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AIRLIFT BLOCK TRAINING 2012 (CONCLUSÃO)

Por • 5 Abr , 2012 • Categoria: 03. REPORTAGEM Print Print

As condições para a execução de saltos em pára-quedas – várias zonas aptas a lançamento de pessoal e material, de dia e de noite, poucas restrições de espaço aéreo a diferentes altitudes, são exemplos – permitiram aos para-comandos belgas atingir os objectivos deste treino em Portugal. Alfredo Serrano Rosa foi ao terreno e mostra-nos algumas curiosidades.

A Bélgica mantém uma razoável capacidade de projecção de força, assente na 15 Wing e nas unidades pára-comando. O treino deste conjunto é levado a sério, facto que obriga, por exemplo, a procurar fora do país locais para manter as necessárias qualificações para tripulações e pára-quedistas.

A Bélgica mantém capacidade de projecção de força com algum significado, assente na 15 Wing e nas unidades pára-comando. O treino deste conjunto é levado a sério, facto que obriga, por exemplo, a procurar fora do país locais para manter as necessárias qualificações para tripulações e pára-quedistas.

Apenas pouquíssimas missões foram canceladas por condições atmosféricas adversas, cumprindo-se, segundo fonte oficial, 100% dos saltos diurnos previstos e 90% dos nocturnos. Estamos a falar de mais de 2.000 saltos em pára-quedas.
Esta cooperação bilateral, sendo sem dúvida de uma crucial importância para o treino de um grande número de militares belgas de vários ramos e unidades, não deixa de ter importância para os nossos pára-quedistas. Destes destacam-se os elementos da Companhia de Precursores do Batalhão Operacional Aeroterrestre da Brigada de Reacção Rápida que fizeram algum “treino cruzado” com os seus congéneres belgas, nomeadamente em termos de operação de zonas de lançamento (pessoal e material) e outras actividades de que fazem uso quer em termos técnicos de pára-quedismo quer de combate. Em termos menos especializados, alguns (poucos) pára-quedistas portugueses efectuaram saltos em missões de lançamento belgas, ficando assim com um maior conhecimento dos seus equipamentos e procedimentos. Por fim o pagamento que fazem dos apoios recebidos também não é um aspecto desprezível.

Pela parte do Exército Belga o grosso da actividade coube à Brigada Ligeira (ver organograma abaixo), nomeadamente ao 2.º Batalhão Comando (2 Bataillon de Commandos, aquartelado em Flawinne) e ao 3.º Batalhão de Pára-quedistas (3 Bataljon Parachutisten aquartelado em Tielen), unidades que aqui qualificaram para este ano parte significativa dos seus militares. Muitos ainda não tinham saltado de avião, apenas tinham feito os saltos em pára-quedas a partir do balão do Centro de Treino de Pára-quedismo (*) em Schaffen. Estas unidades também realizaram operações tácticas a nível de companhia e treinaram aterragens de assalto.

Os instrutores de pára-quedismo de Schaffen presentes efectuaram saltos de abertura manual e saltos tandem (salto de abertura manual em que o pára-quedista – piloto tandem – transporta um passageiro).
As aeronaves C-130 belgas, além das mais de 30 missões de lançamento de pára-quedistas no Arripiado e em Alter do Chão, realizaram uma dezena de Aterragens de Assalto, diurnas e nocturnas em pistas nacionais.

