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O PRIMEIRO GUIÃO DAS TROPAS PARAQUEDISTAS PORTUGUESAS

Celebra-se este ano o 60º aniversário da criação do BATALHÃO DE CAÇADORES PARAQUEDISTAS (BCP), acontecimento que marca, oficialmente, o início do paraquedismo militar organizado em Portugal, instituído em 01 de janeiro de 1956 (Portaria Nº 15671 de 26DEZ55). No entanto o seu primeiro guião foi entregue antes, a 14 de agosto de 1955, pelo Presidente da República aos militares regressados do “Curso de Espanha”, sob o comando do Capitão Martins Videira.

O capitão Armindo Martins Videira, paraquedista militar português nº 1 e o primeiro comandante do BCP , recebe o Guião das mãos do Presidente da República, General Francisco Higino Craveiro Lopes. [1]

O capitão Armindo Martins Videira, paraquedista militar português nº 1 e o primeiro comandante do BCP , recebe o Guião das mãos do Presidente da República, General Francisco Higino Craveiro Lopes.

O ADN das TROPAS PARAQUEDISTAS PORTUGUESAS remonta ao ano de 1955, data do regresso a Portugal dos 192 militares (oficiais, sargentos e praças oriundos dos três ramos) que, na Base Aérea de Alcantarilla (Espanha) frequentaram, com aproveitamento, um curso de paraquedismo militar.

O primeiro salto é efetuado em 27 de maio, e o último a 9 de julho de 1955. Terminava assim, o chamado “Curso de Espanha” que permitiu o decisivo arranque do paraquedismo militar português. Segue-se um trabalho notável de oficiais, sargentos e praças que, juntos, souberam ultrapassar inúmeras e diversificadas vicissitudes. De todas, refere-se por especial interesse histórico, a questão tutelar: em que ramo deveria ser incorporada como unidade organizada? Responde o General Kaúlza Oliveira de Arriaga, oficial-general oriundo da arma de engenharia, e principal responsável pela criação e organização das TROPAS PARAQUEDISTAS PORTUGUESAS:

“…no Exército continuava, debalde, o debate sobre se deveria ou não criar-se uma (ou mais) unidades com caraterísticas especiais. Era o dilema das massas indiferenciadas e das elites apuradas.”

“…Mas o Ministro da Defesa Nacional acabou por fazer vigorar, através de um critério pragmático, a conceção da existência de um corpo de forças especiais – as TROPAS PARAQUEDISTAS – na Força Aérea. Critério fundamentado, em primeiro lugar, na indispensabilidade de forças especiais, dado ser impossível, por carência de matéria-prima humana e por falta de recursos financeiros, dar à totalidade dos efetivos uma preparação minimamente compatível com algumas importantes exigências da guerra moderna, fosse ela convencional, nuclear ou subversiva, acrescendo, no caso vertente, existirem missões que só as Tropas Paraquedistas podiam executar. Critério fundamentado em segundo lugar, na posição, ainda então solidamente vigente no Exército, ou mais precisamente nos seus Chefes, e não na Força Aérea, contra as forças especiais, o que aconselhava a colocação das Tropas Paraquedistas nesta Força Aérea, que as acarinhava, e não naquele Exército, onde estariam condenadas à dissolução precoce.”

Decidida a questão tutelar, a unidade especial então ativada, o BCP, transforma-se numa das mais avançadas para a época, tanto na sua organização, como no seu armamento, equipamento, uniformes, emblemática, cânticos e mística. Por tudo isto, as TROPAS PARAQUEDISTAS tornaram-se uma referência incontornável no seio das Forças Armadas, servindo ao longo destas seis décadas, sempre, com invulgar coragem, determinação e amor pátrio.

ENTREGA DO GUIÃO

14 de agosto de 1955: por ocasião de uma cerimónia militar, em Lisboa, alusiva ao «Dia da Infantaria», o Batalhão de Caçadores Paraquedistas (BCP) faz a sua apresentação à Nação. O capitão Armindo Martins Videira, paraquedista militar português nº 1 e o primeiro comandante da novel unidade, recebe das mãos do Presidente da República, General Francisco Higino Craveiro Lopes, o seu primeiro Guião. Orgulhosos e já com a sua bandeira distintiva integrada, o BCP desfila “…impressionante e espetacularmente, dando uma sensação invulgar de aprumo e atavio, de força e poder…” pela emblemática avenida da Liberdade, e sob o olhar atento de muitos milhares de portugueses que testemunharam esta solenidade.

