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UMA MANHÃ NO “VIANA DO CASTELO” (II)

Uma primeira visita ao navio surpreende pela positiva. Desde logo porque é novo, todo ele está impecável; depois porque incorpora muita tecnologia moderna adaptada a este tipo de plataforma; por ser inevitável a comparação com as corvetas que vem substituir, nas quais tivemos em tempos oportunidade de navegar; e finalmente por ser um navio de concepção e construção Nacional. Mesmo que tenha incorporados muitos equipamentos importados – para os quais não temos produção nacional – tal facto não desmerece, é um navio português.

O Comandante do "Viana do Castelo", Capitão-de-fragata Pires Correia na ponte, apresentando o sistema de comando e controlo do navio. [1]

O Comandante do "Viana do Castelo", Capitão-de-fragata César Pires Correia na ponte, apresentando o sistema de comando e controlo do navio.

De igual modo as Corvetas das classes “João Coutinho” e Baptista de Andrade” que nos próximos anos, com a entrada ao serviço dos Patrulhas Oceânicos, serão retiradas de serviço nos devem orgulhar. Tendo cumprido a sua missão durante 4 décadas – ver “A Corveta Portuguesa dos Anos 70 – estão agora mais do estafadas e a necessitar de substituição.
Certamente nem tudo é o ideal nestes Patrulhas Oceânicos e tratando-se de uma nova plataforma, mesmo no período em que o navio se encontra, a fazer o PTS (Plano de Treino de Segurança), ainda haverá algum ajustamento de detalhes com os ENVC que contribuirão para a melhoria deste navio. É um processo normal que está em curso.
No decurso deste PTS a guarnição está a integrar-se no navio. Tudo é novo e é de um novo tipo, há muita coisa a consolidar e a aferir bem muitos procedimentos a ter com os sistemas de bordo.

O “Viana do Castelo” (VC) foi concebido para aquilo que vai fazer, para actuar no nosso mar entre o Continente e os Arquipélagos em missões de interesse público e algumas, poucas, missões “de guerra”, designadas pela Marinha por “operacionais”: lançamento de minas defensivas, transporte de forças militares de vários tipos, desde mergulhadores a operações especiais, passando por fuzileiros – ver no quadro síntese em baixo – ou de um modo mais geral em operações de baixa intensidade. Na realidade não dispõe de sensores nem armamento que lhe permita estar empenhado em operações navais convencionais. Aqui o conceito foi outro do das Corvetas, tornando-o mais barato e adaptado ao que realmente vai fazer.

O sistema de comando e controlo e o elevado grau de automação no navio permitem ao navio operar com uma guarnição com metade dos efectivos de uma Corveta. [2]

O sistema de comando e controlo e o elevado grau de automação no navio permitem ao navio operar com uma guarnição com metade dos efectivos de uma Corveta.

O Tenente Rui Franco, oficial de navegação, estava a preparar o empenhamento no desfile naval do Dia da Marinha e Setúbal. [3]

O Tenente Rui Franco, oficial de navegação, estava a preparar o empenhamento no desfile naval do Dia da Marinha e Setúbal.

O Cabo Jorge Santos, no Gabinete do Sargento de Dia, está a operar uma das consolas que replica o sistema da ponte. [4]

O Cabo Jorge Santos, no Gabinete do Sargento de Dia, está a operar uma das consolas que replica o sistema da ponte.

Todo o tipo de lixo e residuos produzidos a bordo tem tratamento adequado. Aqui o interior da "casa tratamento de lixos". [5]

Todo o tipo de lixo e resíduos produzidos a bordo tem tratamento adequado. Aqui o interior da "casa tratamento de lixos".

Salta à vista em qualquer espaço do navio a abundância de equipamento eléctrico. A automação a isso obriga. A atenção a possiveis incêndis a bordo à extrema. À esquerda uma das "máscaras de fuga" que estão colocadas um pouco por todo o lado. [6]

Salta à vista em qualquer espaço do navio a abundância de equipamento eléctrico. A automação a isso obriga. A atenção a possíveis incêndios a bordo à extrema. À esquerda uma das "máscaras de fuga" que estão colocadas um pouco por todo o lado.

