logotipo operacional.pt

COMBATE AO TERRORISMO: DEPOIS DAS EMOÇÕES A ACÇÃO?

Por • 20 Jan , 2015 • Categoria: 02. OPINIÃO Print Print

As expressivas manifestações, as proclamações quase unânimes em “defesa da liberdade”, devem agora traduzir-se na dura realidade da vida. Como? Tem que haver mais quem procure os terroristas, e depois, quem carregue no gatilho para os neutralizar, em nome da liberdade de todos. É assim, sem tirar nem pôr!

Inspector da Polícia Judiciária. Esta polícia tem um papel fulcral (e créditos firmados) no combate ao terrorismo, e nos termos da lei tem inclusive o exclusivo da competência para investigar os crimes ligados a “…organizações terroristas e terrorismo…“. Tem que haver mais quem procure os terroristas, e depois, quem carregue no gatilho para os neutralizar, em nome da liberdade de todos. Quando se chega à intervenção das unidades especiais da PSP ou GNR e mesmo Forças Armadas em reforço destas se necessário, é porque tudo o resto já falhou.

Milhares de páginas de jornais e revistas a escorrer sinceros sentimentos em elegante escrita, horas de televisão e radio com mentes brilhantes de assertivos comunicadores a debitar explicações transparentes e indesmentíveis, vigílias e flores depositadas aos milhões nos locais dos massacres, tudo isto junto, pode criar um sentimento de unidade perante o mal mas não trava um único fanático que esteja realmente disposto a matar. Um projéctil disparado pela arma de um polícia (ou militar) treinado, bem equipado e acima de tudo motivado na defesa do bem comum, fá-lo-á. Do mesmo modo, com os meios humanos, materiais e legais adequados à situação de guerra em que nos encontramos em vários pontos do mundo – os terroristas incluem as nossas cidades nessa classificação, mesmo que nós não o queiramos aceitar – será possível com muito maior probabilidade evitar actos terroristas e colocar sob prisão aqueles que estão dispostos a atentar contra o nosso sistema democrático, antes de o terem feito.

Desta vez(*) as vítimas foram sobretudo jornalistas, polícias, muitos que defendiam os primeiros, e cidadãos anónimos.

Não se deve empatar mais, chegou o tempo da acção. Disse o Primeiro-ministro português à margem da sua deslocação a França para se manifestar : “…articular melhor as nossas politicas que defendam a nossa democracia mantendo a diferença — para aqueles que a não compreendem — respondendo de uma forma tolerante e aberta, democrática e livre, sem ceder à tentação de responder com armas parecidas que não são as nossas e que nós nunca quereremos usar…”. Bem-intencionado mas insuficiente (**). O que o governo português deve é dizer quais os recursos financeiros que vai mobilizar para o combate ao terrorismo? Quais as alterações legislativas que tenciona fazer para permitir que mais forças, por exemplo militares, hoje subaproveitadas nessas tarefas, possam em caso de necessidade ser empregues rapidamente e sem dúvidas existenciais na defesa dos seus cidadãos?

Se nada mudar para além do discurso – e até hoje apesar das promessas programáticas deste governo nada mudou para melhor nesta área – a solução é deixar que outras notícias apaguem estas e continuar a rezar à Nossa Senhora de Fátima, pode ser que se mantenha ao nosso lado e que com os Anjos e Santos nos dê a protecção que o Estado não quer ou não sabe dar.

 Miguel Silva Machado

(*) Entre outros, desde o início da década: Moscovo, 2002 (129 mortos), Bali, 2002 (202 mortos e 209 feridos), Madrid, 2004 (191 mortos e 1.700 feridos), Londres, 2005 (52 mortos e 700 feridos), Moscovo, 2010 (39 mortos), Oslo, 2011 (76 mortos), Boston, 2013 (3 mortos e 170 feridos), Paquistão, 2014 (140 mortos).

(**) Depois deste artigo estar escrito têm sido divulgadas por vários órgãos de comunicação social notícias que referem algumas novidades interessantes, embora tudo indique se vá aguardar por “directivas” europeias, uma “coisa” muito nossa. No essencial há a tentativa dos dois principais partidos políticos (PSD e PS) chegarem a um consenso sobre as medidas a tomar; o reforço da segurança pela PSP em locais considerados críticos.

Este artigo foi originalmente publicado no “Diário de Noticias” em 20 de Janeiro de 2015. Clique em: TERRORISMO: DEPOIS DAS EMOÇÕES A AÇÃO?

 

 

"Tagged" como:

Comentários não disponíveis.