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DISTINTIVO DE QUALIFICAÇÃO DO CURSO DE «PRECURSOR AEROTERRESTRE»

INTRODUÇÃO

«Uma operação aerotransportada nasce e cresce no campo de batalha como se fora um edifício imenso; os seus tijolos são vidas, vidas de bravos…e a sua base, a massa granítica do trabalho divino da equipa que nos precede, a EQUIPA DE PRECURSORES. Após muito tempo no comando da 82ª Divisão Aerotransportada, aprendi a amar e a respeitar o trabalho daqueles homens que a todo o instante oferecem as suas próprias vidas em holocausto à segurança de milhares de paraquedistas.»

General paraquedista MATTHEW B. RIDGWAY (US Army)

Impondo-se pela sua competência e permanente atualização, os PRECURSORES AEROTERRESTRES ganharam a confiança total das unidades paraquedistas. [1]

Impondo-se pela sua competência técnica e permanente atualização, os PRECURSORES AEROTERRESTRES ganharam a confiança total das unidades paraquedistas.

Se tivermos presente a envergadura dos meios aéreos e terrestres que as operações aerotransportadas exigem, bem como os elevados índices de segurança obtidos em lançamentos de pessoal e material ao longo de décadas, é justo destacar e elevar o trabalho contínuo, firme e competente dos militares que integram este grupo de escol no seio das unidades paraquedistas – o «PRECURSOR AEROTERRESTRE» – e, melhor compreendemos as experientes e gratas palavras proferidas pelo General MATTHEW B. RIDGWAY.

Selecionar uma zona de lançamento, livre de obstáculos naturais e/ou outros que possam fazer perigar a vida do soldado paraquedista, é uma das múltiplas missões das equipas de precursores aeroterrestres. Eles saltam antes da “massa” para, posteriormente, desenvolverem o seu trabalho específico: marcagem da ZL, apoio à rápida reorganização das subunidades lançadas, bem como outro tipo de orientações às aeronaves para lançamentos de material e cargas.

Nos primeiros anos da atividade operacional das tropas paraquedistas, esta missão específica foi cumprida por oficiais e sargentos experientes, integrados nos Destacamentos Avançados de Combate (DAC). Foi assim, nos primeiros saltos operacionais em combate efetuados em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

Contudo, a necessidade de adquirir novos conhecimentos e implementar esta imprescindível especialidade no seio das unidades paraquedistas, levou Portugal a enviar militares paraquedistas a países amigos para se especializarem. No caso vertente, foi a Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército Brasileiro(**), sedeada na cidade do Rio de Janeiro, a unidade pioneira no apoio e formação dos primeiros precursores aeroterrestres portugueses:

1956

– Prec Nº32 – TEN/PARAQ ARGENTINO URBANO SEIXAS,

– Prec Nº33 – CAP/PARAQ SIGFREDO VENTURA DA COSTA CAMPOS.

1971

– Prec Nº104 – CAP/PARAQ JOSÉ MANUEL GARCIA RAMOS LOUSADA.

1973

– Prec Nº115 – CAP/PARAQ EDUARDO MARIA PASSARINHO FRANCO PRETO;

– Prec Nº123 – 2SAR/PARAQ LUÍS FILIPE LOPES ESPÍRITO SANTO.

É com os conhecimentos técnicos adquiridos por estes militares que é ativado um núcleo de precursores no então Regimento de Caçadores Paraquedistas (RCP).

Com o fim das campanhas em África, e a criação do Corpo de Tropas Paraquedistas, esta especialidade desenvolve-se com maior intensidade, fruto dos contatos internacionais e dos inúmeros exercícios conjuntos realizados.

Colocados no Grupo Operacional Aeroterrestre (GOAT) durante o período em que as unidades paraquedistas eram tuteladas pela Força Aérea, e nos nossos dias organizados numa Companhia de Precursores, acantonada na Escola de Tropas Paraquedistas (Tancos), os PRECURSORES AEROTERRESTRES impuseram-se pela competência do seu trabalho e granjearam a confiança de todos os “soldados da terceira dimensão».

Anos 90: alunos do Curso de PRECURSORES AEROTERRESTRES a bordo de uma aeronave AVIOCAR C-212 para a realização de mais um lançamento didático. [2]

Anos 90: alunos do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE» a bordo de uma aeronave AVIOCAR C-212 para a realização de mais um lançamento didático.

É sobre o distintivo que identifica e qualifica os oficiais e sargentos com o Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE», aprovado oficialmente pelo Despacho Nº166/CEME/11, e ministrado na Escola de Tropas Paraquedistas (ETP) que se revelam algumas curiosidades históricas e heráldicas(1).

