Tudo e mais alguma coisa aparece no jornal e na televisão, e isto, nada!
O exercício “Deep Divex 2010” por muito importante que fosse, daria origem a este tipo de observações e acabaria desconhecido para quem nele não participou ou, no máximo, passado um mês ou dois, a Revista da Armada falaria do que ali se passou. Ou então, fruto de uma infeliz circunstância, possível mas não prevista, o exercício seria apenas motivo de notícia pelos piores motivos, um acidente grave. Na realidade o acidente aconteceu mas as notícias sobre o mesmo foram perfeitamente normais, sem dramatismo nem – do nosso ponto de vista – beliscar a imagem da Marinha, nem sequer dos militares belgas acidentados. Talvez até pelo contrário, uma vez que um dos acidentados foi apresentado como tendo salvo a vida ao seu camarada.
Aos olhos da opinião pública em geral e mesmo de muitos militares, estou certo que tudo isto lhes “entra em casa” (pela TV, Rádios, Jornais ou Internet), e é consumido sem pensar nem por um instante, porque assim foi?
A finalidade deste artigo é mostrar, muito sinteticamente com texto e imagens, porque é que há assuntos que são “bem cobertos” pela comunicação social e outros não. Este foi e é um bom “caso de estudo”.
Aqui chegados impõem-se duas notas prévias: aborda-se este caso porque foi este o presenciado e por nenhum outro motivo; nada do que a Marinha fez, internamente, antes, durante e depois do exercício, foi do nosso conhecimento, isto é mera observação exterior.
[2]O NRP "Almirante Gago Coutinho", navio de utilização militar e civil, foi o palco escolhido para a visita de VIP's e jornalistas ao exercício "Deep Divex 2010"
[3]O 1º Tenente Madeira, comandante do Destacamento de Mergulhadores Sapadores n.º 2 foi o Oficial de Relações Públicas do exercício.
[4]Gouveia e Melo (à direita) e Maurício Barbosa, no exercício. Respectivamente antigo e actual oficial e relações públicas do Gabinete do Chefe do Estado-Maior da Armada (GabCEMA), órgão da Marinha que coordena as relações com a imprensa.
[5]O "Deep Divex 2010" conseguiu atrair um razoável número de jornalistas. E não só, em primeiro plano (em calções) o fotógrafo oficial dos destacamentos canadianos presentes, o qual acompanhou todo o exercício.
Como começa, para o visitante (jornalista), uma operação destas? É muito simples, a Marinha divulga na sua página na internet (e envia comunicado/convite aos OCS) com antecedência razoável, e não em cima da hora, que vai realizar o exercício. É bem possível ainda que contacte pessoalmente alguns jornalistas que sabe de antemão terem apetência por esta área “da Defesa”, ou que habitualmente trabalham na região do exercício, para lhes dar a informação e convidar. Neste caso como o exercício tinha lugar no Algarve, longe e Lisboa, este último aspecto terá sido bem equacionado.
A chegada ao local, na data acertada, a hora que depois do contacto telefónico feito – para Faro / Capitania – afinal foi ligeiramente rectificada em relação à inicialmente prevista, sabia-se que havia jornalistas presentes! Escrevo isto porque não seria a primeira vez que um jornalista chega a estas “operações” e uma qualquer falha de comunicação o leva a ouvir: quem? Desculpe mas não sei quem seja, e vem fazer o quê? Na dúvida, aliás, o tal contacto telefónico prévio antecipou a hora de chegada ao Ponto de Apoio Naval de Portimão. Imagino que terão pensado, como isto é gente que chega sempre atrasada, há mais convidados – entidades locais a quem a Marinha aproveitou para proporcionar uma visão da importância do seu trabalho – e o navio tem que largar a horas, é melhor antecipar.
Havia um oficial nomeado para acompanhar os jornalistas – o 1º Tenente Madeira, comandante do Destacamento de Mergulhadores Sapadores n.º 2 que não estava directamente empenhado no “Deep Divex”. Os jornalistas puderam andar sem problema por qualquer parte do navio, tanto quanto me tivesse apercebido, e o 1º Tenente Madeira estava mais interessado em explicar, informar do que em controlar ou evitar contactos dos jornalistas com os militares a bordo.
[6]O exercício tinha previstos meios humanos e materiais suficientes para proporcionar aos jornalistas condições de trabalho. Na foto a jornalista da SIC, Catarina Neves, dirige-se para uma estação de mergulho.
[7]O operador de imagem Franco Santos teve a vida facilitada, a SIC era a única televisão a bordo, logo nada de encontrões para apanhar as melhores imagens, nem luta por algo diferente.
[8]Não foram colocadas aos repórteres de imagem restrições sem razoabilidade. Foi-se até onde foi possível, para permitir a captação de imagens.
A viagem iniciou-se com os jornalistas a assistirem ao briefing inicial do dia – claro, não haja aqui inocências, nada de problemático foi abordado (não estamos a dizer que havia e foi omitido, mas certamente que se houvesse, seria deixado para outra altura), o que não quer dizer que o acidente do dia anterior não tivesse sido referido, foi, por um dos médicos navais presentes.
