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1968 – 2008 “MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE”: SÍMBOLO, MEMÓRIAS E SENTIMENTO

Enquadramento actual do "MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE" visto do interior da ESCOLA DE TROPAS PÁRA-QUEDISTAS para a Porta-de-Armas. [1]

Enquadramento actual do "MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE" visto do interior da ESCOLA DE TROPAS PÁRA-QUEDISTAS para a Porta-de-Armas.

PRÓLOGO DO AUTOR

No passado dia 3 de Julho de 2008 comemorou-se o 40º Aniversário da inauguração do Monumento em memória dos Mortos em Combate, situado na ESCOLA DE TROPAS PÁRA-QUEDISTAS em Tancos.

Foi, provavelmente, um dos momentos mais significativos e emotivos da história das TROPAS PÁRA-QUEDISTAS PORTUGUESAS, conforme relatam testemunhos escritos, em artigos publicados(1), logo após a cerimónia oficial.

Imponente pela sua beleza e significado, o “MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE” tornou-se num símbolo respeitado por todas as gerações de pára-quedistas militares portugueses formados ao longo de mais de cinco décadas.

Impunha-se, por isso, este modesto registo.

INTRODUÇÃO

A inauguração do “MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE” que se tornou, nos nossos dias, um incontornável ex-líbris das TROPAS PÁRA-QUEDISTAS PORTUGUESAS, ocorreu no dia 3 de Julho de 1968, com a presença de S. EXª. o Presidente da República, Almirante Américo de Deus Rodrigues Tomás, acompanhado pelas mais altas individualidades militares e civis, nomeadamente o Ministro da Defesa, o Ministro do Exército, o Secretário de Estado da Aeronáutica, o Subsecretário de Estado da Aeronáutica, o Subsecretário de Estado do Exército, o Chefe do Estado-Maior da Armada, o Chefe do Estado-Maior do Exército, o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, o Governador Civil de Santarém, muitos oficiais-generais dos três Ramos das Forças Armadas Portuguesas, o Brigadeiro Kaúlza Oliveira de Arriaga (principal impulsionador das Tropas Pára-quedistas Portuguesas), Comandantes das unidades circunvizinhas, deputados eleitos pelo círculo de Santarém, inúmeros órgãos de informação da imprensa escrita e falada, e a honrosa presença do Ministro da Aeronáutica da República Federativa do Brasil, Marechal-do-Ar Márcio de Souza e Mello.

Estiveram presentes, também, os principais doadores do meio civil empresarial que com as suas generosas doações, permitiram que o mais carismático de todos os monumentos militares portugueses, se tornasse uma realidade visível.

Apesar de as unidades pára-quedistas se encontrarem empenhadas em combates nos três Teatros de Operações (Angola; Moçambique e Guiné-Bissau) que Portugal travava desde o início da década de sessenta, nem por isso, deixaram de estar presentes neste significativo e emotivo acto, delegações representantes dos quatro BATALHÕES DE CAÇADORES PÁRA-QUEDISTAS (BCP 21- Angola; BCP 12 – Bissalanca/Guiné-Bissau; BCP 31 e 32 – Beira e Nacala/Moçambique).

A emoldurar esta cerimónia, presentes ainda, milhares de ex-pára-quedistas militares e respectivas famílias, bem como os familiares daqueles que entregaram a sua vida ao serviço de PORTUGAL.

A CERIMÓNIA(2)

À chegada de S.EXª o Presidente da República, dois Batalhões de Pára-quedistas, sob o comando do Tenente-Coronel Pára-quedista João José Curado Leitão, prestaram a protocolar Guarda-de-Honra e, enquadraram toda a cerimónia.

3JUL1968: aspecto geral da Tribuna-de-Honra durante a cerimónia de inauguração do "MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE". [2]

3JUL1968: aspecto geral da Tribuna-de-Honra durante a cerimónia de inauguração do "MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE".

3JUL1968: delegações representantes dos quatro BATALHÕES DE CAÇADORES PÁRA-QUEDISTAS (BCP 21 - Angola; BCP 12 - Bissalanca/Guiné-Bissau; BCP 31 e 32 - Beira e Nacala/Moçambique) estiveram presentes. [3]

3JUL1968: delegações representantes dos quatro BATALHÕES DE CAÇADORES PÁRA-QUEDISTAS (BCP 21 - Angola; BCP 12 - Bissalanca/Guiné-Bissau; BCP 31 e 32 - Beira e Nacala/Moçambique) estiveram presentes.

3JUL1968: pormenor do altar para a realização da missa. O monumento mantém-se envolto numa calote de pára-quedas, o tecido suave e mágico que transporta todos os pára-quedistas em segurança até ao solo firme. [4]

3JUL1968: pormenor do altar para a realização da missa. O monumento mantém-se envolto numa calote de pára-quedas, o tecido suave e mágico que transporta todos os pára-quedistas em segurança até ao solo firme.

