A HISTÓRIA DO U-534
Por Miguel Machado • 17 Out , 2015 • Categoria: 14.TURISMO MILITAR, EM DESTAQUE![Print Print](https://www.operacional.pt/wp-content/plugins/wp-print/images/print.gif)
Os submarinos alemães, uma das armas mais temíveis e odiadas nos dois últimos conflitos mundiais pela destruição e morte de causavam, acabaram terminada a 2.ª Guerra Mundial por ir ganhando alguma indulgência, não só pela reconhecida coragem das suas guarnições – com um rácio de baixas terríveis – como pelos seus feitos. Hoje, submarinos do III Reich expostos recebem visitantes de todo o mundo. O Operacional foi ver o U-534 em Bikenhead, Merseyside, Liverpool, no Reino Unido.
![O símbolo identificativo do U-534, os anéis olímpicos. Na realidade 23 U-Boat alemães usavam esta simbologia! Em 1936 os Jogos Olímpicos realizaram-se em Berlim e os oficiais que nesse ano se juntaram à Kriegsmarine, (Marinha de Guerra da Alemanha) adoptavam-no.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/1-U-534-DSC_8844-copy.jpg)
O símbolo identificativo do U-534, os anéis olímpicos. Na realidade, muitos submarinos alemães usavam esta simbologia! Em 1936 os Jogos Olímpicos realizaram-se em Berlim e os 87 oficiais que nesse ano se juntaram à Kriegsmarine, (Marinha de Guerra da Alemanha durante o período 1935-1945), como Herbert Nollau do U-534, podiam usá-lo se chegassem a comandantes de submarino.
O museu “U-Boat Story” onde se encontra o U-534, fica na margem esquerda do rio Mersey, em Merseyside, frente à cidade de Liverpool, naquele que foi o principal porto do Reino Unido após Noruega e França terem caído em mãos alemãs no ano de 1940. Ali chegam e dali partiam comboios navais durante toda a “Batalha do Atlântico” e era do quartel-general de “Western Approaches”, em Liverpool que toda essa actividade era coordenada. Aqui fica a resposta à primeira interrogação que a muitos se coloca quando nos deparamos com um submarino alemão naquelas paragens!
![O "Woodside Ferry Terminal" (ao centro), notando-se (à direita) a torres do U-534 e em primeiro plano o modelo à escala do "Resurgam" original (1879). Ver abaixo explicação detalhada.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/4-U-534-DSC_8883-copy.jpg)
O “Woodside Ferry Terminal” (ao centro) de Birkenhead, Merseyside, notando-se (à direita) a torre do U-534, e em primeiro plano o modelo à escala do “Resurgam” (1879). Ver abaixo explicação detalhada.
![O "Resurgam" que do latim em tradução livre será "Eu voltarei", foi construído em 1879 por J.T. Cochrane, na Cleveland Street, em Birkenhead. Desenhado pelo Reverendo George Garrett (1852-1902), é considerado um dos primeiros submarinos do mundo. Em madeira e ferro, tinha 14m de comprimento, 3 de diâmetro e pesava 300 toneladas.A propulsão era a vapor e tinha uma tripulação de 3 homens. Foi testado por curtos períodos ali próximo e funcionou. Em 1880 a caminho de Portsmouth foi apanhado por uma tempestade e afundou-se quando ia efectuar uma demonstração para a Royal Navy. Foi recuperado do fundo do mar em 1995. Este modelo foi feito em 1997 e renovado em 2009.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/35-U-534-DSC_8887-copy.jpg)
O “Resurgam”, do latim em tradução livre, “Eu voltarei”, foi construído em 1879 por J.T. Cochrane, na Cleveland Street, em Birkenhead. Desenhado pelo Reverendo George Garrett (1852-1902), é considerado um dos primeiros submarinos do mundo. Em madeira e ferro, tinha 14m de comprimento, 3 de diâmetro e pesava 300 toneladas. A propulsão era por motor a vapor de “ciclo fechado” e tinha uma tripulação de 3 homens. Foi testado por curtos períodos ali próximo e funcionou. Em 1880 a caminho de Portsmouth foi apanhado por uma tempestade e afundou-se quando ia efectuar uma demonstração para a Royal Navy. Foi recuperado do fundo do mar em 1995. Este modelo data de 1997 e foi renovado em 2009.
