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DISTINTIVO DE QUALIFICAÇÃO PÁRA-QUEDISTA DA REPÚBLICA DE ANGOLA

Por • 16 Abr , 2009 • Categoria: 10. DISTINTIVOS, INSÍGNIAS E CONDECORAÇÕES Print Print

FORÇA AÉREA POPULAR DE ANGOLA DEFESA ANTI-AÉREA (FAPA-DAA)

Activada oficialmente em 21 de Janeiro de 1976, em acto cerimonial presidido pelo Dr. António Agostinho Neto, na qualidade de Comandante-em-Chefe das FAPLA, “…um dos factores que contribuiu para a rápida constituição da FAPA foram algumas aeronaves que deixaram as FAP (Forças Armadas Portuguesas)…”(1), bem como a integração de alguns pilotos e técnicos especialistas pertencentes à Força Aérea Portuguesa.

Herdando, igualmente, todas as estruturas físicas aeronáuticas implantadas pelos portugueses, a FAPA-DAA recebe como missão principal “…a defesa do espaço aéreo angolano e toda a transportação de tropas e abastecimento logístico das FAPLA”.(2)

É neste ramo das FAPLA que estão integradas, também, as unidades de defesa anti-aérea (DAA) que “…incorpora todos os combatentes que na Frente Leste (3ª Região) e Cabinda (2ª Região) participaram na 1ª e 2ª Guerra de Libertação…”, e um BATALHÃO DE PÁRA-QUEDISTAS: “…Aliás, até Fevereiro de 1976, a FAPA teve 365 jovens inscritos em várias especialidades de aviação.” “…E uns poucos foram pára-quedistas na Força Aérea Portuguesa.”(3)

Distintivo oficial da FAPA-DAA. (Col. de António Carmo)

Distintivo oficial da FAPA-DAA. (Col. de António Carmo)

O BATALHÃO DE PÁRA-QUEDISTAS DA FAPA/DAA: PRIMEIROS PASSOS

Após a mobilização de alguns jovens angolanos voluntários, um grupo de ex-militares pára-quedistas formados na Força Aérea Portuguesa organiza o primeiro curso de pára-quedismo militar, em 1976, nas antigas instalações da Base Aérea Nº9 (entretanto designada Base Aérea de Luanda).

São improvisados alguns aparelhos para a instrução aeroterrestre, e até usados alguns (poucos) pára-quedas do extinto Batalhão de Caçadores Pára-quedistas Nº 21 (BCP 21).

A liderar e a coordenar toda a organização e instrução está o Major Pára-quedista FERNANDO DO AMARAL GOURGEL, um ex-sargento pára-quedista formado no Regimento de Caçadores Pára-quedistas (RCP)  em Tancos, e que viria a tornar-se no primeiro Comandante do Batalhão de Pára-quedistas da FAPA-DAA.

Terminado este primeiro curso de pára-quedismo “totalmente angolano”, após a realização de seis saltos em pára-quedas, e apesar da fragilidade das infra-estruturas e apoios, “velhos rituais” não foram deixados ao acaso. Assim, no final do curso, e numa modesta cerimónia improvisada foram impostos a todos os voluntários o primeiro distintivo de qualificação pára-quedista angolano (ver foto), bem como a regulamentar “boina azul” em vigor na FAPA-DAA.

Mais tarde, o BATALHÃO DE PÁRA-QUEDISTAS da FAPA-DAA viria a receber apoio material e técnico dos assessores cubanos pertencentes ao 17º BATALHÃO DE TROPAS ESPECIAIS do Ministério do Interior (MININT) e, posteriormente, dos militares da BRIGADA DE DESEMBARQUE E ASSALTO das Forças Armadas Revolucionárias (FAR), as duas principais unidades pára-quedistas cubanas.(4)

Oficial pára-quedista da FAPA-DAA em uniforme de cerimónia. (Foto de António Carmo)

Oficial pára-quedista da FAPA-DAA em uniforme de cerimónia. (Foto de António Carmo)