Refere-nos o Capitão-de-fragata César Pires Correia, Comandante do “Viana do Castelo” desde 30 de Março de 2011, “tem uma autonomia de 5.000 milhas náuticas navegando a 15 nós e em caso de necessidade pode manter-se no mar por um período de 30 dias para os quais tem reservas de alimentação e água potável“. Para se ter uma noção do que é esta autonomia, note-se que o Funchal está a 500 milhas de Lisboa e Ponta Delgada a 1.000. Outro aspecto importante na autonomia, continua Pires Monteiro, “são as boas condições de vida a bordo e que mais importantes ainda neste navio que tem uma guarnição reduzida, devido à grande quantidade de sistemas automáticos de que dispõe“.
Já na ponte do navio, atracados no cais 3 do Alfeite, frente à “D. Francisco de Almeida” e à “Corte Real” diz-nos “este Sistema de Comando e Controlo da plataforma confere-lhe uma grande automação, permite comandar e monitorizar todos os sistemas do navio, da propulsão à temperatura, da ventilação ao abastecimento de energia, e praticamente tudo o que se passa a bordo. Este sistema pode ser operado, por sectores, também a partir de monitores instalados em vários locais do navio como veremos e temos sistemas redundantes. Ou seja se houver algum problema, alguma emergência, podemos fazer os procedimentos de modo manual“.

Na ponte, seis pessoas controlam o VC: oficial de quarto; sargento de quarto; marinheiro do leme; vigia; um sargento e uma praça nas consolas do sistema de gestão. O comando do navio pode fazer-se também na “asa da ponte” (do lado de fora da ponte, ao ar livre), dispondo para isso neste local de um impulsor de proa, especialmente útil nas entradas e saídas de portos “apertados”, como nos Açores, entre outros. Ainda na ponte encontra-se a área de navegação onde, apesar das cartas electrónicas se trabalha em paralelo “em papel”. Também na ponte, entre outros equipamentos, um se destaca, o quadro geral onde é possível visualizar esquematicamente todo o navio e dali comandar, por exemplo, o combate a um incêndio a bordo. Esta área é aliás de uma enorme preocupação a bordo e todo o navio está dotado de sensores e equipamentos dedicados à sua imediata detecção e combate. E o caso não é para menos! Salta à vista que a quantidade de material eléctrico a bordo é enorme, o que naturalmente se justifica pela grande automação de que dispõe.

De um modo geral todos os sistemas do navio que estão aotomatizados e comandados da ponte, podem no entanto ser operados manualmente no local. Aqui mais um caso. [7]

De um modo geral todos os sistemas do navio que estão automatizados e comandados da ponte, podem no entanto ser operados manualmente no local. Aqui mais um caso, o comando eléctrico e a alavanca para comando manual.

Parte do porão multiusos que fica por baixo da Tolda. [8]

Parte do porão multiusos que fica por baixo da Tolda. Além de carga pode ser preparado para levar beliches e acomodar pessoal.

O Segundo-Marinheiro Armando Barros a trabalhar na Casa do Leme. Note-se nas suas costas a "roda do leme" (em metal) que, também aqui, permite operar o leme em caso de falha da automação. [9]

O Segundo-Marinheiro Armando Barros a trabalhar na Casa da Máquina do Leme. Note-se nas suas costas a "roda do leme" (em metal) que, também aqui, permite operar o leme em caso de falha da automação.

O Cabo Telmo Pires verifica os niveis de combustiveis num motinor que replica outro que está na ponte. [10]

O Cabo Telmo Pires verifica elementos relativos aos combustíveis num monitor que replica outro que está na ponte.

A casa das máquinas, com os dois motores diesel bem visiveis. [11]

A casa das máquinas com os dois motores diesel WÄRTSILÄ W26 de 3.900 kW cada um.

O monitor do sistema de comando e controlo que nos mostra os dois motores diesel, os dois eléctricos e os helices. [12]

O monitor do sistema de comando e controlo que nos mostra o sistema de propulsão com os dois motores diesel, os dois eléctricos e os hélices.

