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GANHAR A GUERRA

Acaba de ser publicada uma nova directiva para ganhar a guerra no Afeganistão. São ideias vindas directamente do local onde se lidera a guerra pela conquista dos “Hearts and Minds” da população afegã que aqui trazemos. Tenta-se neste texto, conciso e actual, trazer ao conhecimento dos nossos leitores como se está a tentar ganhar uma guerra que bem ou mal, também é nossa. Estão lá portugueses a combater. Alguém ainda se lembra?

Portugal é um dos países que apoia a formação do Exército Nacional Afegão [1]

Portugal é um dos países que apoia a formação do Exército Nacional Afegão.

Após Junho de 2009 com a nomeação do General Stanley McChrystal para Comandante da International Security Assistance Force (ISAF) e da United States Forces Afghanistan (USFOR-A) uma nova estratégia, vulgarmente apelidada de COIN (Counterinsurgency), foi implementada no Teatro de Operações do Afeganistão.
Esta nova estratégia baseia-se numa maneira diferente de agir com a finalidade de atingir os efeitos pretendidos. Essa actuação denominada de Doutrina de COIN inclui um misto de Operações Ofensivas, Operações Defensivas e Operações de Estabilidade(1) implementadas de forma a promover um ambiente seguro que permita estabelecer um Governo democrático, próspero e justo, para que o Afeganistão se torne um país auto-sustentável, capaz de exercer a sua soberania, autoridade e independência de acordo com a vontade da população.
A ISAF mudou assim o seu “centro de gravidade” deixando de ter como principal objectivo a captura ou eliminação dos insurgentes(2) para passar a ter como propósito primário a conquista dos “Hearts and Minds” da população afegã.
Para cumprir esse intento, a ISAF passou a exercer a função de apoio e aconselhamento remetendo o ónus da governação ao então eleito Government of Islamic Republic of Afghanistan (GIRoA), acordando no entanto com este algumas linhas mestras para a resolução do conflito, nomeadamente:
a redução da corrupção a níveis que não destabilizem a confiança da população nos governantes afegãos;
a minimização da produção de narcóticos (uma das fontes de rendimentos dos insurgentes) promovendo culturas alternativas para a subsistência dos agricultores; e, principalmente, a protecção da população das acções dos insurgentes com a formação das Afghan National Security Forces (ANSF), forças de segurança afegãs (Polícia e Exército), viabilizando desta forma um clima propício ao investimento e desenvolvimento do país.

Oficiais portugueses na Kabul Capital Divison. O desenvolvimento das capacidades do Exército Afegão é fundamental para que a estratégia da NATO resulte. [2]

Oficiais portugueses na Kabul Capital Divison. O desenvolvimento das capacidades do Exército Afegão é fundamental para que a estratégia da NATO resulte.

O dia-a-dia dos militares portugueses empenhados nas OMLT é passado dentro e fora dos quartéis, lado a lado com os militares Afegãos [3]

O dia-a-dia dos militares portugueses empenhados nas OMLT é passado dentro e fora dos quartéis, lado a lado com os militares do Afeganistão.

Uma imagem rarissima: um jornalista português a acompanhar uma missão dos militares portugueses (dos EUA e do Afeganist [4]

Uma imagem raríssima: um jornalista português a acompanhar uma missão dos militares portugueses (dos EUA e do Afeganistão) fora de Cabul. Portugal é dos países cuja opinião pública está mais mal informada sobre o que se fazem os seus militares naquele palco do principal conflito da actualidade.

Se vamos ganhar a guerra?
O povo afegão está em guerra há 30 anos. A corrupção e o suborno, a ameaça e o medo, a injustiça e a impotência tornaram-se companheiros de sobrevivência para estes seres humanos, numa escala difícil de entender para qualquer cidadão “ocidental”.
Embora a população afegã ambicione mais que ninguém viver em paz, a mudança de atitude processa-se de uma forma lenta e só pode ser conseguida com o produto de sucessivas pequenas vitórias. Não é licito pedir à ISAF, perdão, ao GIRoA, a resolução do conflito em meia dúzia de meses.
É por esse motivo que os mais atentos sabem que vivemos um momento crítico. O futuro do Afeganistão vai ser “jogado” na Conferência de Lisboa agendada para o próximo mês de Novembro onde se decidirá a continuação ou não da estratégia implementada.

No entanto os insurgentes também estão atentos a este facto, e mais que nunca pretendem aumentar a insegurança entre a população de forma a demonstrar a incapacidade das ANSF para os proteger. Até lá, grandes eventos poderão tornar-se em pequenas vitórias rumo à vitória final, dos quais se podem destacar a Jirga da Paz, a Conferência de Cabul, as Eleições Parlamentares, o aumento dos efectivos da ANSF, a reconciliação de alguns líderes dos insurgentes com o GIRoA e a estabilização de regiões como Marjah, Helmand, Kandahar, Konduz, bem como outros pontos sensíveis, com a colocação de forças governamentais no terreno.
Naturalmente que o esforço de 41 países na reconstrução do Afeganistão é garantia da implementação da autoridade e soberania do GIRoA em todo o território Afegão face a grupos de insurgentes que aterrorizam a população. “Apenas” não se sabe, especialmente numa altura em que se prevê que os insurgentes aumentem a sua actividade por terem a noção que jogam actualmente o seu último trunfo, se o mundo está disposto a sacrificar mais vidas humanas enquanto espera por esse resultado. Haverá outra solução?

(1) Operações de estabilidade são operações centradas na população que visam apoiar e aconselhar o povo afegão de forma a promover a cooperação deste na conquista de um clima de segurança, no estabelecimento de um governo e no desenvolvimento do seu próprio país.
(2) Conjunto de elementos que se opõem ao estabelecimento do GIRoA e à manutenção das Forças Estrangeiras no Afeganistão.

Leia a nova Directiva Bi-SC Counter-Insurgency (COIN) Joint Operational Guidelines (JOG) [5] de Maio de 2010.