Na "Rotunda" em Lisboa, junto ao Parque Eduardo VII, o BCP recebe o seu Guião. Dentro de minutos vão desfilar, e impressionar, criando uma excelente "primeira opinião" na assistência. [2]

Na “Rotunda” em Lisboa, junto ao Parque Eduardo VII, o BCP recebe o seu Guião. Dentro de minutos vão desfilar, e impressionar, criando uma excelente “primeira opinião” na assistência.

O GUIÃO DO BATALHÃO DE CAÇADORES PARAQUEDISTAS

Este modelo do primeiro guião das TROPAS PARAQUEDISTAS, apesar da sua simplicidade, univocidade e proporção, apresenta algumas curiosidades na sua realização plástica e no seu ordenamento que importa relevar. Usado oficialmente no período compreendido entre 14AGO55 e 19SET60, o primeiro guião tinha a seguinte constituição:

Fundo: de seda bordado (ou equivalente), quadrado, de 0,80 m de lado; em azul-Força Aérea; bordadura simples e cordões com borlas de ouro e azul.

Escudo: duas metralhadoras passadas em aspa, douradas, sobrepostas a um paraquedas aberto, em prata.

Divisa: QUE NUNCA POR VENCIDOS SE CONHEÇAM, inscrita num listel branco por baixo do escudo, à distância de 0,10 m, em letras negras.

Designação: BATALHÃO DE PARAQUEDISTAS, por cima do escudo, à distância de 0,10 m, em letras douradas.

Particularidades: ligação à haste por quatro alças (ou dentículos) de 0,08 m de altura; haste de madeira de 2,40 m de comprimento e 0,029 m de diâmetro.

Foto de réplica do Guião do BCP. [3]

Foto de réplica do Guião do BCP.

CURIOSIDADES

A primeira curiosidade que o guião apresenta, prende-se com a designação da unidade inscrita, pois omite o adjetivo “CAÇADORES”. Acresce, ainda, que a palavra PARAQUEDISTAS aparece escrita sem o hífen, tal como impunha a grafia da época.

Este primeiro guião das TROPAS PARAQUEDISTAS foi o único com fundo azul-Força Aérea, pois este ramo (foi o primeiro nas Forças Armadas a definir com precisão a sua vexilologia e heráldica) viria a regulamentar, pela primeira vez, o modelo e uso das suas bandeiras distintivas, através da Portaria Nº17950 de 20SET60. Assim, a partir desta data, os guiões a usar na Força Aérea ficaram totalmente definidos e regulamentado o seu uso.

REGULAMENTO HERÁLDICA DA FORÇA AÉREA

Apesar do guião já apresentar algumas caraterísticas que este novo diploma impunha a partir de 1960, o fundo para as unidades paraquedistas passou a ser em verde; igualmente a bordadura simples terminada em borlas foi, também, alterada e substituída por canutilhos prateados de 0,035 m. Por tudo isto, o BCP ainda veio a conhecer um novo guião (20SET60), desta feita já confecionado conforme as novas regras.

Este regulamento vigorou, com pequenas alterações nas dimensões estipuladas, até 1978, ano em que foi introduzido, um novo Regulamento de Heráldica da Força Aérea (provisório). Em 1985 é publicada a versão definitiva através da Portaria Nº309 de 25MAI85.

TOQUE DE CLARIM DO BCP

Embora fora do âmbito geral da heráldica, e para encerrar este pequeno apontamento, é ainda justo recordar mais um sinal distintivo que a Força Aérea emprestou às TROPAS PARAQUEDISTAS e à sua nova unidade especial. Trata-se do toque de clarim adotado, em 1957, como sinal do BATALHÃO DE CAÇADORES PARAQUEDISTAS (BCP), por força da Determinação Nº5/SEA/57 publicada na O.A. Nº6 – 1ª Série, de 31OUT57.

O "Toque de Clarim" identificativo do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas. [4]

O “Toque de Clarim” identificativo do Batalhão de Caçadores Paraquedistas.

António Sucena do Carmo, 4 de março de 2016

 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

– MACHADO, Miguel A. Gabriel da Silva; CARMO António E. Sucena TROPAS PARAQUEDISTAS PORTUGUESAS 1956-1993, Edição dos autores, Lisboa, 1993, ISBN  972-95847-0-2.

– MACHADO, Miguel A. Gabriel da Silva; CARMO António E. Sucena TROPAS PARAQUEDISTAS – A História dos Boinas Verdes Portugueses 1955-2003, Prefácio Edição de Livros e Revistas, Lda., Lisboa, 2003, ISBN  972-8563-97-3.

– História das Tropas Paraquedistas Portuguesas – BCP, Volume I, Edição do Comando das Tropas Aerotransportadas/CTAT, Tancos, 1993.

– Fotos Arquivo Miguel Machado & António Carmo.