O VC é bem maior do que parece, dispõe de 5 pisos em altura, e tem uma capacidade de carga apreciável, podendo transportar contentores de diversas dimensões (ou mesmo uma câmara hiperbárica) quer junto ao convés de voo quer no porão multiusos. Com a grua lateral e um aparelho de força que se move num mono-carril, podem ser colocadas cargas quer na Tolda quer no referido porão. Tem capacidade para operar um helicóptero como o Lynx da Esquadrilha de Helicópteros da Marinha ou outro até 5.400Kg, o que naturalmente lhe confere capacidades acrescidas para diversos tipos de missões como por exemplo o combate ao tráfico de droga ou à imigração ilegal, missões de fiscalização ou salvamentos. De realçar que o Lynx não opera nas Corvetas nem nas antigas fragatas “João Belo”.
Pires Correia refere-nos que “uma das principais ferramentas do Viana do Castelo para as missões de fiscalização são estes 2 semi-rigidos, o de 15 pessoas, que pode ser lançado à água quase instantaneamente pelo sistema «Turco». Atinge os 31 nós, tem motor a gasóleo que funciona por jacto de água, GPS e comunicações VHF. O outro, de 9 pessoas, demora um pouco mais a ser colocado na água por uma grua – que também serve para carregar cargas a bordo – mas é mais rápido.
Embora não esteja previsto de momento entre nós, é sabido que vários países equipam este tipo de embarcações com armamento como metralhadoras ou mesmo lança-granadas automáticos.
Sinal dos tempos, outra área que ocupa espaço e custou dinheiro, reporta-se ao tratamento de resíduos, seja ele o simples lixo doméstico seja o lixo biológico para o qual até há um paiol frigorífico, sejam as águas residuais, para as quais há uma estação de tratamento a bordo. O VC cumpre todas os requisitos da legislação nacional e internacional sobre estes aspectos, relativos à não poluição do meio ambiente.

Esta visita que a Marinha proporcionou ao “Operacional” percorreu o navio de ponta a ponta. Talvez seja fastidioso descrevê-la em maior detalhe. Esperamos que as fotografias e legendas ilustrem o que aqui falta em texto.

O Grupo de Osmose Inversa que transforma água salgada em água potável a uma média de 8 a 10 toneladas por dia. [13]

O Grupo de Osmose Inversa que transforma água salgada em água potável a uma média de 8 a 10 toneladas por dia.

O nível de segurança em determinados paiois é garantido por sistemas de fechadura com segredo. [14]

O nível de segurança em determinados paióis é garantido por sistemas de fechadura com segredo.

A fibra óptica é utilizada nos sistemas informáticos a bordo. [15]

A fibra óptica é utilizada nos sistemas informáticos a bordo.

A enfermaria do navio que em condiçoes normais é operada apenas por um enfermeiro. [16]

A enfermaria do navio que em condições normais é operada apenas por um Sargento Enfermeiro.

No dia da visita, o almoço era uma feijoada de belissimo aspecto! [17]

No dia da visita, o almoço era uma feijoada de belíssimo aspecto!

O refeitório das Praças. [18]

O refeitório das Praças.

O Comandante Pires Correia, 41 anos de idade, 24 de serviço, assumiu este comando do NRP “Viana do Castelo” em 30 de Março de 2011, na sequência de uma carreira com muito tempo de embarque. Começou no NRP “Zaire” por duas vezes, uma das quais como Imediato e no NRP “Limpopo”. Foi comandante do NRP “Argos”, depois do “NRP “Hidra” e mais tarde do NRP “Zambeze”. Embarcou ainda no NRP “Comandante Hermenegildo Capelo” como Chefe do Serviço de Armas Submarinas e foi Imediato do NRP “Comandante João Belo”. Antes de assumir o actual comando esteve colocado na “Missão de Acompanhamento e Fiscalização dos Navios Patrulha Oceânicos”. Conhece com ninguém o “Viana do Castelo”, confia na guarnição que sabe ser reduzida o que não tem só vantagens, acredita nas potencialidades do navio e na suas capacidades. “Ainda há muito trabalho a fazer mas estou confiante que, o mais tardar, em Setembro todos estejamos prontos a iniciar o PTO (Plano de Treino Operacional) e a cumprir missões seja no Continente, Açores ou Madeira.