![A vida do U-534 está bem documentada quer em fotografias ao longo desta "linha do tempo" quer em filmes e ainda em registos audio.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/6-U-534-DSC_8723-copy.jpg)
A vida do U-534 está bem documentada quer em fotografias ao longo desta “fita de tempo” quer em filmes e ainda em registos áudio.
![Aqui estão inúmeros objectos usados pelos tripulantes a bordo do submarino, quem artigos pessoais quer de serviço.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/7-U-534-DSC_8727-copy.jpg)
Aqui estão inúmeros objectos usados pela guarnição do submarino, quer artigos pessoais quer de serviço.
![Por exemplo os manuais de identificação de navios que se poderiam encontrar no oceano.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/8-U-534-DSC_8729-copy.jpg)
Por exemplo os manuais de identificação de navios de diversos tipos que se poderiam encontrar no oceano.
Vida operacional atribulada
Agora a história de como ali chegou o U-534, também merece ser contada! O submarino estava na Dinamarca quando o Almirante Doenitz , comandante da marinha do III Reich e sucessor de Adolfo Hitler após a morte deste, emitiu ordem de rendição aos submarinos espalhados pelo mundo. Eram 08H00 de 05MAI1945. O comandante, Herbert Nollau, 26 anos de idade, o militar mais velho a bordo, ignorou a ordem e navegou em direcção à Noruega. A Royal Air Force (RAF) detectou o movimento e enviou vários “B-24 Liberator” no seu encalce. Um foi abatido pelo U-534 – dispunha de armamento anti-aéreo potente, bitubo 37mm Flak M42U e 4 20mm Flak 38 – mas não conseguiu depois imergir sem ser atingido pelas cargas de profundidade de outro B-24, uma das quais caiu mesmo em cima do submarino e outra danificou o casco, começando a afundar-se, lentamente. 47 de 52 elementos da guarnição conseguiram salvar-se saltando para a água. 5, apanhados no interior, tentaram sair com equipamento de emergência, com o submarino a 67m de profundidade, 4 conseguiram, 1 morreu. Os sobreviventes foram transportados para a Dinamarca, tendo dois falecido no trajecto. Preso até Agosto de 1945, Nollau foi libertado e trabalhou normalmente em Frankfurt na República Federal da Alemanha até à sua morte, por suicídio, em 1967 ou 1968. Nunca explicou porque não se rendeu.
O U-534 pertencia ao tipo IXC/40 da Kriegsmarine, com grandes dimensões – 76m de comprimento (como referência os actuais submarinos da Marinha Portuguesa, classe “Tridente”, têm 67,9m) – e tinha um raio de acção de 11,400 milhas náuticas navegando à superfície (mais de 21.000 quilómetros, o que dava quase para transpor o Atlântico mais de 3 vezes sem reabastecer), e de 63 em imersão.
O submarino foi construído em Hamburgo e lançado à água em 1942, tendo no final deste ano entrado no serviço activo com o único comandante que haveria de conhecer. Curiosamente este submarino teve uma vida atribulada e pouco heróica! Esteve pelos mares da Dinamarca em testes e treino, rumou à Noruega para missões operacionais e andou pela Gronelândia já em 1944, dedicando-se sobretudo à recolha de informações meteorológicas, muito importantes para determinar missões contra os comboios navais aliados e defesa de ataques aéreos. Actividade menos arriscada que atacar navios Aliados, mas com a vida a bordo igualmente dura. Os motores e baterias ocupavam 1/3 do espaço a bordo, e o restante era ocupado pelos 52 militares da guarnição, 22 torpedos, munições para as antiaéreas, 18 toneladas de alimentos e água e uma miríade de peças e acessórios indispensáveis ao funcionamento do submarino por longos períodos sem apoio.
![Aspecto de objectos pessoais e de uso comum encontrados no submarino quando voltou à superfície em 1993.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/9-U-534-DSC_8730-copy.jpg)
Aspecto de objectos pessoais e de uso comum encontrados no submarino quando voltou à superfície em 1993.
![Muito em voga nos museus britânicos, neste painel é possível ouvir quer depoimento da época, retirados de filmes, quer posteriores, com sobreviventes.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/18-U-534-DSC_8829-copy.jpg)
Muito em voga nos museus britânicos, neste painel – histórias pessoais – é possível ouvir quer depoimentos da época, retirados de filmes, quer posteriores, com sobreviventes a falar das suas experiências.
