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5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAIS “JOSEPH GABCIK” DAS FORÇAS ARMADAS ESLOVACAS – (1ª PARTE)

É incontestável o mérito operacional das TROPAS PÁRA-QUEDISTAS checoslovacas no panorama mundial.

Integrados nos Exércitos Aliados e, posteriormente no Exército Checoslovaco do Ocidente, cento e vinte e um (121) militares foram treinados para desenvolverem acções de sabotagem e reconhecimento na retaguarda das forças alemãs do 3º Reich, fazendo uso da terceira-dimensão: o envolvimento vertical.

E as missões atribuídas foram, quase sempre, cumpridas com assinalável êxito, e elevados índices de eficiência e eficácia.

Quem não se recorda da histórica “OPERAÇÃO ANTROPOID“, cujo objectivo era atentar contra a vida do “Reichsprotektor” da Boémia e Morávia, Reinhard Tristan Eugen Heydrich, oficial-general das temíveis SS e da Polícia, Chefe dos Serviços Secretos e terceira figura na hierarquia nazi?

E dos pára-quedistas executores desta missão especial, com particular destaque para o Sargento JOSEPH GABCIK(1) que infiltrado por pára-quedas  (28 de Dezembro de 1941), a cerca de duas dezenas de quilómetros da cidade de Praga, entra em contacto com a resistência, planeia e, posteriormente, participa no atentado, a 27 de Maio de 1942?

Sabiam que o inventor do primeiro protótipo (1913) de um pára-quedas foi o eslovaco STEFAN BANIC?

A 1 de Janeiro de 1993, a República Socialista da Checoslováquia divide-se em duas repúblicas: uma checa e outra eslovaca (porém, desta vez, sem a interferência germânica a impor protectorados ou estados associados, com foi o Estado da Eslováquia com um governo nazi). E com esta divisão territorial, política, social, material e cultural nasce, também, a necessidade da “divisão” de todo este património histórico e da reivindicação da paternidade dos principais feitos nas diversas áreas, incluindo a militar.

OPERACIONAL.PT publicou uma curta reportagem sobre uma das unidades pára-quedistas checas mais características da actualidade: o 102º BATALHÃO DE RECONHECIMENTO “GENERAL KAREL PALECEK” (http://www.operacional.pt/102%c2%ba-batalhao-de-reconhecimento-%e2%80%9cgeneral-karel-palecek%e2%80%9d/ [1]).

Distintivo de identificação do 5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAIS "JOSEPH GABCIKA" para uso no uniforme camuflado. (Col. de António E.S. Carmo) [2]

Distintivo de identificação do 5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAIS "JOSEPH GABCIKA" para uso no uniforme camuflado. (Col. de António E.S. Carmo)

Para a compreensão do desenvolvimento do pára-quedismo militar da República da Eslováquia (Slovenská Republika) vamos procurar, neste sucinto artigo, revelar algumas curiosidades históricas, a organização, a missão, o treino, o equipamento, os principais distintivos e a real importância operacional da única unidade pára-quedista orgânica, do século XX e XXI, activada oficialmente em 1 de Novembro de 1994, acantonada em Zilina, e na dependência orgânica do Estado-Maior-General das Forças Armadas:  o 5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAS “JOSEPH GABCIK” (5. PLUK SPECIALNEHO URCENIA “JOZEFA GABCIKA”).

O 5º Regimento de Forças Especiais "Joseph Gabcik" recebeu o seu Estandarte Heráldico em 30 de Janeiro de 1997. (Foto de Mário Pazický via autor) [3]

O 5º Regimento de Forças Especiais "Joseph Gabcik" recebeu o seu Estandarte Heráldico em 30 de Janeiro de 1997. (Foto de Mário Pazický via autor)

ACTIVAÇÃO ORGÂNICA: BREVE ESCORÇO

É historicamente aceite que a formação e activação do 5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAIS “JOSEPH GABCIK” (5. PLUK SPECIALNEHO URCENIA “JOZEFA GABCIKA”, inicia os seus primeiros passos em 1 de Novembro de 1992, quando a 22ª BRIGADA PÁRA-QUEDISTA checoslovaca, sediada na cidade de Prostejov (importante centro cultural, industrial e desportivo da região central da Morávia), é reorganizada, recebendo nova designação: 6º GRUPO ESPECIAL.

