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MAFRA: «AO VALOR DO INFANTE», MAIS DO QUE PEDRA E BRONZE!

A decisão de empurrar o monumento “Ao Valor do Infante”, em Mafra, para o Jardim da Alameda, afastando-o do lugar destacado e nobre que ocupava, parece ser cada vez menos uma necessidade imposta pela requalificação da Zona Envolvente do Convento de Mafra e mais uma decisão politiqueira.

Ao Valor do Infante, [1]

“Ao Valor do Infante” tem como elementos principais três soldados de infantaria que aludem a três épocas da nossa história: Aljubarrota; Invasões Francesas; pós-25 Abril de 1974.

Alguém já pensou, por exemplo em Lisboa, empurrar a estátua do Marquês de Pombal para um canto do Parque Eduardo VII, porque dava mais jeito fazer passar o trânsito pelo meio da “rotunda”?

O monumento, implantado em 1978 no alinhamento do Torreão Sul do Convento de Mafra, espaço nobre e simbólico, impossível de “não ver” para quem entra ou sai da Vila pela sua principal artéria em direcção a Lisboa, é sem dúvida uma das obras mais significativas da estatutária militar erigida em Portugal. Teve ainda a particularidade de não ter ficado no interior de um quartel, ao contrário de outras que nesses tempos foram erigidas, mas de estar no espaço público, disponível para ser visitada e admirada por quem ali de passagem ou propositadamente se deslocava.

Recentemente, no âmbito do processo de Requalificação da Zona Envolvente ao Convento de Mafra o monumento foi remetido para espaço, também público é verdade, mas quase que escondido, no mínimo, muito discreto.

A obra do mestre Soares Branco foi desde sempre considerada, até em publicações oficiais e declarações mais do que frequentes das entidades autárquicas locais, um símbolo da ligação de Mafra à Escola Prática de Infantaria – desde 07OUT13 Escola das Armas do Exército – e estranha-se por isso, agora, o tratamento que a mesma mereceu. Julgou-se que a implantação iria colidir com a dita Requalificação de modo impossível de conciliar, mas afinal não como quem se dirija ao local pode comprovar.

Acontece que o monumento é muito mais que pedra e bronze! Ali está a memória de inúmeras ocasiões em que a infantaria portuguesa foi parte decisiva na defesa da independência nacional, na existência de Portugal como Nação soberana. Mesmo que hoje essa soberania não seja total, e até por isso, não será motivo para esquecer, antes pelo contrário, mais importante se torna lembrar a têmpera dos portugueses em situações extremas. Haja gente capaz e determinada, seja na guerra seja na paz e as dificuldades serão vencidas.

Ali está Aljubarrota e Buçaco mas também o século XX, e a Escola Prática de Infantaria foi uma das unidades que muito contribuiu para que hoje, no rescaldo do golpe militar de 25 de Abril de 1974, Portugal não tivesse caído numa ditadura e que a normalidade democrática se instalasse no nosso país. Muitos que disso beneficiaram parecem hoje esquecidos!

Mafra, durante anos e anos foi conhecida pelo seu majestoso convento e pela “tropa” que ali se instalou no Reinado de D. Luís I em 1887. Conheceu uma importância acrescida em tempos das campanhas expedicionárias da segunda metade do século XX. Por ali passaram largos milhares de portugueses que rumaram ao Estado Português da Índia, e às províncias Ultramarinas de Angola, Moçambique e Guiné. Na gíria de então, por quem por lá passava, até se passou a designar por “MÁfrica” – em boa verdade esta expressão nem sempre tinha cunho abonatório, dadas as duras circunstâncias que a instrução para a guerra obrigava. A infantaria de Mafra teve ainda importância de relevo no regresso do país à democracia, estando a EPI, apesar de inúmeras convulsões internas, do lado dos que se opuseram às correntes totalitárias que se instalaram em muitos quartéis portugueses em 1974 e 1975.

Hoje tem sido de facto mais conhecida pela auto-estrada para a Ericeira e pela explosão urbanística que atrai gentes dos subúrbios de Lisboa, mas tem que haver alguma distância, noção do tempo e não fazer tábua-rasa sobre a história da Vila. Pareceu assim, em 1978, que o tipo de monumento e o local onde foi implantado – as coisas não podem ser dissociadas! – eram mais do que justificados.

