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ATÉ SEMPRE “AVIOCAR”!

O C-212-100 “AVIOCAR” está prestes a abandonar o serviço activo na Força Aérea Portuguesa. Foram mais de 3 décadas a voar com a “Cruz de Cristo” na fuselagem, muitas e diversificadas missões levadas a cabo e…milhares de pára-quedistas lançados.

Final de mais um dia de saltos no Arripiado. O "AVIOCAR" saúda mais um curso que acabou de conquistar a "boina verde". [1]

Final de mais um dia de saltos no Arripiado. O "AVIOCAR" saúda mais um curso que acabou de conquistar a "boina verde".

Pela porta do “AVIOCAR” saltaram com efeito milhares de pára-quedistas utilizando diversos tipos de pára-quedas de abertura automática e de abertura manual. Pelas suas características e proximidade – não esqueçamos que estas aeronaves começaram a chegar à Base Aérea n.º 3, em Tancos, em 1974 e ali se mantiveram até à cedência desta unidade ao Exército em 1993 – e ainda pelos anos de serviço que prestou na FAP, o C-212-100 é certamente o avião mais utilizado pelos pára-quedistas na sua história. Acresce ainda que durante muitos anos, e depois de alguma interrupção a essa boa prática se voltou, um C-212 estacionado em Maceda ou ali destinado, cumpria missões de salto em S. Jacinto.
Note-se que o míticos JU-52, C-47 e Nord foram utilizados pelos “Páras”menos de 20 anos numa época em que o efectivo das Tropas Pára-quedistas era bem mais reduzido do que do que nos 30 anos de utilização do “AVIOCAR”.
Em termos de tempo de serviço e de número de missões afectas ao lançamento de pára-quedistas o grande concorrente do pequeno avião espanhol e pode ser que o ultrapasse, é o “Hércules” C-130. Chegados a Portugal pouco depois do C-212-100, ainda estão ao serviço e previsivelmente assim continuarão por mais…uma década?
A história dos C-212-100 “AVIOCAR” nas missões em proveito das tropas pára-quedistas não pode naturalmente ser contada neste despretensioso artigo, é trabalho para um livro, e grande! Pelas muitas missões efectivamente cumpridas, dos saltos do curso de pára-quedismo nos quais muitos jovens portugueses conquistaram a “boina verde” ao lançamento a grande altitude de SOGAs – quer de noite quer de dia – no decurso de dezenas e dezenas de exercícios, ou lançamentos de Precursores nas zonas de lançamento mais incríveis dos quatro cantos de Portugal, passando pelos saltos desportivos em campeonatos de pára-quedismo ou em demonstrações, não esquecendo a maioria dos cursos da área aeroterrestre – e não são poucos – e o lançamento de cargas, tudo o “AVIOCAR” cumpriu com eficiência e segurança.

C-212-100 sem a porta...vai haver saltos! [2]

C-212-100 sem a porta...vai haver saltos!

Salto de abertura automática (SAA) sobre o Arripiado, junto a Tancos. Milhares de pára-quedistas portugueses (e muitos estrangeiros) conheceram esta realidade. [3]

Salto de abertura automática (SAA) sobre o Arripiado, junto a Tancos. Milhares de pára-quedistas portugueses (e muitos estrangeiros) conheceram esta realidade.

SAA a partir do C-212 para a singular zona de lançamento de S. Jacinto. Aqui os pára-quedistas saltam sempre equipados com o "Mae West" (colete salva-vidas), a Ria de Aveiro e o Oceano limitam a Zona de Lançamento. [4]

SAA a partir do C-212 para a singular zona de lançamento de S. Jacinto. Aqui os pára-quedistas saltam sempre equipados com o "Mae West" (colete salva-vidas), a Ria de Aveiro e o Oceano limitam a Zona de Lançamento.

Primeiros anos do "AVIOCAR" em Tancos (note-se a pintura). Um Destacamento de Precursores do Corpo de Tropas Pára-quedistas prepara-se para mais um salto de treino. [5]

Destacamento de Precursores do Corpo de Tropas Pára-quedistas na placa da antiga BA 3, frente a um "AVIOCAR" do 2.º lote (verde azeitona). A partir de 1981 esta pintura foi substituída pela actual.

