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O QUE PARECE É?

Azeredo Lopes, um general da comunicação, está a ganhar a guerra da informação, o Exército passa por ser incompetente, mal comandado nos baixos escalões, mas bem dirigido no topo da hierarquia.

Passa-se para a opinião pública a ideia de exclusiva incompetência do Exército nos seus baixos escalões e que o planeamento e as condições criadas ao cumprimento da missão de segurança, no fundo as componentes “estado-maior” e “direção política”, essas cumpriram sem mácula as suas obrigações. Será assim?

As palavras ditas e as que são atribuídas ao chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) criam na opinião pública a perceção de ausência de responsabilidade política da tutela no caso do assalto aos paióis. Quisesse ou não dizer isso, fica a ideia de que aconteceu por exclusiva incompetência do Exército, em concreto, ao nível “do terreno” nos seus baixos escalões.

Quer no caso da exoneração dos cinco comandantes de unidade quer no caso da audiência à porta fechada (?) na Assembleia da República, a incapacidade do Exército para guardar material de guerra, uma realidade, foi vista como responsabilidade exclusivamente militar. No primeiro caso, o CEME passou mensagem pública sobre qual o escalão da incompetência – as unidades que forneciam a segurança -, ainda que depois fossem dadas explicações contrárias à ideia inicial que passou e que nunca mais descolará. Perante os deputados terá ilibado a sua tutela política e estará agora mais consolidada ainda na opinião pública a ideia de que a execução falhou. O planeamento e as condições criadas ao cumprimento da missão da segurança, no fundo as componentes “estado-maior” e “direção política”, essas cumpriram sem mácula.

O CEME tem mais de 40 anos de serviço, conhece o ramo que comanda, desempenhou funções quer na área operacional, quer na instrução e ensino, quer no estado-maior e como oficial-general conheceu de perto todo o ramo pelas funções de coordenação e apoio à decisão que desempenhou, culminando antes de ser CEME com as funções de inspetor-geral, figura das que melhor conhece as limitações do Exército.

Anos e anos de desinvestimento nas Forças Armadas e no Exército em particular estarão para muitos, a partir de agora, branqueados – não me ocorre palavra diferente. Quer este quer os anteriores ministros da Defesa podem dormir descansados, afinal de contas cortes drásticos no orçamento e nos efetivos, desvalorizar a condição militar a nível legislativo, não estarão na origem de nada, tudo corria na maior normalidade.

Estamos perante um paradoxo bem português, os tais militares que no estrangeiro são os melhores do mundo, exatamente atuando em baixos escalões, por cá no mesmo patamar da execução, passam por ser, no mínimo, incompetentes. Tudo o que acima deles é decidido não tem nada que ver com isto?

Miguel Silva Machado

Este artigo escrito em 07JUL2017 foi publicado no “Diário de Notícias” em 09JUL2017: O que parece é? [1]