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FORÇA AÉREA PORTUGUESA DE NOVO NO MALI

Por • 4 Jan , 2017 • Categoria: 03. REPORTAGEM, EM DESTAQUE Print Print

Um Destacamento Aéreo está actualmente integrado na United Nations Multidimensional Integrated Stabilization Mission in Mali (MINUSMA), a força das Nações Unidas que actua no Mali desde 2013, com mandato renovado em 2016. Portugal regressou a este teatro de operações para uma missão de 6 meses, depois de ali ter estado em 2014 e 2015 – com aeronaves C-130 e C-295M – contribuindo mais uma vez para os esforços da comunidade internacional na normalização política e militar deste país martirizado pela acção de grupos terroristas.

O Destacamento Aéreo está no Mali desde final de Novembro de 2016 e ali vai actuar por seis meses. Este artigo inclui maioritariamente fotos de Carlos Varela na região de Bamako, onde acompanhou alguma da actividade da Unidade de Protecção da Força da Polícia Aérea (na foto).

O conflito

Em poucas linhas, simplificando, podemos dizer que a situação de conflito no Mali decorreu sobretudo no norte do país, a partir de 2012, com diferentes grupos armados – Al-Qaida do Magrebe Islâmico; Movimento para a Unidade da Jihad na África Oeste; Movimento Nacional para a Libertação da Azawad; Ansar Dine, entre outros – a atacar as forças governamentais, um golpe de estado pelo meio (Março 2012), criando uma situação incontrolável pelo governo, que viu muitos militares e policias desertarem e mesmo a declaração de independência de uma região do país. Em 2013 França decidiu intervir militarmente e lançou a operação Serval  (11JAN2013 – 31JUL2014) a pedido do governo do Mali. Combateu os rebeldes, evitou a queda de Bamako nas mãos dos jihhadistas, desarticulou grupos terroristas, e a situação estabilizou, seguindo-se a intervenção das Nações Unidas e a progressiva retirada dos contingentes franceses.

O Mali é um enorme país africano com 1.240.192 km². A título de comparação é maior que França (543.965), Espanha (504.030) e Portugal (92.090), juntos. Uma missão no Norte equivale a ir por exemplo de Faro a Paris! Percebe-se a importância do vector aéreo.

A resolução do conselho de segurança das Nações Unidas de 2016 (29 de Junho), determina que a MINUSMA pode ter um máximo de 13.289 militares e 1.920 polícias, e, em caso de “ameaça grave e eminente”, ser apoiada pelas forças francesas em outros países da região. As Forças Armadas Francesas têm em curso a operação Barkhane, lançada em Agosto de 2014 e que congrega vários países da região. Trata-se da maior operação exterior francesa da actualidade e congrega 4.000 militares meios aéreos e terrestres significativos para a região.

Na operação Serval morreram 10 militares franceses e na operação Barkhane, até agora, 8, dos quais 3 em 2016.

A Operação Barkhane em curso abrange 5 países de África onde França e estes países combatem diversos grupos armados e é a maior operação exterior que as Forças Armadas francesas têm em curso.

Este quadro dá uma imagem da logística necessária para manter em operações o dispositivo militar francês, o qual, em caso de necessidade urgente, pode voltar a intervir no Mali em apoio da MINUSMA ou da EUTM-Mali.

O comandante da MINUSMA é um general de divisão do Senegal e o chefe de estado-maior um general de brigada francês. França mantém uma vintena de militares no Estado-Maior da MINUSMA em Bamako e nos sectores de Gao, Kidal e Tombouctou.