Momento alto deste elevado acto cívico foi o da “chamada dos mortos”, individualmente clamados pelo Comandante do REGIMENTO DE CAÇADORES PÁRA-QUEDISTAS (RCP), Coronel Pára-quedista Mário de Brito Monteiro Robalo, apelo a que, vibrantemente e em uníssono, os efectivos pára-quedistas em parada responderam “PRESENTE”.

Após eloquente discurso proferido pelo Coronel Pára-quedista Mário de Brito Monteiro Robalo, e inaugurado o “MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE”, os dois Batalhões de Pára-quedistas desfilaram em continência, emprestando uma elegância inigualável aos seus disciplinados movimentos marciais.

O DISCURSO DO COMANDANTE DO RCP(3)

Pela importância histórica e singularidade do acto, transcrevem-se as passagens mais significativas do discurso proferido pelo Comandante do RCP, Coronel Pára-quedista MÁRIO DE BRITO MONTEIRO ROBALO, na inauguração do “MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE”, em 3 de Julho de 1968.

O Coronel Pára-quedista MÁRIO DE BRITO MONTEIRO ROBALO. (Caricatura da autoria do TEN/MIL João Miguéis)

O Coronel Pára-quedista MÁRIO DE BRITO MONTEIRO ROBALO. (Caricatura da autoria do TEN/MIL João Miguéis)

«Venerando Sr. Presidente da República:

A presença do primeiro magistrado da Nação e chefe supremo das Forças Armadas, neste acto, é, apenas, mais uma das constantes afirmações de fé, de V.EXª., nos destinos externos da Pátria Portuguesa mas, é também, a compensação moral mais elevada que todos, os que fizeram erguer o monumento e aqueles que, no-lo ofereceram, alguma vez, ousariam ambicionar.

Quando os meus soldados, muitos dos quais se honraram já, ao sentir de perto, no Ultramar, toda a simpatia e calor humano que irradia da presença de V.EXª., me pediram, para que se convidasse o «nosso Presidente», longe, estava eu, que tal desejo se pudesse transformar na realidade de hoje.

Por isso, Sr. Presidente, os nossos mais respeitosos agradecimentos, pelo entusiasmo com que, imediatamente, V.EXª. se dignou aceitar o nosso convite para, com a vossa veneranda presença tornar mais solene e, imprimir o cunho de acontecimento nacional que tal presença implica, à homenagem que, aqui se vai prestar àqueles que, crendo da razão e do direito da sua Pátria, não hesitaram, um só momento, em sacrificar-lhe o dom mais precioso, que possuíam – a própria vida.

Senhores Ministros e Secretários de Estado!

Exmas Autoridades Civis, Religiosas e Militares!

Minhas Senhoras! Senhores! Camaradas!

Arrostando com a distância e o incómodo, não quiseram Vexas. deixar de comparecer, nesta cerimónia, dando-lhe com a vossa honrosa e, sempre, bem-vinda presença mais solenidade e brilho.

Por essa presença que, para além do mais, significa a justiça da homenagem que se presta, bem hajam V.EXªs.

(…) Graças a alguns homens generosos e bons, figuras grandes do trabalho português, que sentindo, vivendo e apoiando o esforço das Forças Armadas, inteligentemente, compreendem que não bastam os simples apelos e incentivos, mais ou menos patrióticos, a uma juventude que, generosamente, dá o melhor de si mesma, na defesa do Portugal Euro-Africano e de interesses que não são, apenas, os seus e que, nalguns casos, mesmo, a transcendem, podemos, hoje, aqui, perpetuar na pedra e no metal a memória de « AQUELES EM QUEM PODER NÃO TEVE A MORTE» como dizia o épico.

(…) Minhas Senhoras! Senhores:

Ao invocarmos daqui a pouco, para seguidamente honrar, os nomes daqueles que, ainda, não há muito, estudantes de vida, dominados pela fé, plenos de sonhos e de esperanças, altivamente, sobrepunham a tudo, a honra e a integridade da Pátria e, cujos corpos frios, repousam agora, sob a terra que haviam jurado defender, cumprimos, aqui, um honroso dever, mas, um dever que nos ultrapassa a todos, largamente, na medida, em que ele impende sobre todos os portugueses, homens ou mulheres, velhos ou novos, brancos ou pretos, crentes ou não crentes.

A sua vida não lhes pertencia porque, à Pátria haviam, um dia, jurado oferecê-la, se necessário fosse.

E chegada a hora, em penhor da palavra dada, sem uma hesitação, nem nada pedirem em troca, sem alardes de qualquer espécie, mas antes, com a humildade dos fortes, a grandeza dos simples e a determinação dos bravos cumpriram a sua promessa.

Ficaram mais pobres as suas famílias, com a sua morte.

Ficou mais rica a terra portuguesa, com o seu sangue.

Mas ficou-nos, sobretudo, a todos o exemplo da grandeza do seu sacrifício.

Sacrifício que não podemos permitir que se venha a tornar inútil, que não poderá ser, jamais, traído!

(…)Há que fazer opções sobre a aplicação mais rentável de, pelo menos, uma parte da nossa juventude.