Destacamentro de precursores em 2007, também em Tancos. Armas, pára-quedas, fardamento e equipamento dos "Prec's" são novos... mas o "AVIOCAR" mantinha-se, operacional e fiável! [6]

Destacamento de precursores em 2007, também em Tancos. Armas, pára-quedas, fardamento e equipamento dos "Prec's" são novos... mas o "AVIOCAR" mantinha-se, operacional e fiável!

Mas não só pela lista de missões o “AVIOCAR “já entrou na história das tropas pára-quedistas: também sem dúvida pela relação – arrisco a dizer, afectiva – que se estabelece entre o militar pára-quedista, o saltador, o largador, e a aeronave. Pela intensidade da utilização e pela segurança que confere aos utilizadores, o “AVIOCAR” está hoje na memória de milhares de portugueses que um dia a partir “dele” se lançaram no espaço e não só realizaram o seu sonho como cumpriram a sua missão.
Ainda assim e falando com os pára-quedistas que primeiro os utilizaram após a sua chegada a Portugal, fica a noção que inicialmente estranharam o avião. Habituados ao Noratlas, nomeadamente nas duras condições de operação em África, o “AVIOCAR” pareceu-lhes pequeno e frágil. Mas em breve a sua versatilidade – apreciada logo pela facilidade com que subia para lançar o pessoal da “queda-livre” – e disponibilidade os cativaram. Em breve o “AVIOCAR” era uma verdadeiro “cavalo de batalha” respondendo às necessidades dos “Páras” que a ele se habituaram e muitos, podendo escolher, preferiam-no para efectuar saltos a qualquer outra aeronave. Mesmo tendo-se hoje cada vez mais a noção que mais velocidade não lhe faria mal nenhum.

O interior do "AVIOCAR" não era particularmnete espaçoso, sobretudo para saltos com o equipamento de combate. Mas, por ser "pequeno", era especialmente versátil em muitas missões. [7]

O interior do "AVIOCAR" não era particularmente espaçoso, sobretudo para saltos com o equipamento de combate. Mas, por ser "pequeno", era especialmente versátil em muitas missões.

O hoje major-general Agostinho Costa efectua um SAA para a albufeira de Castelo de Bode pela rampa. [8]

O hoje major-general Agostinho Costa efectua um SAA para a albufeira de Castelo de Bode pela rampa.

Outro modo de saltar pela rampa do C-212-100, na mesam sessão de saltos de 1989 em Castelo de Bode. [9]

Outro modo de saltar pela rampa do C-212-100, na mesma sessão de saltos de 1989 em Castelo de Bode.

Um Destacamento de SOGA (Saltadores Operacionais a Grande Altitude) da Companhia de Forças Especias da Brigada de Pára-quedistas Ligeira do Corpo de Tropas Pára-quedistas. [10]

Um Destacamento de SOGA (Saltadores Operacionais a Grande Altitude) da Companhia de Forças Especiais da Brigada de Pára-quedistas Ligeira do Corpo de Tropas Pára-quedistas.

Salto SOGA em 1988 no decurso de um exercicio nocturno. O C-212 foi muito utilizado para missões de infiltração de pequenos destacamentos. [11]

Salto SOGA em 1988 no decurso de um exercício nocturno. O C-212 foi muito utilizado para missões de infiltração de pequenos destacamentos.

Mais um salto de treino de SOGA da BRIPARAS, este acompanhado pelo Alfredo Serrano Rosa que captou esta magnifica imagem. [12]

Mais um salto de treino de SOGA da BRIPARAS a partir do C-212, este acompanhado pelo Alfredo Serrano Rosa que captou esta magnifica imagem.

O “AVIOCAR”
O C-212-100 “AVIOCAR” é um avião bimotor turbohélice com uma tripulação de 2 pilotos e 1 mecânico, de origem espanhola (Construcciones Aeronáuticas S.A.), com envergadura de 19,00m, comprimento de 15,20m e altura de 6,30. Tem uma velocidade máxima de 360Km/h, tecto de serviço de 7.600m, raio de acção de 1.920Km e autonomia de 5H40. Não dispõe de armamento e pode transportar 16 pára-quedistas equipados, ou 18 passageiros, ou 12 macas, ou 2.000Kg de carga.
O primeiro protótipo do que viria a ser o C-212 voou em 1971 e no final de 1973 Portugal encomendou 20 unidades (destinadas a substituir os Dakota e os Noratlas). Em 1974 o CASA C-212-100 entrou ao serviço da Força Aérea Espanhola e logo em Outubro desse mesmo ano aterraram na Base Aérea n.º 3 os 4 primeiros aparelhos destinados à Força Aérea Portuguesa. Até 1976 mais 16 foram entregues – estes já com algumas pequenas modificações propostas pela FAP – e em 1994 foram recebidos mais dois, na versão C-212-300, destinados a missões de vigilância marítima.
O C-212 tornou-se num sucesso de vendas, em várias versões, servindo em mais de 20 países, um pouco por todo o mundo.