No âmbito desta reorganização em curso que já previa a separação e o aparecimento de dois Estados independentes (a República Checa e a República Eslovaca), é constituído o 3º BATALHÃO ESPECIAL. Esta nova unidade é de imediato transferida administrativamente para a cidade de Zilina, juntamente com um pequeno grupo de militares voluntários (oficiais e sargentos), todos de origem eslovaca.

Formalizado e assinado, o “Protocolo da Divisão da Checoslováquia”, os representantes políticos eslovacos não descuraram o vector defesa nacional, e anteciparam a formação das novas Forças Armadas Eslovacas.

Para este efeito, de 2 de Novembro a 11 de Dezembro de 1992, um grupo de oficiais e sargentos eslovacos oriundos dos 13º e 14º BATALHÕES DE RECONHECIMENTO, sob as ordens do Coronel Peter Svrlo (um oficial oriundo do serviço de informações), recebem formação especial no seio do 6º GRUPO ESPECIAL.

É ainda sob o comando do Coronel Peter Svrlo, e do futuro Comandante do 3º BATALHÃO ESPECIAL, Coronel Josef Tucek que nos dias 17 e 18 de Novembro de 1992 é organizada uma coluna auto-auto (os materiais mais pesados foram transportados por via férrea) que transporta para Zilina todos os principais materiais, equipamentos e armamento da futura unidade de elite eslovaca.

Formalizada pelo parlamento federal a dissolução pacífica da Checoslováquia, em 1 de Janeiro de 1993 a Eslováquia tornou-se um país independente de facto e de direito. Assim, a 4 de Janeiro de 1993 o Coronel Josef Tucek assumiu, oficialmente, o comando do 3º BATALHÃO ESPECIAL.

A 29 de Janeiro de 1993 tem lugar uma cerimónia com um significado muito especial: em parada, os efectivos do 3º BATALHÃO ESPECIAL fazem o primeiro “Juramento Militar” sob a Bandeira Nacional eslovaca.

Em 22 de Agosto de 1994, por Despacho do Secretário da Defesa, a unidade recebe o título honorário «REGIMENTO JOSEPH GABCIK».

Em Maio de 1995, assume o comando do 3º BATALHÃO ESPECIAL, o Tenente-Coronel Josef Kristofiak.

Em 1 de Outubro de 1995, o 3º BATALHÃO ESPECIAL é reorganizado e adopta a designação que transporta até aos nossos dias: 5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAIS “JOSEPH GABCIK” (5. PLUK SPECIALNEHO URCENIA “JOZEFA GABCIKA”(2).

Com este jovem percurso histórico, a única unidade pára-quedista orgânica das Forças Armadas Eslovacas reclama-se herdeira das tradições da 22ª BRIGADA PÁRA-QUEDISTA (das Forças Armadas da República Socialista da Checoslováquia), da experiência das missões pára-quedistas checas e eslovacas da 2ª Guerra Mundial, sem esquecer os factos (operação ANTROPOID) ligados à designação honorária do Regimento.

O 5º Regimento de Forças Especiais "Joseph Gabcika" é a única unidade orgânica das Forças Armadas Eslovacas. (Foto de Mário Pazický via autor) [4]

O 5º Regimento de Forças Especiais "Joseph Gabcika" é a única unidade orgânica das Forças Armadas Eslovacas. (Foto de Mário Pazický via autor)

ESTRUTURA E MISSÃO

Com um efectivo total de aproximadamente 450 militares, esta unidade profissionalizou-se no final do ano de 2001.