MISSÃO E EVOLUÇÃO DA UNIDADE

Nos primeiros anos o Comando do BATALHÃO DE PÁRA-QUEDISTAS da FAPA-DAA ficou sedeado na Base Aérea de Luanda (ex-BA-9), mais tarde, designada por REGIMENTO AÉREO DE TRANSPORTE MISTO (RATM), e as primeiras missões foram de segurança activa às infra-estruturas da FAPA-DAA:

– ESCOLA NACIONAL DE AVIAÇÃO MILITAR «COMANDANTE BULA MATADI» – ENAM / Negage;

– ESCOLA NACIONAL DE AVIAÇÃO LIGEIRA «COMANDANTE VENENO» – ENAL / Lobito;

– REGIMENTO AÉREO DE HELICÓPTEROS – RAH / Huambo;

– REGIMENTO AÉREO DE CAÇAS – RAC / Lubango;

– REGIMENTO AÉREO DE Caças-Bombardeiros – RACB / Namibe.

Pára-quedista da FAPA-DAA durante um salto de demonstração durante um comício da UNIÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES DE ANGOLA-UNTA. (Foto extraída do livro «FAPLA-Baluarte da paz em Angola»)

Pára-quedista da FAPA-DAA durante um salto de demonstração durante um comício da UNIÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES DE ANGOLA-UNTA. (Foto extraída do livro «FAPLA-Baluarte da paz em Angola»)

Embora nos primeiros anos tenha sido uma unidade militar discreta, o BATALHÃO DE PÁRA-QUEDISTAS angolano foi particularmente notado nas cerimónias evocativas do “4º Aniversário de Constituição da FAPA-DAA” que decorreram, em 21 de Janeiro de 1980, na Base Aérea de Luanda.(5)

A abertura oficial das festividades teve lugar no dia 19 de Janeiro de 1980, com uma cerimónia de promoção e entrega das novas patentes a oficiais da FAPA, presidida pelo Tenente-Coronel Ciel da Conceição Cristóvão «GATO», à época Comandante da FAPA-DAA e Vice-Ministro da Defesa da República Popular de Angola.

Após um longo discurso sobre as actividades e desenvolvimento deste ramo das FAPLA, assistiu-se a um festival aéreo.

Em primeiro lugar, aeronaves MIG sobrevoaram, em formação, a placa do aeroporto militar, onde decorria o acto, realizando algumas interessantes manobras acrobáticas. De seguida, três aeronaves de transporte ANTONOV AN-26, surpreendentemente, desembarcaram algumas dezenas de pára-quedistas perante a Tribuna de Honra.

Este surpreendente acontecimento no 4º Aniversário da FAPA-DAA, veio mostrar que a República Popular de Angola dispunha de tropas pára-quedistas organizadas.

A PRIMEIRA VISITA OFICIAL A PORTUGAL

Convidada oficialmente para participar nas cerimónias comemorativas do 38º Aniversário da Força Aérea Portuguesa, uma delegação da FAPA-DAA desloca-se a Portugal e aqui permaneceu de 14 de Junho a 16 de Julho de 1990.

Neste período os militares angolanos efectuaram visitas às unidades pára-quedistas da Força Aérea Portuguesa (Base Escola de Tropas Pára-quedistas/BETP; Base Operacional de Tropas Pára-quedistas Nº1/BOTP-1; Base Operacional de Tropas Pára-quedistas Nº 2/BOTP-2 e Grupo Operacional de Apoio e Serviços/GOAS), participaram no 13º Campeonato de Pára-quedismo Desportivo (Figueira da Foz) e realizaram, em Tancos, na BETP, um Estágio de Aperfeiçoamento Aeroterrestre.

BETP/Tancos, 1990: militares pára-quedistas da FAPA-DAA aguardam a imposição oficial do distintivo de qualifiação pára-quedista português. (Foto do arquivo Miguel Machado/António Carmo)

BETP/Tancos, 1990: militares pára-quedistas da FAPA-DAA aguardam a imposição oficial do distintivo de qualificação pára-quedista português. (Foto do arquivo Miguel Machado/António Carmo)

Esta delegação da FAPA-DAA que visitou Portugal era chefiada pelo Major Piloto-Aviador Ângelo Contreiras Costa «Bonga»(6), integrando ainda os seguintes militares:

– Major Pára-quedista Fernando do Amaral Gourgel (Comandante do Batalhão de Pára-quedistas);

– 2º Tenente Pára-quedista Henrique Carlos Oliveira;

– 2º Tenente Pára-quedista Fernando Silva Airosa;

– 2º Tenente Pára-quedista Joaquim José;

– 2º Tenente Pára-quedista Ferreira Firmino Macedo;

– Soldado Pára-quedista Domingos João Manuel;

– Soldado Pára-quedista Miguel Avelino.