Os pára-comandos belgas

As origens dos pára-comandos belgas remontam à 2.ª Guerra Mundial quando em 1942 foram criados no Reino Unido, os pára-quedistas belgas (que adoptaram a designação “tipo inglesa”, SAS) e os comandos belgas. Lutavam ao lado dos aliados e usavam, os primeiros boina vermelha e os segundos boina verde. Terminado o conflito, já na Bélgica, instalam-se em locais separados o Regimento SAS e o Regimento Comando e são criados o Centro de Treino de Pára-quedismo e o Centro de Treino Comando. Em 1949 é criada uma Brigada Aerotransportada com estes dois regimentos mas dura apenas alguns meses tal é a contestação à junção. Militares destas unidades combatem na Guerra da Coreia (1951-53) integrados no Corpo de Voluntários para a Coreia. Em 1952 é criado o Regimento Pára-Comando, com o 1.º Batalhão de Pára-quedistas e o 2.º Batalhão Comando. Apesar das polémica acabou por se concretizar e porque as duas forças eram numericamente semelhantes, decidiu-se quais as unidades do Regimento que usavam a boina verde e as que usavam a boina vermelha (todos passaram a ter a mesma formação), mantendo-se assim uma ligação às especialidades de origem. Seguem-se várias intervenções em África e criação de mais unidades comando e de pára-quedistas, dependentes do Regimento. Em 1961 os pára-comandos belgas realizam mesmo saltos operacionais no Congo e efectuam diversas intervenções nesta colónia, no Ruanda e Burundi. Nos anos 60 e 70 novas intervenções em África, algumas com saltos operacionais, como em 1964 em Stanleyville (actual Kisangani), Paulis (actual Isiro) ou Kolwesi em 1978. Nos anos 80 e 90 novas operações em África (por exemplo a Blue Beam no Zaire com uma participação de 1 C-130 e pára-quedistas da Força Aérea Portuguesa) e em 1991 o Regimento deu origem à Brigada Pára-Comando. Em 2003 passou a ter a estranha designação de Capacidade de Reacção Imediata perdendo parte da sua capacidade “pára-quedista”. Em 2011 no âmbito de nova e profunda reforma do Exército foi criada a Brigada Ligeira, com unidades de várias origens e uma capacidade pára-quedista assente em dois batalhões, forças especiais e uma componente logística adaptada, nomeadamente para o lançamento de cargas, tendo o QG desta brigada capacidade para comandar um Battle Group da União Europeia. O batalhão de infantaria ligeira (não pára-quedista) da brigada dispõe de viaturas blindadas 4×4, já cumpriu missões na Bósnia, Kosovo, Líbano e de segurança ao Aeroporto de Cabul (a futura missão de Portugal na ISAF).

A projecção de força a longas distâncias da Bélgica, diga-se de passagem bastante usada ao longo dos anos, nomeadamente para operações em África, algumas de grande dimensão, assenta na excelente colaboração com a 15 Wing da Força Aérea.

Alguns números

Segundo dados do Ministério da Defesa deste país, o Exército Belga dispõe de 12.560 militares dos quais, 21% estão na Brigada Ligeira. Estes estão assim divididos:

Quarte-General (em Marche-en-Famenne): 140 militares;
2.º Batalhão Comando (Flawinne): 650;
3.º Batalhão Pára-quedista (Tielen): 650;
Centro de Treino de Pára-quedistas (Schaffen): 280;
Centro de Treino de Comandos (Marche-Les-Dames): 180;
Batalhão Príncipe Léopold (Spa): 650;
Grupo de Forças Especiais (Flawinne): 160.

(*) O Centro de Treino de Pára-quedismo esteve desde sempre em Schaffen. Em 2011 perante grande polémica pública foi extinto o 1.º Batalhão de Pára-quedistas (1Para), aquartelado “ali ao lado” em Diest. Este batalhão era herdeiro das tradições da primeira unidade pára-quedista criada no Reino Unido em 1942, os “SAS Belgas”. Agora as tradições do 1Para passaram para o Grupo de Forças Especiais (o qual deverá ser transferido para Heverlee) o mesmo acontecendo – segundo fontes seguras – com parte dos seus militares.  Em Diest, na antiga fortificação (a Citadelle) onde estava o 1Para, encontra-se ainda desde 1976, o Museu Pegasus – museu dos pára-quedistas belgas. Este aguarda ansiosamente qual o destino que a autarquia local – que tomou posse da enorme área da fortificação – vai dar ao local.  Parece que vai ser alienada e que será o futuro proprietário a decidir…

Escola de Tropas Pára-quedistas, Tancos. Os comandos belgas preparam-se para mais um dia de actividade aeroterrestre. Todos os autocarros utilizados (ao fundo), para transportes administrativos vieram da Bélgica.

