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A (PERDIDA) INFLUÊNCIA DOS MILITARES

Por • 26 Jul , 2012 • Categoria: 02. OPINIÃO Print Print

O “Expresso Revista” (07JUL12) publicou uma lista das 100 pessoas mais influentes no nosso país. Nem um militar. Mas deveria haver?

(Fotomontagem sobre capa "Revista Expresso" de 07JUL12)

(Fotomontagem sobre capa "Revista Expresso" de 07JUL12)

Depois de 1974/75 instalou-se em sectores políticos e mediáticos que vão da esquerda à direita, uma certa “cultura anti-militar”, muito fundada no preconceito e no desconhecimento, que continua dominante. As tentativas institucionais que pontualmente ou de modo continuado tentam inverter a situação, não têm resultado. Umas e outras, mais as últimas, estão viradas para dentro, para os “do costume”, funcionando sobretudo como modo de melhorar os curriculum dos beneficiários, não se traduzindo depois como seria de esperar, na multiplicação do conhecimento e da influência. A “simples” acção de um ou dois militares fora do activo, sem qualquer investimento público, fizeram e fazem mais do que muito dinheiro do orçamento geral do Estado gasto em institutos, conferências, livros, relações públicas, cursos para jornalistas, beberetes, viagens, etc. Recordo o falecido comandante Virgílio de Carvalho, pioneiro nesta área da comunicação “não-oficial”, e na actualidade o general Loureiro dos Santos, com uma intervenção regular no espaço mediático sem paralelo no nosso país. Mas não chega.

Este “apagamento militar” tem certamente muitas leituras, a que se segue é a minha. Muita da culpa deste estado de coisas vem do interior da instituição. Há quem continue a pensar que deve estar centrado na “missão”, deixando o resto para os políticos. Os que pensam ser a comunicação parte dessa “missão” são uma minoria, outros confundem comunicação com publicidade e marketing – investe-se em departamentos especializados, vários em todos os sectores da Defesa Nacional, Forças Armadas, Marinha, Exército e Força Aérea – e a situação não parece melhorar significativamente.

Lido o modo como as 100 personalidades foram escolhidas, nada há a dizer, o método parece adequado. Assim sendo, porque será que nenhum militar conseguiu aparecer aos jornalistas do “Expresso” – que os escolheram – como elegível?
Pelo menos Loureiro dos Santos dificilmente lhes terá passado despercebido. Tem influência no meio da defesa nacional/forças armadas, sendo uma voz escutada mesmo por aqueles que não concordam com a sua visão para o sector. Ou consideraram no “Expresso” que todo o sector em si é que não tem influência? Pode ser. E se assim for, a situação piora. Nem o militar mais influente no espaço público, nem o militar de maior graduação – o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, discreto mas actuante – ou o dirigente associativo mais mediático e contundente – o presidente da Associação Nacional de Sargentos – conseguiram vencer esta limitação. E porquê?

Há uma outra vertente desta problemática que é ainda mais injusta: não terá havido um oficial, sargento ou praça que no cumprimento da missão, em Portugal ou no estrangeiro, nestes 12 meses, tenha feito algo que o elegesse para a lista? Pois é, mas quem sabe o que os militares fazem? Os “eleitores” da listagem imaginam o que os nossos militares fazem no Afeganistão, no Índico, em Timor-Leste, no Líbano ou no Kosovo? Sabem que eles lá estão, que partem e chegam a Lisboa a cada 6 meses, mas quantos jornalistas passaram lá umas semanas, “embedded”?

Imagino sem dificuldade que a reacção a este assunto de grande parte dos militares, de todos os postos e responsabilidades que me leiam, vai ser: «ó Machado mas para que raio interessa essa lista? Deixe-se de fantasias, esses tipos – os jornalistas – são uns vendidos, isso está tudo feito para os amigos. Vamos é continuar a fazer o nosso trabalho que é para isso que nos pagam.»

Pois é, tem sido mais ou menos assim desde 1982. Depois ficam os militares muito admirados e ofendidos quando se deparam com o desinteresse de políticos e mesmo de significativos segmentos da população para a importância do seu trabalho, constatam a tendência para a degradação da capacidade operacional e mesmo para a incompreensão do que é a condição militar. Nos dias de hoje, as pessoas – jornalistas ou não – têm que ver para compreender, para aceitar. Se os militares não lhes mostram…não esperem que outros o façam.

Artigo originalmente publicado no “Diário de Noticias”: A (perdida) influência dos militares.

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