Durante a viagem até ao local de mergulho, os jornalistas aproveitaram para, literalmente, meter o nariz em tudo o que quiseram e obter imagens e declarações dos militares evolvidos e dos responsáveis pelo exercício. A bordo também o oficial de relações públicas da Marinha – Capitão-de-Fragata Maurício Barbosa – e o comandante da Esquadrilha de Submarinos – Capitão de Mar-e-Guerra, Gouveia e Melo – de quem dependem os Mergulhadores, o qual, por coincidência, foi também ele oficial de Relações Públicas da Marinha. O Comandante Gouveia e Melo – oficial mais graduado a bordo – além de acompanhar naturalmente as altas entidades civis a bordo, não deixou de falar com vários jornalistas e assumir as declarações oficiais sobre o acidente e mesmo sobre o exercício em si. Os médicos a bordo também estiveram sempre disponíveis para prestar informação sobre os assuntos que se prendiam com o acidente dos militares belgas e sobre um estudo que o Centro de Medicina Hiperbárica do Hospital da Marinha está a efectuar nesta área do mergulho profundo.
Ainda de realçar a presença a bordo – durante o exercício e não apenas neste dia – de dois militares do Gabinete de Imagem da Marinha com a missão, um de recolher fotografias (Cabo Joaquim Figueiredo) e outro de filmar (Cabo José Chorão): este material serviria para o ramo divulgar o exercício – o Youtube por exemplo quase de imediato – mas também para ceder aos jornalistas em caso de necessidade. Aconteceu com imagens/filme subaquático e da situação de emergência real.
Ou seja, até aqui, não faltou informação nem liberdade de movimentos. E assim iria continuar.
Chegados ao local dos mergulhos estava previsto, em duas viagens, a deslocação dos jornalistas bem junto aos mergulhadores – tanto quanto possível – a fim de facilitar a recolha de imagens. Note-se bem que sem isto, o impacto/qualidade das imagens recolhidas seria muito inferior. Isto é daqueles “detalhes” fundamentais para que se consigam boas imagens de uma situação que foge àquilo que acontece (inexplicavelmente e muitas vezes), que é os militares convidarem os jornalistas e depois (só no local), dizerem qualquer coisa do género: não têm tele-objectivas? Lamentamos mas não se podem aproximar!
Claro que há situações, por exemplo cerimónias militares, em que estas limitações são perfeitamente admissíveis senão mesmo desejáveis do nosso ponto de vista.
[10]Militares do Gabinete de Imagem da Marinha (pertence ao GabCEMA) acompanharam o exercício durante vários dias. À esquerda o Cabo Joaquim Figueiredo, fotógrafo, perfeitamente integrado na "tribo jornalística" que embarcou.
[11]O Cabo José Chorão (à direita na imagem), também do GabCEMA, foi responsável pela captação de imagens vídeo, que o mesmo editava e "metia" no Youtube, ainda a partir do Algarve. No fim do exercício também chegaram ao site da Marinha.
[12]O "Ponto de Apoio Naval de Portimão", no rio Arade, com a massa urbanística da Praia da Rocha em fundo e duas Lanchas de Fiscalização da Classe "Argos" em primeiro plano.
[13]O primeiro a deixar o navio, literalmente a correr, foi...um repórter de imagem. A esta hora já estava a ser pressionado "por Lisboa" para enviar as fotografias. Dali a pouco fomos encontrá-lo, numa área de serviço com wireless free, a enviar o trabalho via Internet.
[14]Logo no imediato o GabCEMA colocou uma reportagem própria no Youtube e terminado o exercício a mesma ficou na página Internet da Marinha.
Neste dia os mergulhos foram claramente “dimensionados” para esta visita e cumpriram a sua obrigação: mostrar em pouco tempo e numa área limitada o que os mergulhadores de vários países podiam fazer. Houve ainda oportunidade de assistir a um treino de emergência num mergulho profundo a exigir o uso de uma câmara hiperbárica embarcada. Esta foi a “desculpa” para se falar do acidente e de explicar – senão tudo o que se passou, desconhecemos – pelo menos o essencial para não restarem dúvidas aos jornalistas presentes e satisfazer as suas perguntas, todas. A mensagem foi, em linhas gerais – e resultou, certamente por ser verdadeira, mesmo que eventualmente incompleta – a de que tudo está previsto, temos os meios, sabemos o que fazer, fizemos, isto é uma actividade arriscada, um mergulhador salvou o outro, vão ficar bem, o exercício continua.
Depois do trabalho, uma pausa para almoço, com os jornalista a comer o mesmo que “a tropa” (uma ração fria com sandes, fruta e sumo), regresso a Portimão com mais entrevistas a bordo onde oficiais com responsabilidade no exercício estavam disponíveis para falar.
Em conclusão, a Marinha em geral e os Mergulhadores em particular, passaram uma boa imagem da instituição e das suas capacidades, mesmo com um acidente pelo meio (o que não é assunto fácil de se lidar). Prepararam-se para isso, alocaram meios e pessoas a esta finalidade, criaram condições para os jornalistas fazerem o seu trabalho.
Apetece terminar a dizer, pois é, não há milagres! O que, infelizmente, nesta área da comunicação, ainda não é verdadeiramente aceite por todos.

Quer ler o artigo sobre o “Deep Divex 2010” no “Operacional”? Clique em “DEEP DIVEX” PELA 1ª VEZ EM PORTUGAL [15]
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