Após a conclusão do Estágio de Aperfeiçoamento Aeroterrestre (BETP-Tancos), todos estes militares da FAPA-DAA foram “brevetados” com o distintivo de qualificação pára-quedista português.

Esta primeira visita em 1990 deu origem a um processo de cooperação, iniciado em Março de 1991 que culminou com a deslocação a Angola de uma equipa de selecção.

Em 1993, outro grupo de militares da FAPA-DAA frequenta, na BETP/Tancos, um Curso de Pára-quedismo.

Em 1995, vinte e dois oficiais da Divisão de Tropas Especiais das Forças Armadas Angolanas (FAA) frequentam, também, um Curso de Pára-quedismo na Escola de Tropas Aerotransportadas (ETAT), a nova designação da BETP, depois da famigerada transferência das Tropas Pára-quedistas Portuguesas para a tutela do Exército (1994).

Em 2004, o BATALHÃO DE PÁRA-QUEDISTAS da FORÇA AÉREA NACIONAL ( a nova designação adoptada por força dos Acordos de Bicesse / 2002) é integrado na nova BRIGADA DE FORÇAS ESPECIAIS (ex-Brigada de Comandos da Divisão de Tropas Especiais) das FAA.

Apesar desta transferência de tutela, nas cerimónias comemorativas do 33º Aniversário da FAN (21JAN2009) realizadas na Base Aérea de Saurimo (Lunda Sul), os pára-quedistas participaram com um emblemático e colorido lançamento que empolgou o público presente.

Cabo Ledo/Angola, 2004: pára-quedistas angolanos durante a realização do exercício com o nome de código «LINCE». (Foto de Miguel Machado)

Cabo Ledo/Angola, 2004: pára-quedistas angolanos durante a realização do exercício com o nome de código «FELINO». (Foto de Miguel Machado)

O DISTINTIVO DE QUALIFICAÇÃO PÁRA-QUEDISTA DA REPÚBLICA DE ANGOLA

O primeiro distintivo de qualificação pára-quedista angolano foi desenhado pelos militares pioneiros do BATALHÃO DE PÁRA-QUEDISTAS, e vigorou entre 1976/77 e 1986/87.

Nele houve sempre a preocupação de incluir, ao centro, encimado por uma calote de pára-quedas aberto, o escudo de armas (insígnia) que é “…formado por uma secção de uma roda dentada e por uma ramagem de milho, café e algodão, representando respectivamente os trabalhadores e a produção industrial, os camponeses e a produção agrícola. Na base do conjunto, existe um livro aberto, símbolo da educação e cultura e o sol nascente, significando o novo País. Ao centro, está colocada uma catana e uma enxada, simbolizando o trabalho e o início da luta armada. Ao cimo figura a estrela, símbolo da solidariedade internacional e do progresso. Na parte inferior do emblema, está colocada uma faixa dourada com a inscrição “REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA”.(7)

Mais tarde, com a reforma constitucional iniciada em 1998, a designação oficial do país passou a ser “REPÚBLICA DE ANGOLA”.

Este primeiro distintivo de qualificação pára-quedista, com uma construção sólida, reverso liso e de cor prateada (niquelado), detém as seguintes medidas: 5 cm X 9,3 cm. Era fixado nos uniformes por um alfinete de segurança não normalizado, cujas dimensões e estilo foram diversificados ao longo dos anos.

Uma curiosidade neste distintivo é que chegaram a circular duas versões, cuja única diferença estava nas aberturas entre os cordões de pára-quedas que ligavam o escudo de armas à calote.