A sua orgânica integra a seguinte estrutura:

Comando e Estado-Maior ( uma Equipa Operacional – um Pelotão de Apoio Logístico –  um Grupo de Informações e Segurança – um Gabinete dos Serviços Secretos);

– quatro COMPANHIAS DE RECONHECIMENTO ESPECIAL (cada Companhia dispõe de quatro Destacamentos de Reconhecimento Especial);

COMPANHIA DE APOIO LOGÍSTICO ESPECIAL;

DESTACAMENTO DE INSTRUÇÃO E TREINO;

PELOTÃO ESPECIAL DE COMUNICAÇÕES;

GRUPO DE APOIO TÉCNICO;

ESTAÇÃO MÉDICA FIXA.

Cada Destacamento de Reconhecimento Especial é constituído por 10 homens: paramédico; atirador de elite (sniper); operador de comunicações; sapador/demolições; especialista técnico (mecânico) e comando do destacamento. Em geral é composto por 2 oficiais subalternos, 3 sargentos e 5 conscritos.

O sargento sapador/demolições do 5º Regimento de Forças Especiais "Joseph Gabcika" domina as técnicas de mergulho (circuito fechado) e de demolições subaquáticas. (Foto de Mário Pazický via autor) [5]

O sargento sapador/demolições do 5º Regimento de Forças Especiais "Joseph Gabcika" domina as técnicas de mergulho (circuito fechado) e de demolições subaquáticas. (Foto de Mário Pazický via autor)

Curiosamente, o militar como o mais elevado nível de aptidão dos Destacamentos de Reconhecimento Especial é o sargento sapador/demolições. Esta prática herdada do período de influência soviética, ainda se mantém em vigor, pois a destruição de “objectivos-chaves”, após pormenorizado relatório submetido ao escalão da qual depende a unidade, continua a orientar a sua doutrina operacional; em súmula, deve ser evitado o combate a todo o custo.

O sargento sapador/demolições recebe treino de mergulhador de combate (circuito fechado) e domina as técnicas de demolição subaquáticas (demolições de pontes e sabotagem de barragens). Esta instrução muito peculiar é inicialmente ministrada nas instalações da Arma de Engenharia do Exército eslovaco acantonadas na cidade de Banská Bystrica.

A COMPANHIA DE APOIO LOGÍSTICO ESPECIAL dispõe do Grupo de Atiradores de Elite (snipers), do Grupo de Mergulhadores de Combate e do Grupo de Mísseis Anti-Carro.

O 5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAS “JOSEPH GABCIK” é uma unidade especial de reconhecimento profundo, apta (também) a desenvolver acções de luta antiterrorista.

O combate anti-terrorista é treinado com regularidade e a unidade recebe armamento e equipamento modernos com prioridade. (Foto de Mário Pazický via autor) [6]

O combate anti-terrorista é treinado com regularidade e a unidade recebe armamento e equipamento modernos com prioridade. (Foto de Mário Pazický via autor)

Tem como missão principal conduzir acções de:

– reconhecimento profundo em qualquer tipo de terreno (reconhecimento anfíbio inclusive);

– reconhecimento de longo raio de acção em alta montanha;

– destruição das linhas de abastecimento na retaguarda das forças hostis;

raids em terrenos de difícil acesso;

– resgate e protecção de altas individualidades;

– reconhecimento e destruição de objectivos considerados remuneráveis pelo Alto Escalão das Forças Armadas;

– acções de luta antiterrorista em estreita cooperação com unidades especiais da polícia eslovaca;

Esta unidade tem ainda capacidade para desenvolver acções conjuntas com outras unidades de combate regulares das Forças Armadas eslovacas em situações consideradas especiais(3).

gabcik [7]

SARGENTO PÁRA-QUEDISTA

JOSEPH GABCIK:

alguns traços biográficos(*)

Nascido em Poluvsie/Eslováquia (8 de Abril de 1912), este sargento pára-quedista eslovaco esteve envolvido na famosa Operação «ANTROPOID», cujo objectivo era atentar contra a vida do “Reichsprotektor” da Boémia e Morávia, REINHARDT TRISTAN EUGEN HEYDRICH, oficial-general das temíveis SS e da Polícia, Chefe dos Serviços Secretos e terceira figura no aparelho de estado nazi.