![A base dos submarinos alemães em Bordéus, onde o U-534 sofreu modificações, fotografada na actualidade.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/36-U-534-Bordeus-DSC_6259.jpg)
A base dos submarinos alemães em Bordéus, onde o U-534 sofreu modificações, fotografada na actualidade.
Ainda em 1944 o U-534 estava na base de submarinos de Bordéus (França) a receber algumas modificações (instalar um “snorkel” para poder navegar submerso a diesel e ao mesmo tempo carregar as baterias). A instalação foi mal executada e no trajecto para a Noruega teve que emergir por estar “cheio de fumo”, sendo detectado por aviões aliados. Atacado por um “Vickers Wellington” da RAF, as armas anti-aéreas levaram a melhor e abateram o avião, conseguindo chegar a Kristiansand na Noruega. Transferido depois para Stettin (actualmente na Polónia) e a seguir para Kiel na Alemanha devido ao avanço do Exército Vermelho, sofreu grandes reparações, tendo deixado a Alemanha em direcção ao seu destino final, entre a Dinamarca e a Suécia (ilha de Anholt), a 3 de Maio de 1945, 2 dias antes do seu afundamento.
![Diagrama do U-534. Todas as secções do submarino expostas estão muito be, explicadas através de legendas e destes painéis.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/19-U-534-DSC_8767-copy.jpg)
Diagrama do U-534. Todas as secções do submarino expostas estão muito bem explicadas através de legendas e destes painéis.
![Em primeiro plano o torpedo T11 Zaunkoning 2, o mais avançado produzido até ao final da guerra, e este é um dos apenas 38 construídos. Torpedo acústico dotado de um sofisticado sistema de guiamento que procurava o ruído emitidos pelos hélices dos navios. Podia atingir alvos a 5.700m de distância.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/20-U-534-DSC_8795-copy.jpg)
Em primeiro plano o torpedo T11 Zaunkoning 2, o mais avançado produzido até ao final da guerra, e este é um dos apenas 38 construídos. Torpedo acústico dotado de um sofisticado sistema de guiamento que procurava o ruído emitidos pelos hélices dos navios. Podia atingir alvos a 5.700m de distância.
![Duas das secções em que foi cortado o casco do submarino. À esquerda a "casa dos motores", à direita "a sala de controlo" e em cima a torre com o bitubo Flak M42U de 37mm.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/21-U-534-DSC_8763-copy.jpg)
Duas das secções em que foi cortado o casco do submarino. À esquerda a “casa dos motores”, à direita “a sala de controlo” e em cima a torre com o bitubo Flak M42U de 37mm. O símbolo da torre – Ritter Von Kurpfalz – é um dos dois usados pelo U-534, o outro os anéis olímpicos.
![A popa do submarino onde se encontrava a sala dos geradores eléctricos, usados em imersão. Este tipo de submarino tinha também dois tubos lançadores de torpedos para a retaguarda.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/22-U-534-DSC_8770-copy.jpg)
A popa do submarino onde se encontrava a sala dos geradores eléctricos, usados em imersão. Este tipo de submarino tinha também dois tubos lançadores de torpedos para a retaguarda. Na imagem um dos dois hélices e os lemes.
![A principal arma do submarino era o torpedo e nesta secção frontal íam armazenados e eram disparados a maioria destas temíveis armas.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/26-U-534-DSC_8752-copy.jpg)
A principal arma do submarino era o torpedo e nesta secção frontal iam armazenados e eram disparados a maioria destas temíveis armas.
![A proa do submarino e os seus lemes. depois da sala dos torpedos ficavam os alojamentos da tripulação.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/25-U-534-DSC_8800-copy.jpg)
A proa do submarino e os seus lemes. Depois da sala dos torpedos ficavam os alojamentos da guarnição.
![Este sistema de exposição permite uma boa movimentação dos visitantes, mas na realidade não dá a sensação do que é andar dentro de um submarino.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/27-U-534-DSC_8753-copy.jpg)
Este sistema de exposição permite uma boa movimentação dos visitantes, mas na realidade não dá a sensação do que é andar dentro de um submarino.
![Mesmo estando tudo muito bem explicado nos painéis informativos, o interior está exactamente como foi retirado do oceano.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/29-U-534-DSC_8761-copy.jpg)
Mesmo estando tudo muito bem explicado nos painéis informativos, o interior está exactamente como foi retirado do oceano.