Agora quem chega a Mafra pura e simplesmente não vê o monumento. No seu lugar está um relvado. Se tivesse ficado no mesmo lugar, estragava a vista do convento ou retirava-lhe protagonismo? Não me parece. Então qual o motivo de tal decisão?

O local onde o Monumento foi implantado. Refere-se em publicação oficial da EPI: «Porque Mafra tem a sua Escola de Infantaria e porque a Infantaria está no magnífico Monumento. Uma excelente cumplicidade que marcou e afirma Mafra no plano nacional e internacional» [2]

Este era o local onde o Monumento foi implantado. Referia publicação oficial da EPI: «Porque Mafra tem a sua Escola de Infantaria e porque a Infantaria está no magnífico Monumento. Uma excelente cumplicidade que marcou e afirma Mafra no plano nacional e internacional».

O mesmo local na actualidade. Veremos se no futuro, no mínimo, não se lembram de ocupar esta espaço com qualquer obra "mais apelativa" estecticamente ou mesmo do ponto de vista politico. [3]

Agora o mesmo local na actualidade. Veremos se no futuro, no mínimo, não se lembram de ocupar este espaço com qualquer obra “mais apelativa” estecticamente ou mesmo do ponto de vista politico.

Originalmente o local foi pensado para que nada se interpusesse entre a Estrada Nacional e o Monumento. Ligeiramente afastado da via pública para permitir eventuais alargamentos.  [4]

Era assim: o local foi pensado para que nada se interpusesse entre a Estrada Nacional e o Monumento. Ligeiramente afastado da via pública para permitir eventuais alargamentos e arejado pelo pequeno relvado que o envolvia.

Agora foi remetido bem para trás, para lá do nóvel espaço ajardinado e de uma rua e de um café e esplanada (estes lateralmente). [5]

Agora, olhando com cuidado, distingue-se o monumento ao centro na imagem. Foi remetido bem para trás, para lá do espaço ajardinado e de uma rua e de um café e esplanada (estes lateralmente), junto ao vários locais onde estacionam automóveis e já dentro do Jardim da Alameda.

Anteriormente a localização convidada à visita dos passantes, para ver detalhes da estatuária e do restante monumento, por exemplo a alusão às muitas batalhas da infantaria portuguesa. [6]

Era assim: a localização convidava à visita dos passantes, para ver detalhes da estatuária e do restante monumento, por exemplo a alusão às muitas batalhas da infantaria portuguesa. Os demais elementos circundantes (viaturas, café, esplanada) não obstruíam nem desviavam as atenções.

Actualmente é assim... [7]

Actualmente é assim…Só de muito perto se vislumbra que há ali um monumento.

Quem passe pelo local vindo do centro da Vila, só com muita atenção o descortina... [8]

Quem passe pelo local vindo do centro da Vila, só com muita atenção o descortina…

Mas mesmo que se aproxime e o queira fotografar, por exemplo, é isto, uma quantidade enorme de placas e plaquinhas e candeeiros que só mesmo "em cima" do monumento ele fica "limpo de ruído visual". [9]

Mas mesmo quem se aproxime e o queira fotografar, por exemplo, é isto, uma quantidade enorme de placas e plaquinhas e candeeiros que só mesmo “em cima” do monumento ele fica “limpo de ruído visual”.

Quem entre na Vila vindo da Carapinheira...tem como grande motivo de destaque antes do majestoso Convento de Mafra, uma paragem de autocarros e a correspondente publicidade acoplada. O Convento continua a estar ligado por laços muito fortes às Forças Armadas e ao Exército em particular, mas... [10]

Quem entre hoje na Vila vindo de Lisboa / Carapinheira tem agora como grande motivo de destaque antes do majestoso Convento de Mafra…uma paragem de autocarros e a correspondente publicidade acoplada. O Convento continua a estar ligado por laços muito fortes às Forças Armadas e ao Exército em particular, mas…

...não há dúvida que a posição lateral foi um rude golpe. Pode um dia ser revertido como quase tudo o que o homem faz, mas até lá, sempre fica a consolação que pelo menos quem vai "colocar moeda" no parquímetro ali ao lado, sempre olha para uma parte importante da História de Portugal. [11]

…não há dúvida que a posição lateral foi um rude golpe. Pode um dia ser revertido como quase tudo o que o homem faz, mas até lá, sempre fica a consolação que pelo menos quem vai “colocar moeda” no parquímetro ali ao lado, sempre olha para uma parte importante da História de Portugal.