Escola de Tropas Pára-quedistas, Tancos. Os comandos belgas preparam-se para mais um dia de actividade aeroterrestre. Todos os autocarros utilizados (ao fundo), para transportes administrativos vieram da Bélgica.

Zona de Saltos da Silveira junto a Alter do Chão. A operação da zona foi feita por militares belgas. Apesar de todas as novas tecnologias, lá como cá, continua-se a usar também o método tradicional: lançamento do balão...

Zona de Saltos da Silveira junto a Alter do Chão. A operação da zona foi feita por militares belgas. Apesar de todas as novas tecnologias (nós fazemos o mesmo!), continua-se a usar também o método tradicional: lançamento do balão...

...e medição da sua trajectória. O inverso antecipa como será a descida dos pára-quedas. Trata-se de um lançamento em tempo de paz, não há necessidade de correr riscos desnecessários. Já basta...

...e medição da sua trajectória. O inverso antecipa como será a descida dos pára-quedas. Trata-se de um lançamento em tempo de paz, não há necessidade de correr riscos desnecessários. Já bastam...

...os enganchamentos, quase inevitáveis nestes lançamentos em que os militares saltam por ambas as portas do em simultâneo

...os enganchamentos, quase inevitáveis nestes lançamentos em que os militares saltam por ambas as portas do C-130 em simultâneo. Neste caso os pára-quedistas não se conseguiram separar e abriram os "reservas", porque os principais estavam a perder sustentação. É um incidente relativamente perigoso, isto passa-se a mais de 100metros de altitude e pode ter graves consequências (neste caso não teve)...

...mais perto do solo mas também potencialmente perigoso, o enganchamento do saco do material pode impedir uma boa aterragem e logo lesões.

...mais perto do solo mas também potencialmente perigoso, o enganchamento do saco do material pode impedir uma boa aterragem e logo lesões. Formação, treino e alguma sorte, contrariam estas situações, mas por vezes não há mesmo como evitá-lo!

A aterragem sobre árvores, não sendo muito vulgar, acontece e na maior parte das vezes sem grandes consequências. O pior, quase e sempre, é depois recolher - sem danificar - o equipamento. Todos estes incidentes são parte integrante da "vida" do pára-quedista em qaulquer parte do mundo.

A aterragem sobre árvores, não sendo muito vulgar, acontece e na maior parte das vezes sem grandes consequências. O pior quase e sempre, é depois recolher - sem danificar - o equipamento. Todos estes incidentes são parte integrante da "vida" do pára-quedista em qualquer parte do mundo.

Precursores portugueses acompanharam as sessões de lançamento.

Precursores portugueses acompanharam as sessões de lançamento.

Ambulâncias e pessoal de saúde belgas acompanharam sempre as actividades das suas forças.

Ambulâncias e pessoal de saúde das Forças Armadas belgas acompanharam sempre as actividades das suas unidades.

Todas as viaturas que o contingente utilizou vieram da Bélgica.

Todas as viaturas que o contingente utilizou vieram da Bélgica, mesmo este Volkswagen Iltis, com mais de 2 décadas de serviço.

Estas viaturas pesadas porta-contentores (que os manobram sem necessidade de ajuda exterior - bem falta nos tinham feito em muitas missões!), transportaram todos os pára-quedas utilizados, mais de 2.000.

Estas viaturas têm a vantagem de manobrar os contentores sem necessidade de meios exteriores. Neste caso serviam para recolher os pára-quedas das zonas de lançamento e foram mais de 2.000, além dos "ventrais/reservas"

Algumas FN Herstal F2000, também andaram por cá.

Algumas FN Herstal F2000, também andaram por cá.

Salto de Abertura Manual por instrutor de pára-quedismo belga no Aeródromo Militar de Tancos

Salto de Abertura Manual por instrutor de pára-quedismo belga no Aeródromo Militar de Tancos. Aqui (como em S. Jacinto aliás) uma das vantagens é esta, salta-se para o local de onde se descolou. Poupa-se tempo e recursos.

A realização de saltos de abertura manual (queda-livre) para o próprio Aeródromo de onde se descola, é mais uma das mais-valias desta infra-estrutura. Ganha-se tempo e poupam-se recursos.

