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AIRLIFT BLOCK TRAINING 2012 (1.ª PARTE)

Mais uma vez as Forças Armadas Portuguesas receberam em território nacional um forte contingente militar belga. Habitualmente não é notícia mas reveste-se de aspectos interessantes. Esta reportagem pelo olhar do nosso colaborador Alfredo Serrano Rosa, serve assim também para reflexão sobre a efectiva capacidade de projecção de força de um país de dimensão semelhante ao nosso.

Mais de 600 pára-comandos belgas estiveram em Portugal e aqui participaram no maior exercicio anual da Esquadra de Transporte Táctico deste país aliado. [1]

Mais de 600 pára-comandos do Exército Belga estiveram em Portugal e aqui participaram no maior exercício anual da Esquadra de Transporte Táctico da Força Aérea deste país aliado.

Uma nota inicial para referir que este artigo não pretende abarcar em detalhe toda a actividade que o contingente belga desenvolveu em Portugal. Vamos centrar a nossa atenção em parte das acções levadas a cabo com a Brigada de Reacção Rápida e muito em especial no apoio prestado pela Escola de Tropas Pára-quedistas. O motivo é simples, foram estas que o Serrano Rosa pôde cobrir.

Este exercício, denominado pela Componente Aérea das Forças Armadas do Reino da Bélgica de «Airlift Block Training 2012» (ABT 2012) é a maior actividade anual deste tipo levada a cabo pela esquadra de transporte táctico belga, a “15 Wing Transport Aérien”, envolvendo 4 dos seus 11 aviões Hércules C-130. Nele, em dois períodos de permanência em Portugal – entre 20 de Fevereiro e 26 de Março de 2012 – mais de metade da totalidade das tripulações C-130 belgas requalificaram-se para todos os tipos de operações ALO (Air Land Operations) e ainda para voo em formação e voo com equipamento de visão nocturna. São números significativos.

A 15 Wing instalou-se no Aeródromo de Manobra n.º 1 da Força Aérea Portuguesa em Maceda (Ovar), e foi a partir desta excelente infra-estrutura aeronáutica que efectuou voos para diversos pontos do país. Muitos, talvez a maioria, para o Aeródromo Militar de Tancos do Exército Português, que apesar de algumas limitações nomeadamente para actividade nocturna, serviu de base de partida para os militares do Exército Belga que participaram neste mesmo exercício. Como veremos, também esta componente deslocou para Portugal, via terrestre, importantes meios auto. Viaturas tácticas, de carga geral, comunicações, cargas especializadas, autocarros de transporte de pessoal, ambulâncias. Os pára-comandos belgas foram rodados a meio do exercício, sendo o seu transporte Bélgica-Portugal efectuado em aviões Airbus da sua Força Aérea.

A Brigada Ligeira da Componente Terrestre das Forças Armadas belgas (ver organograma em baixo), envolveu este ano no ABT mais de 600 militares dos: Centro de Treino de Pára-quedismo, 2.º Batalhão Comando e 3.º Batalhão Pára-quedista. Efectuaram acções que envolveram saltos em pára-quedas, quer em termos de qualificação, quer de características “especiais” e ainda no quadro do treino de uma Operação de Evacuação de Não Combatentes (NEO).

Embora a cooperação com a antiga Brigada Pára-Comando belga se tenha iniciado há muitos anos, nos tempos do Corpo de Tropas Pára-quedistas da Força Aérea, passou por um interregno e foi reactivada nos últimos anos. Esta é a terceira vez que o ABT se realiza em Portugal e não é estranho a esta nova fase o projecto do Centro de Excelência Aeroterrestre da NATO que o Exército Português pretende institucionalizar em Tancos. Este tipo de apoio enquadra-se sem dúvida nas características do dito centro. Sendo certo que estamos ainda perante uma “cooperação bilateral técnico-militar”, o apoio que se prestou ao contingente belga já será muito semelhante ao que seria nesse outro âmbito.

No próximo artigo ilustramos algumas das capacidades terrestres colocadas em Portugal pelo contingente belga, curiosidades da cooperação e olhamos, ainda que brevemente, para a história e organização dos pára-comandos belgas.

Pára-quedistas equipados para salto automático. Muitos destes militares ainda não tinham efectuado saltos de avião, apenas a partir do balão que utilizam em Schaffen (Centro de Treino de Pára-quedismo). [2]

Pára-quedistas equipados para salto automático. Muitos destes militares ainda não tinham efectuado saltos de avião, apenas a partir do balão que utilizam em Schaffen no Centro de Treino de Pára-quedismo.

