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EQUIPAMENTO DE PRAÇA DE INFANTARIA, MODELO 1902

O Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima, do Museu de Angra de Heroísmo, conta entre o seu acervo com um vasto espólio de elementos de correame e equipamento militar. É pela mão de um novo colaborador do Operacional, Jaime Regalado, que vos trazemos um artigo sobre “Equipamento de Praça de Infantaria”, oportunidade ainda para dar a conhecer a existência de mais um Museu que vale a pena visitar!  

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O Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima, localiza-se na Rua da Boa Nova, Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Região Autónoma dos Açores, e está instalado no antigo Hospital Militar da Boa Nova.

Mantendo a tradição apresentamos em poucas linhas um novo colaborador. Jaime Ferreira Regalado, nasceu em Moçambique em 1964. Cumpriu o Serviço Militar Obrigatório entre 1988 e 1990 como Oficial Miliciano no Centro de Instrução de Artilharia Aérea de Cascais e desde 1991 que se dedica à colecção e estudo do armamento ligeiro regulamentar português, da sua evolução tecnológica e correspondentes implicações tácticas, com várias publicações nacionais e internacionais. Doutorando em História, Defesa e Relações Internacionais pela Academia Militar-ISCTE/IUL, desempenha actualmente funções de gestor da colecção de armamento no Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima do Museu de Angra do Heroísmo. Conhecedores como somos de alguns dos trabalhos de Jaime Regalado, o rigor com que aborda a temática militar, é com prazer que o acolhemos no Operacional e divulgamos pelos nossos leitores este seu pequeno mas interessante artigo, e uma primeira abordagem ao Núcleo de História Militar do Museu de Angra.

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Angra do Heroísmo tem um rico passado militar, parte importante preservado no Núcleo Museológico de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima, e é a cidade onde se encontra o Regimento de Guarnição n.º 1 do Exército Português, na Fortaleza de São João Baptista, com o Monte Brasil nas suas “costas”.

Equipamento de Praça de Infantaria modelo 1902

O Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima [3] do Museu de Angra de Heroísmo [4], é o único museu português não integrado no Ministério da Defesa subordinado a esta temática, em que estão representadas não só os três ramos das Forças Armadas nacionais e estrangeiras, como também as forças de segurança, nomeadamente a Polícia de Segurança Pública e a Guarda Nacional Republicana.  O edifício onde se encontra, o antigo Hospital Militar da Boa Nova é “…talvez o mais antigo hospital militar do mundo, tem as suas raízes no hospital de campanha trazido por D. Álvaro de Bazán, em 1583, aquando da invasão pelas tropas de Filipe II de Espanha (I de Portugal). Edificado, a partir de 1615, expressamente para cuidar da guarnição militar do Monte Brasil, nele foram assinadas as capitulações da rendição espanhola, em 1642….” (C.M. Angra do Heroísmo).

O Museu conta entre o seu acervo com um vasto espólio de elementos de correame e equipamento militar e enquanto decorrem os trabalhos de inventariação deste espólio foi possível reconstituir o equipamento completo de Praça de Pré de Infantaria do modelo estabelecido em 1902.

Este equipamento é constituído pelo cinturão e suspensórios em couro, modelo 1894 transformados em 1902, a mochila contendo a bolsa com as estacas para a tenda, o pano de tenda enrolado em torno da mochila e a marmita presa por um francalete de couro. No cinturão, à frente, duas cartucheiras do modelo 1894-902 para as munições desempacotadas e, atrás, a patrona com saco, modelo 1894-902, para as munições de reserva ainda embaladas em pacotes ou caixas de cartão. Também suspenso no cinturão, à direita, o bornal em tecido (cor folhas mortas) e, suspenso neste, o cantil em alumínio com capa de feltro e copo. À esquerda, a pala onde suspende a baioneta que, neste caso, é da espingarda 8 mm Kroptaschek.

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Pormenor da agulheta em ferro que, puxando, permite ao militar libertar-se rapidamente da mochila com a marmita e o pano de tenda, ficando assim com o equipamento aligeirado.

Esta reconstituição, a primeira de outras que se prevêem possíveis de efectuar, constitui não só um novo elemento expositivo que permite compreender a realidade diária de um soldado de Infantaria nessa época como constitui uma referência para os técnicos do museu no seu trabalho de inventariação e classificação.

Imagem de fundo do manequim: Oficiais do regimento nº 5 de caçadores de El-Rei, 1895 – detalhe (F. Pardo, Lisboa – Colecção Pedro Soares Branco)

Bibliografia

Disposição n.º3 da Ordem do Exército n.º16 de 1 de Outubro de 1902. Lisboa: Imprensa Nacional pp. 114-115 Cf. Soares Branco, P (2015). Uniformes do Exército Português 1895-1910. Porto: Fronteira do Caos Editores.