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BRIGADA MECANIZADA EM CAMPANHA

A Brigada Mecanizada do Exército terminou um grande exercício – na realidade três exercícios aglomerados num único como veremos – onde aplicou doutrina bem actual o que, pela primeira vez em muitos anos, a levou a actuar nas áreas populacionais envolventes. Neste final de Abril foi possível ver unidades da brigada em manobras, algumas mesmo com os seus meios mecanizados, bem fora do Campo Militar em Torres Novas, Chamusca, Bemposta e Ponte de Sor. Não foi obra do acaso, nem uma acção de divulgação, treinou-se a “three block war”.

Viaturas do Agrupamento Mecanizado NRF 12 em acção no Campo Militar de Santa Margarida [1]

Viaturas do Agrupamento Mecanizado NRF 12 em acção no Campo Militar de Santa Margarida

Three block war
As forças militares da actualidade devem ser capazes de participar tanto em operações de combate como em acções de ajuda humanitária ou em missões de apoio à paz. É hoje aceite que os militares e respectivos meios devem estar aptos a levar a cabo todos estes diferentes tipos de operações, se necessário, “no mesmo dia”, ou seja, com um tempo de preparação muito curto e quase e sempre em espaços urbanos. Podem mesmo ter que efectuar estas diferentes operações, em simultâneo, em espaços geográficos muito próximos uns dos outros. Foi o general Charles C. Krulak, antigo comandante dos US Marines, com os seus escritos sobre a “Three block war” que trouxe este conceito a público. Sendo isto certo, e foi na realidade Krulak que usou pela primeira vez esta expressão, também o é que em vários países, inclusive em Portugal, logo que se iniciaram as missões de paz, muitos avisaram não se dever treinar os militares apenas para esse tipo de missões. Alguns países na realidade chegaram a dispor de unidades especialmente treinadas apenas para missões de apoio à paz, descorando o tipo de treino dito “convencional”. Iraque e Afeganistão vieram “chamar à realidade” muita gente sobretudo nas Forças Armadas “do Ocidente”.

O intenso uso dos materiais e equipamentos é evidente e a não modernização de muitos pode comprometer futuras missões [2]

O intenso uso dos materiais e equipamentos é evidente e a não modernização de muitos pode comprometer futuras missões

Exercício
Diz-nos o tenente-coronel Miguel Freire, oficial de operações da Brigada Mecanizada, “Este ano o Exército decidiu juntar num só três exercícios que anualmente se realizam, o «Rosa Brava», aqui da Brigada Mecanizada, o «Eficácia» de várias unidades de artilharia e o «Armageddon» da companhia geral CIMIC (cooperação civil-militar)” . Esta companhia, composta por militares dos três ramos das Forças Armadas está vocacionada para ser empregue em missões exteriores de âmbito NATO. Continua Miguel Freire, “No exercício participaram ainda militares e meios da Força Aérea, nomeadamente controladores aéreos avançados, aeronaves F-16 e C-130 e um destacamento AL III que esteve instalado em Santa Margarida e uma companhia de infantaria do Exército Espanhol”, num total de cerca de 2.400 militares. Em linhas gerais o exercício consistiu em três fases: Combate de grande intensidade, ajuda humanitária e uma operação de manutenção de paz”.

A presença de mulheres nas unidades de combate é uma evidência. Neste M113 dois militares da guranição eram do sexo feminino. [3]

A presença de mulheres nas unidades de combate é uma evidência. Neste M113 dois militares da guarnição eram do sexo feminino.

A primeira de combate de grande intensidade, com fogos reais de carro combate, artilharia, morteiros pesados e armas colectivas de tiro tenso, foi naturalmente realizada dentro do polígono de tiro;
Na segunda e sem dúvida a mais inovadora para as unidades operacionais da brigada, foram criadas 5 bases avançadas (forward operating base, ou FOB), fora do campo e uma dentro, para onde as forças envolvidas no exercício foram projectadas, utilizando meios rodoviários, ferroviários e aéreos. Nestas FOB actuaram além dos militares importantes meios logísticos e dezenas de viaturas, muitas blindadas.

Os 155mm do Grupo de Artilharia de Campanha do Regimento de Artilharia n.º 5 estiveram muito activos no exercício [4]

Os 155mm do Grupo de Artilharia de Campanha do Regimento de Artilharia n.º 5 estiveram muito activos no exercício

Em Torres Novas por exemplo foi possível ver M-60 e M-113 no centro da cidade…na Bemposta a engenharia construiu 2 pontes, os M113 foram também para Ponte de Sor onde chegaram via férrea. Outro aspecto interessante, executado na prática mas que também serviu de treino até para próximas missões no exterior e que terá escapado a muitos, foi o facto de terem sido assinados com as autarquias envolvidas “Memorandos de Entendimento” para definir as relações com as FOB. No transporte de pessoas e materiais para estas FOB participaram ainda os AL III que executaram várias missões de carga suspensa. Curioso ainda o cenário criado para o transporte aéreo (C-130) de Santa Margarida para Ponte de Sor para a designada FOB “Foxtrot”. Vale a pena a descrição! No Aeródromo de Ponte de Sor foram detectados elementos inimigos, acto contínuo foram infiltrados controladores aéreos avançados e os F-16, guiados por estes militares, bombardearam o objectivo. Seguiu-se um helitransporte de elementos do 1º BIMec para garantir a segurança periférica e um C-130 com pessoal e uma viatura fez-se à pista. No momento em que deveria ter aterrado simulou-se que foi alvejado por elementos inimigos dispersos pela zona. De imediato “borrega” e prepara-se uma aterragem de emergência em Santa Margarida, onde o C-130 chega, em segurança, depois de um voo bem junto ao solo.