A 15 Wing envolveu em Portugal 4 dos seus 11 Lockheed C-130 Hercules. Dispõe ainda de aviões Airbus A330 e A310, Dassault Falcon 20 e 900 e Embraer 135 e 145 [3]

A 15 Wing envolveu em Portugal 4 dos seus 11 Lockheed C-130 Hércules. Dispõe ainda de aviões Airbus A330 e A310, Dassault Falcon 20 e 900 e Embraer 135 e 145.

Embarque no Aeródromo Militar de Tancos - peça decisiva para as pretensões de concretizar em Portugal a instalação do Centro de Excelência Aeroterrestre da NATO. [4]

Embarque no Aeródromo Militar de Tancos (AMT) - infra-estrutura importantíssima para as pretensões de concretizar em Portugal a instalação do Centro de Excelência Aeroterrestre da NATO.

Vista a partir da Escola de Tropas Pára-quedistas. O grosso do contingente belga esteve instalado nesta unidade, assumindo os custos respectivos. Portugal só tem a ganhar com este tipo de cooperação. [5]

Vista do AMT a partir da Escola de Tropas Pára-quedistas. O grosso do contingente belga esteve aqui instalado assumindo os custos respectivos. Portugal só tem a ganhar com este tipo de cooperação.

Formação C-130 belgas sobre a DZ da Silveira junto a Alter do Chão. Bem conhecida dos pára-quedistas portugueses, permite este tipo de lançamento em massa. [6]

Formação C-130 belgas sobre a DZ da Silveira junto a Alter do Chão. Bem conhecida dos pára-quedistas portugueses, permite este tipo de lançamento em massa.

Luz verde, "Go", o correspondente belga ao "Já" português. Note-se, na porta, o patim que permite ao pára-quedista afastar-se da porta e o deflector que evita a sua projecção contra a fuselagem, a qual fica bem perto! [7]

Luz verde, "Go", o correspondente belga ao "Já" português. Note-se o "patim amarelo" que permite ao pára-quedista afastar-se da porta e o deflector que evita a sua projecção contra a fuselagem, a qual fica bem perto!

Salto de Abertura Automática. O pára-quedistas está ligado ao avião por uma tira extractora que ao distender-se abre o conjunto do pára-quedas. Quando se rompe ligação tira/calote do pára-quedas, esta começa então a insuflar e sustenta o militar no ar, iniciando-se a descida. [8]

Salto de Abertura Automática. O pára-quedistas está ligado ao avião por uma tira extractora que ao distender-se abre o conjunto do pára-quedas. Quando se rompe ligação tira/calote do pára-quedas, esta começa então a insuflar e sustenta o militar no ar, iniciando-se a descida. A tira fica agarrada ao avião e cabe aos largadores recuperarem esta parte do equipamento.

Os escassos segundos entre aviões (em coluna) permitem esta bela imagem. Quando o último avião larga sobre a DZ, os pára-quedistas do primeiro ainda estão no ar. Assim se consegue colocar no solo, rapidamente, grande número de militares (neste caso cerca de 250) [9]

Os escassos segundos entre aviões (em coluna) permitem esta bela imagem. Quando o último avião larga sobre a DZ, os pára-quedistas do primeiro ainda estão no ar. Assim se consegue colocar no solo, rapidamente, grande número de militares (neste caso cerca de 250).

Para se ter uma ideia do que representam um efectivo de 250 militares, note-se que hoje no Afeganistão temos 225 e no Kosovo 160. [10]

Para se ter uma ideia do que representa colocar no solo, em minutos, um efectivo de 250 militares numa só passagem, note-se que hoje Portugal mantém no Afeganistão 225 e no Kosovo 160. Ou que em 1978 os franceses lançaram em Kolwesi 400 legionários e em 2001 saltaram 200 US Rangers em Kandahar.

Pára-quedas fendado com manobradores permite ao pára-quedista treinado escolher melhor o local de aterragem e faze-lo que mais suavidade. A carga (armamento/equipamento) vem pendurada para não provocar lesões na aterragem. [11]

Pára-quedas fendado permite ao pára-quedista escolher melhor o local de aterragem e fazê-lo com mais suavidade. A carga (armamento/equipamento) vem pendurada para não provocar lesões ao militar na aterragem.