Estes quadros de Schaffen, habitualmente pessoal com muitos anos de serviço, são responsáveis por toda a actividade aeroterrestre, quer seja como largadores quer a operar as zonas de lançamento quer nas inspecções do pessoal em terra antes dos saltos ou na preparação e lançamento de cargas e ainda na formação de pára-quedistas, do básico ao salto com oxigénio a grande altitude. Tudo o que é pára-quedismo na Bélgica, passa por eles, pelo Centro de Treino de Pára-quedismo.

Não é todos os dias que se vêem estes "bisontes" a voar bem, mas bem, baixo. Entre esta e a próxima foto, a máquina do Alfredo Serrano Rosa...

Não é todos os dias que se vêem estes "bisontes" a voar bem, mas bem, baixo...

...não terá finalidade prática numa operação aerotransportada, mas pode contribuir para o melhor desempenho dos pilotos, para apurar as suas capacidades. Nunca se sabe se será necessária uma "brincadeira" destas!

...não terá finalidade prática numa operação aerotransportada, mas pode contribuir para um melhor desempenho dos pilotos, para apurar as suas capacidades. Nunca se sabe quando será necessária uma "brincadeira" destas!

A 15 Wing twm uma longa história comum com os pára-comandos belgas. De tal modo assim é que no Museu Real das Forças Armadas Belgas, em Bruxelas, ocupam o mesmo espaço e ele é de monta!

A 15 Wing tem uma longa história comum com os pára-comandos belgas. De tal modo assim é que no Museu Real das Forças Armadas Belgas, em Bruxelas, ocupam a mesma área e ela é de monta!

Nestas missões os Belgas incluem sempre os seus audiovisiais. Aqui o fotógrafo ao centro com o comandante batalhão (à direita). O exercicio será tema de reportagem nos sites e revistas oficiais do Exército e da Força Aérea belgas.

Nestas missões os Belgas incluem sempre os seus audiovisuais. Aqui o fotógrafo, ao centro com o comandante de batalhão (à direita). O exercício será por certo tema de reportagem no site e na revista da Defesa Nacional belga.

Em 1990 o Regimento, logo depois Brigada Pára-Comando, apresentava esta organização, toda com capacidade pára-quedista. As forças especiais estavam noutra grande unidade e juntaram-se aos pára-comandos em 2000..

Em 1990 o Regimento, logo depois Brigada Pára-Comando, apresentava esta organização, toda com capacidade pára-quedista. As forças especiais estavam noutra grande unidade e juntaram-se aos pára-comandos em 2000.

Organização actual da Brigada Ligeira, uma das duas da componente terrestre das Forças Armadas da Bélgica. Esta componente, o Exército, dispõe hoje de 12.560 militares.

Organização actual da Brigada Ligeira, uma das duas da componente terrestre das Forças Armadas da Bélgica. Esta componente, o Exército, dispõe hoje de 12.560 militares, 2.710 dos quais nesta brigada.

A vida militar tem destas coisas! O nosso colaborador Alfredo Serrano Rosa (à direita na imagem), pára-quedista com um sem número de internacionalizações, veio encontrar em Tancos um amigo instrutor de pára-quedismo belga. Braço ao peito? Mais um dos riscos dos largadores, um incidente à porta do C-130 no decurso de um lançamento, ía-lhe arrancando o músculo!

A vida tem destas coincidências! O nosso colaborador, Alfredo Serrano Rosa (à direita na imagem), pára-quedista com um sem número de internacionalizações, veio encontrar em Tancos no decurso desta reportagem um amigo de longa data, instrutor de pára-quedismo belga. Braço ao peito? Mais um dos riscos dos largadores, um incidente à porta do C-130 no decurso de um lançamento ia-lhe arrancando o músculo!

Leia aqui a 1.ª parte desta reportagem:
AIRLIFT BLOCK TRAINING 2012 (1.ª PARTE)

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AIRLIFT BLOCK TRAINING 2010 EM PORTUGAL
SALTOS DE ABERTURA MANUAL EM TANCOS

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