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A LÍBIA, OS ALIADOS E A CAPACIDADE MILITAR NACIONAL

Dias antes do ataque à Líbia por alguns países Aliados de Portugal, suportado numa resolução da ONU, responsáveis políticos portugueses anunciaram que o nosso país só participaria em eventuais acções de carácter humanitário. f16-lituaniaa1-copy
Não foi dito porque não participamos ao lado dos Aliados nesta missão militar. Falta de dinheiro? Falta de capacidade militar? Falta de vontade política? Esperança que Kadhafi ainda consiga sair vitorioso?

A crise não ajuda e a eventual participação custaria dinheiro. Actualmente estamos com forças mínimas e equipamentos pouco sofisticados – logo baratos – no Líbano, Kosovo e Afeganistão e com uma fragata a caminho do Índico. Se não há dinheiro para mais, se não se pretende repatriar nenhum destes contingentes nem retirar verbas a actividades militares em território nacional que cobrissem uma futura operação, então está o Governo cheio de razão.

A fazer fé em sucessivas avaliações NATO à capacidade expedicionária da Força Aérea, nomeadamente com os F-16, e aos exercícios multinacionais em que têm participado em Portugal e no estrangeiro, já equipados com sofisticados sistemas de armas em nada inferiores aos que estão a sobrevoar a Líbia, teremos capacidade para empenhar uma parelha ou duas de F-16 nesta operação.

A instabilidade política em Portugal pode ter levado o Governo a evitar tomar uma decisão potencialmente impopular. Custa dinheiro, as pessoas estão fartas e cheias de conhecer a cada dia que passa novos gastos que parecem despropositados, logo sempre é menos um problema. Será uma razão possível.

Portugal gosta de se ver como um “aliado fiável e empenhado” e não há responsável político que não o diga, sempre que regressa de uma visita às Forças Nacionais Destacadas em operações ou de reunião da NATO na Europa. Mas agora nega-se a dar o seu contributo. Desconheço naturalmente qual a justificação dada nos locais adequados, mas parece-me que seria justo saber-se.

Consta que nos tempos do Dr. Nogueira no Ministério da Defesa (quatro meses de tropa, lei dos coronéis, transferência das tropas pára-quedistas), a desculpa dada para não termos envolvido forças na Guerra do Golfo teria sido a “incapacidade” das nossas Forças Armadas. Afinal outros países bem mais mal equipados que nós andaram por lá. Ou seja, os militares portugueses ficaram anos e anos seguidos a ser olhados pelos Aliados como parceiros simpáticos mas pouco úteis quando a “temperatura aquece”. Mais tarde, pudemos “puxar pelos galões” conquistados nos Balcãs a partir de 1996 e pressionamos tudo e todos (e bem!) para intervirem em Timor-Leste, quando um povo estava a ser esmagado pela força das armas. Seguiram-se muitas missões em que os portugueses, mesmo que por vezes com meios modestos, não têm deixado ficar mal o país.

E agora? Julgo que não ficaria mal, explicarem-nos qual a razão que leva Portugal a não participar nesta operação militar legítima.

Este artigo de Miguel Silva Machado foi publicado originalmente, aqui, no Diário de Noticias de 24 de Março de 2011 [1].