Com os manobradores o militar orienta a calote de modo a anular alguma da velocidade horizontal que o ventro imprime ao conjunto. Se o pára-quedista se engana o resultado é exactamente o contrário e a aterragem pode ser muito violenta. [12]

Com os manobradores o militar orienta a calote de modo a anular alguma da velocidade horizontal que o vento imprime ao conjunto. Se o pára-quedista se engana o resultado é exactamente o contrário e a aterragem pode ser muito violenta.

Aterragem, a calote perde sustentação, mas o militar tem de agir rapidamente para evitar que o vento lhe volte a "pegar". Neste caso pode ser arrastado com violência antes de se conseguir desequipar. [13]

Aterragem, a calote perde sustentação, mas o militar tem de agir rapidamente para evitar que o vento lhe volte a "pegar". Neste caso pode ser arrastado com violência antes de se conseguir retirar o equipamento.

Aí está o vento a "pegar" nas calotes. As aterragens em Portugal, para os belgas, costuma ser duras. Estão muito habituados a Schaffen, uma excelente DZ em relva e onde o tempo é humido. [14]

Aí está o vento a "pegar" nas calotes. As aterragens em Portugal, para os belgas, costumam ser duras. Estão muito habituados a Schaffen, uma excelente DZ em relva e onde o tempo é húmido.

"Dominada" a calote o militar retira o pára-quedas de reserva para se poder movimentar. Aqui começa a corrida contra o tempo que só termina quando a unidade que saltou está "junta" no ponto de reorganização. [15]

"Dominada" a calote o militar retira o pára-quedas de reserva para se poder movimentar. Aqui começa a corrida contra o tempo que só termina quando a unidade que saltou está "junta" no ponto de reorganização.

Segundo a doutrina belga, segue-se de imediato a colocação do armamento - aqui uma AW Accuracy sniper - em posição de funcionar (note-se que ainda tem o pára-quedas principal equipado). [16]

Segundo a doutrina belga, segue-se de imediato a colocação do armamento - aqui uma AW Accuracy sniper - em posição de funcionar (note-se que ainda tem o pára-quedas principal equipado).

Retirado o reserva verifica-se rapidamente o armamento e equipamento... [17]

Verificação rápida do armamento e equipamento...

...segue-se então (porque se trata de um exercicio) a dobragem sumária do pára-quedas e a sua colocação na bolsa de transporte. [18]

...segue-se então (porque se trata de um exercício) a dobragem sumária do pára-quedas e a sua colocação na bolsa de transporte. Esta operação tem que ser feita com cuidado para não danificar o material.

Segue-se a (penosa) marcha para o ponto de reunião que cada militar tem que saber identificar no terreno. [19]

Segue-se a (penosa) marcha para o ponto de reunião que cada militar tem que saber identificar no terreno. Os pára-quedas serão aí entregues aos responsáveis pelo material, momento em que se averigua sumariamente se tudo decorreu sem problemas...ou não.

Desde o salto até terminar a reorganização, aqui está bem visivel a fase critica da operação: as unidades ainda não estão contituidas. Só nessa altura estarão em condições de iniciar o cumprimento da missão. A colocação dos militares dentro das aeronaves tem isto em consideração e facilita a rapidez da reorganização. [20]

Aqui está bem visível a fase critica da operação: as unidades ainda não estão constituídas. Só nessa altura estarão em condições de iniciar o cumprimento da missão. A colocação dos militares dentro das aeronaves tem isto em consideração e facilita a rapidez da reorganização.

Não, não é photoshop! É mesmo mais uma bela imagem do Alfredo Serrano Rosa que captou o final de mais uma "passagem baixa" dos C-130 da 15 Wing! [21]

Não, não é photoshop! É mesmo mais uma bela imagem do Alfredo Serrano Rosa que captou o final de uma "passagem baixa" dos C-130 da 15 Wing!

A componente terrestre das Forças Armadas do Reino da Bélgica (Exército), com a Brigada Ligeira em destaque. Este país europeu, como se percebe, abdicou de forças pesadas. [22]

A componente terrestre das Forças Armadas do Reino da Bélgica (Exército), com a Brigada Ligeira em destaque. Este país europeu, como se percebe, abdicou de forças pesadas.

Leia aqui a 2.ª parte desta reportagem: AIRLIFT BLOCK TRAINING 2012 (CONCLUSÃO) [23]

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AIRLIFT BLOCK TRAINING 2010 EM PORTUGAL [24]

SALTOS DE ABERTURA MANUAL EM TANCOS [25]