A situação de segurança, segundo vários observadores internacionais, vinha a evoluir favoravelmente até inicio de 2014, altura em que se agravou com um aumento significativo de atentados de carácter terrorista. Sobretudo no Norte do país, mas esporadicamente noutras regiões, mesmo na capital, o que criou um sentimento generalizado de insegurança que não se tem alterado. Em Novembro de 2015, recorda-se, deu-se um atentado no hotel Radisson Blue de Bamako, com mais de 20 reféns estrangeiros abatidos. Já em Março desse ano, também na capital, em dois ataques diferentes, num 5 pessoas tinham sido assassinadas (3 de Mali, 1 Francês e 1 Belga) e um outro, ao hotel onde está a Missão da União Europeia, não causou baixas entre os militares estrangeiros. Por essa altura Portugal tinha destacados 13 militares no Mali, dois no QG da MINUSMA, em Bamako, e 11 na missão da União Europeia para treino e formação das Forças Armadas do Mali, 8 dos quais, fora da capital em Koulikoro.

Perante esta situação de progressivo agravamento da situação de segurança, a missão das Nações Unidas segue agora regras de empenhamento mais robustas.

Em final de Novembro de 2016 começou a projecção da FND desde a Base Aérea n.º 6 para Bamako. A cada 30 dias a Força Aérea vai rodar o pessoal empenhado na MINUSMA.

Na manhã do dia 05 de Dezembro de 2016 realizou-se a primeira descolagem de Bamako ao serviço da MINUSMA, rumo ao Noroeste do Mali, para um transporte de passageiros.

FND MINUSMA

A Força Nacional Destacada na MINUSMA é composta por 68 militares, sendo 60 da Força Aérea e 6 do Exército directamente ligados ao Destacamento Aéreo (DestAer) e 2 militares no Estado-Maior da força multinacional. O C-130H da Esquadra 501 “Bisontes” da Base Aérea n.º 6 (Montijo), estaciona em Bamako, capital do Mali, onde está instalado o “Campo Bifrost”(*), construído pelo contingente norueguês e que serve agora de base à FND portuguesa, que garante o seu comando e participa nos custos.

Portugal, Bélgica, Dinamarca, Noruega e Suécia, assinaram no verão de 2016 um acordo estabelecendo uma unidade de transporte aéreo militar para a MINUSMA. Assim, cinco países vão garantir a capacidade de transporte aéreo táctico a partir de Bamako, por um período de dois anos. A primeira rotação de seis meses está a cargo de Portugal desde final de Novembro de 2016, seguindo-se Dinamarca, Suécia e Bélgica, até Novembro de 2018. O “Campo Bifrost” é gerido nos termos de um Technical Agreement entre as forças armadas de Portugal e da Noruega, aprovado em Novembro de 2016.

De assinalar que a Real Força Aérea da Noruega garantiu desde Janeiro de 2016 até à chegada do nosso DestAer as missões de transporte aéreo que agora Portugal cumpre. A engenharia norueguesa teve ainda uma participação muito relevante na construção com “Campo Bifrost” e oficiais deste país integravam a All Sources Information Fusion Unit (ASIFU), uma unidade de recolha de análise de informação que actuava exactamente a partir deste Campo em Bamako.

Em Bamako, capital do Mali, a “base” do C-130 português será junto ao aeroporto internacional (BKO) e a partir da sua pista efectuará o transporte aéreo determinado pela MINUSMA.

No corrente semestre o Campo Bifrost está sob comando português. Nesta primeira formatura a FND (à direita) ainda não tinha recebido a boina azul!

Destacamento Aéreo

O DestAer tem como missão principal fornecer transporte aéreo à MINUSMA, operando no Mali e eventualmente para algum país limítrofe em caso de necessidade, podendo efectuar o lançamento de cargas em pára-quedas quando não for possível ou aconselhável usar pistas de aterragem. Numa missão anterior, em 2014, foi aliás a primeira vez que se procedeu a lançamento de cargas a partir de C-130 numa situação operacional real. Em Setembro desse ano, no Norte do Mali, água e rações de combate foram lançadas para que forças aliadas puderam continuar na zona de operações. Constituiu um marco histórico para a Esquadra 501 e para a Companhia de Abastecimento Aéreo do Regimento de Pára-quedistas.

Sob o comando de um Tenente-Coronel Piloto Aviador o DestAer articula-se em Operações – onde se inclui a tripulação, informações, e abastecimento aéreo – Manutenção, Comunicações, Logística, Apoio Sanitário (Role 1) e Protecção da Força.