Desenho gráfico colorido do atual distintivo de qualificação do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE». (Col. Sucena do Carmo) [3]

Desenho gráfico colorido do atual distintivo de qualificação do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE». (Col. Sucena do Carmo)

SIMBOLOGIA HERÁLDICA DO DISTINTIVO DE QUALIFICAÇÃO DO CURSO DE «PRECURSOR AEROTERRESTRE»(2)

Descrição:

– Um facho de ouro com chama tocada a vento e meio voo(*) à dextra.

Simbologia e alusão das peças:

– O FACHO é o símbolo falante dos PRECURSORES AEROTERRESTRES, aludindo aos elementos de marcagem, ajudas visuais e eletrónicas conferidas pelas Equipas de Precursores às Forças Terrestres e Aéreas empenhadas nas Operações Aerotransportadas e de Desembarque Aéreo;

A CHAMA, tocada a vento, faz alusão ao ardor, à coragem e ao risco inerente à função aeroterrestre. O vento, elemento suporte no desembarque aéreo, simboliza pela sua inconstância e força os determinismos atmosféricos presentes nestas Operações;

O MEIO VOO faz alusão à componente aeroterrestre dos PRECURSORES, nomeadamente ao tipo de infiltração caraterístico destas forças: o salto em paraquedas.

Os esmaltes significam:

O OURO, simboliza a excelência da especialidade, representando as caraterísticas de firmeza, força, nobreza e sabedoria que lhe são peculiares;

O VERMELHO da chama traduz a bravura, a audácia e a grandeza de alma na ação;

O VERDE, faz alusão à componente terrestre dos PRECURSORES e simboliza a esperança e empenhamento no cumprimento do dever.

Versão metálica atual do distintivo de qualificação do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE». (Col. Sucena do Carmo) [4]

Versão metálica atual do distintivo de qualificação do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE». (Col. Sucena do Carmo)

Versão metálica de baixa visibilidade do distintivo de qualificação do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE». (Col. Sucena do Carmo) [5]

Versão metálica de baixa visibilidade do distintivo de qualificação do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE». (Col. Sucena do Carmo)

REGRAS DE ATRIBUIÇÃO DO DISTINTIVO DE QUALIFICAÇÃO DO CURSO DE «PRECURSOR AEROTERRESTRE»

ALGUNS PRÉ-REQUISITOS E OBJECTIVOS:

– Este curso é destinado a oficiais e sargentos já habilitados com o Curso de Instrutor de Paraquedismo (CIP), e tem como objetivo final prepará-los para as funções inerentes ao cargo de PRECURSOR AEROTERRESTRE.

Após a conclusão do curso este reduzido universo de oficiais e sargentos fica a dominar os seguintes conhecimentos técnico-táticos:

– ARMAMENTO e TIRO;

– TRANSMISSÕES e TOPOGRAFIA;

– SAPADORES e RECONHECIMENTO;

– PATRULHAS e LUTA PRÓXIMA ANTICARRO;

– SOCORRISMO;

– TÉCNICAS DE TRANSPOSIÇÃO DE OBSTÁCULOS, NAUTISMO e SOBREVIVÊNCIA;

– COMBATE EM ÁREAS URBANIZADAS;

– FUGA E EVASÃO;

– FOTOGRAFIA AÉREA e METEREOLOGIA;

– TRÁFEGO AÉREO;

– MATERIAL (EQUIPAMENTO PECULIAR DOS PRECURSORES; SUA ORGANIZAÇÃO E EMPREGO;

– TÉCNICAS DE LANÇAMENTO.

Para além destas habilitações técnicas que suportam o perfil do PRECURSOR AEROTERRESTRE, o curso desenvolve um sólido espírito de equipa (principal caraterística do seu trabalho) e impõe/exige grande disponibilidade física, terminando com um exercício final de caraterísticas puramente aeroterrestres a todos aqueles que terão como missão orientar, guiar e liderar as grandes formações de unidades paraquedistas.

Primeira versão metálica do distintivo de qualificação do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE». Foi substituído devido às suas "exageradas dimensões" e ao fraco tipo de material usado no seu fabrico. Apesar de nunca aprovado oficialmente, o seu uso foi tolerado até à sua substituição pelo atual. (Col. Sucena do Carmo) [6]

Primeira versão metálica do distintivo de qualificação do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE». Foi substituído devido às suas "exageradas dimensões" e ao fraco tipo de material usado no seu fabrico. Apesar de nunca aprovado oficialmente, o seu uso foi tolerado até à sua substituição pelo atual. (Col. Sucena do Carmo)

DADOS TÉCNICOS DO FABRICO DO DISTINTIVO DE QUALIFICAÇÃO DO CURSO DE «PRECURSOR AEROTERRESTRE»

Cores:
– em dourado fosco (facho e meio voo – e/ou tocha alada); a chama tocada a vento apresenta as cores vermelho (chama exterior) e verde (chama interior).