O NRP “VIANA do CASTELO” em síntese
Indicativo de chamada visual (número de amura): P360;
Indicativo de chamada internacional: CTPA;
Indicativo de chamada radiotelefónico e endereço radiotelegráfico: PAVIANA;
(Portaria n.º 47/2011 de 30 de Dezembro de 2010; Diário da República, 2.ª série; 10 de Janeiro de 2011)

Características Principais (*)
Deslocamento carregado: 1.870 toneladas;
Dimensões: 83,1 x 12,9 x 3,8 metros.
– Velocidade máxima:
• Motores a diesel – 21 nós (39 km/h);
• Motores eléctricos – 8 nós (8 km/k).
– Propulsão:
• 2 motores diesel WÄRTSILÄ W26 de 3.900 kW cada um;
• 2 motores eléctricos MAGNETTI MARELLI de 600 kW cada um;
• 2 hélices de passo variável LIPS.
– Energia: 4 motores electrogéneos VOLVO PENTA TAMD165A de 362 kW.
– Combustível: 250 toneladas.
– Autonomia: 5.000 milhas em 14 dias a 15 nós.
– Guarnição:
• Oficiais – 5 (Sob o comando de um oficial superior);
• Sargentos – 8;
• Praças – 25;
• Total – 38.
– Alojamento adicional:
• Oficiais – 4;
• Sargentos – 4;
• Praças – 21;
• Total – 29.
– Água doce: 50 toneladas, capacidade de produção de 8m³/dia.
– Convés na popa para 1 helicóptero (Lynx ou semelhante).

Equipamentos Principais (*)
– Sistemas de comando e controlo.
– Sistema de carta electrónica ECDIS.
– Sistema integrador de informação (EDISOFT).
– Sistema integrado de gestão de plataforma (ROLLS ROYCE).
– Sistema integrado de navegação (KELVIN HUGHES).
– Sistema integrado administrativo-logístico.
– Serviços de rede diversos (Telemedicina).
– Sistema integrado de comunicações (EID): MF/HF/VHF/UHF, ETO, INMARSAT B.
– 2 Radares de navegação KELVIN HUGHES 1007, banda I / F (37 Km de alcance).
– Multisensor electro-óptico SAGEM VIGY 10 Mk3, para detecção, gravação e registo de imagens.
– Serviços básicos de rede (correio electrónico, Web, directoria e escritório electrónico).
– Serviços de segurança da informação.
– Sistema de Informação da Configuração e Apoio Logístico aos Navios (SICALN).
– Web Information Services Environment (WISE).
– Radiodifusão da RMP (Recognized Maritime Picture Broadcast).
– Acesso à Intranet da Marinha (WAN_Marinha).
– Equipamentos GMDSS.
– Terminal SIFICAP.
– Sistema de tratamento de resíduos.
– Sistema de separação de lixos.
– Sistema de separação de águas oleosas.
– Sistema de detecção de incêndio e de alagamento.
– 1 Propulsor transversal de manobra à proa JASTRAM com 250 Kw.
– Grua e Turco SCHAT HARDING de 4 toneladas.
– 3 Canhões de água.
– Duas embarcações semi-rígidas DELTA, uma de 8,5m e outro de 6,8m.
– 2 Botes pneumáticos ZEBRO III.
– 6 Balsas salva-vidas.

(*) Fonte: comando do NRP “Viana do Castelo”

Alojamento das Praças. O espaço é pouco, como sempre a bordo, mas as condições estão longe das cobertas das antigas Corvetas. [19]

Alojamento das Praças. O espaço é pouco, como sempre a bordo, mas as condições estão longe das cobertas das antigas Corvetas.

A Câmara de Sargentos. [20]

A Câmara de Sargentos.

A Câmara de Oficiais [21]

A Câmara de Oficiais

Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo têm aqui a sua "marca". Interessante para Portugal seria que outras marinhas se juntassem à nossa e que o projecto NPO não "morra" com o último navio desta encomenda. [22]

Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo têm aqui a sua marca. Interessante para Portugal seria que outras marinhas se juntassem à nossa e que o projecto NPO não morra com o último navio desta encomenda.

O Estandarte Nacional do NRP "Viana do Castelo", junto das fotos do Chefe do Estado-maior da Armada e do Comandante Naval, como mandam os regulamentos. [23]

O Estandarte Nacional do NRP "Viana do Castelo", junto das fotos do Chefe do Estado-Maior da Armada e do Comandante Naval.

Veja a 1.ª parte desta reportagem a bordo do “Viana do Castelo” aqui: UMA MANHÃ NO “VIANA DO CASTELO” (I) [24]