Tentando caracterizar a FND sem entrar em grandes detalhes, diremos que os militares ligados directamente à aeronave são oriundos da Esquadra 501 “Bisontes” e da Base Aérea n.º 6 (Montijo), a Equipa de Abastecimento Aéreo do Regimento de Pára-quedistas da Brigada de Reacção Rápida do Exército (Tancos) e a “Force Protection” (FP) está a cargo da Unidade de Protecção da Força/Polícia Aérea, aquartelados no Campo de Tiro (Alcochete). A FP, também conhecida pela designação NATO Raven Team, comporta só por si mais de 1/3 da FND e tem como missão garantir a “segurança embarcada” da aeronave e do que ela transportar, seja carga ou pessoas, em todas as suas missões – isto é, uma equipa de FP acompanha sempre o C-130, um trabalho aliás que já é bem conhecido da UPF. A segurança do aquartelamento tem participação multinacional e, como aliás está bem expresso nesta reportagem fotográfica de Carlos Varela que publicamos, cabe também ao Raven Team a realização de escoltas em deslocações rodoviárias.

A “Force Protection” portuguesa, composta por militares da Unidade de Protecção da Força, prepara uma escolta junto ao hotel Radisson Blu, a cerca de 15m do Aeroporto Internacional de Bamako. Depois dos atentados de 2015 as medidas de segurança foram muito reforçadas.

O armamento tipo da UPF no Mali é a H&K G-36, calibre 5.56mm (na foto a G36 C) …

…a pistola H&K USP 9mm, coldres tácticos com segurança…

…mas também a H&K G-36 com AG 36 (lança-granadas 40mm, à esquerda) e metralhadora ligeira H&K MG 4 calibre 5,56mm, que aumenta substancialmente o poder de fogo do “Raven Team”.

E, para distâncias maiores, a opção calibre 7.62mm também está presente com a H&K 417.

A MG 3 como se pode ver está preparada para “combate de infantaria” com as fitas de munições transportadas num contentor amovível.

A H&K G-36 com AG 36, que pode alcançar com as suas granadas de 40mm alvos a cerca de 350m. Os militares da UPF envergam uniformes em camuflado “MultiCam”, embora alguns o usem em conjunto com peças do camuflado em uso na Força Aérea para climas quentes.

Como se pode ver na imagem estes militares usam a camisa “MultiCam”, calças e barrete camuflado “Força Aérea” para climas quentes. Os coletes balísticos usam o sistema “molle” (Modular Lightweight Load-carrying Equipment), o que permite acoplar bolsas e carregadores, evitando mais uma peça, o colete táctico.

Independentemente da situação no terreno em missões anteriores, nesta, as regras de segurança foram “apertadas”, dada a situação geral do país, sendo a actividade do pessoal desenvolvida ou em “Campo Bifrost” ou nas missões de transporte aéreo, vivendo o contingente em relativo isolamento da população.

Fora de Bamako a situação permanece algo instável com ataques praticamente todos os meses a forças das Nações Unidas que causam baixas (muitas!) e disso tem sido dado conta pela MINUSMA.

A Força Aérea determinou a rotação do seu pessoal a cada 30 dias, pelo que nesta altura já se encontra no Mali um segundo contingente a cumprir a missão. A aeronave em princípio só será substituída quando algum motivo de ordem técnica a isso obrigar.

Com a participação nesta missão de um C-130, a Esquadra 501, em Portugal, nos próximos meses e na melhor das hipóteses, apenas duas aeronaves deste tipo estão disponíveis para outras missões de carácter interno – continente e ilhas – e no apoio às (poucas) forças que mantemos em operações no exterior, e que necessitam de sustentação através deste tipo de aeronave, como o Iraque (30 militares) e Kosovo (180), por exemplo. 