Dimensões:
– altura – 3,6 cm X largura – 4,5 cm.

Militar paraquedista ostentando no seu uniforme de cerimónia o distintivo de qualificação do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE», modelo obsoleto de grandes dimensões. [7]

Militar paraquedista ostentando no seu uniforme de cerimónia o distintivo de qualificação do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE», modelo obsoleto de grandes dimensões.

Versão em metal: o distintivo foi produzido a partir de uma liga de cobre (latão ou bronze) com acabamento por “banho de ouro oxidado” com reverso-liso, e o “cunho” foi executado a partir de uma escultura (3) para permitir realçar os baixos e altos-relevos e outros contornos que compõem todos os elementos heráldicos da peça; é fixado nos uniformes com dois fechos tipo “prego” (do tipo norte-americano), dispostos longitudinalmente no reverso para contrariar o seu desalinho nos uniformes. O seu reverso permite a gravação do número de Precursor Aeroterrestre.

Versão em pano, bordada, do distintivo de qualificação do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE» para uso no uniforme camuflado. (Col. Sucena do Carmo)

Versão em pano, bordada, do distintivo de qualificação do Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE» para uso no uniforme camuflado. (Col. Sucena do Carmo)

Versão em pano / baixa visibilidade (para uso nos uniformes operacionais): o distintivo pode ser produzido a negro, bordado, sob fundo verde oliva e/ou camuflado ou em material vulcanizado nas mesmas cores, confecionado em cloreto de polivinil (PVC) pelo processo de modelagem a quente sobre um retângulo imitando tecido de padronagem camuflada ou verde oliva e/ou ainda em metal de cor totalmente escura (preta) sem brilho.

Equipa de PRECURSORES AEROTERRESTRES controlando e orientando um lançamento operacional. [8]

Equipa de PRECURSORES AEROTERRESTRES controlando e orientando um lançamento operacional.

NOTAS

(*) FACHO: haste que tem uma extremidade com substância inflamável, usada para iluminação ou sinalização, também conhecida como archote ou tocha. No meio castrense internacional é conhecida, também, por TOCHA ALADA.

(**) A numeração dos precursores aeroterrestres portugueses formados na Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército Brasileiro, refere-se à numeração dos Cursos de Precursores ministrados nesta grande unidade.

(1) O distintivo de PRECURSOR AEROTERRESTRE é considerado o mais “internacional” de todos os distintivos de qualificação aeroterrestre, pois o seu desenho e formato, independentemente dos países, mantêm sempre alguma familiaridade com o primeiro distintivo concebido, nos EUA (1944), pelo Tenente PRESCOT, um navegador da 9th TROOP CARRIER PATHFINDER GROUP (PROVISIONAL).

(2) A autoria do primeiro desenho/esboço do distintivo de qualificação do Curso de «Precursor Aeroterrestre» português (1994/95), e todo o esforço inicial junto da estrutura do Exército para a sua aprovação oficial, deve-se ao seguinte militar: Tenente-Coronel Paraquedista AGOSTINHO DIAS COSTA (atualmente é Major-General em serviço na GNR). A descrição heráldica é também da sua autoria.

(3) Com este tipo de fabrico, dificulta-se o processo de falsificação dos distintivos e o seu consequente “sucateamento”, levado a efeito por intermediários/comerciantes, cujo único objetivo é o lucro puro, ignorando a qualidade e beleza heráldica dos distintivos das Forças Armadas Portuguesas.

SUPORTE DOCUMENTAL

– CARMO, António E.S., «DISTINTIVOS E INSÍGNIAS DAS TROPAS PARA-QUEDISTAS PORTUGUESAS», Edição do Autor (em preparação);

– MACHADO, Miguel e António CARMO, TROPAS PÁRA-QUEDISTAS – A HISTÓRIA DOS BOINAS VERDES PORTUGUESES 1955-2003, Ed. Prefácio, Lisboa, 2003, ISBN 972-8563-97-3;

– Portaria Nº 254/2011 de 30JUN11;

– Despacho Nº166/CEME/11;

– Arquivo particular de Miguel Silva Machado & António E. S. Carmo.