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REPORTAGEM “RENASCIDO EM COMBATE” – AFEGANISTÃO

O programa “Linha da Frente” da Radio Televisão Portuguesa, emitiu Sábado, 11 de Julho de 2015, uma excelente reportagem, “RENASCIDO EM COMBATE”, que tem como protagonista principal o Cabo-Adjunto Comando Horácio Mourão, gravemente ferido no Afeganistão em 2005 e a sua recuperação física e psicológica. Este trabalho levanta no entanto outras questões, algumas expressamente outras subentendidas, que merecem ser referidas.

A extraordinária história da recuperação física e psicológica do Cabo-Adjunto Horácio Mourão. [1]

A extraordinária história da recuperação física e psicológica do Cabo-Adjunto Horácio Mourão, e em paralelo questões relativas ao ataque de Novembro de 2005 nos arredores de Cabul,  são o objecto principal desta reportagem.

A reportagem

Na realidade “Renascido em Combate”, não é só uma história humana, muito sensível, mesmo impressionante, faceta certamente mais notada pela generalidade dos espectadores. Tem por principal protagonista, Horácio Mourão, um exemplo de vontade férrea, persistente no tempo na ultrapassagem das suas limitações resultantes de um acto de serviço numa situação de guerra; é também um trabalho jornalístico que tenta ir, 10 anos depois, à procura de alguns aspectos de uma operação militar que causou um morto e vários feridos, cuja evacuação correu mal. Adiante voltaremos a esta outra faceta da reportagem.

“RENASCIDO EM COMBATE” [2], são 33 minutos nos quais vários militares comandos sobreviventes ao ataque a uma patrulha da 2.º Companhia de Comandos em 18 de Novembro de 2005, nos arredores de Cabul, descrevem em detalhe aquilo porque passaram. Também a família da vítima mortal desse momento, o Primeiro-Sargento Comando Roma Pereira, intervém na reportagem. A notável recuperação e o esforço pessoal de Horácio Mourão, é sem dúvida alguma impressionante e alicerçado, mais do que em qualquer outro factor, na sua força de vontade e, nas suas palavras “…sou capaz de fazer tudo, se há coisa que aprendi nos Comandos, foi querer.”

Sobre o que se passou ficamos com uma boa imagem de uma situação de guerra em que uma coluna portuguesa é atacada com um engenho explosivo, comandado à distância. Foram entrevistados militares envolvidos, feridos ou não, os quais explicam com grande detalhe o sucedido, mostrando com clareza pelas suas palavras, os duros momentos porque passaram.

Bem sabemos que da montagem das declarações dos intervenientes podem surgir por vezes interpretações dúbias, omissões, mas na reportagem estes levantam dúvidas relativas aos procedimentos na evacuação dos feridos, incluindo o próprio comandante actual do Centro de Tropas Comandos, à data responsável pelo Contingente dos Comandos no Afeganistão.

Ficam ainda no ar, sem resposta, certezas familiares sobre os resultados da participação portuguesa neste conflito – onde ainda estamos com um pequeno destacamento – e um leve afloramento da dificuldade inserção dos antigos militares contratados na vida civil. Este trabalho mostra ainda algo muito pouco falado, os feridos nestas novas missões. Dos mortos ainda há referência [3], agora dos feridos, alguém sabe quantos foram?

Cobertura mediática das operações

Esta reportagem contraria uma tendência sobre as novas campanhas das Forças Armadas Portuguesas, designadas oficialmente por “Missões de Paz e Humanitárias”, que teimam em estar ausentes do grande público. Seja por dificuldades criadas pelos militares seja por desinteresse das empresas e comunicação social, mas é um facto. Muitos militares portugueses, nomeadamente no Afeganistão, estiveram em situações de guerra, e a política de informação pública oficial é invariavelmente desdramatizar senão mesmo esconder. O Afeganistão foi aliás pródigo nestes procedimentos como bem sabem os militares que lá estiveram. Mas não estamos apenas a falar do passado, o exemplo mais recente é aliás o da actual missão no Iraque, sobre a qual não transparece “uma linha” na generalidade dos órgãos de comunicação social, nomeadamente os de maior impacto, a televisão.

Deverá ser necessário recuar 20 anos (!!), quando 2 militares faleceram em Sarajevo vítimas de uma explosão acidental, com forte presença de jornalistas portugueses no terreno, para se ter tentado em termos jornalísticos, ir tão ao fundo no que se terá passado num incidente com forças portuguesas em operações. Mesmo com outros mortos, quer na Bósnia quer em Timor-Leste ou Afeganistão, nunca se foi à procura de detalhes dos factos, deu-se sempre importância aos aspectos emocionais, aos funerais e reacções familiares. Houve sempre um certo pudor, em, a quente, andar a procurar erros, falhas, lacunas.

Da autoria de Armando Seixas Ferreira, António Antunes, Samuel Freire, Tó Vasconcelos, Rita Rodrigues, Cristina Rodrigues e coordenação de Mafalda Gameiro, “RENASCIDO EM COMBATE” é assim um trabalho interessante pelas diferentes facetas do acontecimento em si, mas também pelo inédito de procurar esclarecer algumas questões que aliás ficam parcialmente sem reposta. Faltaram alguns dados, que desconhecemos terem ou não sido pedidos, como relatórios oficiais da altura, recomendações, lacunas de material, lições aprendidas, etc. E, também, do nosso ponto de vista, uma posição oficial – desconhecemos se terá sido dada mas não foi inserida na reportagem – sobre o que se passou e sobre a justificação para a nossa participação no Afeganistão.

Está de parabéns a RTP por ter transmitido “RENASCIDO EM COMBATE”, mostrando ao grande público uma faceta do trabalho dos militares portugueses que deve ser divulgada e a extraordinária história de vida do Cabo-Adjunto Comando Horácio Mourão.

 Veja aqui a reportagem “RENASCIDO EM COMBATE” [2]