Os «Falcões Negros» da "Escola de Tancos", equipa de pára-quedismo das Forças Armadas Portuguesas, foramgrandes utilizadores do C-212-100. [13]
Os «Falcões Negros» da “Escola de Tancos”, equipa de pára-quedismo das Forças Armadas Portuguesas, foram grandes utilizadores do C-212-100.
Nova imagem dos «Falcões» e do "AVIOCAR". Serrano Rosa saltou ligeiramente antes, captou a foto e distingu-se o outro "camera fly" a abandonar a aeronave, Luís Nogueira. [14]
Nova imagem dos «Falcões» e do “AVIOCAR”. Serrano Rosa saltou ligeiramente antes, captou a foto e distingue-se o outro “camera fly” a abandonar a aeronave, Luís Nogueira.
1989: dois saltadores saem agarrados (a direita António Carmo, do "Operacional", à esquerda o agora Sargento-Mor Eduardo Rodrigues), seguidos do então Tenente Nortadas Pereira dos «Falcões». [15]
1989: dois saltadores saem agarrados (a direita António Carmo, do “Operacional”, à esquerda o agora Sargento-Mor Eduardo Rodrigues), seguidos do então Tenente Nortadas Pereira dos «Falcões».

Largadores
Não sendo um exclusivo do C-212 como bem sabemos, uma palavra final de reconhecimento aos pára-quedistas, quase e todos sargentos, que desempenham as funções de largadores. Sendo certo que em todas as aeronaves de pára-quedistas eles estão presentes e têm uma importante missão, é no “AVIOCAR” que durante muitos e muitos anos, ela se revelava mais delicada, com maiores consequências em caso de erro.
E os erros graves no pára-quedismo pagam-se não poucas vezes com a vida e muitas com lesões para a vida.
Se o “AVIOCAR” é o avião mais utilizado pelos pára-quedistas, os sargentos pára-quedistas que desempenham estas funções são de entre nós os que mais horas utilizaram o “AVIOCAR.” E não como simples passageiros. Não é preciso ser muito velho nos pára-quedistas para ter presente que neste avião cabia ao largador, a ligação visual com a tripulação, com a zona de lançamento e a orientação do avião até ao momento, decidido por ele, de mandar saltar. Não estando a aeronave bem colocada a ele cabia mandar repetir o circuito. Hoje nos saltos de treino grande parte desta responsabilidade foi transferida para os Precursores embora os largadores mantenham essas competências. Com a colaboração do ajudante-largador garante o correcto desenvolvimento dos procedimentos dos saltadores dentro da aeronave. Hora após hora, por vezes dias inteiros, com sucessivas descolagens, lançamentos, aterragens, a eles cabe parte muito importante do sucesso das missões. No aspecto técnico têm de ser, sempre, irrepreensíveis para com as tripulações e para com os saltadores. Para estes últimos, eles são, sobretudo para os mais jovens, o rosto do profissionalismo e da competência, transmitindo-lhes pelo seu desempenho e à vontade a bordo, parte da força para tomar a decisão de saltar.

Largadores, sargentos pára-quedistas, que constituem sem dúvida um dos esteios do "espírito pára-quedista" pela competência técnica que demonstram pela confiança que incutem em todosos que saltam, do general ao soldado. [16]

Largadores, sargentos pára-quedistas que constituem sem dúvida um dos esteios do "espírito pára-quedista" pela competência técnica que demonstram e pela confiança que incutem em todos os que saltam, do general ao soldado. À esquerda o Primeiro-Sargento Nobre e à direita o Primeiro-Sargento Brogueira.

Mais uma patrulha de um curso de pára-quedismo militar, mais um conjunto de portugueses que vão conquistar a boina verde com a "ajuda" do "AVIOCAR". Nunca o esquecerão! [17]

Mais uma patrulha de um curso de pára-quedismo militar, mais um conjunto de portugueses que vão conquistar a boina verde com a "ajuda" do "AVIOCAR". Nunca o esquecerão!