Um dos pára-quedistas da Companhia de Equipamento Aéreo / Regimento de Pára-quedistas / Brigada de Reacção Rápida do Exército, que está nesta missão no Mali, integrado na Secção de Reabastecimento Aéreo do DestAer. Note-se, uniforme camuflado do Exército para climas quentes e em segundo plano, a espingarda Galil 5,56mm.

Esta foto é de 2015, quando o C-295M cumpriu uma missão em Bamako. A Equipa de Reabastecimento Aéreo do Exército (Pára-quedistas) que então servia na missão posa para a fotografia.

Também em 2015, mas já com o C-130 a operar, carregamento de uma carga ( CDS – Container Delivery System). Num território em que as forças terrestres actuam por vezes a centenas ou mesmo milhares de quilómetros das suas bases, o lançamento de cargas é a melhor opção de reabastecimento.

Lançamento de uma carga CDS no Mali em 2015. Recorda-se que em Janeiro de 2013, os pára-quedistas franceses levaram a cabo uma enorme operação aerotransportada na região de Tombouctou, com lançamento em pára-quedas (automáticos e manuais) de centenas de militares, toneladas de carga e mesmo viaturas.

EUTM – Mali

No Mali as Forças Armadas Portuguesas mantêm apenas 8 militares na Missão da União Europeia (European Union Training Mission in Mali), a qual está a apoiar a formação dos militares malianos. Integram este grupo de instrutores militares do Centro de Tropas de Operações Especiais da Brigada de Reacção Rápida do Exército e do Destacamento de Acções Especiais do Corpo de Fuzileiros da Marinha. Têm estado empenhados na formação de atiradores de precisão do Exército do Mali no campo de treino de Koulikoro fora da capital.

A EUTM-Mali dispõe actualmente de cerca de 600 militares de 26 países, mais de 400 trabalham em Koulikoro.

Uma das formações que a UE ministra é a de atiradores de precisão. O armamento principal usado pelos malianos é a veterana Dragunov DVD, calibre 7.62mm.

Os instrutores portugueses têm tido um papel relevante na formação dos “snipers” do Exército do Mali, mas a EUTM ministra muitos mais cursos, entre outros, operadores de morteiros, controladores aéreos tácticos, comandos, e “formação de formadores” contribuindo para a autonomia das Forças Armadas Malianas. Segundo a EUTM nos últimos 3 anos, foram formados cerca de 8.000 militares, o que representa 2/3 do total no país.

Este DINGO II FUS 12.7 Krauss-Maffei-Wegmann do Exército Belga está adstrito à “force protection” do Campo de Treino de Koulikoro.

Um general belga é neste momento o comandante da EUTM – Mali e são cerca de 80 os militares belgas empenhados na segurança do Campo. Este está armado com a SCAR-L STD FN Herstal 5,56mm.

“Main Head Quarters EUTM Mali” no Hotel Nord Sud, em Bamako, o qual já foi alvo de um ataque em Março de 2016. A República Checa fornece parte da segurança deste QG e tem ainda pessoal a ministrar instrução ao Exército do Mali, empenhando cerca de 40 militares nestas missões. As espingardas (sem carregador) são as CZ 805 BREN calibre 5.56mm.

A segurança das instalações militares ou de uso militar estão como se vê, com segurança reforçada.

E embora esta segurança seja inferior à que se verifica em teatros de operações como o Afeganistão ou o Iraque, aqui a liberdade de movimentos para os militares é bem mais rigorosa que em locais como o Kosovo, por exemplo.

As excelentes instalações de campanha do Campo Bifrost…

…ao qual nem falta um pequeno “PX”. Em muitas missões internacionais, empresas que comercializam equipamento militar, têm estes pontos de venda, suprindo assim as necessidades dos militares em operações.

A “Force Protection” portuguesa também desempenha algumas tarefas na segurança do campo.

(*)Na mitologia nórdica, Bifrost é o nome dado a uma “ponte arco-íris” que liga o domínio dos deuses à Terra, a qual é guardada por um deus, Heimdallr. Este nome foi também dado a uma outra base norueguesa no Kosovo.

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