Um pelotão de morteiros 120mm da Zona Militar da Madeira também participou nas manobras [5]

Um pelotão de morteiros 120mm da Zona Militar da Madeira também participou nas manobras

Nas diferentes FOB os militares executaram basicamente operações de ajuda humanitária, havendo bastante contacto com as populações. Depois da alta intensidade a ajuda humanitária, e, para “cumprir a doutrina”, passou-se à terceira fase, aquela em que as unidades começaram a ser atacadas. Uma emboscada aqui, outra ali. Atentados a colunas com engenhos explosivos improvisados, começaram – qual Afeganistão ou Iraque, depois das vitórias iniciais – a dificultar a vida às forças nas FOB. Detectado o grupo inimigo que fazia tais ataques, foi montada uma operação ofensiva sobre esse objectivo – já no interior do polígono de tiro de Santa Margarida – que uma companhia de atiradores atacou, com fogo real, eliminando esta ameaça.

Chaparral da BrigMec acompanhando o ataque ao solo dos F-16 da Base Aérea de Monte Real [6]

Chaparral da BrigMec acompanhando o ataque ao solo dos F-16 da Base Aérea de Monte Real

Além das unidades orgânicas da Brigada e do Agrupamento Mecanizado NRF 12 que tem seguido um intenso período de exercicios e está “em standby” à disposição da Aliança Atlântica, participaram no “Rosa Brava 09/Eficácia/Armageddon 09”, sub-unidades da Brigada de Intervenção (por exemplo o seu Grupo de Artilharia de Campanha recentemente equipado com os obuses 155mm rebocados) e da Brigada de Reacção Rápida  (também com o reactivado Grupo de Artilharia de Campanha e elementos da Companhia de Abastecimento Aéreo) e ainda de outras unidades como uma Companhia de Policia Militar do Regimento de Lanceiros 2, a Companhia de Pontes da Escola Prática de Engenharia, um Pelotão Stinger do Regimento de Artilharia Anti-Aérea n.º 1 ou elementos do Centro de Informações e Segurança Militar.

Os ALIII da Esq. 502 destacados em Santa Margarida estiveram muito activos fazendo, entre outras missões, transporte de cargas suspensas, evacuação médica, infiltração de militares do Exército. [7]

Os ALIII da Esq. 502 destacados em Santa Margarida estiveram muito activos fazendo, entre outras missões, transporte de cargas suspensas, evacuação médica, infiltração de militares do Exército.

Tratou-se sem dúvida de um exercício inovador onde houve a possibilidade de treinar vários tipos de operações e no qual muitos dos militares envolvidos foram chamados a executar treino de tiro real.
Muito mais haveria a dizer deste exercício e certamente isso será feito a seu tempo, mas para já o “Operacional” deixa-lhe imagens do treino do exercício final de fogo real, onde se concentram num espaço reduzido e num tempo adaptado à finalidade – mostrar às visitas as capacidades em presença – algumas dos principais meios envolvidos neste “Rosa Brava 09/Eficácia/Armageddon 09”.

Os veteranos M-60 continuam a garantir parte importante da capacidade da Brigada para missões de combate de alta intensidade [8]

Os veteranos M-60 A3 TTS continuam a garantir parte importante da capacidade da Brigada para missões de combate de alta intensidade.

Os M88 treinaram a recuperação para a retaguarda, "debaixo de fogo", de um M60 [9]

Os M88 treinaram a recuperação para a retaguarda, "debaixo de fogo", de um M60.

O M106 e o seu morteiro 107mm a ser carregado de munições. Em breve estará a fazer fogo real [10]

O M106 e o seu morteiro 107mm a ser carregado de munições. Em breve estará a fazer fogo real.

Sinal dos tempos e das novs missões. Este primeiro sargento usa no seu equipamento individual um par de algemas. [11]

Sinal dos tempos e das novas missões. Este segundo-sargento usa no seu equipamento individual um par de algemas.

Os homens e materiais da Brigada Mecanizada continuam a treinar e a inovar para manter a sua operacionalidade e a capacidade de responder aos desafios do presente [12]

Homens e materiais da Brigada Mecanizada continuam a treinar e a inovar para manter a sua operacionalidade e a capacidade de responder aos desafios do presente.

São militares como estes da Brigada Mecanizada que cumprem as missões exteriores determinadas pelas competentes autoridades nacionais. O treino intenso garante que farão a parte que lhes compete: combater ou ajudar outros povos em nome de Portugal. [13]

São militares como estes da Brigada Mecanizada que cumprem as missões exteriores determinadas pelas competentes autoridades nacionais. O treino intenso garante que farão a parte que lhes compete: combater ou ajudar outros povos em nome de Portugal.