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ESTÓRIAS VIVIDAS, Relatos de Guerra de um Piloto de Helicópteros em África

Por • 8 Nov , 2014 • Categoria: 08. JÁ LEMOS E... Print Print

Estamos perante um pequeno grande livro sobre a temática da última guerra que as Forças Armadas Portuguesas travaram no antigo Ultramar. A natureza das situações vividas e o modo claríssimo e franco como são descritas, tornam esta obra uma das mais tocantes que já lemos sobre este conflito.

Estórias vividas

O modelo escolhido, várias situações descritas com principio, meio e fim, com uma dimensão que não sendo pequena – dá perfeitamente para descrever o que se passou nos seus mais diversos ângulos – também não se torna maçadora, funciona na perfeição e consegue, apoiando-se em notas esclarecedoras ou pequenas explicações técnicas no texto, transmitir ao leitor, mesmo o que de helicópteros nada perceba, uma imagem muito clara do que foi a guerra para estes militares, sobretudo os pilotos e mecânicos dos Alouette III.

Mas não só para estas tripulações, muito também ficamos a saber sobre a actuação de outros meios da Força Aérea. Sobre as “forças de superfície” a opinião, baseada em factos relatados não é muito abonatória, reconhecendo no entanto o profissionalismo de comandos e pára-quedistas. De assinalar que esta obra, escrita na primeira pessoa, consegue de modo que direi exemplar, fugir ao auto-elogio, infelizmente uma prática (irritante) em muitos livros de memórias. Aliás talvez até penda para o seu contrário em várias situações. A espaços parece haver quase que um pedido de desculpas pela conduta que na altura o piloto tomou e que anos depois ainda duvida se foi ou não a correcta.

Aborda sem complexos aspectos como a participação da DGS no conflito ou os seus próprios erros e medos, mas também nos transmite acções de combate e evacuações médicas, nos limites e para além do que seria seguro, que colocam o leitor perante homens, geralmente jovens, com uma extraordinária noção do dever, uma capacidade de ajudar os outros – desconhecidos, apenas soldados como eles, ou mesmo civis – porque essa era a sua missão. Ponto.

O autor, José Augusto Barrigas Queiroga, major-general piloto aviador na situação de reforma, cumpriu duas comissões de serviço pilotando Alouette III, em Angola e Moçambique, e selecionou da sua memória 16 estórias que muito nos dizem sobre a História do que foi a participação das tripulações destes meios aéreos na guerra naquelas antigas Províncias Ultramarinas nos anos em causa (1967-70 e 1973-75).

As selecção das estórias dá ao leitor um enorme volume de informação sobre o modo como a guerra foi vivida pelos pilotos e mecânicos de Al III, mas também sobre muitos outros aspectos deste conflito, havendo partes do livro que nos fazem rir, outras em que a tensão vivida a bordo do Al III parece que também nos ataca e ainda outras em que nos sentimos verdadeiramente emocionados. Como é costume dizer-se entre nós, “nos EUA isto dava um excelente filme!

Tem todos os ingredientes e mais um: aconteceu. Em boa hora o major-general José Queiroga decidiu contar-nos.

Não sendo muito rico em iconografia, não deixa de ter algumas fotografias dos AL III em operação – curiosamente, parte delas do nosso colaborador Alfredo Serrano Rosa – e mapas para melhor apresentar algumas das situações “voadas”. Mesmo que mais imagens, fotos e mapas, tornassem a obra visualmente mais atraente, também é verdade que este livro é para ser lido e durante este processo, a clareza e simplicidade da escrita, muitas vezes vivendo de diálogos entre os intervenientes, transmitem uma vivacidade que dispensa as imagens.

O livro tem 15X23cm, 177 páginas, prefácio de Manuela Castelo, viúva de um piloto de helicóptero, facto que julgamos inédito – e é de profundo significado como se percebe no livro – foi lançado em Julho de 2014 pela editora Fronteira do Caos. ISBN 978-989-8647-29-0. Está à venda no mercado livreiro pelo preço de 16,50.

 

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