Antes da descolagem, contagem e os últimos alertas, cintos, cabo de engachar, equipamento, tiras do capacete. Nada pode ser deixado ao acaso. [18]

Antes da descolagem, contagem e os últimos alertas, cintos, cabo de engachar, equipamento, tiras do capacete. Nada pode ser deixado ao acaso.

Faz o que aprendeste e tudo correrá bem. Bom salto! [19]

O Major Dias Martins, instantes antes do lançamento, deve estar a dizer: Faz o que aprendeste e tudo correrá bem. Bom salto!

Missões na Força Aérea Portuguesa, hoje
A frota “AVIOCAR”está hoje concentrada na Esquadra 401 “Cientistas”, sob o comando do Tenente-Coronel PILAV Moura, na Base Aérea N.º 6 (Montijo) e é constituída por 8 aeronaves. Destas duas são da série C-212-300 (VIMAR – Vigilância Marítima) e as restantes da série C-212-100 (cinco de transporte e uma VIMAR). Neste momento os “AVIOCAR” ainda fazem alguma, poucas, missões ligadas à Vigilância Marítima e à Fotografia. O seu sucessor, o C-295M já está a desempenhar as missões e alertas a partir do Montijo, Porto Santo e Açores, assumindo assim a quase totalidade das missões que cabiam ao “AVIOCAR”.
Entretanto este novíssimo C-295M dos quais a Força Aérea Portuguesa já recebeu 10 unidades (7 na versão transporte táctico e 3 para VIMAR), estão concentrados na Esquadra 502 “Elefantes”, sob o comando da Tenente-Coronel PILAV Diná Azevedo, com destacamentos nos arquipélagos dos Açores e Madeira. As missões de fotografia e VIMAR ainda “aos ombros” do “AVIOCAR” serão muito em breve também desempenhadas pelos C-295M.
O programa de abate progressivo da frota C-212 está em marcha e os “AVIOCAR” estão a ser usados para qualificação de novos pilotos, usando assim o potencial remanescente das aeronaves. Tudo indica que 2011 será o ano da “inibição” total da frota.
Além dos aparelhos já entregues para fins museológicos, está prevista a instalação de um em Tancos na antiga Esquadra 502 para exposição permanente, lembrando aos novos “páras” que ali embarcam o antepassado do C-295M, e, tanto quanto foi possível averiguar, não há interessados em comprar os restantes.

Depois Tancos e Sintra (na foto) os C-212 estão hoje concentrados da Esquadra 401 "Cientistas" na Base Aérea n.º 6 no Montijo. [20]

Depois Tancos e Sintra (na foto) os C-212 estão hoje concentrados da Esquadra 401 "Cientistas" na Base Aérea n.º 6 no Montijo.

Os C-295M dos "Elefantes" são agora comandados pela Tenente-Coronel PILAV Diná Azevedo, que subtituiu o Tenente-Coronel PILAV Carlos Graça. [21]

Os C-295M dos "Elefantes" são agora comandados pela Tenente-Coronel PILAV Diná Azevedo, que substituiu o Tenente-Coronel PILAV Carlos Graça.

Desde a chegada dos C-295M que os C-212 deixaram de ser submetidos a grandes reparações. As horas disponiveis são usadas até ao fim e depois... [22]

Desde a chegada dos C-295M que os C-212 deixaram de ser submetidos a grandes reparações. As horas disponíveis são usadas até ao fim e depois...

...ficam a aguardar que o seu destino seja decidido. [23]

...ficam a aguardar que o seu destino seja decidido.

Até sempre “AVIOCAR”
No momento em que o C-212-100 já é retirado do serviço aqui no “Operacional” prestamos esta pequena mas sentida homenagem. Não esquecendo que os resultados alcançados não se devem só à máquina em si como a todos os que na Força Aérea Portuguesa a voaram e os que a “metem no ar”: tripulantes e manutenção. Nunca será demais realçar o seu profissionalismo e as extraordinárias relações que regra geral se estabeleceram – sobretudo naturalmente com pilotos, mecânicos de voo e navegadores (enquanto os houve na 502) – permitindo, muitas vezes, fazer o possível e o impossível para alcançar senão ultrapassar os objectivos traçados para “mais um dia de saltos”.
O C-212-100 já faz parte da História das Tropas Pára-quedistas Portuguesas e é com orgulho que muitos de nós recordam a conquista da “boina verde” associada ao C-212.
Até sempre “AVIOCAR”!

2613dez2006