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«A CORVETA PORTUGUESA DOS ANOS 70»

Um livro a ler e com muitas lições a reter [1]

Um livro a ler e com muitas lições a reter

Autor: Contra-Almirante Rogério S. D’Oliveira
Editora: Comissão Cultural de Marinha/1999
ISBN: 972-8004-33-8

Numa altura em que os problemas à volta da conclusão dos primeiros Navios de Patrulha Oceânica (NPO) estão a originar enormes atrasos na sua entrega à Marinha, julgamos ser oportuno apresentar este livro. Sendo verdade que a História não se repete, também não o será menos que os decisores deveriam saber interpretá-la e assim se evitariam muitos contratempos e gastos.

Publicado já em 1999 o livro é um interessante e completo relato sobre a construção das corvetas das classes “João Coutinho” e “Baptista de Andrade”, entradas ao serviço entre 1970 e 1975. Dez navios novos aumentados ao efectivo da Marinha em 5 anos.
A parte essencial do livro resulta de uma conferência feita pelo autor que “…permite acompanhar, com precisão e detalhe, a génese do projecto das corvetas, a inflexão decisiva decorrente da revisão geral da base do contrato com o estaleiro alemão projectista, os contratos de construção subsequentes e algumas vicissitudes registadas durante as construções nos estaleiros Blohm+Voss (Alemanha) e Bazan (Espanha)…”, refere o Contra-Almirante Luis Joel Pascoal no prefácio da obra.
Portuguesa porquê? A explicação é dada por Rogério de Oliveira, logo na parte inicial da conferência:
“Se por obra nacional se entende não só a sua concepção e o seu plano mas também o trabalho da sua materialização, então tem de se afirmar, em rigor da verdade, que a obra de construção das corvetas não foi 100% portuguesa. Infelizmente, apenas por imperativo do «timing» de defesa nacional e de limitações financeiras, o projecto não pôde ser executado em estaleiros nacionais.
Foi assim nacional i.e. realizado por engenheiros portugueses – e nesta categoria incluo os oficiais especializados em sectores técnicos – a filosofia da unidade, a concepção, o projecto básico, a direcção da pormenorização do projecto, a fiscalização da elaboração dos planos de fabricação, a fiscalização da execução da obra, a recepção e comissionamento dos navios; e implícito nestas tarefas o seu planeamento e organização. Apenas a execução da obra foi estrangeira, mas este facto não retira o cunho da sua nacionalidade, uma vez que a responsabilidade pelos resultados pertence por inteiro à Marinha.

O livro inclui uma nota introdutória, fotografias, desenhos, brasões dos navios das duas classes, o texto da citada conferência proferida a 15 de Outubro de 1986 pelo autor por ocasião das Jornadas de Ouro da Ordem dos Engenheiros, e ainda os seguintes anexos:
A. Preâmbulo do Projecto; B. Especificação Básica (Outline Specification»); C. Plano de arranjo geral original (Fl.1); D. Plano de arranjo geral original (Fl.2);
E. Plano de arranjo geral final (Fl.1); F. Plano de arranjo geral final (Fl.2); G. Plano de arranjo geral final (Fl.3); H. Selecção do sistema de combate (2ª série de corvetas). Extracto do estudo de análise de custo/benefício; I. Lista de participantes; J. Oficiais que colaboraram na recepção e organização dos navios.
Conta o auto que por volta de 1961, estando a Marinha envolvida na construção das fragatas “Almirante Pereira da Silva”, foi decidido construir novos navios, mais pequenos e adaptados ao emprego no Ultramar.
O percurso não foi, ontem como hoje, fácil nem isento de contratempos.
“Não foi preciso passarem muitos meses para se perceber que o processo era lento e sujeito a contingências… …Não que a firma projectista (o estaleiro alemão HC. Stulken & Sohn) não fosse competente, pelo contrário. Mas porque interpretar requisitos e ajustar objectivos a recursos, em soluções de optimização, num projecto em que a conciliação e o compromisso eram, mais do que em qualquer outro, a regra, requeria da parte do projectista um conhecimento exacto e integral e uma vivencia das condições tácticas e logísticas em que se desenvolveriam as missões dos navios.”
O realismo contudo prevaleceu e o programa que tão necessário era para colmatar debilidades da nossa Marinha ganhou velocidade.
“Na génese do programa das corvetas esteve sempre no propósito da Marinha construírem-se os navios em estaleiros nacionais, designadamente naqueles que haviam ganhado prática de construção naval militar no programa das fragatas da classe «Almirante Pereira da Silva».
A experiência destas construções tinha evidenciado que a capacidade de produzirem navios dentro de prazos úteis e preços razoáveis era duvidosa. Não podendo a Defesa Nacional compadecer-se com demoras e custos indefinidos e com o intuito de estimular os estaleiros nacionais o governo decidiu abrir um concurso limitado de âmbito internacional, tendo sido consultados os seguintes estaleiros:
Nacionais: LISNAVE; Estaleiros Navais de Viana do Castelo; Estaleiros Navais do Mondego.
Estrangeiros: Blohm+Voss (Alemanha); Chantiers de Bretagne (França); Empresa Nacional Bazan (Espanha)…
…As negociações com os potenciais adjudicatários foram complexas, para se obter a maior economia tanto no preço como nos encargos financeiros… …(a decisão foi) construir os navios em dois estaleiros de países diferentes, para se obter as vantagens do elevado nível técnico de estaleiro-guia, o estaleiro Blohm+Voss, e do baixo custo de produção do estaleiro da E.N. Bazan…
Para esta 1ª série de corvetas o contrato foi assinado em 1968 e os 6 navios entregues entre Maço de 1970 e Junho de 1971.
Seguiu-se uma 2ª série, construída em Espanha com o contrato assinado em Junho de 1971 e as entregas (4) efectuadas entre Novembro de 1974 e Outubro de 1975.
Um livro a ler e com muitas lições a reter

A obra inclui um caderno com fotos de alguns dos navios das duas classes [2]

A obra inclui um caderno com fotos de alguns dos navios das duas classes

perfim-a-traco-corveta [3]

As Marinhas de França e de Espanha inspiraram-se na "Corveta Portuguesa" para os seus "Avisos A69" (versões "A70-1" e A70-2") e corvetas da classe "Descubierta",respectivamente.