![Para se perceber e ver alguns dos pontos mais recônditos há um sistema de vídeo que percorre segmentos do casco.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/30-U-534-DSC_8764-copy.jpg)
Para se perceber e ver alguns dos pontos mais recônditos há um sistema de vídeo que percorre o interior, sendo possível comparar a actualidade com fotos do que teria sido esse segmento quando o submarino navegava.
Nova vida frente a Liverpool
A misteriosa atitude do capitão do U-534 originou durante anos muitas especulações – tesouros, transporte de líderes nazis, etc – e talvez isso tenha feito despertar a atenção de Aaje Jensen, um mergulhador dinamarquês que o localizou junto a Anholt, em 1986. Estava “em bom estado” e logo se pensou em o retirar do local, mesmo que considerações de ordem política – a Alemanha opunha-se – legal, organizacional e financeira tornassem difícil a operação. Juntou-se o mergulhador a um editor e empresário, também dinamarquês, Karsten Ree, e o assunto teve seguimento. Em 1993 o U-534 voltava à superfície, inteiro, com 8 antigos elementos da tripulação e 4 do “Libertador” que o afundou a assistir, numa delicada operação realizada por uma empresa holandesa, Smit Tak, e o apoio da Marinha Dinamarquesa que retirou do submarino e destruiu 13 torpedos e centenas de munições das antiaéreas. Curiosamente esta marinha recolheu e guardou “3 torpedos de guiamento acústico”. Nenhum tesouro foi encontrado mas sim uma incrível panóplia de artigos de uso diário, muitos hoje expostos no museu que visitamos e que nos dá uma imagem de como era a vida a bordo.
A opção tomada para expor este submarino, foi a de o cortar em 4 secções – de modo tão rigoroso que se necessário for é possível voltar a montá-lo, garante o museu – mantendo o seu interior exactamente como foi retirado do fundo do mar em 1993, sendo a visualização feita do exterior através de vidros e câmaras vídeo. Esta modalidade pouco vulgar de exposição, não está explicada no local e pode bem ter sido tomada por questões de ordem financeira e até do espaço disponível onde se encontra o submarino. Sendo certo que permite uma excelente visualização do exterior, o mesmo não se pode dizer do interior. O edifício de apoio, esse sim, tem uma completíssima colecção de objectos usados no submarino, está muito bem organizado e inclui uma série de elementos, tudo ou quase, sobre a história do U-534, num grande número de suportes, áudio, vídeo e fotografias. Inclui ainda para os mais novos vários jogos que permitem simular actividades típicas a bordo.
![Dos 1.168 submarinos alemães que entraram ao serviço na 2.ª Guerra Mundial, 790 foram afundados. Dos 40.000 submarinistas formados entre 1934 e 1945, 30.246 morreram em combate ou devido a ferimento assim adquiridos. 5.338 salvaram-se de morrer no mar e foram presos. É na realidade um balanço impressionante.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/32-U-534-DSC_8843-copy.jpg)
Dos 1.168 submarinos alemães que entraram ao serviço na 2.ª Guerra Mundial, 790 foram afundados. Dos 40.000 submarinistas formados entre 1934 e 1945, 30.246 morreram em combate ou devido a ferimentos assim adquiridos. 5.338 salvaram-se de morrer no mar e foram presos. É na realidade um balanço impressionante, para uma arma que chegou a ameaçar virar o rumo da guerra.
![Além de muita vontade, determinação e um conjunto muito alargado de entusiastas, também a UE contribuiu para preservar a história do U-534. Um bom exemplo de Turismo Militar.](http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2015/09/34-U-534-DSC_8853-copy.jpg)
Além de muita vontade, determinação e um conjunto muito alargado de entusiastas e entidades, também a UE contribuiu para preservar a história do U-534. Um bom exemplo de Turismo Militar.
Como chegar?
O museu está a poucos minutos de metropolitano de Liverpool, ou a mais um pouco se fizer a viagem de ferry, e a entrada custa (adultos) 7,50£. Há pacotes que incluem a um pequeno cruzeiro no rio Mersey. Está aberto todo o ano das 10H30 às 17H00, exepto no Natal e Ano Novo. Na entrada/saída do Museu tem uma loja com produtos alusivos ao U-534 e a vários temas navais e no acesso aos ferrys de passageiros, há um agradável café/restaurante, o “Home Cafe”.
Veja aqui mais informações sobre o museu: U-Boat Story
Bibliografia consultada:
“The Story of U-534” (brochura sem data/editor adquirida no museu);
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“BARRACUDA” TERMINOU SERVIÇO ACTIVO
Miguel Machado é
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