Em 1986/87, o Comando do BATALHÃO DE PÁRA-QUEDISTAS da FAPA-DAA, por razões estritamente estéticas, resolveu aprovar um novo distintivo de qualificação pára-quedista. Embora mantendo os mesmos elementos heráldicos que compuseram o primeiro distintivo, esteve sofreu algumas alterações nas suas medidas (3 cm X 7,3 cm), no estilo das asas e na cor que passou a ser dourado-fosco. É fixado nos uniformes por um alfinete de segurança não normalizado.

Ao longo dos anos circularam algumas versões, cujas diferenças só eram encontradas na qualidade dos materiais de fabrico (com reverso liso e contra-cunho) e nos variados tipos de alfinetes de fixação.

Com a nova designação do país em vigor vertida no art. 163º da Constituição de Angola, a partir de 1999/2000, o distintivo de qualificação pára-quedista é actualizado e alterado, porém unicamente na designação oficial, passando a ostentar: “REPÚBLICA DE ANGOLA”.

Primeiro modelo do distintivo de qualificação pára-quedista angolano. Usado pelos pára-quedistas da FAPA-DAA entre 1976 e 1986/87. (Col. António Carmo)

Primeiro modelo do distintivo de qualificação pára-quedista angolano. Usado pelos pára-quedistas da FAPA-DAA entre 1976 e 1986/87. (Col. António Carmo)

Versão com os "cordões abertos" do primeiro modelo de distintivo de qualificação pára-quedista da FAPA-DAA. (Col. António Carmo)

Versão, com os “cordões do pára-quedas abertos”, do primeiro modelo de distintivo de qualificação pára-quedista da FAPA-DAA. (Col. António Carmo)

Distintivo de qualificação pára-quedista da FAPA-DAA adoptado no final dos anos 80. Esta versão foi fabricada localmente e é fixada nos uniformes com alfinete de segurança. (Col. António Carmo)

Distintivo de qualificação pára-quedista da FAPA-DAA adoptado no final dos anos 80. Esta versão fabricada localmente era fixada nos uniformes com alfinete de segurança. (Col. António Carmo)

Variante do distintivo de qualificação pára-quedista da FAPA-DAA fabricado localmente, mas sem os "cordões do pára-quedas abertos". (Col. Antonio Carmo)

Variante do distintivo de qualificação pára-quedista da FAPA-DAA fabricado localmente, mas sem os “cordões do pára-quedas abertos”. (Col. Antonio Carmo)

Distintivo de qualificação pára-quedista da FAPA-DAA com o reverso liso e fixado com alfinete de segurança. Esta versão ainda mantém o nome oficial do país: REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA. (Col. António Carmo)

Distintivo de qualificação pára-quedista da FAPA-DAA com o reverso liso. Esta versão ainda mantém o nome oficial do país: REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA. (Col. António Carmo)

Distintivo actual de qualificação pára-quedista angolano. Nesta versão já é visivel a nova designação oficial do país: REPÚBLICA DE ANGOLA. (Col. António Carmo)

Distintivo actual de qualificação pára-quedista angolano. Nesta versão já é visivel a nova designação oficial do país: REPÚBLICA DE ANGOLA. (Col. António Carmo)


NOTAS

(1) In FAPLA – 1º Exército Nacional (1975-1992), Miguel Júnior, Prefácio Editora, 2007, Lisboa, pág.56.

(2) In ANGOLA – Reconstrução Nacional, Ed. DEPPI, pág.46.

(3) In FAPLA – 1º Exército Nacional (1975-1992), Miguel Júnior, Prefácio Editora, 2007, Lisboa, pág.57.

(4) In HISTÓRIA SUCINTA DAS TROPAS ESPECIAIS CUBANAS, António E. S. Carmo, Edição do Autor, 2008, Lisboa.

(5) In REVISTA MILITAR – Órgão das FAPLA, Ed. MINDEF, Ano II, Nº10, 1980, Luanda, págs.44, 45 e 46.

(6) Faleceu em Luanda pouco tempo depois desta visita a Portugal, vítima de um grave acidente de viação.

(7) art. 163 da CA.

N.A.: Este artigo foi elaborado com base no texto parcial do opúsculo intitulado «AS TROPAS PÁRA-QUEDISTAS DA REPÚBLICA DE ANGOLA”, Ed. do Autor, 2008, Lisboa. Encontra-se em fase de revisão e actualização.

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