Há que estruturar a defesa da Nação sobre uma economia e técnicas sólidas, eficientes, evolutivas e competitivas.

(…) Portugal se não é rico, está longe de ser um país pobre!

Possui excelentes posições estratégicas, dispõe de vastos recursos, reais e potenciais, tem ao seu alcance toda uma vasta gama de novas e rentáveis técnicas.

Se, com lucidez, realismo e oportunidade soubermos, todos, querer, e utilizar tudo quanto possuímos e temos possibilidades de obter, então, poderemos, confiadamente, continuar a aceitar o desafio que foi proposto às nossas gerações e orgulhosamente, afirmar que não foi em vão, nem inútil, o sangue, e o sacrifício dos nossos mortos.»

NOTAS

(1) Serviu de base para a construção deste artigo os textos impressos no jornal “BOINA VERDE” / Setembro de 1968, págs. 3, 6, 7 e 9.

(2) A sequência da cerimónia foi reconstruída a partir de testemunhos orais de muitos oficiais, sargentos e praças pára-quedistas que tiveram o privilégio de participar neste singular acto cívico.

(3) O discurso do Comandante do RCP, Coronel Pára-quedista MÁRIO DE BRITO MONTEIRO ROBALO, na inauguração do “MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE” foi extraído do jornal “BOINA VERDE” – Setembro de 1968. A caricatura utilizada para ilustrar/homenagear o Comandante do RCP é da autoria do Tenente Miliciano JOÃO MIGUÉIS (Arquivo de Miguel Machado / Sucena do Carmo).

(*) As fotografias coloridas ilustrativas do dia da cerimónia são do arquivo privado de MIGUEL SILVA MACHADO e de ANTÓNIO E. S. CARMO.

Etimologicamente, a palavra «MONUMENTO» é de origem latina e provém do verbo monere que significa lembrar. Geralmente cumpre uma dupla função: fixa um significado e combate a perda de memória, estabelecendo uma espécie de diálogo silencioso entre tempos, pessoas e sentimentos. [5]

Etimologicamente, a palavra «MONUMENTO» é de origem latina e provém do verbo monere que significa lembrar. Geralmente cumpre uma dupla função: fixa um significado e combate a perda de memória, estabelecendo uma espécie de diálogo silencioso entre tempos, pessoas e sentimentos.

ESCOLA DE TROPAS PÁRA-QUEDISTAS

“MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE”

(ALGUNS DADOS HISTÓRICOS)

Inaugurado em 3 de Julho de 1968, o “MONUMENTO AOS MORTOS EM COMBATE” simboliza uma asa da aeronave de transporte militar Junker Ju-52/3m, e um militar pára-quedista em “posição de aterragem” na chegada ao solo.

O conjunto é fixado num pequeno lago, em cujo fundo tem desenhado um “mapa-múndi” colorido, onde se destacam as antigas possessões ultramarinas portuguesas, todas ligadas entre si com a Metrópole (Portugal).

Na base do monumento a inscrição «AQUELES EM QUEM PODER NÃO TEVE A MORTE» que perpetua a memória de todos os mortos em combate.

O principal entusiasta e impulsionador, para a angariação de fundos e construção do monumento em todas as suas vertentes, foi o Coronel Pára-quedista MÁRIO DE BRITO MONTEIRO ROBALO, à data, Comandante do REGIMENTO DE CAÇADORES PÁRA-QUEDISTAS (RCP).

Por motivos estritamente históricos, é justo realçar que os custos desta magnifica obra foram inteiramente suportados por doadores da sociedade civil e empresarial portuguesa, e por contribuições generosas dos oficiais, sargentos e praças pára-quedistas. Não houve, por isso, qualquer doação da Fazenda Nacional.

O seu custo total orçou em: 631.343$00 (€ 3.149,13).

Os principais doadores provenientes da sociedade civil e empresarial portuguesa foram: Dr. MANUEL RICARDO ESPÍRITO SANTO SILVA; Dr. MANUEL RIBEIRO ESPÍRITO SANTO SILVA; ROGÉRIO CÂNDIDO DA SILVA; D. ANTÓNIO DA CUNHA; Dr. JORGE DE MELLO; MANUEL DE QUEIRÓS PEREIRA; D. JOSÉ SALDANHA; e ENGº. ARMANDO GUIMARÃES.

Os depósitos eram feitos numa conta, especialmente criada para este efeito, no Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa.

A edificação do monumento foi da responsabilidade do construtor civil Sr. ZEFERINO JOSÉ (Herdeiro).

O autor do conjunto arquitectónico foi o Arquitecto ALEIXO TERRA DA MOTTA.

A escultura é da autoria do Mestre DOMINGOS SOARES BRANCO que, nos anos sessenta, tinha o seu estúdio aberto na Rua Marquesa de Alorna, Nº 38 A e E – Lisboa.

A pintura e a decoração ficaram a cargo do Professor HERNANI DE OLIVEIRA.

O comandante do RCP deixou para a história os custos do monumento [6]

O comandante do RCP deixou para a história os custos do monumento

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