Em 1940 ingressa na Legião Estrangeira, de onde se transfere para a Grã-Bretanha. Em “terras de Sua Majestade” é recrutado e treinado pelo SOE (SPECIAL OPERATIONS EXECUTIVE) para missões especiais de espionagem e sabotagem na retaguarda das linhas inimigas.

Infiltrado por pára-quedas (28 de Dezembro de 1941) nas proximidades da cidade de Praga, estabelece contacto com os movimentos da Resistência clandestina checa, planeia e, posteriormente, participa no atentado em 27 de Maio de 1942.

No decorrer da acção, uma emboscada cuidadosamente preparada entre as ruas Kirchmayer e V Holesóvickach, a pistola-metralhadora de GABCIK encrava. É nesse momento que o seu camarada JAN KUBIS que também participa na acção, lança uma granada-de-mão contra a viatura oficial de Heydrich. Ferido mortalmente (morreu dias depois no hospital em 4 de Junho de 1942), os dois militares empreendem a retirada e procuram refúgio numa igreja ortodoxa da capital checa, enquanto os funcionários do Protectorado e todo o aparelho repressivo nazi desencadeia uma busca minuciosa e intensa. Perante a ausência de informações sobre o paradeiro destes dois resistentes, e em represália, as aldeias de Lídice e Lezháky são dizimadas.

A troco de uma recompensa financeira são traídos por um desertor da resistência checa (Petr Curda) e localizados no interior da Igreja Ortodoxa de São Cirilo e São Metódio.

Refugiado na cripta da igreja o sargento JOSEPH GABCIK e seus companheiros, resistem às primeiras investidas dos soldados das Waffen SS.

Quando, ao fim de seis horas de resistência tenaz verificou que não poderia resistir ao assalto das unidades das Waffen SS, o sargento JOSEPH GABCIK e os seus companheiros suicidaram-se.

A cripta da Igreja Ortodoxa de São Cirilo e São Metódio onde se desenrolou esta acção de resistência contra o regime nazi é hoje um lugar venerado, e os homens que deram as suas vidas, heróis recordados com sentimento e saudade.

JOSEPH GABCIK faleceu em 18 de Junho de 1942.

(*) Biografia sumária elaborada pelo autor.

NOTAS:

(*) Com excepção dos distintivos que são da colecção do autor, todas as fotos ilustrativas deste artigo foram cedidas pelo Comando do 5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAIS “JOSEPH GABCIK”, e são da autoria de Mário Pažický .

(*) O autor agradece ao Coronel pára-quedista Lubomir Sebo, Comandante do 5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAIS “JOSEPH GABCIK”, e muito especialmente ao Sargento MARTIN BOHACIK , toda a atenção prestada, bem como a cedência e envio de todo o material fotográfico.

(*) Por dificuldades inerentes à tradução literal das designações das várias especialidades militares, optou-se por adoptar as designações que normalmente são usadas nos países membros da OTAN, de modo a ser entendidas por um público mais vasto.

(1) JOSEF GABCIK, um sargento pára-quedista eslovaco, nascido na aldeia de Poluvsie em 8/4/1912 e que no decorrer da 2ª Guerra Mundial teve acção destacada na Operação com o nome de código «ANTROPOID».

(2) O Coronel pára-quedista Lubomir Sebo, actual comandante do 5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAS “JOSEPH GABCIK”, assumiu o comando da unidade em Fevereiro de 2001 com o posto de Tenente-Coronel.

(3) O 5º REGIMENTO DE FORÇAS ESPECIAS “JOSEPH GABCIK” mantém uma forte cooperação técnica e operacional com as unidades especiais da Polícia eslovaca. Destaque para a unidade anti-terrorista Útvar osobitného určenia.

2ª Parte [8]